Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon
No dia seguinte seria um radiante sábado. Mas ainda não estava tão bem humorada... Talvez no domingo... Mas como no sábado, não foi tão empolgante.
Na segunda-feira, antes de sair para a escola, Lorrayne pediu a Catharina:
_ Mãe, será que eu podia voltar pra minha escola pública?
_ Você quer voltar?
_ Muito. Esse colégio é um saco!
_ Você que sabe. Por mim, sem problemas.
_ Eu acho melhor. Eu termino esse ano letivo onde estou, depois, volto pra minha vida normal.
_ Certo.
Catharina deixou Lorrayne na escola e seguiu para o trabalho. Lorrayne foi recebida por Yshara e Marco, que muito preocupados perguntavam ao mesmo tempo:
_ Lorrayne, o que aconteceu?
_ Ficamos sabendo que você estava doente...
_ E tivemos certeza que a Layane estava metida nisso...
_ E sua mãe também...
_ Mas agora você chegou com a Catharina...
Silenciando aos dois, Lorrayne notificou:
_ Minha mãe Martha morreu. Ela está morta.
Lorrayne continuou a andar. Embaraçados, perguntaram:
_ Você está bem?
_ Precisa de alguma coisa?
_ Estou bem. Acho que Layane foi mandada para um juizado de menores. Renan foi para outro país com a mãe dele. E o Eduardo está em algum lugar da cidade.
_ Então você está morando com a sua mãe? – perguntou Yshara.
_ É estou. Estou bem.
_ E o que aconteceu com você que você foi parar no hospital? – perguntou Marco.
_ Durante o intervalo eu prometo que conto tudo com riqueza de detalhes, beleza?
_ Certo.
_ Beleza então.
O intervalo foi o menos esperado de todos do ano. Em um lugar sossegado, Lorrayne contou tudo que havia se passado desde a terça-feira. Depois de receber algumas palavras de apoio, Lorrayne perguntou:
_ E você Yshara? Vai mesmo embora daqui?
_ Vou. Minha mãe não ficou muito feliz quando soube que eu estava decidida, afinal, perder uma bolsa que custou tanto... Mas ela me entendeu. E você?
_ Também. Falei com a minha mãe, e estou decidida...
Lorrayne foi interrompida por Caroline que se aproximava com suas outras três amigas. Desanimada, disse:
_ Olha Caroline, não estou num dia muito bom. Me dê uma semana, e poderá fazer o que quiser, pode ser?
_ Fiquei sabendo. Meu pai me disse. Ou você achou que um caso desses permaneceria oculto por muito tempo?
_ Não achei nem acho nada, agora se você nos der licença...
_ Eu não queria te aborrecer. Só estou lamentando o que aconteceu com a Layane. Ela parecia uma pessoa ótima.
_ Então, agora que você já sabe que a culpa foi minha, poderia nos dar licença?
_ Também não acho que foi culpa sua. Nem da Layane. Simplesmente aconteceu.
Lorrayne consentiu. Caroline alegou:
_ Era só isso. Espero que você se recupere logo.
Caroline e suas amigas deixaram os três jovens, que se entreolharam estarrecidos.
Ao final da aula, Lorrayne despediu-se de Yshara, e foi acompanhada por Marco até a saída.
_ E você, Marco? Vai sair ou vai ficar?
_ Vou ficar. Eu não tive tantas experiências traumatizantes...
_ Que bom.
_ Sabe, fiquei sabendo sobre você e seu primo Eduardo...
_ Ela contou, não foi? Tudo bem. Acontece que Eduardo não é meu primo. E realmente, eu gosto dele. E acho que ele gosta de mim. Espero que isso não te deixe chateado comigo...
_ Claro que não. Pelo contrário, fico muito feliz por você.
_ Mas, então, você vai ficar com a Caroline de vez?
_ Já disse que não.
_ Vai ficar sozinho? Na maior seca?
_ Na verdade estive pensando em alguém...
Lorrayne sorriu levemente enquanto pedia:
_ Por favor, me diga quem.
_ Ah, você sabe quem. Mas acho que ela só me quer como um bom amigo...
Lorrayne riu da situação. Falavam de Yshara.
_ Então não achava que eu te queria como um bom amigo quando nos beijamos?
_ Claro que achava! E acho!
_ Então. Isso não impediu você de me beijar.
_ Você deixou.
_ Foi você quem pediu. Mas, voltando ao assunto, Marco, tenho certeza que ela não te rejeitaria.
_ Será?
_ Ahan! Bom, tchau pra você. Minha mãe já está ali, me esperando.
_ Tchau.
Lorrayne correu até o carro e abraçou Catharina forte. Disse:
_ Que saudade!
_ Mas a gente se viu há algumas horas atrás...
_ Pra mim é o suficiente!
_ Então abraça de novo!
Lorrayne abraçou Catharina mais uma vez antes de partirem. Durante o caminho, Catharina informou que tiraria a tarde de folga para passar com a filha.
Aceitando a idéia de Lorrayne, saíram para caminhar durante a tarde toda pelo bairro. Ao chegarem, no final da tarde, o telefone tocava. Catharina atendeu-o e o entregou para Lorrayne, que perguntou:
_ Quem é?
_ Sou eu, Yshara!
_ Oi Yshara, beleza?
_ Beleza! Mas, Lorrayne, você não vai acreditar se eu disser!
_ O que foi?
_ Sabe quem veio aqui em casa e até me beijou?
_ Sei.
_ Como isso aconteceu? Estávamos conversando como de costume... E de repente eu estava dando o beijo mais gostoso de toda minha vida!
_ Pois é, né...
_ Eu não consigo acreditar! Ele disse que podíamos continuar isso amanhã!
_ É...
_ Isso é incrível! Você faz idéia do que eu estou sentindo? É muito maravilhoso!
_ Eu sei, eu sei...
Lorrayne passou longos quinze minutos ouvindo a alegria da amiga. Desligou o telefone. Catharina percebendo sua melancolia, sentou-se ao seu lado e perguntou:
_ Que foi? Parecia ser uma amiga sua...
_ E era. Ela ficou com uma pessoa que ela gostava.
_ Hum... E você também gostava dessa pessoa?
_ Não. Gosto de uma outra pessoa. E isso me fez lembrar dessa pessoa que eu gosto.
_ E quem é o sortudo?
_ Não sei onde ele está. É o Eduardo.
_ O Eduardo? – perguntou Catharina surpresa.
_ Não, ele não é meu primo.
_ Isso eu sei. Mas acontece que vocês viviam na mesma casa... Sei lá... Vocês tiveram chance de fazerem muitas coisas...
_ Mãe! Não fizemos nada de errado! Somos jovens muito conscientes!
_ Me desculpe querida, como fui me esquecer disso! Mas, fico feliz que seja o Eduardo. Ele me pareceu um rapaz muito bom.
_ Ele é. Mas... Não faço idéia de onde ele foi parar. Onde ele está, mãe?
_ A Diana não me disse. Só me disse que como faltava pouco tempo pra ele completar dezoito anos, ele podia viver a vida dele, etc...
_ Você não acha que foi uma atitude desnaturada?
_ Não. A Diana conversou muito com ele. Foi ele quem não quis. O Renan quis.
_ Por que ele está fugindo de mim? Será que ela acha que se voltar, vou querer a todo custo ficar com ele? Ou será que ele está com pena de me dizer um não?
_ Lorrayne, não é nada disso! Ele não precisaria fazer isso! E tenho certeza que ele retribui esse seu sentimento.
A garota pensou por um momento. Suspirou:
_ Sei lá. O jeito é esperar ele dar notícias...
_ Ele vai dar. Tenho certeza que ele vai aparecer logo.
Na terça-feira, Lorrayne presenciou algo que desejava havia muito tempo. Yshara estava radiante ao lado de Marco Aurélio, que também parecia ter descoberto o quanto a garota era importante.
Apesar da alegria de ver seus melhores amigos curtindo a vida, Lorrayne sentia cada vez mais a falta de Eduardo.
No caminho pra casa, Catharina explicou:
_ Lorrayne, hoje tenho que trabalhar. E como você ainda me parecesse um pouco deprimida, queria saber se você vai ficar bem sozinha.
_ Eu estou bem. Sério. Pode ficar tranqüila.
_ Tem certeza?
_ Absoluta.
_ É que eu achei que estivesse sendo precipitada demais em deixar você sozinha tão cedo...
_ Não é cedo. Pelo contrário, já é bem tarde. Mãe, a vida continua. Vou ficar muito bem. Tudo vai ser como antigamente.
_ Tudo bem, então.
Ao deixar Lorrayne no apartamento, Catharina voltou a trabalhar. E Lorrayne reviveu os velhos tempos. Mas agora era muito diferente. Tinha muitas experiências pra contar. E pra viver. Visitar em um reformatório sua irmã que tentara matá-la seria uma experiência bem diferente. E não deixaria de fazê-lo, pois apesar de tudo, Layane continuava a ser sua irmã, e tudo que fizera foi por amor. Um obsessivo e compulsivo, mas era amor. A escola também. Parecia que Caroline havia baixado a guarda, e com os bens que havia herdado de Martha, poderia pagar um colégio para o resto da vida. Talvez pudesse mudar de decisão até o fim do ano letivo.
A única experiência que seria realmente difícil de ser vivida seria passar sem Eduardo. Depois de tudo que haviam feitos juntos, por que o garoto tinha que fugir assim dela?
Mais uma vez, confidenciou em seu diário:
Diário:
Muita coisa aconteceu. A Martha faleceu. A Layane foi pra um reformatório. O Renan foi pro exterior com a mãe dele. E o Eduardo fugiu de mim.
Estou morando com a minha mãe Catharina, e era pra eu estar mais feliz que nunca. Minha tristeza pela Martha é grande, mas pelo Eduardo também.
Cara... Se ele estivesse aqui, grande parte da minha dor diminuiria, e minha vida estaria completa.
Por que ele fez isso? Eu o amo tanto...
Suas confidências foram interrompidas pela campainha que tocou. Seu coração disparou. Como alguém entraria sem ter a chave do portão? Talvez um vizinho?
Apreensiva abriu a porta. Não era uma das últimas pessoas que esperava ver. Era uma das primeiras. Eduardo perguntou:
_ Como é? Vai ficar muito tempo aí?
_ Não sei. O que você está fazendo aqui?
_ Só queria avisar que agora você tem um novo vizinho...
_ Você? Mas que saco!
Lorrayne abraçou o garoto e perguntou:
_ Onde você estava? Por que sumiu assim? Eu precisava tanto de você!
_ Eu estive com minha madrasta e com o Renan. E depois quis dar um tempo para você e Catharina.
_ Por que você não quis ir para a Europa com eles?
_ Meu lugar não é com eles. Não mais.
_ Com quem seria?
_ Com a garota que eu amo. Minha vizinha.
_ Que bom que pensa assim...
Lorrayne beijou Eduardo ternamente. E sabia que aquele beijo era o começo de algo maravilhoso. Talvez não eterno, mas forte enquanto durasse.
Sua vida agora estava completa. Algumas lacunas não deixariam de existir, mas tudo o que precisava, agora estava ali.
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FIM
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