"If it makes you happy

it can't be that bad"

Ele ainda tentou relutar, mas saiu pela porta e fez o que o amigo pedia. Comprar chocolate, comprar chocolate, comprar chocolate e talvez um maço de cigarros. Por que ele sempre colocava a vontade de Mello em primeiro lugar?

A inércia e a sujeira do apartamento criavam um aspecto realista do estado negligente de espiríto em que se encontravam.

"Matt, a despensa precisa ser refeita. Vai comprar alguns chocolates."

Seria cômico se não fosse trágico. Mas ele entendeu, afinal que ráio de despensa era essa que podia ser refeita apenas com chocolates? Sim, claro, a despensa de Mello. E como ir contra isso?

Matt apenas queria ter ficado em casa, a preguiça também era um aspecto quase permanente naquele entediante estado de espiríto. E como não? Mello também estava fazendo a mesma coisa, não estava?

Sim, estava. Matt sabia disso.

Esperar, esperar, esperar.

"Então, Mello, não tô vendo você fazendo nada em relação à Kira"

"Eu estou esperando a hora de agir, Matt."

Mello odiava esperar. Matt também sabia disso.

Ansiedade. Ansiedade. Ansiedade. Ansiedade. E inércia, negligência, preguiça, desânimo, monotonia. Mas antes de tudo era ansiedade. Maldita ansiedade, só quem é ansioso sabe o que é ter que esperar para fazer alguma coisa que se tem muita vontade.

Maldito Mello ansioso. Comprar chocolates.

Também devia ser o que Matt pensava. Mas os chocolates curavam ansiedade? Não era exatamente aquela a melhor propriedade do famoso doce feito de cacau. Dizem por aí que ele estimula a felicidade, que uma simples barra equivale um orgasmo e que as lembranças são tão felizes que nos surtem a memória da pessoa amada.

Mas daí cura para ansiedade? Experimente mastigar compulsivamente durante horas qualquer coisa, até mesmo chocolate. E alguém já deve ter dito que o movimento repetitivo gera uma sensação de curar a ansiedade. Daí ser chocolate o objeto de escolha para ser mastigado é outro motivo.

Mas neste ponto de vista, uma cura para dor se encaixava melhor com o que Mello procurava. Matt - ainda que instintivamente - também sabia disso.

Era o cansaço de correr atrás do primeiro lugar, de tentar solucionar algo que nem L conseguiu. Era a depressão e a tristeza de um garoto com uma infância conturbada. Era Mello.

E Matt trouxe o remédio para aquilo.

Chocolate. Meio-amargo ou ao leite? Feito no Japão mesmo ou importado?

E isso importa? Mas Matt deve ter trago o melhor e o mais caro pro amigo. E sabe o que ele recebeu em troca?

Um grato sorriso de felicidade pelo presente? Um contagiante 'obrigado'? Ou para as mentes mais pervertidas, uma deliciosa noite de sexo selvagem?

Sinto desapontá-los, mas não, não foi nenhuma das opções listadas acima. Matt apenas viu uma cena que há muito tempo não era mais inédita.

Mello nem desviou sua visão para a face alheia; apenas pegou os chocolates, os dispôs de qualquer forma à sua frente, abriu um e voltou a sua tarefa.

Esperar, esperar, esperar.

"If it makes you happy

why the hell are you so sad?"