Olhei para o espelho. Aquela era eu? O vestido caia em ondas pelo chão, servindo perfeitamente em meu corpo magro. Meu cabelo estava preso em um coque com alguns fios soltos e a maquiagem azul combinava. Não parecia ser eu. Não aquela garotinha tímida e chorona que eu era.

- Está tudo bem, Hinata-sama?

- É claro, Yume-san. Por que não estaria?

- Tem razão. Desculpe, Hinata-sama.

- Não precisa se desculpar.

A mulher de cabelos grisalhos saiu do quarto deixando-me sozinha. Eu devia estar feliz. É, devia. Mas eu não estava. Talvez porque deixaria de ser uma simples garota ao fim daquela cerimônia. Seria então uma mulher casada, com obrigações e responsabilidades. Aquilo me assombrava. Eu não me sentia pronta. Estava com medo. Aquilo era normal?

Respirei fundo e olhei no espelho novamente. Eu tentava parecer confiante sem muito sucesso. Peguei o véu e coloquei sobre a cabeça. Minhas pernas cambalearam.

Eu podia desistir. Mas não iria. Não o decepcionaria mais uma vez. Eu deixara de ser aquela garota covarde que não enfrentava os problemas de frente. Afinal, era uma mulher agora. Não podia me o luxo de seguir minha vontade e decepcionar todos. Porém, era mesmo minha vontade desistir?

Eu devia me casar com um Hyuuga e preservar nossa Kekkei Genkai, sempre foi o que me disseram. E era o que estava fazendo agora. Seguindo ordens. Mas não eram simples ordens porque eu também queria aquilo. Eu amava Neji do fundo de meu coração.

Mas tinha Naruto. Aquele que por tantos anos eu amei, que era meu melhor amigo. Era ele que me ajudava e apoiava nos momentos difíceis. Que me incentivava a me tornar mais forte e dizia que eu estava indo bem. Sempre fora com ele que eu sonhava me casar. Mas Naruto tinha ido embora tão repentinamente quando Neji se aproximou de mim. E era realmente irônico que eu me apaixonasse por aquele que devia me proteger, dar sua vida por mim, pela Souke.

Eu não tinha tempo para pensar em Naruto. Não podia pensar nele. Não quando ia me casar em poucos minutos.

Tudo ficaria para trás, como um rio que renova suas águas. Fechei os olhos e suspirei. Eu iria me casar. Iria ter um marido maravilhoso e lindos filhos. Uma vida simples e feliz. Não era uma coisa fácil de se acostumar. Contudo, eu não tinha motivos para estar triste.

Olhei para o relógio branco na parede. Estava na hora.

E nesse exato momento eu queria fugir.

Fugir e tentar ser feliz sozinha, porque eu era uma covarde. Nunca tinha sido corajosa, por que tinha que ser agora? Era tão óbvio e ao mesmo tempo tão errado... Então ouvi um bater leve na porta.

- Hinata?

- Entre, pai. Estou pronta. – falei e tentei ao menos parecer convincente para meu pai, que acabava de entrar no quarto.

- Você está linda, filha.

- Obrigada, papai.

- Nunca pensei que esse dia fosse chegar. Para mim você ainda é aquela garotinha tola e indefesa.

- Pai, não precisa entrar em detalhes. – disse, corando um pouco.

- Ah, desculpe. Sei que deveria ter ensaiado algumas palavras bonitas para lhe dizer, mas eu não tive tempo. Apenas saiba que eu lhe desejo toda a felicidade do mundo, Hinata. Eu não queria te perder, mas você é uma mulher adulta agora. Deve seguir seu caminho e ter sua própria família. Nunca esqueça que caso precisar de algo, eu estarei aqui. Mesmo que seja só um conselho, um ombro amigo, um almoço aos domingos. Eu estarei aqui, sempre. Eu te amo, filha. – falou ele. Algumas lágrimas escorreram de seus olhos e eu as sequei.

- Não chore, pai. Está tudo bem, mesmo. Obrigada.

- Ah, vamos. Não ligue para um velho tolo como eu.

- Você não é tolo, papai.

- E nem tentou negar o velho. Essa juventude de hoje... – disse ele revirando os olhos.

Eu ri.

- Ora, vamos logo pai!

- Tudo bem, tudo bem.

Nós andamos até a porta da sala, que dava para a varanda, e meu pai a abriu. O vento frio da primavera atingiu meu rosto. Essa era a hora. Consegui ver os convidados levantarem e olharem para mim. Amigos, familiars, todos estavam ali. Caminhei sobre as flores de cerejeira brancas e cheguei até onde Neji me esperava. Meu pai entregou minha mão a ele e os olhos brancos me fitaram.

- Você está linda, Hinata-sama.

- Quando vai parar de me chamar de Hinata-sama, Neji-kun? – falei e ele riu discretamente.

- Provavelmente quando parar de me chamar de Neji-kun. Acho que podemos continuar assim mais um pouco.

- Você é um chato.

- Eu também te amo.

O homem no altar falou por alguns minutos e finalmente chegou a esperada hora.

- Você, Hyuuga Neji, aceita se casar com Hyuuga Hinata?

- Aceito.

- Você, Hyuuga Hinata, aceita se casar com Hyuuga Neji?

A incerteza tomou conta de mim novamente. Aquela era a minha última chance de fugir. Minha última chance de acabar com tudo e ser livre. Mas então olhei para as orbes brancas à minha frente e me decidi. Não iria desistir ou fugir. Eu tinha medo, sim. Medo de não ser boa o suficiente, de não conseguir fazer meu marido feliz. Meu marido. Aquilo soava tão estranho. Não estranho, só diferente. Eu abriria mão de certa liberdade, é claro, mas novas portas iriam se abrir assim como novas oportunidades. Eu não tinha nada a temer, porque Neji estaria comigo. E isso me deixava confiante. Afinal, era ele quem eu amava. Apenas ele. E mesmo que algo não desse certo, eu sabia que tudo ficaria bem no final. Nós ficaríamos bem. Porque estávamos juntos e isso já era suficiente. Então finalmente disse as palavras certas.

- Sim, eu aceito.