Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 15
XVI - Vida nova




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Catharina parou o que fazia e falou vagamente:

_ Ah... Certo.

_ Bom... E você? Quando vai?

_ O mais rápido possível. Não sei quando terminarei de arrumar as coisas. Talvez em uma semana...

_ E para onde você vai?

_ Um apartamento. É provisório. Assim que eu acertar todos os meus assuntos, vou sair da cidade.

_ Mesmo?

_ É. Olha, a campainha. Deve ser sua mãe. Melhor você ir.

_ Tá, eu vou. E você... Você vai me visitar?

_ Não sei Lorrayne. Talvez eu passe para avisar que estou indo embora. Talvez.

_ Você decidiu realmente me abandonar?

_ Foi você quem fez isso comigo, Lorrayne.

_ Não! Não foi! Só porque eu quero morar com a minha mãe, você decidiu me castigar!

_ Pra você é como um castigo?

_ Por favor, não comece novamente! Vou descer. E vou te esperar.

_ Espere.

Lorrayne desceu e abriu a porta. Abraçou Martha apertado e disse:

_ Espero gostar de morar com a senhora!

_ Eu também espero, meu amor! Bom, já está tudo certo?

_ Ah, sim, está. Só tenho que pegar minhas coisas. Estão no meu quarto.

_ Quer ajuda?

_ Não precisa se incomodar...

_ Não é incômodo! Quero levá-la o mais rápido possível! Pode ser?

_ Se é assim... Claro!

Lorrayne guiou Martha até seu quarto, e quando saíram, deparam-se com Catharina. Martha cumprimentou:

_ Ah, olá Catharina! Bom, estamos indo. Já se despediram?

_ Claro, minha irmã! Estou aqui para fazer o que você deseja!

_ Catharina, não vou mais falar sobre isso se você não quer entender. Agora, se está tudo certo, estamos indo. Espero vê-la em breve. Tchau. Vamos Lorrayne?

A garota balançou a cabeça positivamente e seguiu a mãe até o carro, onde guardaram a bagagem. Quando Martha deu a partida, perguntou:

_ Lorrayne, tudo bem?

_ Claro.

_ Catharina virá visitá-la?

Lorrayne deslizou o olhar para a janela, e respondeu:

_ Não sei. E não me importo. Hoje vou começar uma vida nova.

_ Fico feliz.

E seguiram para o novo lar de Lorrayne. Durante a viagem, Martha perguntou:

_ Lorrayne, o que aconteceu que você não foi para a escola hoje?

_ Ah... Que embaraçoso! Mal venho morar com minha mãe, e já faço arte! Bem... É que estou suspensa. Só posso voltar para a escola sexta-feira...

_ Mas o que aconteceu?

_ É que... Desde que entrei naquela escola, só tenho desagradado aos professores...

_ E como? Por que?

_ Acredite se quiser, mas eles me detestam pelo fato de eu ser pobre e vir de uma escola pública. Qualquer coisa é motivo para uma bronca, uma advertência, uma suspensão...

_ Que horror... Mas você não é pobre! Você pertence a uma família muito rica! Lorrayne, se você quiser, posso ter uma conversa com esses professores e até diretores, eles vão ver quem é sua mãe!

_ Não, não é preciso. Eu também não gosto deles. E não ia gostar se eles gostassem de mim. Tudo bem. Vou me virar sem suspensões. Prometo.

_ Tudo bem. Farei como quiser. Estranho esse seu gosto de querer ter pessoas perseguindo-a...

_ Eu sou estranha. – brincou Lorrayne.

Por um instante ficaram em silêncio, até que Lorrayne perguntou:

_ E... Como ficam meus documentos?

_ Não se preocupe, você logo, logo será Lorrayne Albuquerque. Tenho um amigo juiz que vai me ajudar a te mudar o nome e entrar “documentada” para a família...

_ Eu não gostaria de mudar meu nome.

_ Como?

_ Estou com ele há quatorze anos. Acho que estou um pouco acostumada. Acho que prefiro Lorrayne Santiny... Albuquerque. Afinal, Santiny é o nome do meu pai, não?

_ Ah... Sem problemas... Se você prefere...

_ A senhora é mesmo legal... Mãe!

_ Obrigada, minha filha.

 Logo Martha chegou no portão de casa e tocou o interfone. Quando Layane perguntou quem era, Martha respondeu:

_ Entrega de mais um integrante da família Albuquerque!

E rapidamente o portão foi aberto. Quando parou o carro, Martha pediu aos empregados que levassem as coisas de Lorrayne para seu quarto. E pediu a Layane que a levasse para conhecê-lo. Layane alegremente puxou Lorrayne pelas já conhecidas escadas. Antes de levá-la pelo corredor, Layane parou e perguntou:

_ Lorrayne, acho que você deve fazer idéia de qual é seu quarto, não?

_ Hum... Deixe-me pensar... “Hóspedes especiais”?

_ Eu sabia que aquele não era um quarto qualquer! Mas, venha vê-lo, acho que vai gostar!

Foram até o já conhecido quarto e entraram. Lorrayne mal podia acreditar. Nunca sonhara em ter um quarto como aquele. Era parecido com o de Layane. Inclusive as cores: branco e rosa. Lorrayne caminhou até o closet e o abriu. Olhava maravilhada o compartimento, enquanto Layane perguntava:

_ E aí? Gostou das cores? Eu mesma que sugeri! Como perfeitas gêmeas que somos! Gostou?

_ Uau! Layane, o que esse closet faz aqui? O que tanto vou colocar nele? Meu quarto cabe aqui!

_ Seu ex-quarto, não se esqueça! Mas, você gostou?

Lorrayne foi até o móvel de seu mais novo computador e sentou-se. Disse:

_ Se eu gostei? Acho que gostar é apelido! Layane, sua m... Digo, nossa mãe, encheu esse quarto durante o fim de semana?

_ Para você ver como ela te ama... Por isso, ame-a como ela merece.

_ Não se preocupe quanto a isso. Darei o melhor de mim. A você também, minha irmãzinha!

Lorrayne levantou e abraçou a irmã, que perguntou:

_ E quanto aos nossos tão dóceis priminhos?

_ Bom, aí já são outros quinhentos... Acho que o Renan dá pra levar, mas o Eduardo... Parece que me detesta...

_ Que nada. Até que ele foi simpático com você!

_ Então não quero conhecê-lo mais do que conheço!

_ Isso fica por sua conta. Bom, vou deixá-la com seu quarto. Espero que se adapte rápido.

_ Obrigada!

Layane saiu, e Lorrayne pôde arrumar suas coisas que acabavam de chegar. Pensava em como aproveitar todo o espaço que havia sobrado em seu novo “guarda-roupa”, quando ouviu uma gritaria do lado de fora. Aproximou-se da porta e reconheceu a voz de Layane. Discutia com Eduardo:

_ Te detesto Eduardo! Você é um imbecil!

_ Não a ponto de ser como você!

_ Ah, vai para o inferno, seu idiota!

_ E você arranja o que fazer além de me encher a paciência! Menininha mimada!

_ Sai da minha frente! Retardado!

Lorrayne correu para longe da porta, e ela se abriu. Layane entrou e a bateu com violência. Sentou-se na cama e disse:

_ Mamãe mandou chamar para o jantar.

_ Tá bom. Tudo bem com você?

_ Não. Tenho um problema, que se chama Eduardo.

_ Percebi. Por que vocês brigam tanto?

_ Porque ele é um idiota. Não aceita nenhuma brincadeira. Só porque eu disse que o curso de guitarra dele era uma perda de tempo. E de dinheiro. Aí ele veio com aquela história que eu não aceitava que ninguém fizesse nada que não me privilegiasse... E começou.

_ Vamos descer e comer, quem sabe você se acalma?

_ É. Vamos.

O jantar foi servido. Lorrayne se preocupou. O jantar de boas vindas fora caprichado. E requintado, com mesa posta como mandava a etiqueta: as taças, guardanapos, e talheres. Lorrayne pensava “quantos talheres!”, enquanto tentava descobrir qual usar primeiro. Até Eduardo parecia se dar bem com os talheres... Ela estava perdida... Resolveu copiar tudo o que Layane fazia. Foi difícil disfarçar o interesse no prato da irmã, enquanto dava o melhor de si com os talheres. Cansada de pensar e disfarçar, interrompeu o jantar, alegando estar satisfeita. Martha interveio:

_ Mas você comeu tão pouquinho...

_ Estou sem fome... É que tanta adrenalina me tirou a fome...

Eduardo fez menção de rir, mas se conteve. Lorrayne percebeu, o que aumentou ainda mais seu desconforto. Levantou-se e foi para seu quarto.

Ficou assistindo TV até que Layane bateu na porta e perguntou:

_ Posso entrar?

_ Claro, entre!

Layane adentrou o quarto e sentou-se em uma poltrona, ao lado de outra onde estava Lorrayne. Perguntou:

_ Por que você saiu no meio do jantar?

_ Estava sem fome...

_ Ora, vamos! Fala a verdade!

_ Não vai rir?

_ Prometo.

_ Todos aqueles talheres me apavoraram! Na minha casa eu só usava dois! Garfo e faca!

_ Ah, se eu soubesse que era isso! Não se preocupe. Amanhã te explicarei tudo que deve saber sobre talheres e como usá-los!

_ Nossa, isso soa como nome de livro de auto-ajuda!

Riram juntas até que Lorrayne parou e ficou pensativa. Layane perguntou:

_ O que foi?

_ Sabe, hoje, no jantar, pude perceber como seu primo Eduardo é debochado.

_ Por que? O que aquele grosso fez para você?

_ Não fez nada. Quase fez. Ele quase riu quando eu disse que tanta adrenalina haviam me tirado a fome.

_ Que idiota! Vou agora mesmo falar umas poucas e boas pra ele!

_ Não! Não. Aí ele vai acha que não sei me defender. E vai se sentir livre para fazer o que quiser comigo. Quando eu tiver oportunidade, digo para ele que não vou aturar as criancices dele.

_ Tudo bem. Mas precisando de qualquer coisa...

_ Layane, acabei de ter uma idéia.

_ Qual?

_ Você não vai achar muito atrevimento de minha parte?

_ Mas por que eu acharia atrevimento seu?

_ Sei lá, mal cheguei e já estou querendo dar palpite...

_ Claro que não! Fala!

_ E se pregássemos uma peça no Eduardo?

_ Boa! Como?

_ Sei lá! Que tal colocarmos algumas tachinhas na cama dele, afinal, ele deve se jogar na cama sem mesmo olhar, não?

_ Grande! Muito boa essa!

_ Mas... Ele pode falar para a mãe...

_ Aí a gente tira as tachinhas, e diz que ele só está bravo com a gente porque brigamos com ele!

_ E a mãe vai acreditar?

_ Claro! Ela sempre acreditou em mim!

Por uma fração de segundo, Lorrayne imaginou as situações pelas quais Eduardo já havia passado com Layane, mas outro pensamento se sobrepôs, o de que ela não era culpada por nada, e que ele foi errado em descontar nela no jantar. Layane perguntou:

_ E onde vamos arranjar tachinhas?

_ Ah, eu tenho muitas. Comprei há pouco tempo, na esperança de usá-las com Carol e sua turma, mas acabei perdendo a coragem...

_ Que pena. Bom, mas pega lá! Quero fazer isso ainda hoje!

_ Quando?

_ Não sei. A qualquer hora que ele sair, eu chamo a atenção dele com qualquer besteira e você entra lá e põe as tachinhas na cama, beleza?

_ Beleza! Então temos que ficar atentas!

Ficaram a conversar, até que Layane percebeu que a porta do quarto de Eduardo havia sido aberto. Correu atrás do primo que descia as escadas. Lorrayne aproveitou o momento e espalhou algumas tachinhas na cama, de modo que fossem imperceptíveis. Não ouviu o argumento de Layane, mas já ouviu os berros da discussão. Voltou furtivamente para seu quarto e esperou por Layane, que entrou em seu quarto ainda xingando o primo. Deixaram a porta aberta para ouvirem os gritos e palavrões, mas não ouviram nada.

Para a surpresa das garotas, o rapaz apareceu carrancudo na porta, segurando as tachinhas.

Continua


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