Miopia (Ou Um Estado de Espírito) escrita por Frau Schnellfeuer


Capítulo 2
Flertando com as nuvens


Notas iniciais do capítulo

Droga. Odeio o Nyah!. O espaço pra "Título do Capítulo" nunca é grande o suficiente. Maldito seja.



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Flertando com as nuvens (Ou "Quando a chuva veio me beijar")

Amanhecia. Os dedos rosados da aurora manchavam o céu parcialmente cinzento de chuva.

No centro, nuvens que pareciam claras batidas em neve semi imersas em um líquido azul gelatinoso, muito denso, muito estagnado.

À esquerda, o céu era amarelo pálido, apenas estrias de luz surgindo por trás das nuvens cinzentas.

A lua era só um fiapo de prata surgindo por trás de uma camada superficial de nuvem no lugar onde as duas tonalidades de céu se encontravam, a junção encoberta por camadas e camadas mais profundas.

À direita o céu queimava em um tom de mundo imerso em caos, um cenário de pesadelo.  As nuvens infernais pareciam fiapos de algodão incendiado nas bordas e o centro era uma massa laranja tóxica que bem lembrava uma caldeira imensa, profunda, infinita.

Em pouco tempo, e antes que se desse conta, o céu todo tinha se transformado: Era só uma abóbada cristalina, azul no meio e clareando, amarelecendo ;  As nuvens pesadas de chuva tinham fugido para as laterais da sua visão, se tornando placas tectônicas  cinzentas e rachadas, mostrando a superfície de um oceano brilhante ao fundo.  No topo do céu e bem acima de seus olhos, restaram nuvens muito finas e fibrosas. Lembravam-lhe vagamente um cavalo, um dragão, um pássaro fantástico, a península da Jutlândia.

Duas andorinhas cortaram o céu. Um gato escapou da sua vista, furtivo. A lua reapareceu de trás das nuvens.

E o céu metamorfoseou de novo.

Caiu-lhe a primeira gota sobre a perna. Uma eternidade antes que outra atingisse o telhado próximo.  Uma sobre o papel que escrevia. Olhou pro céu.  A caldeira agora sem cor se aproximava do cento da abóbada, vinda da direita, se espalhando pelo firmamento como uma doença.  Logo milhares de gotas frias pingavam ao seu redor. E ela se deixou continuar a escrevendo na chuva, deixando as palavras serem borradas no papel.

Estava com frio e se sentiu solitária.

Mas estava em paz.

Era a última linha da página.  Essas foram suas últimas palavras no papel.

Mas o céu era toda cinza, um borrão triste quando ela levantou, espreguiçando, sentindo o beijo gelado da chuva em sua pele, seu rosto, sua boca. Seu primeiro beijo.

Ela deu as costas e saiu, com um aperto no peito ao ouvir o trovão rugindo, exigindo que voltasse.

“Traidora.” Foi o que ele disse.

A chuva a confortara e fizera companhia. E agora, quem faria companhia à chuva?


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Notas finais do capítulo

Você vai me achar maluca, mas isso aconteceu mesmo comigo, na casa de uma amiga. Era o céu mudando e eu escrevendo.
Meu primeiro beijo realmente pertence a chuva(A gente tem uma relação meio enrolada, mas eu a amo muito).
òsculos chuvosos e molhados da Frau.