Lá estava eu de novo, no lugar o qual eu reservei para ir quando os problemas escancaravam a porta da minha casa. Era um pesadelo viver em um lugar onde minha mãe só sabia xingar meu pai, que só sabia beber e falar mal dos amigos de trabalho, além de me bater por todos os erros que ele mesmo cometia. Hoje meu pai quebrou a porta de casa, procurando por mim. Algo tinha acontecido no trabalho e ele estava cheio de cicatrízes que ainda estavam avermelhadas. Minha mãe foi logo buscar algum remédio de primeiros socorros, mas ficou divida entre salvar a vida dele ou salvar a minha vida. Ele vinha com o cinto nas mãos, chicoteando a parede enquanto eu tentava escapar para meu quarto, no andar de cima. Tropeçava milhões de vezes na escada mas mesmo assim, tentei o máximo possível em ser rápido o bastante para escapar das chicotadas de meu pai enfurecido. Já não bastava as cicatrízes que ele me deu nas pernas e no rosto? Aish.

Por algum milagre, eu consegui fugir das chicotadas de meu pai. Eu não tive coragem de olhar para trás pois não queria ver algo que não me dava prazer em ver. Já perdi a conta de quantas vezes minha mãe apanhava do velho bêbado em meu lugar... Mas nem me olhar nos olhos, nem um abraço reconfortante, nenhuma palavra saía da boca dela. Era como se ela estivesse com medo de me acalmar, de me acolher do meu próprio pai. Eu não aguentei mais escutar os gritos chorosos que vinham do outro lado da minha porta, então decidi descer pela janela, colocando em risco até minha própria vida. Felizmente, não era tão alto e o impacto não foi tão forte quando meus pés tocaram o chão, mas assim que me levantei não esperei mais um segundo e fugi. 

O lugar era tão lindo e reconfortante... Principalmente de noite. Eu sentava em um gramado tão verde quanto merecia ser no verão, apesar de não estar tão quente, enquanto admirava a vista de um rio à minha frente. Estava tão calmo quanto o silêncio que predominava naquele lugar. E o que o fazia ficar mais bonito eram as luzes da cidade que refletiam em suas águas, fazendo aquilo parecer um abismo de luzes, onde estas caíam infinitamente.  

- Appa... Omma... - Sussurrei para o nada enquanto meu rosto lentamente se enxarcava de lágrimas. - Eu ainda amo vocês...

De fato ainda os amava. Mesmo com o inferno que era a minha casa e com a minha família que era desintegrada de pouco a pouco, eu ainda os amava e agradecia por pelo menos me darem teto e comida. É claro que uma pessoa precisa de amor para sobreviver a ingorância que por ventura pode tomar conta de si, mas eu me esforçava o máximo para não me tornar frio, sem emoção. 

- Yah. - Ouvi atrás de mim. Só podia ser SungYeol, só ele conhecia esse lugar... Então nem me dei o trabalho de virar para ele. - Aconteceu alguma coisa?

- Você me conhece bem... - Ri soprado enquanto tentava enxugar minhas lágrimas antes que ele me visse. 

Ele se sentou ao meu lado e admirou a mesma paisagem que eu. Seus dedos estavam discretamente tentando tocar os meus, mas assim que senti o toque, me afastei. Não queria me sentir estranho naquela hora, só não naquela hora...