Point of view: Alice

Mas que droga de vadia egoísta e sem coração eu sou?

Quer dizer, um coração eu sei que eu tenho porque ele anda batendo mais forte na presença daquele loiro aguado. O resto é verdade, eu sou uma vadia egoísta.

Eu não consigo não me sentir culpada. Seria mais fácil exercer minhas habilidades de vadia egoísta se eu conseguisse, mas nãão, o egoísmo tem que ser periódico.

Na verdade, eu sempre tive um lado bitch. Só não era tão radical. Era bobo, tipo colar chiclete no cabelo da menina que eu detestava na escola ou esfregar minha prova na cara de um professor.

É, eu fiz isso. Literalmente. Eu peguei a prova e esfreguei na cara daquele filho de uma puta, fazendo a dancinha da vitória e cantando This War Is Ours. Só porque ele disse que eu não conseguiria passar em física, se dependesse dele, e eu passei. Com gloriosos B+.

Peguei dois dias de suspensão, mas valeu a pena.

Só que ficar com o namorado da minha irmã não é tipo isso, eu aposto que o professor não chorou quando ele chegou em casa (a garota do chiclete pode ter chorado, mas como ela era o demônio em pessoa, a gente ignora), quando a Frankie souber ela terá o coração partido.

E mesmo que eu não seja best dela, isso não é legal. Eu não gostaria que fizessem comigo.

E é por isso que eu sou tão chata e repetitiva em relação a isso. Dougie deve querer me espancar toda vez que eu o lembro que é errado, Tori e Charlie me odeiam por corta-los toda vez que eles começam a lembrar de Dougie, mas cara, eu me mordo de culpa.

– don't be fooled, I was raised by wolves.* – Cantei, acompanhando a música que ouvia no Ipod. - Sempre desconfiei. - Me assustei, encarando Dougie sem acreditar. Ele riu. - Adoro te encontrar pela cidade!

– Seria legal, SE VOCÊ NÃO ME ASSUSTASSE!

– … now the moon hangs in full, so you know I won't play by the rules. – Me ignorou, continuando a música de onde eu tinha parado.

– Você gosta de Falling In Reverse? - Estava um pouco surpresa.

– Você não sabia? Em que planeta você mora, Alice? – Me imitou, na noite passada. Revirei os olhos, rindo.

– Eu sou de Nárnia, sabia não? Fui criada por lobos de lá, por isso Frankie nunca teve notícias.

– Nárnia não é um planeta.

– Foda-se, você perguntou de onde eu era.

– De que planeta você era.

– Ai, Dougie! Vamos brincar de guerra dos dedões e esquecer isso. - Estendi a mão e ele pegou, pronto para brincar. - Meu Deus, que mão gelada! - Eu ri. - Você é um defunto, Alice?

– Assim você me ofende!

– Se for, você é uma linda defunta.

– Não melhorou.

– Eu disse que você é linda.

– … defunta.

– Linda.

– Obrigado. E minha mão está gelada porque está frio. Estamos em Novembro, sabe? Eu mal posso esperar por Dezembro, e a neve!

– Pra ficar doente?

– Também! - Rimos. - Mentira, odeio ficar doente. Mas tudo fica tão bonito.

– Quando se está doente?

– Quando tem neve, seu bobo! - Bati de leve em seu braço. - O que te deu hoje?

– Eu não consegui dormir, pensando em uma coisa.

– O que?

– Você me beijou na festa. - Desviei o olhar, corando. - Eu não me importaria se você fizesse de novo. - Sorriu. Voltei a olhar para ele.

Eu já era uma vadia egoísta, podia me aproveitar do título por um instante e depois morrer de culpa, não?

E daí que estávamos em uma praça e Dougie era figura pública? Estava de touca, e cachecol, não seria assim tão fácil reconhecerem-no.

Fiz de novo. O beijei de novo. Como gostaria de fazer todos os dias.