O Melhor Presente escrita por Lady Dark Moon


Capítulo 1
O Melhor Presente


Notas iniciais do capítulo

É uma história de Natal que fiz com o Simple Plan, envolvendo principalmente o David e sua irmã, Nicole (personagem ficticia), sendo o resto da banda personagens secundários. É uma one-shot, espero que gostem.
E preparem seus lecinhos porque o final é de chorar...



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O Melhor Presente

 

A casa estava lindamente decorada, já não havia um centímetro sequer que Nicole não houvesse colocado seja um laço vermelho, uma bola dourada ou até mesmo lâmpadas pisca-pisca por toda a extensão do corredor ou das escadas. Não sei como minha meia-irmã nanica encontrava um jeito de pendurar coisas em lugares impossíveis. Como na noite do dia 27 de novembro em que cheguei em casa morto de cansaço após um show e me apavorei ao ver a árvore que ela havia enfeitado. Ela não tinha menos de 2 metros de altura, isso eu podia jurar, e até hoje não consegui encontrar uma explicação para ela ter colocado uma estrela bem na ponta da árvore sem ajuda de outra pessoa, pelo menos isso é o que ela dizia. Garanto que o nosso vizinho Victor-eu-sou-lindo-e-musculoso Delacroix tenha ajudado ela, já disse para ela não se meter com ele, velho demais para minha pequena irmã, mas essa era a forma carinhosa que ela gostava de chamá-lo. Típico amor adolescente. Platônico e adolescente.

- David – a ouvi chamar da cozinha enquanto eu tentava encontrar um pequeno espaço para pendurar uma das últimas listas de presentes que eu havia feito para esse Natal, estava difícil encontrar um lugar para pendurá-la – Que horas eles voltam para casa?

Nicole estava ansiosa para que o resto da banda chegasse logo em casa, essa seria a nossa primeira Ceia de Natal juntos na casa nova. Depois de uma “pequena” conversa que durou três semanas decidimos comprar uma casa perto de Montreal para morarmos todos juntos, o que facilitaria bem as coisas para reuniões e composição de novas canções e também porque sentíamos falta de como era vivermos todos juntos, assim como na época em que começamos a tocar. Não queríamos que a fama subisse a nossa cabeça e nos deixasse distantes, a ponto de nos tratarmos apenas profissionalmente. Não! Nós seríamos sempre a família Simple Plan.

- Daqui a pouco eles estão aí. – disse em resposta a sua pergunta enquanto me dirigia a cozinha para ver se estava tudo pronto. - Todos foram ver suas famílias, antes da começarmos a Ceia eles estarão aí.

Combinamos de estarmos todos em casa antes das 7, menos eu e Nicole, é óbvio, que já estávamos em casa. Este ano ficamos para a decoração. Grande burrada minha, nunca carreguei tanta coisa em minha vida. Eu esperava que ela não viesse pedir dinheiro emprestado para pagar tudo isso, nem pensar, ninguém mandou ela começar a comprar compulsivamente tudo que fosse brilhante e vermelho para pendurar pela casa. 

Decidi subir para meu quarto tomar um banho antes que ela encontrasse mais alguma coisa para eu fazer. Deitei na cama e olhei para o teto sem pensar em nada. Estava com a mente vazia. Ainda entrava alguns raios de sol pela janela ampla de vidro que ocupava quase toda a parede oeste, embora nevasse forte do lado de fora. Fechei os olhos e absorvi o fraco calor que os raios emanavam e doces lembranças começaram a passar diante de meus olhos, como se fosse imagens de um filme velho. Lembranças distantes de meus primeiros Natais. Os primeiros e últimos em família. As imagens eram tão nítidas, parecia que passava em câmera lenta, um filme mudo onde eu não conseguia escutar som nenhum, mas apenas em ver tais imagens eu podia sentir toda e emoção que havia no momento. Emoções que eu nem sei se algum dia eu sentiria novamente.

Foi quando uma dessas lembranças ficou em cores de repente, todas outras eram em escala de griz, sem nenhuma cor, e pude de repente ouvir sons. Ainda me lembro perfeitamente do meu quinto Natal. Meus cinco anos. O último com meu pai. Época em que eu ainda acreditava no bom velhinho. Quando eu nem imaginava que fosse o Sr. Desrosiers que se vestia com aquela roupa vermelha e aquela barba longa e branca por cima de seu rosto ainda jovem para um homem que já era pai. Nessas horas ele não era meu pai, ele era o Papai Noel, o meu Noel e encantado com toda a magia do momento eu nunca me perguntei por que só minha mãe estava ali comigo para recebê-lo de braços abertos.

- Você tem sido um bom menino. – ele dizia fingindo uma voz grossa. – Merece bons presentes também. E não esqueça que seus pais o amam.

“Seus pais o amam.” Se a frase estivesse no singular hoje em dia eu não acreditaria. Seria mais fácil se ele dissesse “Sua mãe o ama.” Isso sim seria verdade, sei que ela jamais me abandonaria como ele fez. Não havia mais Papai Noel, eu não tinha mais o meu Noel. Foi quando as imagens perderam a cor novamente e algo queimou dentro de mim, uma dor que há muito eu não lembrava. Sentia os braços da minha mãe em volta de mim, me segurando enquanto as lágrimas corriam involuntariamente pelo meu rosto enquanto eu gritava pelo seu nome. Seu nome eu nem lembro mais... Ou sou eu que não quero lembrar. O ronco do carro rugia alto em meus ouvidos enquanto ele se distanciava mais e mais de mim, mas o ronco não parava. O ronco de repente se tornara um barulho estridente e insuportável para meus ouvidos, não era mais o ronco que eu ouvia, era eu que gritava em meio às lágrimas que teimavam em cair. A magia não existia mais. A família não existia mais, mais uma vez eu perguntava “Onde está o meu Noel?”.

Meu corpo sacudia e eu escutava a doce voz de minha mãe chamar meu nome, mas eu não via seu rosto, não... Eu não queria abrir os olhos. A voz continuava a me chamar, mas não era mais minha mãe. As imagens começaram a ficar cada vez mais distantes, senti braços ao meu redor enquanto meus olhos começavam a se acostumar com a luz, reconheci meu quarto de imediato, mas a visão que eu tinha de cima da minha cama estava diferente. Eu não estava na minha cama, não sei como eu estava sentado no chão, de costas para a janela e já não havia mais sol. O tempo havia passado talvez rápido demais sem que eu percebesse. Afastei os braços que me seguravam e vi os olhos apavorados de minha irmã enquanto ela dizia baixinho “Vai passar”. Do que ela estava falando? Percebi que meus olhos ardiam, eram as lágrimas. Eu precisava me recompor, não podia deixar minha pequena irmã pensando que eu era um louco enquanto dormia. Não queria assustá-la.   

- Calma Nick, eu tive um pesadelo. Já estou melhor.

Ela levantou-se em me olhou séria para se certificar que eu estava falando a verdade.

– Você me assustou. – ela disse baixinho – Você gritou “Não me deixe, não me deixe.”, não faz mais isso comigo Dave. Se algo acontecer contigo eu não sei o que eu faria.

- Está tudo bem, de verdade.

- Vou deixar você tomar um banho. – ela disse indo em direção à porta – Eles já estão aí. Só falta você.

Assenti com a cabeça e quando estava indo em direção ao banheiro pude ouvir sua voz novamente.

- A propósito, mamãe ligou e mandou um beijo pra você. – Nicole era fruto do segundo casamento da mamãe, então ela sempre evitava falar do pai dela perto de mim - Ela disse que está com saudades. E seu eu fosse você não demoraria, daqui a pouco vamos trocar os presentes e Pierre me contou que prepararam uma surpresa pra você. Só não posso dizer o que é. – ela disse isso sorrindo e fechou a porta. Estava na cara que ela sabia exatamente o que era, mas não iria me contar. Respirei fundo tentando não lembrar do que eu havia passado e fui tomar meu banho quente, era o que eu realmente estava precisando numa hora dessas.

 

Entrei na sala e vi todos em volta da lareira para se esquentar enquanto esperavam por mim, pelo jeito Nicole não havia comentado o episódio de minutos atrás, ou pelo menos eles fingiam bem que não sabiam de nada. Abracei todos meus amigos, meus irmãos de coração, até mesmo o irmão de Pierre estava junto com eles, este seria um grande Natal. Disso eu tinha certeza. Começamos a trocar os presentes perto da meia-noite, achamos melhor comer todas as guloseimas que minha irmã havia preparado só mais tarde, assim teríamos mais tempo para aproveitarmos juntos. Depois de muitas risadas e lágrimas, conseqüência dos presentes, Chuck anunciou que estava na hora do meu presente. Um presente de todos eles para mim. Fiquei sem saber o que dizer e sem saber o que esperar, pois eu realmente não tinha idéia nenhuma do que eles haviam preparado. Escutei passos próximos à porta de entrada e de repente três batidas fortes. Quem seria àquela hora? Mas parecia que eu era o único que estava surpreso com isso, pois todos sorriam calorosamente para mim.

- Deixa que eu ajudo. – Sebastien disse enquanto passava uma venda para Chuck colocar em meus olhos.

Senti que um deles, não tinha certeza de qual, pois não estava vendo nada, me guiava em direção à porta. Agora eu havia me dado conta, quem estava na porta era a minha surpresa. Ouvi a porta se abrir e eles pararam de repente, me fazendo parar também, é claro. Alguém próximo a mim suspirou e eu não pude distinguir quem, mas sei que isso fez com que eu ficasse nervoso também. Minhas mãos começaram a suar e de repente elas tremiam, tudo isso, involuntariamente.

- Vou tirar a venda, mas não abra os olhos ainda. – Pierre falou enquanto sentia ele tirar a pequena tira de pano preto dos meus olhos. – Agora pode abrir.

Abri os olhos e vi o rosto de Pierre bem próximo ao meu, ele falou baixinho para que apenas eu escutasse “Eu espero que você goste.”, e saiu da minha frente. Primeiramente eu não vi nada nem ninguém, apenas uma porta aberta diante de mim. O vento frio do inverno congelante de Montreal passou por mim, então me dei conta que a surpresa não estava mais à minha frente e sim, atrás de mim. Virei-me hesitante e nesse meio segundo milhares de coisas passaram pela minha cabeça. Soltei um suspiro alto quando vi o que estava diante de mim, ou melhor, quem. Olhos de bondade me encaravam, olhos sinceros que pedem perdão. Olhei e era tudo igual aquilo que eu deixei enterrado dentro de mim durante muito tempo. Igual ao que eu me negava a lembrar, mas que eu percebia que fazia muita falta para mim. A roupa vermelha, a barba falsa branca e longa e um rosto muito jovem para ser pai, exceto agora por algumas marcas de expressão que rodeavam seus olhos cheios de lágrimas, talvez iguais aos meus, já que a imagem ficara um pouco borrada. Esfreguei meus olhos rapidamente tentando secá-los. Havia muito tempo que eu não o via e não queria perder um segundo sequer sem admirar o seu rosto.

Corri em direção aos seus braços abertos e escutei entre soluços por causa do choro algo como “Me perdoa meu filho.”. Claro que eu o perdoava. Agora ele estava aqui junto a mim e isso era o que importava no momento.

- Eu te amo, pai. - Foi tudo que eu consegui dizer. Eu tinha novamente o meu Noel. Esse era o meu melhor Natal, o meu Melhor Presente.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam???