My Friend, My Love escrita por Marcela
A música fazia um eco gostoso dentro do meu quarto. A melodia era tão perfeita. O som do piano era magnífico. As janelas e a porta estavam fechadas. A luz apagada. Eu estava deitada na minha cama com a cara afundada no travesseiro. Inalei profundamente aquele meu cheiro várias vezes na tentativa de conseguir dormir, mas fracassei.
- Por que? Por que? Ah. - gemi com rosto pressionando o lençol e as palavras saíram abafadas.
Senti-me perdida. Queria morrer. Por que a morte não me levava agora? Sem notícias. Sem nada. De repente ouvi o telefone tocar. Pulei da cama no mesmo instante e disparei pela escada.
- Alô? - perguntei ao colocar o fone no ouvido. Eu estava ofegante.
- Marcela? - a voz do outro lado era preocupada.
- Lígia... É você. - eu disse desanimada.
- Sim. Como você está? Alguma notícia do Eduardo?
- Não. Eu estou afim de passar a noite lá. Ele deve acordar logo.
- É... Acho que o efeito da anestesia vai passar. - sua voz era tranqüila e monótona. Eu não respondi nada. Apenas esperei que ela falasse mais alguma coisa. - Bem, só liguei pra saber notícias. Hum. Me ligue assim que souber de alguma coisa.
- Ta. Tchau. - desliguei batendo o fone no gancho.
Eu, sinceramente, não queria conversar com ninguém naquele momento.
Rolei os olhos pela sala. O manto do sofá estava desarrumado e a televisão ligada. Sentei-me no canto, e me encostei no braço aconchegante do pequeno sofá cor de chocolate. O assento estava quente, o que significava que alguém saíra dali não fazia muito tempo. Não reparei no que passava na tevê, apenas procurei o controle para desligá-la e fechei os olhos quando um cheiro delicioso veio da cozinha.
Lambi os lábios. A boca se enchendo de saliva. Era um cheiro muito bom!
Corri até a cozinha para ver quem estava fazendo o que. Parei encostada no batente esquerdo da porta. Meu pai estava apoiado na mesa, de frente para o fogão. Os olhos fixos em alguma coisa que crescia ali dentro e os braços cruzados sobre o peito. Dei um pigarro para ele notar minha presença. Funcionou.
- Hã, oi filha. - Felipe disse e depois estendeu os braços para que eu me sentasse ao seu lado.
Assim o fiz e ele me envolveu paternalmente. Eu sorri para mim mesma.
- Bolo? - perguntei. A boca ainda molhada com o cheiro maravilhoso.
- De cenoura. - o moreno sorriu para mim ao responder e apoiou a cabeça na minha.
Suspirei cansada. Minha pálpebras começaram a pesar em meu rosto quando ver o bolo crescer começou a ficar chato.
- Não gosta de observar o mistério do crescimento do bolo, filha? - meu pai perguntou. A voz era divertida.
- Não há mistério nenhum, pai. - revirei os olhos - Só é preciso de um pouco de fermento. - era tão óbvio!
- Porque sem ele o bolo não cresce, não é?
Assenti entediada.
- Poderíamos colocá-lo no forno, sem fermento e deixá-lo lá durante horas. - papai falava tão calmamente coisas tão fúteis.
- Mas ele não iria crescer. Sem contar que iria queimar também.
- Então a gente percebe que um bolo não é nada sem fermento e que precisamos observá-lo sempre para que não queime.
- O que seria dos bolos sem o fermento, não é? - eu ria enquanto falava.
Ele riu também. Parei para raciocinar. Aquela conversa não tinha nada em comum com bolos.
- Sabe que não estamos falando da relação: bolo e fermento, certo? - Felipe perguntou agora sério.
- Acho que acabei de perceber isso. - eu respondi com a voz monótona - No caso, o bolo seria eu e o fermento o Eduardo. - eu não estava perguntando.
O moreno assentiu. Rolei os olhos enjoada e dei um beijo em sua bochecha, saindo da cozinha logo em seguida.
Encontrei minha mãe na escada.
- A conversa com seu pai não foi muito boa? - ela perguntou. Sua face era triste.
- Talvez ele não consiga achar um bom jeito de me distrair.
Ficamos paradas na escada. Cada uma em um degrau. Beatriz me abraçou e depois sorriu.
- Vá se trocar. Te espero no carro.
- Como assim?
- Não quer ir ao hospital?
Ela não precisou dizer mais nada. Em cinco minutos eu já estava lá embaixo, trajando uma calça jeans, uma blusa azul de manga curta e tênis. Os cabelos soltos caíam bagunçados sobre os ombros.
Não demorou muito para chegarmos ao hospital. Tentei andar o mais rápido possível para chegar ao quarto do Eduardo.
Depois entramos. Os pais dele estavam sentados em sua volta. Um ao lado direito e o outro ao lado esquerdo. Sorri comigo mesma ao ver o carinho que eles tinham pelo garoto.
Carla e Fernando me cumprimentaram e depois saíram para fora. Minha mãe os acompanhou. Acho que eles sabiam que eu precisava de um momento sozinha com o meu melhor amigo.
Ele estava de olhos fechados e descansava. Não havia acordado ainda. Esperei ansiosa durante vinte minutos. Sozinha. Quieta. O som dos corações batendo ao fundo. Um pulsava tranqüilamente e o outro estava ofegante. Este último era o meu.
Acariciei a face linda do loiro com as pontas dos meus dedos trêmulos. Haviam alguns cortes, mas não tiravam a beleza dele.
Mais cinco minutos se passaram. Nada.
Apoiei a cabeça entre os braços cruzados em cima da cama dele. Meus cabelos roçaram seu braço.
Depois alguém se mexeu e esse alguém não era eu.
- Edu? - perguntei nervosa.
Ele estava com as pálpebras abertas e me fitava confuso. Tentei reconfortá-lo.
- Está tudo bem. Eu to aqui e...
- Quem... Quem é você?
Foram as primeiras palavras que ele falou e que fizeram meu coração querer parar de bater.
Fim do 22º capítulo.
Ih, acho que agora complicou, não é? :x
Perdoem-me pela demora de postar esse capítulo, mas agora que estou de férias acho que a coisa anda! HAHAHA.
Comentem :) Beijos
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