- Safire! – ouço o grito estarrecido de Collin – Jack! Onde estão vocês?

Fitamos-nos por um momento, seu nariz ainda colado ao meu e minhas mãos entrelaçadas em seu cabelo. Não posso dizer que eu estava nas nuvens, pois na verdade sentirá como se tivesse beijado um amigo não alguém com o qual dividia sentimentos realmente intensos. Eu teria de aprender á ama-lo, mas esse era um preço pequeno a pagar se levar em consideração toda a confusão que uma relação com Niall podia me levar.

- É melhor nós irmos – diz enquanto sorri amplamente. Concordo com um movimento quase imperceptível. Jack estende sua mão e eu a seguro, mas não sinto meus dedos se conectarem aos dele nem meu coração pungente no meu peito ou as borboletas voando alvoroçadas em meu estômago.  

Nada. E isso dói porque eu quero ficar com alguém que goste de mim, que se importe com meus sentimentos, mas meu coração não tem bussola e se este tiver uma com certeza ela está quebrada. Eu odeio sentir isso, essa tristeza queimando em meu peito ao pensar que amo alguém que não me pertence e vê-lo com outra me faz sentir como se o sol tivesse se apagado e eu agora tremo nessa infindável escuridão que me persegue.

Sacudo a cabeça me livrando de tais pensamentos deprimentes. Descemos as escadas conversando sobre coisas bobas como nossas famílias e amigos, musica e comida.

Jack parece feliz, o que levanta um pouco meu animo. Ao menos alguém está contente.

Uma pergunta constante persegue meus pensamentos: Por que ela? Quero dizer, o que Niall Horan vê naquela ufana cuja realização de vida se dá a quanto dinheiro vai ter na conta do banco. O cerne da questão é qual o diferencial que existe na Ana para que em vez de escolher uma das milhares de garotas que se jogam constantemente aos seus pés ele tenha ficando com ela?

Talvez Tatiane esteja certa e todos os homens queiram a mesma coisa. Se isso for verdade, significa que eu perdi muito tempo fazendo prelações na tentativa de abater o espírito inexorável dela e a idiota em todas as ocasiões fui eu.

- Nossa, onde vocês estavam? – Indagou Collin enquanto pestanejava. Meu rosto se tingiu em tom de carmesim – ah não me importa. Não temos tempo! – me segurou pelo braço e me guiou rumo ao camarim. Virei para encarar Jack e lhe dei um meio sorriso de desculpas.

Dessa vez o traje era mais atrevido e definitivamente algo que eu não usaria em circunstancias normais. Um short de cintura alta com três botões metálicos no canto esquerdo e direito. Ele era maleável e curto, de modo que destacava as minhas pernas. Este estava preso a suspensórios vermelhos que passavam pelo ombro da camisa branca de colarinho preto feito com miçangas. Para finalizar o look coloquei alguns braceletes e me equilibrei em um scarpin preto com um salto enorme.

Eu estava irreconhecível – no bom sentido. 

Durante o trajeto para o salão principal, onde seriam tiradas as próximas fotos, ouvi algumas vozes que me eram familiares. Collin não pareceu se importar até que parou sobressaltado com o ruído de algo, até parecia um gato eriçado. Ele caminhou batendo os pés ruidosamente pelo piso com seus mocassins de couro.

Mary e Sarah me arrastaram juntas curiosas com o porquê do furor de Collin. Voltamos para o Hall e eu quase cai do salto quando vi quem estava na entrada. Louis, Zayn, Harry, Liam, Niall e ANNA. Droga de meretriz. Parece que não me deixa em paz!

- O que você está fazendo aqui? – rugiu Collin.

- Bem, eu soube que Abigail não pode vir por isso pensei em ajuda-lo a substituindo – respondeu ela fingindo não notar o tom de voz dele.

- A única ajuda que pode me dar é tirando esse seu traseiro gordo do meu estúdio! – esbravejou Collin. De soslaio olhei Niall, ele parecia muito calmo para alguém que acabará de presenciar um ataque verbal direto para a namorada.

- Ai por que você está sendo tão grosso comigo? – perguntou Anna enquanto franzia a boca. 

- Você sabe o porquê! Rasgou um dos meus vestidos na coleção passada, me constrangeu na frente dos maiores estilista em um dos meus desfiles e ainda tem o atrevimento de me procurar para um trabalho... – ele estava muito bravo e qualquer um podia perceber isso. Collin não falava mais e sim gritava com todo o fervor que podia. Logo Jack apareceu ao meu lado e sussurrou em meu ouvido:

- O que é isso? – eu sentia o olhar de Niall queimando sob mim, por isso discretamente subi nas pontas de meus pés e falei enquanto me apoiava em seu pescoço:

- É só uma briga boba – voltei a minha posição normal e Jack colocou o braço em volta de meus ombros. Perfeito.

- Aquilo foi um acidente – Anna tentou se justificar.

- Derramar café na própria camiseta é um acidente. Entrar no ônibus errado é um acidente. Isso minha cara se chama embriagues. Você estava mais bêbada que a Lindsay Lohan! – Ai essa doeu.

- Olha só – começou Anna. Niall puxou o seu braço, mas ela o soltou – por que você não vai pastar seu viadinho?

- E por que você não volta para o oceano sua baleia jubarte! – au, caramba. O Collin está acabando com ela e isso não é justo, o Niall nem se importou de impedi-lo. Eu sabia que não era certo continuar aquela briga, pois não levaria a nada. Os dois estavam sendo irracionais dizendo palavras afiadas como adagas, que feririam seus sentimentos quando relembrassem essa conversa mais tarde.

- Collin – chamei dando um passo para frente – pare com isso, não vale a pena.

- Acha que estou errado? – ele vira com tal agilidade que quase caio por sorte Jack me segurou.

- Não foi isso o que eu disse – respondi enquanto admoestava - é só que já estamos perdendo tempo de mais com essa besteira.

Ele fechou os olhos como se processasse as minhas palavras. Por fim após segundos que pareceram horas ele se dirigiu a Anna e disse parecendo um tanto vexado a meu ver:

- Me desculpe ta legal? Não foi cortes de minha parte xinga-la – ela o investigou com os olhos e respondeu.

- Ta, tanto faz. Eu vou embora se é isso que você quer, pelo visto você já tem outra garota mesmo – ela se virou e foi embora em passos largos.

O ar que respirávamos parecia pesar uma tonelada, ainda podia-se ouvir o arfar de Collin.

- Safire, eu não sabia que você era modelo – Louis quebrou o silencio brincalhão como sempre.

- Ah e-eu não sou... – gaguejei.

- É sim – Collin entrecortou minha fala – uma ótima modelo – acrescentou e eu corei envergonhada pelo lisonjeio.

- Você está de mais Safire – exclamou Harry.

- Er... Obrigado – então de súbito lembrei-me de Jack – Ah pessoal esse aqui é o Jack, ele é fotografo – o apresentei para os garotos. Eles pareceram gostar dele exceto Niall que ficou calado.

- Bom, garotos nós temos que ir. Vocês devem estar procurando Elizabeth. Ela está no segundo andar é só subir as escadas e entrar á direita não tem como errar - Despedi-me deles e segui Collin.

- Eu não entendo uma coisa, o que essa tal de Elizabeth está fazendo aqui? Ela é alguma sócia sua? – perguntei ávida por uma resposta.

- Não. Ela é responsável pela capa de uma revista famosa aqui de Londres esse mês e pediu para usar uma parte do meu estúdio para fotografar os membros do one direction – explicou rapidamente – agora vamos às fotos.

...

- Tchau Collin – me despedi dando-lhe um beijo em cada lado do seu rosto. Eu tinha colocado meu tênis converse novamente o que significava que agora eu conseguia andar.

- Espere- ele chama. Aproximo-me e com o som da voz baixo me entrega uma pasta – eu pesquisei e existem mais de trezentas Lindas Carther na Inglaterra – eu desvio o olhar desanimada – mas, existem só quarenta em Londres. Já é um começo.

É um começo bem comprido para o meu gosto.

- É – murmuro.

- Ah vamos – ele ergue a minha cabeça – vai ser que nem em cartas para Julieta. Nós vamos achar a sua mãe.

- Será que eu também vou ficar com o cara no final? – ele me fita e com um olhar divertido responde:

- Eu aposto que sim – parece que nada está dando certo. O garoto pelo qual meu coração bate forte está namorando outra e agora vou ter que bater de porta em porta procurando por minha mãe. Ótimo – que tal nos encontrar amanhã para começar a busca?

- Pode ser – respondo com um balançar de ombros – eu já vou indo. Tchau e obrigado por tudo.

- Ah não querida eu que agradeço.

Descendo as escadas observo pela ultima vez aquela bela mansão vitoriana. Seus móveis em estilo provençal frances e acabamento capitonê eram de tirar o fôlego, com requintados adornos e detalhes minúsculos que pareciam terem sido esculpidos a mão transpunham uma elegância digna da realeza. Imagino como deve ser morar em um lugar assim, com esse piso de madeira robusta tão bem polido que se é capaz de ver sua imagem refletida nele. O cheiro das macieiras no ar é tão revigorante e acolhedor, quem me dera que este lugar fosse meu. Em vez de transforma-lo em um estúdio com certeza teria feito de tal um lar, no qual os dedos das noites gélidas do inverno não conseguissem entrar e o calor crepitante da lareira pudesse espantar qualquer frigidez da natureza e da alma.

Suspiro em meus devaneios. 

Sinto alguém se aproximar por traz e me viro rapidamente. É Jack segurando sua jaqueta com o braço por cima do ombro, eu não estou apaixonada por ele, mas não posso negar que ele é quente – se é que me entende.

- Quer uma carona? – questiona-me enquanto coloca seu equipamento no porta-malas.

- Se não for muito incômodo – digo com um sorriso.

- Ah não, será uma honra – Jack pisca para mim e abre a porta do passageiro.

O carro dele não é chamativo como o de Harry que parece ser um dos automóveis usados na gravação do filme de James Bond, mas é legal e evita olhares de estranhos na rua o que diminui meu desconforto. Ele liga o rádio e eu sorrio timidamente quando percebo que está tocando Live while we’re Young.

- Então me fala, você veio parar em frente ao estúdio de Collin de propósito ou foi só o destino? – eu o olho por um momento pensando que estou triste e feliz pelos acontecimentos de hoje.

Foi um sonho poder ir ver árvores de sakura com Niall, uma experiência incrível que nunca vou esquecer, mas por outro lado tive meu coração arrasado quando ele foi atender a Anna em vez de mim. Esses últimos dias tem sido feitos de altos e baixos, desde salvar a vida de Niall Horan até ser soterrada em neve e ouvir as besteiras que saiam da boca de Anna.

- Eu não gosto da ideia de ser um joguete do destino, mas devo dizer que sim foi sem querer. – Jack parece bem satisfeito ao ouvir isso – Eu estava dando uma volta pela região – não seria prudente dizer a verdade nesse caso. Um dia eu a diria, bem talvez – ai eu me perdi e fui parar lá – tecnicamente é verdade ou ao menos uma parte dela.

- Hum – Jack franziu o cenho – parece que estamos destinados a nos encontrar.

- Nossa que romântico – brinco feliz com a descontração -. Mas então o que você faz quando não está tirando fotos?

- Eu frequento uma faculdade de fotografia e artes plásticas.

- Ahm e você é modelo dos artistas? – para o meu grande prazer suas bochechas se tingem de escarlate.

- Por mais que seja tentadora a ideia de posar sem roupa para desenhistas tarados, não eu não sou – rio ao imaginar a cena, coitado eu devo estar o constrangendo – mas e você?

- Bom eu iria começar a cursar medicina em uma faculdade no Brasil – digo um pouco receosa.

- Iria? – ele me indaga.

- Ah – suspiro desconcertada com se interrogatório – é que sei la... Eu não quero isso, só estou fazendo o que meus tutores querem para deixa-los orgulhosos.

- Ta, mas enquanto ao que você quer? – mas que garoto tenaz – Já pensou nisso?

- Eu sempre tive uma paixão por jornalismo – inicio cautelosa – quando eu era criança tinha esse sonho de estudar jornalismo fora do país e escrever matérias sobre grandes acontecimentos e lugares aos quais visitaria – balanço a cabeça em uma tentativa inútil de clarear a minha memória.

- Ora, ora quem diria – ele esboça um sorriso maroto – estou saindo com uma futura jornalista.

- Eu não diria isso – o repreendo – ainda nem entrei em uma faculdade relacionada ao assunto.

- Pois deveria. Sabe aqui em Londres temos ótimos lugares e você ainda tem meses para pensar e se decidir.

Eu o olho embasbacada. Jack percebe e pergunta:

- O que foi?

- Você.

- Eu? – ele parece confuso.

- Você é a primeira pessoa que se importa com o que eu quero e não me diz o que eu deveria querer.

O carro para em frente ao Hotel e antes que o lado cognitivo de meu cérebro possa me impedir falo:

- Por que você não sobe comigo?

...

POV- Niall

Pela janela posso vê-la saindo de carro com aquele cara, o fotografo. Eu não posso controlar a onda de ciúmes que me atinge com um fulgor equivalente a mil sois. Mas que droga! Odeio que ela esteja saindo com ele. Será que eles estão namorando? Já se beijaram? Deus será que eles... NÃO! Ela mal o conhece. Mesmo assim eu tenho medo de que ela encontre algo melhor nele, algo que eu não tenha.

Naquele momento no parque em que vi seus lábios se aproximarem Ah! Como desejei beija-la, envolver meus braços em volta dela e me perder em seus olhos castanho. Mas é claro que a Anna tinha que me ligar, por um segundo quase joguei o celular fora. Só que me lembrei: Que tipo de homem seria eu se traísse minha namorada, mesmo nossa relação estando abalado não posso simplesmente sair beijando outra garota, por mais que ela seja linda, inteligente e com um sotaque sexy como o de Safire.

Tenho que terminar com a Anna, não aguento mais sua maldade e conversas vazias. Nosso namoro não é real, parece que sou uma marionete em suas mãos. Como posso terminar tudo sem atiçar a raiva dela? Tenho medo do que ela poderia fazer com Safire.

E ainda tem aquela briga que aconteceu no Hall há poucos minutos atrás, Safire ajudou Anna mesmo depois da maneira rude com que a tratara.

- Terra chamando Niall – Liam me cutuca - Niall responda.

- Ah... Oi – me viro lembrando de onde estou – desculpem eu estava...

- ...Pensando na Safire – Zayn completa.

Como ele sabe?

- Por que você acha isso? – eu pergunto tentando disfarçar – Por algum acaso você virou um vidente? – talvez eu tenha sido grosso, mas é que eu estava irritado com essa história da Safire e a petulância de Anna.

- Niall – chamou Louis – nós somos seus amigos, sabemos que você sente algo pela Safire. E é obvio que ela sente algo por você também. Agora vocês precisam colocar as cartas na mesa e se entender para assim ficarem juntos.

- Não é assim tão fácil – respondo.

- Então pare de complicar as coisas – Liam rebateu.

- Gente, eu já tenho uma namorada – eu lembro a eles.

- Você quer dizer uma dona não é? – Louis retruca.

- Louis! – Liam o repreende.

- O que? É verdade! – ele reclama.

- É eu tenho que dizer – inicia Harry – Louis está certo. Niall, em um relacionamento saudável as pessoas brigam por terem diferentes opiniões, mas você e a Anna... Bem, vocês não brigam porque toda a vez que ela diz uma coisa você concorda mesmo que não seja verdade.

- Você esta comendo na mão dela – Louis acrescenta – e não no bom sentido.

Eles estão certos, mas o que raios eu posso fazer?

- Vocês querem que eu termine com a Anna? – eu indago confuso.

- Olha isso quem decidi é você – Liam faz uma pausa – o que nós queremos dizer é que você fica evidentemente mais feliz quando está com Safire.

- Cara, faz o que seu coração mandar – Zayn sempre teve um lado filosófico do qual usa em alguns momentos, este era um deles - Você tem que se perguntar se vale realmente a pena namorar a Anna. Você a ama?

Eu não precisei pensar na resposta, pois ela já estava na ponta língua:

- Não.