Eu sigo meu treinamento nos dias seguintes. Meu pai e Gemma são atenciosos e me dão bastante instruções e dicas, mas no fim sou eu que tenho que fazer as coisas funcionarem. Continuo me envolvendo com meus aliados, sendo simpático com os outros tributos, apesar de não desenvolver conversas com esses, e tento aprender coisas que podem ser úteis, uma delas é acender uma fogueira.
Eu e Cruiser convidamos Jurgen a fazer parte do nosso grupo. Ele aceita e passa a treinar com a gente. Ele é bruto e fala pouco, mas não é esnobe como os outros, e sei que poderá nos ajudar bastante.

Em certos momentos, observo e interajo com o resto dos tributos, seja por curiosidade, por ter consideração por alguns deles, ou simplesmente para entender os meus adversários. Tammy continuou parada, só observando o resto, e o meu grupo já apostava que ela seria uma das primeiras a morrer. Ela parecia tão doce e eu não queria que isso acontecesse. Kinsey estava tendo alguns avanços e eu fiquei feliz por ele. Tulip se mostrou bastante ágil e parecia bem inteligente, sempre tentando aprender algumas coisas. Ruby, a moça do 10, era ótima com cordas, seus nós eram os melhores e eu acabei aprendendo alguns com ela, em compensação tentei ensiná-la a mexer com facas. Achei Synesthesia, a menina do distrito 3, com seus cabelos castanhos e óculos grossos, bem engraçada, ela estava sempre mexendo com eletrônicos e a vi fazendo um robô funcionar. Fox, o seu companheiro de distrito, não usava óculos e era maior do que ela, entretanto também ficava empenhado em consertar aparelhos.

Mas nem tudo era bom. As vezes, pensava que em pouco tempo, eu teria que matá-los e eles tentariam me matar. Quem seria o primeiro? E quantos eu mataria? Qual deles me atacaria? Era difícil imaginar essas coisas. Além disso, de vez em quando, parte do meu grupo resolvia pegar no pé de algum tributo. Brigar era proibido, mas eles podiam colocar obstáculos para alguém cair ou simplesmente rir e zombar. O primeiro alvo deles foi Cairo. Ele estava tentando manusear um machado grande, considerando o tamanho do menino, claro que não era uma tarefa fácil. Ele pegou o machado e com grande dificuldade começou a andar. Star colocou um saco na frente dele, ele tropeçou e caiu. Por sorte não se machucou. Mas isso não era o suficiente, ela, Cruiser, Alexander e Cammis começaram a rir dele. Eu fechei minha cara e ia até eles, queria que parassem com as gargalhadas. Juno segurou o meu braço, olhou para o meu rosto e balançou a cabeça. È, ela tinha razão, eu não deveria ir, não ia adiantar, só criaria encrenca. Depois dessa, quando eles faziam coisas desse tipo eu fingia que não estava vendo. Era melhor assim.
A sessão particular com os Gamemakers era o próximo desafio. Antes eu sempre imaginava como seria a minha , o que eu faria, qual seria a minha pontuação. De 1 a 12, eu sempre me imaginava recebendo 10 ou 11, ou seja, uma das melhores notas. Os patrocinadores gostavam de tributos com notas altas, e quanto mais deles, mais ajuda e presentes eu receberia na arena. Por ser filho de um Gunner Wall, eu provavelmente já tinha uma vantagem na hora de consegui-los. Mesmo assim, precisaria de uma boa nota. Mas não estava me importando tanto com isso, depois da conversa sincera que tive com meu pai, tinha perdido parte do meu entusiasmo pelos jogos e suas etapas. Meus aliados falavam com ânimo sobre o que fariam, qual seriam suas pontuações, que os seus distritos iriam ficariam orgulhosos. E eu, sinceramente, não me importava mais com a opinião do distrito 1 sobre minha nota. Mas se quisesse manter a preferência por mim, ela tinha que ser muito boa, dessa forma indicaria que eu era mais do que apenas o filho de um Vitorioso.

Fui o primeiro a ser chamado para a sessão. Estava estranhamente calmo, sem nenhuma euforia, já que aquela ilusão sobre a glória dessa etapa, tinha desaparecido da minha mente. Assim, comecei pegando uma espada e ataquei um oponente de plástico. Depois, segurei algumas facas, e as arremessei, uma atrás da outra, e acertei em pontos “fatais” do alvo. Logo após, joguei uma lança e ela ficou espetada no coração do mesmo. Vi que eles gostaram da minha apresentação e fui dispensado. Enquanto saia, uma animação começou a tomar conta de mim, como se eu ainda quisesse reconhecimento e glória com os Jogos Vorazes. E com isso também senti culpa, meus olhos já haviam sido abertos. Mas os jogos ainda tinham um efeito fantasioso em mim.

Á noite, eu, Star e as nossas equipes assistimos o anuncio das pontuações dos tributos. E pela ordem de apresentação elas apareceram. As notas começaram altas, consegui um dez. Star, e Cruiser também. Ela ficou bem feliz com sua pontuação. Juno recebeu um nove. Fox e Synesthesia tiveram notas menores, Alexander e Cammis, nove. Depois vieram mais notas menores, uns 5, uns 6 ,alguns 7, dois 8. A nota de Tammy me impressionou, um 8. Era considerado alta, ainda mais para uma menina que só ficava parada olhando as coisas. Jurgen recebeu um 10, eu imagino que ele deve ter quebrado e lançado muitos objetos em sua apresentação. Cairo recebeu um 6. Tulip um 7, e eu senti uma certa satisfação por ela, pois considerando seu tamanho e seu distrito era uma boa nota. Kinsey, recebeu um 5, e Candle, sua companheira de distrito, que era maior do que ele um 6. E assim acabou o programa.

Conversei um pouco, depois fui para o quarto e tentei dormir. Virei e revirei várias vezes na cama. Mas minha mente não conseguia descansar. As notas... Ninguém conseguira uma maior que a minha. Eu estava bem, um 10. Mas e agora? Os jogos estavam bem próximos, era o confronto final. Pensei se eu duraria muito tempo. Até quando aguentaria? Um 10 era ótimo, mas não era garantia, e eu poderia morrer nos primeiros minutos na arena. Um 10 não ia impedir, só eu poderia fazer algo em relação a isso... Tinha que dormir, descansar para começar inteiro nos jogos. Resolvi levantar e fui a cozinha, talvez essa breve caminhada e uma água acalmasse os meus pensamentos. O apartamento estava silencioso, parecia que todos já haviam dormido. Acendi a luz da cozinha e abri a porta da geladeira. Escutei um barulho atrás de mim. Havia outra pessoa lá.