Forget - Annie e Finnick escrita por Floyd


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa oneshot enquanto ouvia a música I'm Only Sleeping dos Beatles. Não está muito boa porque fiz bem rápido. Acho que eu meio que me senti a Annie enquanto escrevia. Whatever.
Espero que gostem e deixem reviews! :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/221857/chapter/1


Querido Diário,

Descobri que estou morta.

Hoje, quando fui tomar meu café, percebi que ele não tinha o mesmo gosto de antes. Na verdade, toda e qualquer comida perdeu o gosto para mim. A sensação seria a mesma se eu estivesse comendo isopor. Isso já vem acontecendo há um tempo, na realidade, mas foi só hoje que me dei conta.

O ar também parece diferente. Está difícil respirar, e a simples tarefa de assimilar oxigênio tornou-se um desgostoso desafio. Tentei abrir as janelas de casa para ver se a culpa era do ambiente fechado, mas não adiantou em nada e a sensação de sufocamento continua até agora.

Não consigo mais olhar diretamente nos olhos das pessoas. Sempre que encontro um par de olhos, seja ele de quem for, abaixo a cabeça e encaro meus pés. Mantenho a cabeça baixa até quando converso, e acho que vou continuar fazendo isso para sempre. O chão me parece bem mais alentador do que aqueles olhares que transpiram piedade e compaixão.

É provável que eu me vicie nesse consolo e nunca mais olhe para cima.

Em suma, a única coisa que me traz prazer ultimamente é dormir. Não sei exatamente a razão, mas toda vez que deito a cabeça no travesseiro abro um sorriso.

Meu médico disse que isso acontece porque quando durmo tenho a possibilidade de canalizar a mim mesma para outra realidade e, no meu caso, isso é extremamente gratificante. Entretanto, eu acredito que seja porque (mesmo sabendo que a possibilidade é pequena) irei encontra-lo nos meus sonhos.

Lembro-me que, quando ele se foi, os sonhos eram diferentes dos de hoje. Assim que fechava os olhos e perdia a consciência, adentrava à força um mundo banhado a sangue, terror e desgraça. E ele estava lá, sozinho e desolado em meio ao cheiro podre e enferrujado de morte, fitando-me com aqueles olhar intenso e sincero de pavor. Eu olhava para o seu rosto e não via Finnick; não conseguia enxergar nada além de uma caricatura, uma malfeita e retorcida caricatura do meu Finn.

Socorro, suplicava ele. A voz também não era a mesma; era uma versão esganiçada e lúgubre daquela que conheço. E, à medida que gritava, seu corpo submergia em um mar de escuridão.

Todos os sonhos eram iguais nessa época. E em nenhum deles conseguia salvá-lo.

Sempre que descrevo esse pesadelo para meu médico, ele tenta me confortar dizendo o quanto sou forte. Nunca agradeço. Sei que sou fraca por não ter conseguido salvá-lo nas tantas vezes em que tive a oportunidade.

E é claro que nunca irei me perdoar.

Agora, os sonhos com ele são bons. Eles têm cheiro de família, cheiro o qual jamais terei a oportunidade de sentir novamente no mundo real. Acontecem uma, duas, dez ou nenhuma vez por mês. Mas sempre estou disposta a tê-los. Na maioria das vezes, estamos eu e ele no Distrito 4, caminhando sobre a areia ou nadando no mar sereno e translúcido. Em outras, revivo um dos melhores momentos da minha vida meu casamento. Posso tocá-lo, sentir meu corpo em seus braços, ouvi-lo murmurar Annie, minha pequena no meu ouvido enquanto um dedo enrola ternamente meu cabelo...

...como você pode ver, os sonhos são tão maravilhosos quanto tênues.

Eu sei. Eu sei que esse é o mais tolo dos desejos - mas eu o queria aqui comigo. Queria tanto. A verdade é que eu faria qualquer coisa para olhar novamente naqueles olhos verdes e sentir que tenho o oceano como amante. Mataria, morreria, sofreria, sangraria até deixar minhas veias desérticas. Qualquer coisa.

O que mais fere é saber que esse anelo tão irreal e tão distante um dia fez parte da minha rotina.

Às vezes, quando estou me sentindo só, começo a repetir as frases que tanto ouvi na sua voz:

Annie, pare de bater as pernas assim. Você vai espantar os peixes.

Está vendo, Ann? Eu disse que você era capaz.

Você fica linda de cabelo solto.

Eu te amo, Annie.

Finnick - meu Velejador. Meu confidente por toda a vida. Aquele que me erguia quando afundava na praia. Aquele que me ensinou a nadar no auge dos doze anos. O único que parecia me entender em meio aos meus ataques de histeria. O único que tinha a capacidade de consolar-me com um único olhar. Meu primeiro namorado.

Eu sinto tanta falta desse idiota.

As pessoas insistem em dizer que devo esquecê-lo, e isso é simplesmente o maior absurdo já proferido por alguém. Finnick não me esqueceu. Por qual motivo eu deveria esquecê-lo, então?

Bem, Diário, obrigada por me ouvir. Você me entende quase tão bem quanto Finnick, e estou grata por isso.

Agora irei dormir um pouco. Ainda está dia e todos estão lá embaixo almoçando, mas eu não quero ir. Não estou com paciência para mastigar aquela comida sem gosto hoje. Além do mais, estou com saudades dele; vai completar um mês que ele não aparece para mim nos sonhos. Talvez apareça hoje. Não sei.

Caso não apareça, não tem problema - eu aguardarei.

Aguardarei eternamente, se assim for preciso.

Annie


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ei, ficwritter carente aqui. 3:
Não saia sem deixar um review, ok?