O quarto era gigante e exalava um cheiro doce de algum perfume masculino. Os garotos estavam sentados em uma roda e agora olhavam fixo para a direção da porta. Todos estavam com pijamas, bem parecidos com o meu e os das meninas. Louis preparava algumas almofadas ao redor, Liam estava ao telefone, provavelmente conversando com Danielle. Niall, como de costume, comia algo. Zayn estava falando algo parecido com “Vas Happenin’” para os meninos com um sorriso engraçado. Harry, ao me ver, deixou escapar um sorriso. Um sorriso lindo.

Fomos entrando e alguns deles nos indicaram locais para podermos nos sentar. A sequência da roda ficou assim: Niall, Michelle, Liam, Emily, Zayn, Louis, eu e o Harry.

– Primeiramente, vamos estabelecer as regras. – Louis começa.

– É… nada de brincadeiras sem graça. – Liam adverte com seu jeito fofo de se preocupar.

– Mas essa é a graça da brincadeira, querido Liam. – Louis sorri para Liam em um tom travesso.

– Ok, mas nada pesado. Temos garotas em nossa companhia e bem… conhecemos-nos há pouco… então, peguem leve. – Harry fala em seu tom calmo de sempre.

– Deixem de conversa fora e vamos logo começar isso! – Louis fala ao segurar uma garrafa de coca-cola de vidro vazia.

Ele posiciona o objeto no centro da roda e dá uma última olhada panorâmica para todos antes de girá-la.

– A ponta pergunta e o fundo responde. – Niall fala e Louis ri do comentário.

Não pude deixar de abafar um riso. Que garoto mais cheio de duplos sentidos.

A garrafa gira freneticamente até parar com a boca virada para Liam e o fundo para Emily. Ele sorri um pouco envergonhado e pensa em algo para perguntar.

– É, bem… quantos anos você tem?

– Liam, pelo amor de Deus, que pergunta é essa? – Louis protesta e todos nós caímos na risada.

– Eu tenho 19. – Emily sorri. – Faço 20 daqui a dois meses.

– Me deixa girar essa garrafa novamente e que ela não pare virada para o Liam. – Lou balança negativamente a cabeça com seu jeito engraçado.

Dessa vez a garrafa quase não para de girar e… Louis pergunta e … eu respondo. Oh my Godness…

– Quando e com quem foi o seu primeiro beijo? – Louis foi rápido.

Não, eu não acredito que terei que pronunciar o nome daquela coisa… É sério isso? Solto um sorriso fraco e… claro, eles vão rir com a minha resposta, com certeza.

– Com um cara chamado Jack, quando eu tinha 17 anos. – eu não sabia para onde olhar.

Harry olhou rápido para mim com um tom de preocupação ao ouvir minha resposta. Claro, ele sabia quem era o Jack e o que ele havia feito comigo. Pude perceber que ele quis me dizer algo como “Se não quiser, pode sair da brincadeira”, porém o olhei expressando um “Tudo bem, não tem problema”.

– 17? Quantos anos você tem? – Niall pergunta surpreso.

– 18 – sorrio para o loiro com a boca cheia de batata ruffles de churrasco.

– Sério? – Louis pergunta, também surpreso.

– Sim.

E um quase silêncio se instalou, porém Zayn foi mais rápido que todos eles e gritou:

– Ah não! Nós tínhamos entrevista hoje!

– Droga! Eu preciso ligar para o Paul! – Liam retira o iPhone do bolso e disca algum número.

– Enquanto o Daddy fala com o chato vamos continuar! – Louis pega novamente a garrafa e a gira.

Dessa vez a garrafa para de Michelle para Niall.

– Você costuma comer tanto assim o tempo inteiro? – Niall ri com a pergunta soltando alguns pedaços de batata pela boca.

Eu não me controlei. Todos me acompanharam.

– Eu te garanto, você ainda não viu o prato principal dele! – Zayn fala.

– Tudo certo, a entrevista nem era hoje mesmo. – Liam volta para a roda.

– Ótimo, vamos continuar! – Louis gira novamente.

Dessa vez eu pergunto e ele responde!

– Ora, ora… - dou uma leve risada. – E quando foi o seu primeiro beijo, senhor Louis?

– Para ser honesto, não lembro exatamente, mas acho que eu tinha uns onze anos.

– Nossa, isso aqui tá mega chato. Deixa-me girar essa garrafa para ver se melhora. – Niall estica o corpo até alcançar o objeto e girá-lo.

– Ai, não, chega dessa brincadeira infantil. Vamos ficar conversando mesmo que é o muito mais produtivo. – Harry se pronuncia.

– Concordo. – falo ainda rindo do Niall faminto.

– Tudo bem.. – Louis faz uma cara de derrota e levanta-se indo em direção ao frigobar e retirando refrigerantes de dentro.

E todos foram se dispersando. Eu apenas observava. Michelle estava rindo como nunca conversando com Niall, Zayn falava algo para Emily e Liam conversava algo com Louis.

– Quer conversar? – Harry levantou-se e veio até o meu encontro.

Eu estava encostada na cama de casal com as pernas esticadas. Ele veio e fez o mesmo que eu, sentando ao meu lado.

– Claro.

– Ei… desculpe-me pelo Louis.. É que digamos… ele não tem todos os miolos funcionando corretamente. – ele fala baixinho perto do meu ouvido direito. Um leve arrepio correu pelo meu corpo ao sentir o ar quente de sua boca contra o meu rosto.

– Sem problemas, de verdade. – sorrio. – Mas então, quando irei entrar em ação como fotógrafa?

– Amanhã temos entrevistas, então acho que a partir de amanhã.

– Nossa, que sono… - falo bocejando e me espreguiçando, jogando os dois braços esticados para frente.

– Vem assistir um pouco de tevê. – ele levanta-se e me puxa pelo braço.

O quarto era bem grande e continha uma segunda sala, que na verdade era uma varanda. Fomos andando até lá, e à medida que o vento que entrava pela janela passava por ele, eu sentia um cheiro muito bom que lembrava menta vindo dele contra o meu rosto.

A varanda continha um sofá gigante na cor laranja escuro com muitas almofadas. Ele pegou o controle e sentou-se. Sentei ao seu lado.

– Que tal The Big Bang Theory? Eu sei que você adora.

– Sim.

Ele era tão gentil. Senti-me péssima em ter achado por um momento que ele fosse uma pessoa ruim. Isso ele não era. Ou pelo menos não aparentava ser. O único problema ali era eu que ainda estava com esse pensamento idiota de não querer mais acreditar em ninguém, que eu só iria quebrar a cara novamente. Mas ele é uma pessoa boa, amigo de verdade. E isso me faz bem. Tenho que deixar de ser rude com todos, assim como fui com ele. Leva um tempo para consertar as desventuras que eu passei e apagar essas cicatrizes, mas o tempo e as pessoas certas sempre ajudam.

– Anne? Tá pensando em quê? – Harry me tira dos meus devaneios e volto meu rosto para ele.

Ele sorri para mim. Um sorriso tão lindo que, eu juro, nunca vi igual. Ele consegue, apenas fazendo isso, me fazer sentir-me melhor, de alguma forma que eu não sei. Isso parece até loucura. É como se fossemos velhos amigos. Vai ver ele estava certo quando falou sobre isso na Lodon Radio naquela noite…

– Nem sei… acho que em você. – me dou conta do que falei e desvio o olhar para dentro da sala.

Os garotos estavam tocando violão e cantando com as meninas. Eles riam bastante ao som de uma música com o refrão “vas happenin boys! Vas happenin boys!”

– É? E posso saber no que exatamente estava pensando sobre mim?

Volto a minha atenção para ele e o encaro fundo naqueles olhos incrivelmente verdes.

– Obrigada.

Ele esboça uma expressão confusa e logo eu sorrio torto.

– Você está sendo um ótimo amigo para mim. Gosto de estar ao seu lado. E, me desculpe. Desculpe por eu ter sido rude com você e ter te desprezado algumas vezes. É só que…

– Eu te entendo, não precisa se desculpar. – ele põe a mão ao redor da minha nunca e me puxa ao seu encontro, logo me dando um beijo leve na testa. – Eu que tenho que te agradecer.

– Agora sou eu quem pergunto o motivo.. – sorrio.

– Você também tem me ajudado bastante. Não tem sido fácil, mas sei lá, você simplesmente me entende, e isso é muito bom.

Encaro-o enquanto ele pronuncia lentamente todas aquelas palavras doces. Ele é tão calmo. Tão sereno. Ele transmite uma paz enorme. Seus cachos estavam completamente desordenados devido ao vento que entrava descontroladamente pela janela. Estico minha mão e ajeito seu cabelo bagunçado, na tentativa de ajeitá-lo. Ele sorri feito uma criancinha para mim, com aquele jeitinho dele.

Ajeito-me no sofá e encosto minha cabeça em seu ombro esquerdo. Com o braço direito ele me envolve em um abraço aconchegante, e ficamos ali rindo, até eu apagar geral.

Harry’s POV

As meninas não estavam mais no quarto. Provavelmente elas já haviam ido para a outra suíte. A tevê chiava, indicando que já era bastante tarde e não havia mais programação alguma passando. Girei o pescoço na direção do quarto e vi que Lou já dormia feito um bebê todo esparramado em sua cama. Os garotos também já deveriam estar nos outros quartos.

Mas ela estava ali comigo, respirando lentamente contra o meu peito. Eu ainda a envolvia em um abraço.

Levantei-me com todo o cuidado e a peguei nos braços devagar para que não a acordasse. Fui andando lentamente e, com bastante dificuldade, consegui abrir a porta do meu quarto. E para a minha sorte, a porta do quarto dela estava apenas encostada. Empurrei-a devagar e adentrei a suíte. As outras meninas já dormiam.

Aproximei-me da cama dela e a coloquei levemente sobre as cobertas. Retirei sua sapatilha com cheiro de chiclete e puxei o edredom, cobrindo-a.

Fiquei por um momento a observando. Ela é realmente linda e parece um anjo enquanto dorme. Sua respiração lenta poderia me fazer passar a noite ali, observando-a.

Abaixo-me e dou-lhe um cuidadoso beijo no rosto.

– Boa noite, Anne.