No ano seguinte...

As aulas começaram. Cheguei cedo na escola, e logo corri para abraçar Jake. É claro que nós mantivemos contato durante as férias, mas senti saudades dele. Britt ainda não havia chegado, e Jane nem viria. Ela se mudou durante as férias, e mesmo assim nos mantínhamos “ligadas”. Ela ainda era minha melhor amiga. Se existia alguém com quem eu sabia que poderia contar, esse alguém era Jane.

Eu estava sentada num dos bancos da escola ao lado de Jake, e nós conversávamos felizes, contando as novidades e reclamando de nossos pais. Britt chegou e, por algum motivo, eu não fiquei tão feliz em vê-la, mas sorri abertamente e a cumprimentei como sempre fiz.

As aulas eram chatas — como sempre, aliás —, mas, infelizmente, minha professora de biologia saiu. O marido dela sofreu um acidente de carro e agora precisa de cuidados em casa. Eu fiquei triste, gostava dela. Todos os alunos estavam ansiosos para saber quem seria seu substituto, mas tivemos que esperar até a última aula.

E, quando ela chegou, minutos depois de o sinal bater, um jovem rapaz louro de pele alva e bochechas rosadas entrou na sala.

– Bom dia, sétimo ano. – ele colocou seus materiais em cima da mesa grande situada no canto da sala, e se apresentou: – Eu sou o professor Mark Price, e vou dar aulas de biologia para vocês durante esse ano letivo.

Mark era realmente muito bonito, e pude ouvir Britt suspirando alto assim que ele terminou de falar. Ela não tinha jeito mesmo. Olhei para Britt e depois para Jake, e ele estava rindo baixinho da loira. Eu ri junto, e nós voltamos nossa atenção para o belo professor.

O louro sorria simpaticamente para nós, ele parecia legal. E, no final da aula, eu pude ter essa certeza. Price explicava muito bem e sempre perguntava se tínhamos dúvidas. Ele disse que nós não tínhamos de nos preocupar com a nota que era mostrada nas provas ou boletins, e sim em aprender a matéria. Isso era o essencial...

E, como sempre, Britt tinha algumas coisas a dizer no final da aula.

– Professor? – a loira chamou sua atenção, enquanto Mark apagava o quadro negro.

– Sim, Brittany, se eu não me engano? – ele sorriu simpático, se virando para ela.

– Pode me chamar de Britt, se você quiser. – ela sorriu maliciosa. Eu não suportava quando via aquele sorrisinho em seu rosto. – Me desculpe a pergunta, mas quantos anos o senhor tem?

– Não o suficiente para me chamarem de “senhor”, pode ter certeza. – Price piscou para ela, rindo de sua própria piada. – Tenho vinte e dois anos.

– Nossa... Você é tão jovem para ser professor!

– Obrigado. – Mark riu um pouco envergonhado.

Eu fuzilava Britt com os olhos. Ficar com todos os meninos do colégio era uma coisa, mas correr atrás de professor era outra bem diferente. Se ele caísse nos charmes dela... Então não era a pessoa que eu achava que fosse.

Jake me chamou e olhei para ele, que estava novamente com aquele sorriso lindo no rosto; o mesmo sorriso de sempre... Acho que eu não sobreviveria se ficasse muito tempo sem ver esse sorriso. Começamos a rir; adorávamos zombar de algumas pessoas. Britt era muito oferecida mesmo.

Quando saímos do colégio, chamei-o para ir em casa e assistir um filme. Hoje minha mãe estaria lá — pelo menos, ela me disse que estaria —, e não teria problema eu levar um garoto para meu apartamento. Jake ligou para a mãe dele no meu celular, e ela permitiu, desde que minha mãe realmente estivesse em casa.

Fomos andando e conversando por todo o caminho até meu apartamento. Quando chegamos, jogamos as mochilas sobre a mesa, e eu o expulsei do meu quarto para me trocar, enquanto ele se trocava no banheiro. Depois, esquentei o almoço, pois minha mãe estava dormindo, trancada, em seu quarto. Comemos e conversamos um pouco.

– O que quer fazer agora? – perguntei admirando seu sorriso.

– Sei lá... Você já quer assistir ao filme, ou vamos jogar truco?

– Truco. Aí, na hora do filme, podemos comer um balde de pipoca.

– Fechado. – ele piscou para mim.

Tive que conter meu sorriso quando Jake pegou minha mão e me puxou para a sala.

– Você sabe que vai perder, não é? – ele disse enquanto pegava o baralho na bolsa.

– Vai sonhando. – pisquei e sorri abertamente.

Começamos a jogar. Eu perdi as três primeiras rodadas, mas ganhei todas as outras. Quando finalmente enjoamos, deixamos as cartas espalhadas por ali mesmo, enquanto Jake escolhia um filme para assistirmos e eu colocava a pipoca no micro-ondas.

Ele escolheu um filme de ação. Eu não gostava muito, mas era seu dia de escolher, então fiquei calada. Peguei a pipoca e comemos, enquanto assistíamos ao filme. Terminam0os e colocamos a fita para rebobinar. E, alguns minutos depois, a mãe dele ligou no telefone de casa, falando para Jake ir embora antes que escurecesse. Ele ficou mais um pouco conversando comigo e foi embora, me deixando quase sozinha naquele apartamento.

O dia foi tranqüilo, me diverti muito com Jake.

Eu adorava sua companhia. E como eu adorava...

–------------------------ FOR YOU -------------------------

As semanas seguintes foram como esse primeiro dia. Eu me divertia muito nas aulas de biologia de Mark, principalmente com os comentários abusivos de Britt. Como eu esperava — e torcia — o professor não caiu nos encantos dela, ignorando os comentários ou corando violentamente. A verdade é que Jake e eu adorávamos as aulas de biologia por causa disso.

Senti muito a falta de Jane na escola e em minha vida. Eu contava tudo para ela... Felizmente, ainda mantínhamos contato e marcamos de ir ao shopping, como nos velhos tempos. Só eu, Jane e Britt. Encontrei-me com elas no nosso “ponto marcado”, e sorri ao vê-las de pé, conversando. Eu senti falta dessa cena.

Abracei Jane com força. Parecia que fazia séculos que eu não a via.

Conversamos um pouco e fomos comprar nossos Milk-shakes. Sentamo-nos na mesa de sempre e falamos mais bobagens por alguns instantes, até Britt chamar nossa atenção, pois ela tinha algo para nos contar. Tive a impressão de que não gostaria de saber.

– Gente... – a loura começou, e bebeu mais um gole em seu Milk-shake de morango. – Eu acho que estou apaixonada...

– Quem é o sortudo da vez? – Jane perguntou, rindo.

– É o professor de Biologia? – perguntei, zombando.

– Não. – Britt revirou os olhos para mim. – É pelo Jake.

– O quê?! – perguntei, praticamente gritando. – Como assim você está apaixonada pelo Jake?! Vocês nunca se falaram!

– E daí? – ela disse, levando as mãos em direção ao coração. – Não dá para escolher quem amamos.

– Britt, me escuta bem. – olhei fundo em seus olhos azuis. – Você não gosta do Jake. Não pode gostar.

– Claro que posso, Annie. – a loura fez uma cara de ofendida. – Por que não me apóia?

– Porque você sempre diz que está apaixonada, e sempre termina com o garoto quando você vê “alguém melhor”. Você não pode fazer isso. Por isso não te apoio.

– Ela está certa. – Jane disse com certo receio da reação da amiga.

Britt não gostava de quando as pessoas não concordavam com ela.

– Mas eu...

– Não, Brittany. – eu a interrompi. – E vai sonhando se você pensa que eu vou deixar você fazer isso com o Jake.

– Nossa, amiga, tudo isso é ciúmes? – ela perguntou cínica, me fuzilando com os olhos.

– Eu não gosto dele. E você também não. – eu a encarei com raiva. Raiva de mim por estar falando essas coisas, mas alguém tinha que dizer. – O Jake é meu melhor amigo. Você acha mesmo que eu vou deixá-lo ser seu brinquedinho?

– Calma, Annie. – Jane colocou a mão em meu ombro.

– É, calma, Annie. – Britt provocou me encarando.

– Você não manda em mim, Brittany. Você não manda em ninguém. Pára de achar que o mundo gira em torno de você!

– Quando foi que começamos a falar de mim?! – a loura se levantou, tentando parecer superior. – Não era sobre Jake e minha suposta paixão por ele?!

– Não! É tudo sobre você! – me levantei também, e Jane segurou meu braço, tentando me manter sentada. Afastei-me, me libertando da mão dela, e apontei um dedo na cara de Brittany. – Você se acha muito superior, mas não passa de uma cadela que gosta de brincar com os sentimentos dos outros e que quer tudo para você!

– Como pode dizer isso para mim?! – ela se fez de vítima, batendo em minha mão. – E não aponta o dedo pra mim!

– Eu digo porque não sou falsa como você. Digo as verdades na cara, não fico fazendo fofoca para os outros. Não sei como te agüentei por tanto tempo... E eu aponto o dedo para quem eu quiser!

– Como se atreve?!

Me virei para ir embora, e senti alguém pegando meu ombro com força.

– Não me deixe falando sozinha, Anna! – Brittany me olhou com raiva. – Eu ainda não acabei!

– Mas eu, já. – tirei sua mão dali e virei as costas.

Coloquei os fones de ouvido e saí andando pelo longo corredor do shopping. Achei que alguém andava atrás de mim, e tinha razão.

Era Jane.

Sorri ao ver minha amiga ao meu lado, me apoiando.

– Obrigada por vir comigo. Te adoro. – eu a abracei, enquanto caminhávamos para fora daquele lugar. – Quer ir lá pra casa?

– Claro. – ela disse sorrindo.

Fomos conversando no caminho de volta, eu estava muito animada. Quando chegamos, fiz uma pipoca e comemos com gosto enquanto conversávamos; contando as novidades, falando de garotos, música, filmes... Quando olhei no relógio, já eram sete horas.

Estranho. Como o tempo voa.

Jane se despediu com um abraço caloroso e foi embora. O dia tinha sido melhor do que o planejado. Brigar com a Brittany e passar o resto dele com Jane foi perfeito.

Tomei uma ducha rápida e me joguei na cama. Adormeci alguns minutos depois, enquanto assistia a um programa de televisão.

Continua...