Fujoshi Tales escrita por TakagiKami


Capítulo 5
The Frog Prince


Notas iniciais do capítulo

O Príncipe Sapo.
Um uke sofrendo por amar alguém que não lhe dá atenção, até que surge um seme misterioso e totalmente perfeito para roubar seu coração. Clichê? Sim! Lindo? Sim!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/21951/chapter/5

The Frog Prince

 

            Era uma vez, em um reino muito distante, um jovem príncipe de 12 anos chamado Beryl. Como não tinha o dever de assumir o trono, sendo o terceiro filho homem do rei, ele crescera sem muitas obrigações, fazendo sempre o queria e quando queria. A rainha o tinha como seu favorito, pois só ele herdara seus profundos olhos azul-esverdeado e os lindos cachos cor de cobre. Ela garantia que as vontades do filho fossem feitas lei no castelo. Assim, Beryl tornou-se um garoto voluntarioso e atrevido, acostumado em ter todos os seus desejos atendidos em um estalar de dedos.

            Entretanto, ainda que tivesse atendidas todas as suas ordens com precisão imediata, aquilo ele mais desejava era também a única coisa que era incapaz de obter. O coração da pessoa que amava.

            Seu professor particular, William, era o objeto de sua afeição. Aos 24 anos, era um dos homens mais inteligentes do reino e também um dos solteiros mais cobiçados. Além da boa aparência, tinha uma personalidade agradável e um olhar sempre gentil. Beryl o amava desde que podia lembrar, mas o professor fazia muito pouco caso de suas declarações apaixonadas. Passava a mão sobre sua cabeça e dizia “Vossa Alteza é jovem demais para compreender o amor.” Essa atitude irritava profundamente o jovem príncipe, que achava que entendia muito bem o que era desejar ter alguém inteiramente para si, aborrecendo-se quando essa pessoa falava com outros e exigindo cada segundo de sua atenção.

            Certo fim de tarde, depois de ser novamente rejeitado por seu professor, Beryl brincava com sua bola favorita (um presente do próprio William) junto ao lago próximo ao castelo, para onde sempre fugia quando queria ficar sozinho.

            -Por que ele não entende?-resmungava o principezinho, jogando a bola para o alto, para observar suas lindas cores no crepúsculo.-Eu quero que ele olhe apenas para mim. Se isso não for amor então, o que é?

            Em sua exasperação, jogou a bola com mais força do que pretendia. O objeto descreveu uma parábola e caiu no lago com um plump sonoro, desaparecendo em seguida.

            -Ah, não!-ele correu até margem.-A preciosa bola que William me deu. Não posso perdê-la! Tenho que recuperá-la, mas...-Ele encarou as águas, em desespero.-Eu não sei nadar. Melhor chamar alguém... Mas e se a bola for levada para longe?

            Enquanto o garoto sapateava no meu lugar, preso em seu dilema, uma voz disse:

            -Posso pegá-la para você.

            Beryl se espantou e olhou ao redor a procura do dono da voz.

            -Quem disse isso?-perguntou.

            -Eu disse.

            Saltou, então, do meio de um arbusto, um sapo pouco menor do que um abacate, e ficou encarando Beryl com olhos negros bastante inteligentes. Naquela época, não era incomum que sapos e outros animais falassem. Assim, o príncipe não se espantou e perguntou ao animal, um pouco desconfiado.

            -Você pegaria minha bola?

            -Sim, isso é não é nada para mim.-o sapo disse.-Mas em troca, quero que me deixe morar no castelo com você durante uma semana.

            -Você, morar comigo?-o garoto repetiu, a ideia lhe repugnando completamente.

            -É minha condição. Se não quiser, pode dar adeus à sua bola, que aliás, pode estar em qualquer lugar do lago agora.

            A ideia da bola dada por William perdida no lago era desoladora. Beryl estava disposto a qualquer coisa para recuperar o presente. Imaginou, também, que não seria difícil se livrar do sapo depois.

            -Aceito sua condição.-disse ele.

            -Palavra?

            -Palavra!

            -Temos um acordo, então.-o sapo abriu um sorriso satisfeito.-Dê-me um segundo.

            Com um longo salto, mergulhou no lago e desapareceu. Beryl não teve que esperar muito até que sua preciosa bola fosse arremessada para a margem, caindo aos pés do dono. O príncipe apanhou-a e abraçou-se a ela.

            Logo em seguida, o sapo também saltou para fora da água.

            -Aí está.

            -Obrigado.-Beryl disse e rapidamente virou-se.-Agora, adeus.

            -Ah, não tão rápido!

            Com impressionante habilidade, mesmo para um sapo, o animal aterrissou bem em cima da bola que o garoto mantinha presa junto ao peito.

            -Argh!-o príncipe soltou a bola, com um misto de susto e asco.

            O sapo saltou novamente para a grama e encarou o garoto.

            -Não pense que pode livrar-se de mim.-disse ele.-Você é um príncipe, deve ser fiel aos acordos que faz.

            Beryl quis protestar, mas não podia. Era algo que William sempre repetia, que um príncipe deve sempre cumprir sua palavra. E aquele sapo inteligente parecia muito ciente disso.

            -Está bem, eu entendi.-o garoto resmungou.

            -Ótimo.-o sapo sorriu. (E como era capaz de sorrir, sendo um sapo, era um mistério.)-Agora, estenda a mão para que eu possa pular nela.

            -Hein?!

            -Ou prefere que eu pule em sua cabeça?

            Beryl não respondeu e simplesmente estendeu a mão espalmada para o sapo, que prontamente saltou em cima dela. O contato com pele úmida fez o garoto estremecer de nojo. Não tornou a olhar para a palma da mão enquanto caminhava de volta para o castelo, com sua bola segura no outro braço.

            -Esqueci a apresentação, que falta de educação a minha!-o sapo disse, durante o percurso.-Me chamo Luke.

            O garoto se surpreendeu. Não imaginara que sapos precisassem de nomes.

            -Eu sou...

            -Príncipe Beryl.-Luke antecipou.-Sei quem você é.

            -Claro que sabe.

            O principezinho indagou, aborrecido, por que, de todos os sapos falantes do mundo, ele tinha que topar com um tão inteligente.

 

 

 

            Quando Beryl entrou na sala de jantar, na hora da ceia, sua mãe imediatamente perguntou:

            -O que é isso em seu ombro, Beryl?

            Antes que o garoto pudesse responder, porém, o próprio sapo saltou para a mesa e apresentou-se.

            -Sou o sapo Luke, seu servo, majestade.-disse ele, fazendo uma reverência, ou o que se poderia chamar de reverência para um tetrápode.-Peço perdão pela intromissão. Recuperei a bola de seu filho no lago mais cedo e ele me está retribuindo o favor.

            Ao contrário do que Beryl esperava, a rainha pareceu encantada.

            -Ora, vejam, que sapo mais cortês!-ela riu.-Nunca em minha vida vi um animal tão educado! Com todo respeito, Sr.Luke.

            -Sinto-me honrado, majestade!

            -Sente-se ao meu lado! Você ceará conosco!-a rainha decidiu.

            Beryl teve sua última esperança, a de que sua mão enxotasse o anfíbio para longe do castelo, frustrada e sentou-se para comer bastante aborrecido. Durante a refeição, o inteligente sapo impressionou a todos os presentes com sua fala elegante e sua sagacidade. 

            Quando o príncipe foi enviado ao seu quarto para dormir, Luke também se despediu de sua plateia, afirmando estar exausto e precisado de um descanso. Assim, acompanhou, aos saltos, Beryl aos seus aposentos.

            -Você não pretende dormir no meu quarto, pretende?

            -Evidentemente que sim.

            -Nem pense nisso!-o garoto parou a porta do quarto.

            -Durante uma semana, estarei vivendo com você.-o sapo frisou, categórico.-Comerei e dormirei com você também.

            O garoto não teve como evitar, de uma forma ou de outra, que Luke pulasse para dentro do quarto quando a porta foi aberta. Apenas aceitou, ainda que bastante irritado. Ninguém jamais se opusera a ele daquela forma. Que direito tinha aquele vil sapo de fazê-lo?

            Quando o menino enfiou-se debaixo das cobertas, descobriu Luke encarapitado em seu travesseiro.

            -Isso já é demais!-Beryl exclamou.-Não vou deixar você dormir no meu travesseiro!

            -Mas é onde quero dormir.-o sapo falou.-É mais confortável.

            Aborrecido, o príncipe apanhou outro travesseiro e tentou acertar o animal com ele, mas Luke o evitou facilmente com um de seus saltos.        

-Você é um sapo!-o garoto exclamou.-O que entende sobre conforto?

-Entendo mais do que você imagina.-Luke o encarou com seus olhos espertos.-É uma perda de tempo discutir comigo.

Beryl começava achar que sim. Furioso como jamais se sentira na vida, o garoto apagou a vela e deitou-se para dormir. Amaldiçoou o momento em que dera sua palavra a um sapo e desejou que aquela semana passasse bem depressa.

 

 

Quando Beryl se dirigiu para a biblioteca, no dia seguinte, para sua aula com William, Luke o seguiu, para o profundo do príncipe desgosto. O professor, assim como os outros habitantes do castelo, divertiu-se muito com o esperto e irreverente sapo. Esse fato, mais do que a ceia ou o travesseiro, enfureceu profundamente o príncipe, que odiava ver seu amado William dar atenção à outra pessoa.

-William.-o príncipe chamou, imperioso, para interromper um diálogo do sapo e do professor. –Não compreendo o que o autor quis dizer nesse trecho.

-Que trecho, Alteza?-o professor perguntou, aproximando-se da cadeira de seu aluno para examinar o livro sobre a mesa.

Beryl adorava quando William se debruçava sobre seu ombro para ajudá-lo com seus estudos. Podia ouvir a respiração do professor e às vezes até sentir seu cumprido cabelo castanho roçar-lhe o rosto.

Naquele dia, porém, antes que William o alcançasse, Luke saltou sobre a mesa.

-Ah, esse trecho é um tanto delicado.-disse o sapo, após lançar uma rápida olhada no livro. –O fato que autor menciona, serve de base para o argumento. Veja bem...

Beryl e William ouviram, surpresos, a extensa e bem colocada explicação de Luke, cheia de exemplos e sínteses bastante esclarecedoras. Ao fim, o professor riu e bateu palmas.

-Magnífico! Eu não teria dito melhor!-exclamou ele.-Oh, essa não. Talvez eu devesse temê-lo, Sr.Luke. É possível que venham a contratar o senhor para me substituir!

A simples ideia de que o sapo pudesse afastar William dele deixou o príncipe, se possível, ainda mais irritado.

 

 

Luke acompanhou o Beryl a toda parte naquele dia, ainda que o príncipe ordenasse que ele o deixasse em paz. O sapo recusava-se a obedecer seus desejos e discutia com ele sem qualquer reserva.. Beryl não estava acostumado a ser contrariado e as atitudes de seu hóspede o aborreciam muito.

Quando a noite chegou, Beryl não tentou novamente acertar o sapo ao encontrá-lo em cima de seu travesseiro. Tivera um dia conturbado como nunca e sentia-se indisposto demais para isso. Em vez de discutir, resolveu perguntar algo que estivera em sua mente o dia inteiro:

-Por que você entende de livros? Você é apenas um sapo.

Luke abriu um largo sorriso, como se estivesse apenas esperando pela pergunta.

-Porque, na verdade, eu não sou um sapo.-disse ele.-Sou humano. Um príncipe, transformado em sapo por uma bruxa invejosa. Somente um beijo pode me transformar de volta.

Beryl riu, com certa satisfação.

-Acha que eu vou acreditar que você é um príncipe?-falou, desdém.-Se fosse, porque estaria naquele lago perto do meu castelo, em vez de em seu próprio reino?

-Além de me transformar em sapo, a bruxa também me lançou para longe de minha casa.-explicou Luke.-Se não acredita em mim, por que não me beija? Serei humano no momento em que seus lábios tocarem os meus.

-Por que eu faria isso? Quem beijaria um sapo? -o príncipe perguntou, torcendo o rosto em aversão a ideia.-Chega de bobagens por hoje. Eu vou dormir.

E foi o que ele fez.

 

 

Nos dias que se seguiram, Beryl continuou atado à companhia de Luke, que insistia em segui-lo como se fosse sua sombra. O príncipe o considerava um intruso inconveniente e irritante. Não o escutava, não o respeitava, tratava-o como se ele fosse um companheiro sapo, e não um príncipe. Era absolutamente inadmissível!

Entretanto, o que mais irritava o garoto não era a mania de fazer exatamente o oposto do que ordenado ou as respostas irônicas do sapo. Era o hábito que ele possuía de colocar-se entre Beryl e William. Interrompia suas conversas, atraindo para si a atenção do professor, e impedia o contato físico entre os dois. Toda vez que Beryl mencionava seus sentimentos ao professor, o que ocorria diariamente, Luke surgia no meio deles, com alguma observação sagaz a fazer.

Não foram poucas as vezes em que os ímpetos assassinos do príncipe fugiram ao seu controle, mas Luke era sempre capaz de evitar qualquer arremesso hostil com seus saltos.

 

Em um dia, situado bem no meio da semana prometida a Luke, enquanto caminhava pelo pátio em direção ao jardim, Beryl avistou seu professor conversando entre sussurros com uma das damas de companhia da rainha. O garoto parou, quase inconscientemente, para observá-los. Os dois pareciam bastante íntimos, e o príncipe sufocou um grito quando a moça, com um salto, jogou os braços ao redor do pescoço de William.

-Oh Will!-ele a ouviu exclamar.

Beryl sentiu uma pontada de irritação no estômago, que rapidamente espalhou por todo o seu corpo uma sensação quente de revolta. Girou os calcanhares e seguiu, com passos pesados na direção de seus aposentos. Luke, que cumpria sua promessa de segui-lo aonde quer fosse, deu largos saltos para poder acompanha-lo, sem dizer uma palavra.

Quando o príncipe chegou ao seu quarto, fechou a porta com toda a força que pode reunir e, em com movimentos impetuosos, jogou ao chão tudo o que conseguiu alcançar. Depois, sentou-se em sua cama, abraçando as pernas dobradas junto ao corpo, e ficou, parado e quieto. Luke saltou para cima da cama e o encarou.

-Está chateado porque aquela moça abraçou seu professor?

Para Beryl, sua pergunta soou irônica.

-Deixe-me em paz.-o príncipe mandou.

-Não deixo.

-Por que você não me obedece?-o garoto rosnou, aborrecido.-Eu disse pra me deixar sozinho!

-Mas você não quer ficar sozinho.-o sapo disse, com serenidade.

Beryl o olhou, surpreso.

-Você manda e todos obedecem, mas você não sabe o que realmente quer.-Luke continuou, sério.-Está aborrecido, mas seus olhos me dizem que você não quer ficar sozinho.

O príncipe não disse nada, mas seu corpo pareceu ficar menos tenso com aquelas palavras. Os olhos inteligentes de Luke pareciam enxergar dentro dele e, estranhamente, isso era ao mesmo tempo inquietante e agradável.

-Eu não entendo.-o garoto murmurou.-Não entendo por que Will não aceita meus sentimentos, mas aceita os daquela garota.

-Eu diria que você está sendo precipitado.-disse o sapo.-Nem sabe sobre o que conversavam.

-O que mais poderia ser? Viu como eles se abraçaram...

-A mim, parece um mal entendido.-Luke insistiu.-Até onde eu sei, William poderia apenas ter prometido emprestar a moça um unguento milagroso contra frieiras.

Beryl não conseguiu deixar de rir.

-Falo sério. Ela ficou tão feliz em imaginar-se livre da coceira que o abraçou!

Em seguida, Luke listou diversas outras versões do diálogo entre William e a dama de companhia. Durante vários minutos, o príncipe encontrou-se incapaz de controlar o riso.

 

 

Seguindo o conselho de Luke, depois de muito relutar, Beryl perguntou a William sobre o que ele conversara com a dama de companhia da rainha naquele dia. Rindo-se, o professor explicou que lhe estava passando uma mensagem do jovem que ela amava. Ela ficara tão radiante ao ouvir suas palavras doces que não se conteve e o abraçou, em um impulso. Ao fim da explicação, Luke tinha um sorriso arrogante na boca e disse: “Bem que eu falei.”

Com passar dos dias, a companhia do sapo tornou-se cada vez mais agradável para o jovem príncipe. Ele passou a divertir-se com sua personalidade interessante e modos extrovertidos, além de sentir-se cada vez mais inclinado a ouvir seus conselhos. Beryl já não se importava que ele o seguisse para todo lado, aliás, passou a exigir sua presença e atenção.

Conversar com Luke era completamente diferente de conversar com qualquer outra pessoa. Ele parecia entender coisas sobre Beryl que o próprio príncipe não percebia. Era tão fácil e tão natural falar com ele, que às vezes o garoto esquecia que seu interlocutor era, na realidade, um sapo.

A situação era tal que o príncipe abandonara seus livros, seus brinquedos e qualquer outra coisa que costumasse fazer para passar o dia divertindo-se com seu novo companheiro. Quando estava juntos, outras pessoas que tentassem intrometer-se eram normalmente mandadas embora por Beryl. Até mesmo William foi praticamente ignorado quando tentou interromper uma explicação de Luke sobre filosofia. Refletindo sobre o fato, mais tarde, Beryl ficou surpreso com a própria atitude. A verdade era que ele jamais se sentira tão bem perto de alguém, nem mesmo de William.

Parecia uma amizade perfeitamente promissora agora, entretanto, algo que ainda incomodava o príncipe era que, todas as noites, quando se deitavam para dormir, o sapo insistia na sugestão de que Beryl o beijasse.

-Por que você não pede a uma de minhas irmãs?-o garoto perguntou, certa noite.-Elas ficariam felizes em beijá-lo se você lhes contasse que viraria príncipe.

            Para sua surpresa, o sapo ficou sério.

            -Não aceitarei nenhum beijo que não seja o seu.–disse ele.

            O príncipe franziu o cenho, incapaz de compreender o significado por trás daquelas palavras.

            -Durante muito tempo, eu observei você junto àquele lago.-contou Luke.-Suspirando, perguntando por que seus sentimentos não eram correspondidos. Tão inocente, tão adorável...

            Beryl sentiu o próprio rosto esquentar.

            -Pare de falar essas coisas embaraçosas!-mandou.

            -Decidi que teria que ser você a pessoa que quebraria meu feitiço.-o sapo continuou.-Não aceitarei outra pessoa.

            -Então, vai ser sapo para sempre.-o príncipe disse, ainda corando, incapaz de manter-se calmo.-Porque meu primeiro beijo será do William.

            Luke ficou quieto por alguns instantes, como se debatesse algo internamente, e o príncipe permaneceu imóvel até ele voltar a falar.

            -Você não compreender que o que sente por William não é amor?

            Beryl não esperava por tal pergunta. E essas palavras o atingiram com violência, porque vinham de Luke, que ele acreditava que o compreendia muito bem.

            -Do que está falando? É claro que é amor! Eu o amo! Eu...

            -Sei que você deseja sua atenção e deseja que ele olhe somente para você.-Luke o interrompeu.-Mas esses sentimentos são apenas sentimentos possessivos. Não é isso que sente em relação a um brinquedo de que goste muito?

            O príncipe não respondeu. Sua cabeça girava e doía. Sentia o coração tão pesado que poderia parar de bater a qualquer instante.

            -Você o vê como sua propriedade...

            -Saia daqui.-o garoto mandou.

            Luke calou, mas não se moveu.

            -SAIA DAQUI!-o príncipe repetiu, bradando com toda a voz que tinha, indicando a janela aberta.-SAIA IMEDIATAMENTE!

            Sem dizer qualquer coisa, o sapo pulou da cama. Instantes depois, saltou a janela e desapareceu.

 

 

            No dia seguinte, Luke não estava em lugar algo do castelo. Beryl tentou afastá-lo de seus pensamentos e não foi difícil. Algo mais grave os ocupava. Seus sentimentos por William, que para ele eram certos e óbvios, de repente, pareciam irreais como um reflexo distante na água.

            Luke talvez tivesse razão. A vontade que Beryl sentia de estar o tempo inteiro com William não passava de um sentimento egoísta, a vontade de confirmar que algo lhe pertencia. Não era diferente de um objeto ou qualquer outra coisa que ele possuísse.

            Era um pensamento incômodo e bastante indigesto.

            O professor não deixou de notar a agitação do garoto e, em seu encontro diário para a lição do dia, perguntou-lhe se havia algo errado.

            -Há algo errado sim, William.-respondeu o príncipe, debruçando-se sobre o livro que devia estar lendo.-Algo errado comigo.

            William ajoelhou-se junto a mesa, para que seus olhos ficassem na mesma altura dos do príncipe.

            -Por que diz isso, Vossa Alteza?

            Em vez de responder, o garoto fez outra pergunta:

            -William, você entendia que o que eu sentia por você era somente ciúme? É por isso que nunca aceitou meus sentimentos?

            O professor ficou bastante surpreso com as palavras de seu pupilo. Ainda que soassem chateadas, não eram revoltadas e atrevidas. A forma como ele o fitava também era completamente nova, diferente do olhar possessivo e obstinado de outrora.

            -Sim, eu sabia.

            Beryl baixou os olhos, incomodado.

            -Se aquilo não era amor, então, eu decididamente não sei o que é.-resmungou ele.

            William não conseguiu deixar de sorrir.

            -Você Alteza ainda é muito jovem, não deve se preocupar com isso. Esse tipo de coisa vem com o tempo, eu asseguro.-disse ele, tocando os cabelos cor de cobre de seu aluno.

            O príncipe não respondeu. Estava aborrecido, ainda que não soubesse dizer exatamente o motivo.

            -Devo admitir que estou surpreso.-o professor disse.-Tempos atrás, Vossa Alteza certamente não teria aceitado esse pensamento. Não é verdade que Vossa Alteza mudou bastante no decorrer dessa semana?

            Beryl ficou surpreso com essa constatação. Era verdade que, para ele, as palavras de Luke pareciam ter um significado maior do que as de qualquer outra pessoa e pareciam exercer uma forte influência sobre ele. O que exatamente o sapo significara para ele?

 

 

            Beryl esperou que Luke voltasse no decorrer do dia, mas ele não tornou a aparecer. O príncipe perguntou a sua mãe e a todos no castelo, mas ninguém vira o sapo. No dia seguinte ou nos que se seguiram, também não houve qualquer sinal dele.

            Qualquer pessoa que o observasse, olhando ao redor o tempo inteiro, ansioso e infeliz, perceberia que havia algo errado com o pequeno príncipe.

A verdade era que ele sentia imensamente a falta de seu companheiro sapo. Sentia falta conversar com ele, de ouvi-lo explicar algum trecho de um livro e de ouvir seus conselhos. Sentia falta de suas espirituosas piadas e histórias divertidas. E, principalmente, sentia falta da forma como ele o olhava e como parecia compreender Beryl de uma forma profunda e fantástica.

Beryl jamais conhecera alguém como Luke. E agora que sabia que ele existia, ficar sem ele era muito aborrecedor, quase doloroso, para o príncipe.

No terceiro dia após o desaparecimento do sapo, Beryl foi ao lago onde o encontrara pela primeira vez. Olhou ao redor e, não encontrando quem procurava, falou:

-Se você estiver aí, apareça!

Não houve resposta. Nada se movia além da água, ondulando suavemente com o vento.

-APAREÇA AGORA! É UMA ORDEM!-ele gritou.

Nenhum sinal de vida.

Como se desistisse, O príncipe ajoelhou-se na grama. Naquela posição, em uma voz baixa que era quase um sussurro, ele disse:

-Apareça, por favor...

Nesse momento, Luke surgiu diante dele, saltando do meio da vegetação aquática.

-Não pensei que fosse ouvi-lo implorar.-disse ele.

O príncipe quase caiu para trás de susto.

-Não estava implorando!-exclamou ele.-Só estava chamando!

-E por que me chamou?

-Por que eu quis!-o garoto resmungou.-Você sabia que eu o chamaria, não sabia? Por isso foi embora tão rápido!

-Fui embora porque você me mandou ir.

-Mas você nunca me obedeceu antes!

Luke sorriu, aquele sorriso misterioso que deveria ser impossível para um sapo.

Beryl desistiu de entender. Em vez disso olhou ao redor, como se quisesse confirmar que não era ouvido, e perguntou:

-Se eu beijá-lo, você realmente virará um príncipe?

-Certamente que virarei.-o sapo confirmou.-Decidiu que vai me beijar?

Silenciosamente, o príncipe confirmou com a cabeça.

-Por que decidiu isso agora?-Luke quis saber.

-Não sei.-o garoto admitiu, balançando a cabeça.-Apenas... Imaginei que se você fosse humano, seria mais fácil mantê-lo perto de mim. Sapos são muito escorregadios. E se enfiam em qualquer poça e desaparecem de vista...

-E você quer que eu fique perto de você? Para sempre?

-Eu não disse isso!-o príncipe protestou, corando furiosamente.

O sapo riu.

-Muito bem, então. Quando quiser, príncipe Beryl.

O príncipe colocou Luke nas mãos e o ergueu a altura de seu nariz. Encarou-o por alguns instantes e então fechou os olhos, antes de tocar a boca do sapo com seus lábios, com uma delicadeza hesitante.

Ele precisou afastar as mãos quando o animal que segurava tornou-se repentinamente quente, como ferro em brasa. Houve um estampido, um flash de luz muito claro e, no instante seguinte, havia um rapaz sentado na grama, no lugar onde um sapo estivera. Era um jovem bonito, de talvez 15 anos, com cabelos castanhos muito escuros e brilhantes. Forte, tinha um corpo atlético e uma pele morena bastante atraente. E estava nu.

-Fantástico!-ele sorria enquanto olhava para os próprios braços e pernas, maravilhado.-Como é bom ser bípede novamente!

Beryl estava grudado no chão, incapaz de se mexer. A presença daquele rapaz, por alguma razão, o tornara bastante tímido. Talvez fosse por causa da nudez completa. E quando ele olhou para o mais novo com seus olhos negros, seu sorriso pareceu ficar ainda mais largo.

-Agora que sou humano, deixe-me mostrar a você um verdadeiro beijo.

Antes que o garoto pudesse protestar, Luke prendeu seu queixo entre os dedos e uniu seus lábios. Tamanha foi sua avidez que o garoto caiu de costas sobre a grama. Enquanto se empenhava, com bastante sucesso, em demonstrar o que era realmente um beijo, Luke o manteve bem preso em seus braços, e no entanto, o principezinho sentia que viajava como se não houvesse chão debaixo dele. Quando seus lábios se afastaram, Beryl sentia-se tonto.

-Pode sair de cima de mim agora.-ele disse, sentindo o rosto em chamas.

-Perdoe-me.-Luke se desculpou, mas sorria.

Beryl se levantou, tomando o cuidado de manter o olhar longe do corpo descoberto diante de si.

-Então, isso foi um beijo.-Luke parecia divertir-se com o embaraço do garoto.

-Certo.Beryl disse, lentamente.-Mas agora, quero que você me ensine outra coisa.-ele ergueu a cabeça, para olhar nos olhos de Luke.-Quero que me mostre o que realmente é amor.

O príncipe-sapo sorriu.

-Com muito prazer.

Foi um choque e tanto para a rainha quando Beryl chegou ao castelo, trazendo consigo um jovem completamente despido. E foi um choque ainda maior para o rei quando, alguns anos mais tarde, o garoto, então com 16 anos, anunciou que se mudaria para o reino do príncipe Luke, com quem se casaria. Os dois tiveram uma linda cerimônia de casamento, da qual o professor William foi convidado de honra. Luke foi coroado rei, com Beryl como seu consorte, e os dois viveram felizes para sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá!
Pensaram que eu nunca mais atualizaria, correto?
Mas aqui estou! xD Por algum milagre.
Decidi que precisava de uma atividade para relaxar, ou ia acabar morrendo.
Enfim, o que acharam dessa história?
Acho que eu desandei aí pelo meio, mas consegui me recuperar no final xD Até que o resultado não foi tão ruim.

Espero que tenham gostado da minha versão do Príncipe Sapo.
Agradeço todas as reviews e peço desculpas por não respondê-las. Na maioria das vezes, não dá tempo, entendem?

Agradeço todo apoio até aqui~
Até a próxima história!