Ao pensar em tal possibilidade, meu coração se apertou e meus pulmões começaram a protestar dentro de meu peito, fazendo-me ficar sem ar.

- Isso não pode estar acontecendo – Murmurei baixo demais, enquanto estrelinhas começaram a aparecer em meu campo de visão.

Nessie era tudo que eu tinha. Ela era a razão de ter lutado contra tudo que estava acontecendo comigo, deste o incêndio da casa até seguir o assassino, que me levaria a presenciar a morte de meu pai. Ela era a razão de eu ter aceitado me casar com o miserável Edward Cullen. E agora, em questão de segundos, descubro que ela nasceu apenas para eu matá-la - libertando eu e Edward de uma maldita maldição infernal -, para que pudéssemos ficar juntos para sempre, sem ter que morrer e viver novamente, para que a historia não se repetisse.

Ignorando as estrelinhas borrando minha visão, respirei fundo e foquei meu olhar apenas no rosto de Alice, querendo ser forte o suficiente e ignorar também a vontade de vomitar ali mesmo.

- Então, a história de A Bela e a Fera, existe mesmo? – Perguntei para ela.

- Sim, e você é a Bela e Edward, a Fera. – Respondeu, se sentando ao meu lado junto com Jasper.

Aquilo era cômico demais para se acreditar. Mas também era a única explicação para o que acontecia toda vez que eu beijava Edward, todas aquelas cenas.

- E você e Jasper, o que são? – Continuei a perguntar, engolindo em seco.

- Somos como a sua Fada Madrinha– Jasper respondeu por Alice, sorrindo gentilmente para mim.

Ignorei a imagem cômica de Jasper e Alice com asas, vestido de fadas enquanto tentavam unir Edward e a mim nas encarnações passadas.

- A Bela e a Fera não tem fadas madrinhas – Argumentei.

- Todos contos de fadas tem fada madrinha – Alice retrucou, quase rindo – Só que a diferença é que nós nunca aparecemos na maioria das histórias ... Vamos fazer o seguinte, imagine que eu e Jasper somos apenas os cupidos nessa história.

Concordei fazendo um gesto com a cabeça, não querendo tirá-la do rumo da explicação.

- Digamos que desde crianças somos ensinados por nossos pais que, quando crescermos, teremos que guiar um lindo conto de fadas. Bem, eu e Jasper somos destinados a cuidar de você e de Edward, não importando quantas vezes vocês dois nasçam novamente. Nosso objetivo é fazer essa história ter um final feliz.

- E o que vocês ganham com isso? – Perguntei novamente, jogando minha tentativa de não falar nada durante a explicação no ralo.

-É a nossa obrigação, Bella. Ganhamos a imortalidade, não que isso seja algo bom. – Jasper respondeu por Alice, como um perfeito cavalheiro.

- Bem, o que nós fazemos eu já lhe disse, Bella, agora trate de ficar quieta e escutar. – Alice disse calmamente. Se fosse eu no lugar dela, já teria me socado – A primeira vez que você e Edward nasceram, foi perfeito. Conseguimos fazer tudo direito: A fera de apaixonou pela humana mais bela da cidade, ou seja, você.  – Senti algo estranho dentro de mim ao imaginar Edward me olhando apaixonadamente – Só que na segunda vez que vocês dois nasceram novamente, algo aconteceu. Algo que eu e Jasper deixamos passar. Deste então, toda vez que você nasce e encontra Edward ... Bem, você acaba morrendo. A fera não se apaixona pela Bela. A fera se torna um monstro maior ainda.

Tentei absorver tudo aquilo dentro de minha cabeça e ao mesmo tempo algumas perguntas foram se formando junto ao turbilhão de informações e era impossível não pronunciá-las:

- Eu só vi duas vidas passadas enquanto eu o... beijava. Tem mais? Como você e Jasper me encontram?

- Tem mais algumas encarnações, só que foram esquecidas já que você morreu cedo demais, muito antes de encontrar Edward. E isso não tem nada a ver com seu azar – Alice foi respondendo habilmente – Eu e Jasper simplesmente aparecemos no lugar em que você nasce. Não importa onde estejamos, vamos aparecer do nada no hospital ou lugar que você nascer, e você sempre se encontrará com Edward.

- É sempre a mesma mãe e o mesmo pai? – Perguntei novamente, só que dessa vez amargamente.

Eu era um monstro. Só podia. Já que tinha que perder meus pais só para poder ser feliz ao lado da pessoa que eu amava.

- Sim, sempre. Algumas vezes sua mãe morre no parto, algumas em algum acontecimento trágico. Só que seu pai ... Ele não devia ter morrido deste jeito, é estranho. Principalmente a parte em que disse que teve que beber seu sangue.

- Se for o que pensamos, em sua encarnação passada, você e Edward aceitaram fazer um ritual das trevas, e é por isso que seu pai morreu. – Foi a vez de Jasper começaram a falar – É como se ele precisasse morrer para alguma coisa acontecer, só que não sei o que é. Não consigo entender... Bem, é certo que Nessie é a pessoa que vocês dois precisam matar para poderem ser felizes para sempre. É um preço alto. Está disposta a pagá-lo, Bella?

-Eu nunca irei fazer isso – Respondi rápida demais, sentindo-me trêmula – E porque as rosas me ajudaram? É sério ....  Elas se moveram e atacaram o assassino.

Foi o momento em que todos nós ficamos em silêncio no quarto. Nem eles dois tinham resposta para isso.

Aquilo tudo estava mesmo confuso para mim: Alice e Jasper eram responsáveis pelo meu final feliz com a Fera. Desde a encarnação passada eu e Edward fizemos algum tipo de ritual que levou Nessie a nascer, para poder morrer e tornar o meu final feliz com Edward possível. Eu era a Bela, dos contos infantis. As rosas me ajudaram a deter o assassino, por pouco tempo, mas ajudaram.

Ah, tudo isso era irracional.

Eu sentia que tudo estava sendo desvendado, mas ao mesmo tempo muito mais coisas estavam por vir.

- Bella, na primeira vez que viu Edward, você fez alguma coisa? Mexeu em alguma rosa?

Foi quando me lembrei do que tinha acontecido.

- Espetei meu dedo nos espinhos de uma rosa preta e quando meu sangue caiu nas pétalas, a rosa ficou vermelha.

Escutei o barulho de um trovão vindo de fora e me assustei.

- O sangue, é claro. É o que tens de mais mágico dentro de você, Bella. – Jasper olhou preocupado e, ao mesmo tempo, admirado para mim.

- Quando seu sangue caiu na pétala, deve ter despertado algum tipo de conexão muito forte com as rosas. Só não sei o quão forte é essa conexão. Tudo tem seu preço. – Alice analisou a situação, preocupada.

- Não faz sentido o assassino ter feito todo aquele ritual só para matar o pai de Bella, alguma coisa tem por trás daquilo. – Jasper pousou as mãos em cima das de Alice.

- Precisamos procurar que tipo de ritual o assassino fez. Descobrir para o que serve. Não faz sentido, o pai de Bella não precisaria morrer desse jeito. Principalmente a parte em que diz que ela praticamente entrou no corpo do pai.

- Claro. Vamos fazer tudo que for possível. – Ele concordou.

- Espera aí. Vocês pelo menos dormem? Qual é esse lance de ser imortal? Poder e imortalidade não levam os dois a nada nessa vida. – Foi minha vez de falar, cruzando os braços.

- Quer saber a verdade? – Alice disse frustrada – Se eu e Jasper falharmos tantas vezes como está acontecendo, nós morremos. Somos responsáveis por esse conto de fadas e não podemos mais falhar, só temos mais essa chance, depois disso tudo se acaba. Você e Edward morrem e nunca mais voltam. A Bella e a Fera não irá mais existir, vai ser o fim. Entendeu agora?

Eu não esperava por aquelas palavras. Ah, não. Era somente essa chance e tudo se acabaria. Alice e Jasper iriam morrer, e eu e Edward nunca mais iríamos nos encontrar. Esse seria o fim.

Olhei para a porta do quarto quando vi um vulto passar. Um alívio imediato me passou pelo corpo quando não encontrei ninguém ali, mas... De alguma forma eu sentia estar sendo vigiada. Meus olhos percorreram todo o quarto e me deparei com uma caixa perto da minha cama. A mesma caixa que Alice estava segurando antes de eu invadir o quarto de Edward e beijá-lo.

- O que tem ali dentro? – Apontei o dedo para a direção da caixa, que estava perto do pé da cama.

- Vários jornais, revista e um monte de coisas sobre as encarnações passadas de você e Edward – Respondeu Alice, voltando a assumir a expressão de uma verdadeira dama educada.

- Não quero ver isso. Não hoje. – Respondi, precisando de descanso, mesmo que fosse apenas por algumas horas.

Estava completamente escuro lá fora por culpa do temporal, passavam das duas horas da manhã em Dark Roses.

- Tudo bem – Alice respondeu, empurrando com o pé a caixa para de baixo de minha cama – Outra hora você pode ver, só tome cuidado. Bella, só temos essa chance. Se nessa encarnação não der certo, acabou tudo. – Depois de dizer tais palavras, me deixando ainda mais nervosa, Alice sorriu cansada e saiu do quarto, acenando com as mãos para que Jasper a seguisse.

- Já vou –Ele respondeu, sorrindo para ela.

Alice logo saiu do quarto, deixando eu e Jasper a sós.

- Sei que tudo parece confuso e totalmente louco agora, acredite, você não reagiu muito bem nas outras vezes. – Ele foi me acalmando, parecia que sua presença me causava certa paz – Eu não sei como, mas dessa vez temos que fazer tudo que for possível. Sim, vai demorar alguns dias para que você se dê conta que contos de fadas e magia existem, mas quando descobrir, será maravilhoso.

Jasper realmente estava me acalmando e senti uma confiança enorme vindo dele para mim. Ele era um bom homem e, vamos concordar que seu trabalho não era nada fácil.

- Não sei como lidar com tudo isso. Não posso perder Nessie. Mas também não posso falhar com você e Alice. E no fundo, sei que sinto algo por aquele crápula. – Confessei, querendo tirar todo aquele peso de minhas costas.

- Vamos dar um jeito em tudo isso, eu prometo. Só durma agora, por favor. - Ele pediu, olhando confiante para mim.

- Tudo bem, só verei como Nessie está, e depois, dormirei. – Prometi para ele, sentindo uma enorme falta de quando meu pai me mandava para cama cedo. Quando eu tinha regras para seguir e tinha meu pai comigo.

- Irei atrás de Alice. Até mais e durma bem, minha dama – Jasper se despediu perfeitamente e saiu praticamente correndo do quarto.

Ignorando a sensação de fraqueza que senti em todo corpo, levantei-me da cama e fui em direção ao quarto de Nessie, logo ao lado do meu. Os cortes em meus joelhos estavam inflamados e roxos ao redor, ignorei a ânsia de vomito ao me lembrar da dor que senti e segui meu caminho.

Abri a porta do quarto com todo cuidado para que a madeira não rangesse. Ao longe, vi Nessie vestida com seu pijama dormindo feito um anjo, envolvida pelas grossas cobertas de algodão.

Com todo cuidado possível, atravessei a distância que me afastava de minha irmã e me sentei ao seu lado na cama. Assim que passei as mãos pelos seus cabelos, seus olhinhos se abriram sonolentos e com um único movimento seus braçinhos envolveram minha cintura.

- Onde você estava? – Ela perguntou sonolenta – Senti sua falta.

- Dando uns bons chutes em quem apontou aquela arma para você. – Brinquei, fazendo carinho em seu cabelo.

- Ah... – Ela bocejou, fechando seus olhos – Aquilo foi mau. Me ensina a dar chutes também? Assim ninguém mexe com minha irmã e nem comigo.

Sua voz era tão angelical que quis chorar ali mesmo. Ela mal sabia o que tinha acontecido.

- Você é só uma criança. Nada disso. A única que pode chutar alguém aqui, sou eu. – Respondi a sua pergunta, sorrindo para ela.

- Bella, papai nos deixou, não é?

- Não... Papai... Não nos deixou, Nessie.

- Promete não me deixar também? Amo demais você para isso. –Ela foi dizendo, até que finalmente cedeu ao sono e escutei sua respiração pesada, sentindo seu corpo mole logo depois.

- Nunca vou te deixar. Ninguém nunca irá te fazer mal. – Eu prometi para ela, dando-lhe um longo beijo demorado na bochecha.

Eu sabia que se eu dormisse com ela, eu iria acabar acordando-a de tanto que me mexeria na cama, isso sem falar nos pesadelos que estavam por vir... Me levantei de fininho da cama e saí do quarto, indo em direção ao meu.

Assim que cheguei a meu quarto, encontrei a janela aberta enquanto a chuva caia no chão e encharcava tudo.

Rápida - na medida em que meu corpo permitiu - atravessei todo o quarto e fechei a janela, ignorando as gotas frias que caíram em meu cabelo, fazendo alguns fios grudar em meu pescoço.

Assim que meus olhos analisaram a cama a procura do lençol molhado, encontrei um pequeno pedaço de papel e o peguei, já tendo noção de quem era. Até a caligrafia reconheci de longe.

O que aconteceu com seu pai foi apenas o começo. Faça Edward se apaixonar por você e prometo não fazer nada à Nessie. Cumpra sua parte que cumprirei a minha.

Depois de ler o bilhete, eu o amassei e o joguei no chão com raiva. Aquilo não estava acontecendo comigo, não podia. Quem quer que fosse, estava querendo brincar comigo.

Foi aí que pensei em algo que Alice nem Jasper haviam mencionado durante nossa conversa: E se fosse a mesma pessoa que estava fazendo aquelas coisas comigo e com Edward? Só podia! Bem, quem quer que fosse, era imortal como Alice e Jasper. Ou não. Mas mesmo assim, era meio passo andado.

Eu estava disposta a fazer de tudo, desta vez, as coisas tinham que dar certo.

Hoje eu não iria mais procurar Alice nem Jasper. Estava tarde e eu estava cansada.

Primeiro eu iria dormir.

Mas dormir ali, sozinha? Se o assassino tinha entrado recentemente ali, nada poderia impedi-lo de entrar de novo.

Antes que eu me disse conta do que estava fazendo, saí do meu quarto e me vi na frente da porta do quarto de Edward. Bati na porta e notei que estava usando a camisa de Edward, apenas um pequeno tecido que mal cobria minhas coxas. Ah não, eu tinha que voltar para o quarto e deixar de ser tão medrosa, ninguém me faria...

- Quem diabos está me incomodado a essa hora? – Edward perguntou, mas assim que me viu ficou paralisado.

-Posso dormir com você? – Pedi rápida demais, querendo bater com minha testa na parede assim que pronunciei aquelas palavras.

- Se não ficar nua na minha frente e parar no meio do ato, sim - Ele respondeu com um sorriso irônico no rosto - Ou quer ficar nua novamente?

Ele era um canalha. Um crápula.  Eu iria dar no pé dali o mais rápido que podia.

Faça Edward se apaixonar por você e prometo não fazer nada com Nessie.

De repente, aquelas palavras se tornaram tentadoras.

- Tudo bem. – Concordei, sentindo que estava ficando vermelha.

Percebi que Edward ainda estava sem camisa e dessa vez usava apenas a sua cueca, me senti tentada a sair dali o mais rápido possível.

Tudo bem, você consegue, você consegue...

Rapidamente, entrei no quarto e percebi que havia uma lareira ali. Como eu não havia percebido que havia uma lareira no quarto? Bem, eu deveria estar distraída demais. Tentei me concentrar nos movimentos do fogo que cobria os pedaços da madeira dentro da lareira, aquecendo o quarto.

Edward fechou a porta atrás de mim e passou por mim, agora deitando-se na cama enquanto batia ao seu lado na cama para eu deitar com ele.

Revirei os olhos para tal atitude.

Com uma paciência falsa, demorei longos minutos até atravessar o quarto e me deitar na cama.

- Quer se cobrir ou prefere o calor do meu corpo? – Ele perguntou, apontando para um cobertor peludo que estava dobrado logo a frente de meus pés.

- Prefiro o cobertor, o calor é melhor e mais útil – Respondi mal humorada, e ao mesmo tempo vermelha.

Peguei o cobertor e o joguei sobre meu corpo, me enrolando nas cobertas. Me deitei de costas para ele, de modo que ele não pudesse ver minhas bochechas vermelhas.

- E eu? – Perguntou novamente, se aproximando de mim.

- Se esquente com o calor do seu corpo – Ataquei-o com minhas palavras, me enrolando ainda mais no cobertor.

- Você quer dormir no meu quarto e não me deixa usar meu próprio cobertor?

- Tudo bem, tudo bem. – Cedi e estiquei a coberta na cama inteira, agora afundando meu rosto no travesseiro macio.

Assim que Edward se ajeitou nas cobertas, fui capaz de sentir todo o calor de seu corpo por baixo das cobertas e sentimentos estranhos começaram a aparecer dentro do meu peito.

Ele nem imaginava o que estava acontecendo...

- Edward? – Chamei sonolenta, depois de longos minutos em silêncio.

- Sim?

- Se tentar alguma gracinha enquanto durmo, eu acordo e meto a porrada em você, entendeu? – Bocejei, me sentindo confortável ali.

A última coisa que ouvi antes de dormir foi sua gargalhada, que soava como uma linda melodia. Gargalhada que nunca ouvira dele.

Pena que eu mal sabia o que iria acontecer pela manhã, assim que acordasse com aquele homem ao meu lado.