Nerfet me espera, batendo os saltos verdes gigantes do chão. Ela parece impaciente e preocupada, e sua expressão é tão engraçada que eu tenho vontade de rir:

-E aí, Nerfet?

Ela se vira, assustada, enquanto eu rio, tirando o cabelo, agora um pouco maior (N/A: imaginem o cabelo dela mais ou menos do tamanho que está o da Selena Gomez), do rosto enquanto Nerfet prepara uma bronca:

-Desde quando seu senso de humor voltou? Isso não é legal, Diana, eu estava preocupada... Falando nisso, Cashmere ligou. Ela quer falar com você.

-Por que?

Nerfet dá de ombros, sentando na nossa mesa e dando uma olhada para a transmissão dos Jogos, que está cobrindo agora a caminhada do tributo do 11:

-E alguém sabe porque Cashmere faz alguma coisa? Se eu já acho você difícil...

Ignoro o comentário de Nerfet sobre eu ser uma pessoa difícil e procuro o telefone. Ninguém nunca sabe porque Cashmere faz alguma coisa, mas na minha súbita mudança de humor eu tive uma impressão de que ela ligaria em breve, e isso aconteceu mais cedo do que eu esperava. Estou um pouco nervosa de falar com ela. Não quero parecer infantil, nem nada assim, e embora não demonstre isso de ser mentora me assusta cada vez mais. E agora que Enobaria, Haymitch e o tal Julian podem á qualquer momento me denunciar. É proibido brigar com outros mentores, e foi exatamente o que eu fiz.

Não sou muito educada no telefone:

-Cashmere? O que foi? Eu ia te ligar... Outro dia.

Ela ri do outro lado, e quase posso vê-la jogar os cabelos:

-Oi para você também. O que a Enobaria queria?- ela responde, como quem não quer nada.

-Você, você sabe que... Ah, esquece. Ela queria fazer um acordo, a maior bobeira, é claro que só era vantajoso para ela... Mas como você sabe?

Ela dá uma risadinha de novo:

-Ah, Diana, eu tenho meu contatos- quase consigo ver a sua piscadinha- Olha, eu sei que tem mais detalhes, mas não é seguro falar por telefone. Eu preciso te dizer algumas coisas também. È uma longa história. Mas você sabe que eles não vão ganhar, não é?

-Sei. Não tem muita explicação, eles são bons mais... Mas não são bons o suficiente. Eu realmente queria que eles fossem... Nesse momento só estou fazendo de tudo para manter essa informação em segredo e parecer tranquila. – a ligação começa a falhar, e não consigo ouvir direito- Avise a minha mãe que eu estou bem, por favor.

Cashmere diz mais alguma coisa que eu não entendo e a ligação caiu. Droga. Nem no Distrito 1 tem sinal. A Capital gosta de tudo muito exclusivo mesmo.

Não quero voltar lá para dentro. Não quero encarar mais um olhar de puro ódio de Enobaria, por mais que eu não tenha medo. Ela é do tipo que ameaça, mas não faz absolutamente nada. Não aguento mais Jogos Vorazes, isso porque hoje é o primeiro dia. Como vou sobreviver aos próximos?

Os patrocinadores já estão bastante bêbados quando eu volto, e Nerfet também parece um pouco alterada. Sorrio o melhor que posso:

-Acho que é hora de nos retirarmos, são quase dez da noite.

Nerfet não parece muito feliz, mas os patrocinadores concordam. Denny se levanta, claramente desequilibrada:

-Qualquer coisa comunique, queridinha- ela dá uma batidinha na minha bochecha e sai da sala, seguida pelos outros que apenas acenam (graças a Deus), muito menos efusivos. Eu empurro Nerfet para o nosso andar.

-Dá para acreditar que hoje foi só o primeiro dia?- olho para o tablet, que vai transmitir Glimmer e Marvel 24 horas por dia.- Que ridículo, eles estão dormindo.

Nerfet senta ao meu lado:

-O que você esperava?

-Mais emoção?- ela revira os olhos, numa atitude bem típica de mim. Oh-oh. Estamos passando muito tempo juntas mesmo, isso não é nada legal.- Acho que vou fazer a mesma coisa. Você devia dormir também.

Não espero uma resposta para entrar no meu quarto. Não espero mais respostas de ninguém. Não adianta mesmo esperar. Além do mais, o dia foi maior do que eu pensava. E tenho ainda mais com o que me preocupar... Uma voz não para de sussurar na minha cabeça “ela pode dedurar você... Enobaria pode dedurar você...”. Não consigo deixar de pensar que ela estaria trazendo problemas para si mesma, pois foi quem começou tudo. Mas ela não me cortou nem nada assim.

Suspiro, e tento esquecer disso para dormir o mais rápido possível.

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Atrasada. Eu acordo atrasada. Nerfet bate impaciente na porta, e meu rosto está todo marcado por causa da coberta. Ah, que droga. Nerfet continua gritando enquanto eu tento desesperadamente encontrar uma roupa qualquer, e minimamente arrumada e passo um pouco de maquiagem. Ninguém precisa ver as minhas olheiras. A noite foi péssima.

As imagens se misturando de novo. Via as mortes mais horrendas para Glimmer, Marvel e até para aqueles tributos do 2. Que sempre apareciam acompanhados por sombras de Dixie e Draco. Ás vezes eram mortos por bestantes, e outras por tributos que eu nunca vi. Mas o pior de tudo não parecia um sonho. Era mais para um daqueles ataques que eu tenho de vez em quando. Glimmer estava desfigurada e roxa, caída no chão, enquanto Marvel, com uma lança atravessada na barriga gritava por ela até que finalmente morreu, e ambos os corpos se dissolveram em uma névoa assustadora, sobrando apenas os olhos.

Quando abri a porta, Nerfet parecia muito preocupada. Ela andava de um lado para o outro, e tinha olheiras ainda maiores que as minhas, agora cobertas por um quilo de base:

-O que foi?- pergunto, tentando ser o mais simpática possível. Ela não para de andar, muito menos me responde- Nerfet, me diz agora o que é- elevo o tom de voz, ainda permanecendo calma. Essas pessoas da Capital e seus jeitos dramáticos e teatrais me irritam profundamente- Eu não quero ter que perguntar de novo.

Ela parece perceber que estou falando sério, e responde, sem parar de andar:

-Presidente Snow. E os Idealizadores. Eles querem falar com você.