Pra sua sorte, seu deslize foi abafado pelo sinal que anunciava o fim do intervalo. Lorrayne despediu-se de Layane e foi para sua aula de matemática.
Depois de todos terem entrado, o professor entrou e antes de tudo perguntou a Lorrayne:
_ Então a senhorita resolveu entrar?
_ Pois é, professor...
_ E o que fazia lá fora?
_ Ah, professor, sabe como é... Estava descansando um pouquinho...
_ Então a senhora ainda não aprendeu que veio para a escola estudar, e não “descansar”?
_ Isso eu aprendi. Só não aprendi a aturar os professores...
_ Está se referindo a mim? Pois se está, não se preocupe, não vai conseguir me tirar do sério. Estou percebendo que nada lhe fará ter respeito com os professores. Durante todo o ano, lhe darei corda, na esperança que se enforque.
_ Professor, desculpe se a carapuça serviu, mas na verdade eu não falava mesmo do senhor. Eu sei levá-lo numa boa.
_ Não sabe como fico feliz. –Cortou o professor em tom irônico - Muito bem, pessoal, vamos iniciar a aula...
Iniciada a aula de matemática, os atritos entre Lorrayne e o professor terminaram. Logo depois teve uma aula de língua portuguesa, com a professora Camila. Em seguida teve a aula de psicologia. Assim que bateu o sinal, e todos saíram, Geni foi até a mesa de Lorrayne que ainda guardava seu material. Perguntou:
_ Tudo bem com você, Lorrayne?
_ Ah, sim. Bem, obrigada. – disse Lorrayne sem dar atenção à professora.
_ E aquele seu problema?
Lorrayne fechou a mochila e a colocou sobre as costas. Mexendo em um pedaço de papel rabiscado sobre a mesa, Lorrayne disse:
_ Falei para a minha mãe. Mas só porque não agüentava mais.
_ E ajudou?
_ Não. Agora que ela sabe o porquê da minha mudança, sinto-me livre para odiá-la sem ter que dar explicações...
_ Lorrayne, que feio, você jamais deve odiar sua mãe!
_ Ela não é minha mãe e escondeu isso de mim a vida inteira, quando descobri, ouvindo uma conversa entre ela e minha verdadeira mãe, tive que guardar para mim, pois estava assustada e não sabia o que poderia acontecer. Agora conheci minha verdadeira mãe, mas não pude dizer que era filha dela, pois a outra filha dela é minha única amiga e estuda nessa escola, por isso, NÃO VENHA ME PEDIR PARA NÃO ODIÁ-LA! Agora, com licença, tenho que ir embora, pois minha mãe biológica me chamou na casa dela, e acho que ela quer me contar toda a verdade que eu já sei.
Calada, Geni deu passagem a Lorrayne. Ao entrar no carro de Catharina, Lorrayne disse sem nem mesmo lhe encarar:
_ A mãe da Layane quer que eu vá lá hoje.
_ E o que ela quer?
_ Não sei. Layane também não sabia. Você pode me levar lá, ou terei que pedir a ela que me busque?
_ Posso ir com você? Estou preocupada.
_ Preocupada com o quê? Que ela não me deixe sair da casa dela? Ou que me envenene contra você?
_ Lorrayne, eu só quero...
_ Ela disse que depois falava com você, agora eu tenho que ir sozinha. E então, você me leva ou terei que chamá-la?
_ Não, eu levo, sem problemas. Depois nós conversamos.
Catharina deu a partida no carro. Em poucos minutos estavam em casa. Lorrayne entrou e Catharina partiu.
Lorrayne foi para seu quarto e jogou a bolsa sobre a cama. Até que não estava tão triste por ter levado uma suspensão de três dias. Estava aliviada por ter mais três dias longe daquela escola...
Resolveu ligar para Layane e dizer que logo estaria lá.
Em seu escritório, Catharina ligou para Martha perguntando o que a mulher pretendia fazer, mas de nada adiantou. As únicas palavras que Martha disse foram “não se preocupe”. Depois de feito, as horas voaram, e logo Catharina estava de volta a casa.
Ao pararem em frente à casa de Layane, não eram esperadas como da última vez. Lorrayne desceu e tocou o interfone. Layane veio lhe atender. Catharina esperou que as duas entrassem, e voltou ao para casa muito angustiada.
Layane que acompanhava Lorrayne até a casa estava muito séria. Lorrayne perguntou:
_ O que você tem?
Layane parou e perguntou:
_ Lorrayne, o que há entre você e minha mãe?
_ Entre eu e sua mãe? Bom... Eu... Eu não sei... Mas por que está me perguntando isso?
Layane voltou a andar e disse:
_ Hoje ela não foi trabalhar...
_ E isso não é normal?
_ Ela queria falar com você.
_ Não imagino o que possa ser...
_ E o pior, é que ela reuniu todos nós na sala, disse que quer conversar com todos. O que é Lorrayne?
_ Eu não sei! Talvez ela esteja planejando alguma festa, viagem, e queira me convidar...
_ Então você sabe de alguma coisa? Fala pra mim, vai!
_ Eu não sei de nada, é só uma suposição. Mas, é por isso que você esta chateada?
_ Não estou chateada.
_ Me parece que sim...
_ Bom, eu não gosto que minha mãe me esconda nada... Você gosta?
_ Definitivamente, não.
_ Então. Mas é só isso! Não vamos ficar nos preocupando a toa!
Layane abriu a porta e entraram. Dirigiram-se a uma sala, onde Renan, Eduardo e Martha se encontravam sentados. Renan estava sentado ao lado de Martha, enquanto Eduardo estava sentado no braço de um sofá do outro lado da sala. Layane e Lorrayne sentaram-se em um sofá próximo a Martha. Com os olhos vidrados em Lorrayne, Martha perguntou assim que a garota se sentou e se acomodou:
_ Lorrayne, tudo bem?
_ Sim, tudo.
_ Como passou seu final de semana?
_ Como sempre, obrigada.
_ E como é “sempre”? Bom? Ruim?
Lorrayne e Layane se entreolharam. Martha levantou-se e começou a andar pela sala. Disse:
_ Lorrayne, queremos saber um pouco sobre você. Como é sua vida? Conte-nos.
_ Bom... Dona Martha... Minha vida... É como a de qualquer outra garota...
_ É como a vida de minha pequena Layane? – perguntou Martha passando a mão na cabeça de Layane.
_ Não exatamente assim...
_ Sua mãe te trata bem Lorrayne? – continuava a mulher.
Lorrayne baixou os olhos.
_ Sim, me trata bem.
Layane não entendendo nada, perguntou:
_ Mãe, o que é isso? Você convocou uma reunião para interrogar Lorrayne? Sabia que esse tipo de coisa pode ser particular?
Suspirando, Martha disse:
_ Desculpe, minha querida. Tenho uma coisa muito, muito importante para dizer.
Todos aguçaram a atenção, com exceção de Eduardo, que continuava com expressão desinteressada. Martha começou:
_ Meninos, quando eu tinha apenas dezessete anos, me apaixonei perdidamente por um rapaz, chamado Davi.
Nesse instante, Eduardo já bocejava. Martha continuou:
_ E fiquei grávida. Mas Davi se apaixonou por uma mulher mais velha. E a escolheu. Essa mulher era minha irmã.
_ Irmã? Você nunca me disse que tinha uma irmã! – exclamou Layane.
_ Eu sei, filha... – tentou explicar-se Martha -... Mas também nunca disse muitas outras coisas, que vou contar agora. Então fui levando a gravidez sozinha. Quando nasceu... Ou melhor... Quando nasceram...
Layane levantou do sofá com um salto, e perguntou:
_ Mãe, o que quer dizer com isso? Você teve outra criança além de mim?
_ Layane deixe-me explicar! Quando nasceram, eu não queria nem que Davi se aproximasse, tamanho era meu ódio... Mas depois de poucos dias com as crianças, voltei e disse a Davi que era muito jovem e jamais daria conta de duas crianças...
Martha enxugava as lágrimas que rolavam sem parar em seu rosto. Continuou:
_ Ele queria me dar todo apoio... Mas eu não podia criar os dois bebês. Entreguei um a ele. E ele me levou para o Canadá. Me ajudou a reconstruir minha vida. Com somente um dos bebês. O outro, Davi criou com minha irmã, até sofrer um acidente e morrer. Ficamos ambas sozinhas. Com minhas duas filhas... Layane comigo, e com Catharina ficou... a Lorrayne...
Layane olhava repetidamente de Lorrayne para Martha. Martha aproximou-se de Lorrayne, e estendeu as mãos. Lorrayne levantou-se e abraçou sua mãe. Ambas soluçavam muito. Lorrayne apertou os olhos e perguntando-se se não estaria sonhando. Dizia:
_ Eu sabia, eu sabia! Eu estava com muito medo de você não me querer! Desde que descobri, o que eu mais desejei, lá no fundo, era ser abraçada assim, pela minha mãe!
_ Meu amor, me perdoe, me perdoe, eu não tinha outra escolha! Eu sabia que minha irmã jamais me deixaria na mão, e eu não queria tratar mal a nenhuma das duas, por isso eu tinha que renunciar uma! Perdoe-me por tudo que te fiz passar! Agora eu quero recompensar! Eu vou recompensar! Eu te amo, te amo!
_ Também te amo muito, mãe! Por favor, não me abandone mais! Por favor!
_ Jamais! Nunca permitirei que isso aconteça novamente!
Layane continuava inexpressiva, em pé, parada. Martha soltou Lorrayne, e ainda segurando em sua mão, perguntou a Layane:
_ E você, meu amor, me perdoa por isso?
_ Mãe, não sou eu que tenho que perdoá-la.
_ Meu amor, eu também te amo tanto!
Martha abraçou Layane. Depois de soltá-la, enxugou as lágrimas, e foi até o centro da sala, perguntou:
_ E vocês meninos? O que acham?
Renan foi o primeiro a responder:
_ Bom, tia, acho que se a senhora e Lorrayne já se acertaram, ninguém deve se interferir.
Sarcástico, Eduardo disse rindo:
_ Quem diria, heim, tia? A notável Martha Albuquerque tem uma filha abandonada...
_ Eduardo, Layane não estava abandonada, estava com minha irmã. A pessoa em quem eu mais confiei em toda minha vida!
Martha voltou a segurar a mão de Lorrayne e disse:
_ Bom, pessoal, agora, tenho mais uma coisinha para dizer: Eu gostaria muito que Lorrayne viesse morar conosco... O que você acha, Lorrayne, minha filha?
Continua