Fui embora antes que Dougie acordasse, ao perceber que tinha mais de nove chamadas não atendidas de Kevin. Deixei um bilhete, me desculpando por isso e explicando que estaria morta assim que chegasse em casa.

Mas não, Kevin só queria saber onde eu estava. Menti, dizendo que estava com Charlie, disse que nós fomos á uma festa e depois fizemos uma maratona de filmes da Audrey Hepburn.

E ai eu fiquei com vontade de assistir Breakfast At Tiffany's, então subi para o quarto, tomei um banho e comecei a procurar pelo DVD.

Estava abaixada, procurando na cômoda, quando ouvi o barulho da porta fechando, e me virei, assustada. Frankie estava de braços cruzados, com uma cara não muito boa.

– Vadia, Charlie estava comigo e Tori ontem a noite. Cheque antes de sair por ai mentindo.

– E-eu...

– Cala a boca! - Apontou para mim, um tanto quanto revoltada. - Eu sei que você estava com ele ontem á noite, não mente pra mim não!

– Sinto muito. - Encarei o chão. Não conseguia olha-la, estava meio envergonhada e realmente sentia muito.

– Escuta aqui, se não fosse a publicidade que esse cara tá me dando, eu 'tava pouco me fudendo pra quem você dá ou deixa de dar! Mas, vê se toma vergonha na cara, porque eu preciso dele por mais um tempo. EU NÃO TÔ AFIM DE SER TACHADA DE CHIFRUDA LOGO AGORA, TÁ? VADIA! - Aumentou consideravelmente o tom de voz na última parte, me xingando. Eu me assustei e levantei, ficando um pouco mais longe dela. O que ela estava me dizendo? Publicidade?

– Frankie, publicidade? - Perguntei, meio incrédula. Ela estava usando Dougie!

Não muda o fato de eu ser alguém ruim por me envolver com um cara comprometido, mas ela estava usando ele.

– EU NÃO ACHAVA QUE VOCÊS PUDESSEM FAZER ISSO COMIGO! - Vi algumas lágrimas brotando em seus olhos e fiquei confusa, muito confusa.

Ouvi passos na escada e entendi onde ela estava querendo chegar.

– O que está acontecendo aqui? - Kevin abriu a porta, franzindo a sobrancelha. - SUA FILHA, É UMA VACA! - Ela continuava gritando, agora numa voz chorosa. - Kevin, eu... - E mais uma vez ela não me deixou completar a frase, avançando para o meu lado e me dando um tapa na cara. Kevin entrou, rápido e a puxou para longe. - MAS O QUE É ISSO?

– Ela dormiu com Dougie! - Kevin me encarou. Se seus olhos fossem armas, eu já teria morrido. - Isso é verdade?

– É claro que é verdade! Por que eu mentiria?!

– Francesca! - Ele a fez ficar quieta. - É... é verdade. - Senti os olhos enchendo de lágrimas. Não tinha nem como me defender, ela estava falando a verdade. Estava fazendo cena e fingindo estar magoada, mas estava falando a verdade.

– Você é uma vadia, igualzinho a sua mãe. - Frankie. Kevin engoliu em seco e disse:

– Você realmente me decepcionou agindo como uma... como uma puta.

– Kevin, você tá falando da minha mãe? Você incluiu ela nisso, assim como essa naja louca por atenção que você chama de filha?

– Olhando para trás e vendo você agora, repetindo aqueles erros, eu reconheço e incluo sua mãe nisso sim.

– QUEM É VOCÊ PRA FALAR DE MIM E DA MINHA MÃE? - Perdi a linha. Perdi mesmo, quem era ele pra julgar minha mãe?

– VOCÊ ERA CASADO E NÃO PENSOU DUAS VEZES ANTES DE DORMIR COM ELA. DEPOIS DEIXOU MINHA MÃE, GRÁVIDA, E NÃO DEU NOTÍCIAS POR ANOS! EU NEM QUERIA VIR PRA CÁ, MAS VOCÊ LIGOU, DISSE ESTAR ARREPENDIDO E ELA ME INCENTIVOU. ELA DISSE "VAI, ALICE, PODE SER BOM PRA VOCÊ!". ELA TE PERDOOU E AGORA VOCÊ CHAMA ELA DE PUTA? QUEM É VOCÊ PRA CHAMAR MINHA MÃE DE PUTA? - Terminei, respirando fundo. - Se nós somos putas, você também é um cafajeste.

– Saí da minha casa. - Kevin apontou para a porta. Viv estava meio chocada com situação, mas eu já sabia que estava do lado de Frankie. - SAÍ DA MINHA CASA!

– Posso pegar minhas coisas?

– Faz o que você quiser, contanto que saia daqui.

–-

Paguei o taxista e desci do carro, estava em frente a casa de Tom, que ele havia oferecido como abrigo até eu ajeitar as coisas e, provavelmente, voltar para Nova York.

As vezes eu acho que Tom é, sei lá, vidente. Ele ligou no momento em que eu entrei no táxi, para perguntar o nome de um livro que eu tinha indicado e ele esquecido de anotar, percebeu algo de errado e eu resumi que tinha sido expulsa de casa, disse que ia para um hotel, mas ele insistiu que seria melhor ficar com ele.

O senhor taxista me ajudou com as coisas e eu toquei a campainha, sendo recebida com um abraço. - Chocolate quente e Gentlemen Prefer Blondes. Vai me contar tudo? - Eu ri e fiz que sim com a cabeça. Sabia que ele assistiria Glentemen Prefer Blondes comigo só por achar a Marilyn linda e por saber que eu gostava de filmes de 1900 e guaraná com rolha, principalmente se eles tivessem beldades da época no elenco.

Nós conversamos, eu contei tudo e, depois de ouvir palavras de apoio, assistimos ao filme.

Enquanto Marilyn cantava Diamonds Are A Girl's Best Friends, ouvi o toque de mensagens do meu celular e me levantei para ver:

Espero que você tenha entendido que é pra ficar longe.

xx Frankie

– Isso é uma ameaça? - Quase enfiei o celular na cara de Tom, que afastou meu braço, conseguindo ler. - Não sei, pode ser interpretado como aviso e como ameaça. De qualquer jeito, não é bom não. - Suspirei, encostando a cabeça em seu ombro. - Obrigado Tom. - Agradeci. - Pelo quê? - Milhões de motivos eram óbvios, mas ainda sim ele parecia não saber.

– Por tudo, bobão. Por ser minha mamãe com um pênis. - Outra mensagem chegou. Era Tori perguntando onde eu estava, ela não estava em casa quando eu cheguei.

Não te contaram? O resumo é que descobriram que eu sou uma vadia.

xx Alice

Alguns segundos depois, ela já tinha respondido:

Pera lá! Vadia não, já tá roubando o namorado da Frankie, quer roubar os atributos?

Saudades de quando ela era uma criança boazinha.

xx Tori

Eu ri e desliguei o celular, para continuar prestando atenção no filme.