Já havia se passado mais de um ano desde que as coisas voltaram ao normal. Minhas únicas preocupações agora eram fugir da Aya na escola e a irmã do Kengo dando em cima de mim, de vez em quando uma briga de rua, mas nada emocionante como antes.

O tedio estava de volta.

Aparentemente tudo voltou... menos ele. Me pergunto a onde ele deve estar. O Mestre disse que se ele estiver vivo talvez esteja no mundo das sombras, mesmo sendo um exilado.

Mesmo que eu não admita para ninguém eu sei que sinto a falta dele, ele costumava andar sempre comigo... minha sombra irritante. Sempre dizendo coisas estranhas e tentando me seduzir.

Era um idiota mesmo.

Eu sempre quis afasta-lo, mas agora que estou sem ele sinto-me vazio. Quero ele ao meu lado, me irritando do jeito que só ele sabe fazer. Apesar de todos os nossos problemas aquela foi uma época muito divertida.

Escutei a campainha tocar me tirando dos meus devaneios.

Desci as escadas correndo e abri a porta.

Era o idiota do Kengo acompanhado da Aya... como sempre, no final eles acabaram ficando juntos. Só lamento por ele.

– Akira! – O loiro pulou em mim e deu um largo sorriso, fazia tempo que não nos vimos, nem fiz questão de aparecer na escola essa semana.

– Me solta Kengo! – Dei um soco nele.

– Akira-kun – Aya sorriu pra mim – Vamos sair? Vai ter um show bem legal hoje à noite, viemos te convidar.

– Dispenso – Falei desinteressado – Não tenho o menor interesse em coisas desse tipo.

– Akira você tem que se divertir mais – A morena falou apontando a espada pra mim, por que ela anda com essa coisa por ai?

– Não quero.

Tentei fechar a portar, mas o loiro colocou o pé no meio e abriu novamente a porta. Que vontade de dar umas porradas nele.

– Aki-chan vai ser legal! – Ele disse fazendo aquela cara de cachorro pidão.

– Já disse que não vou.

– Akira-kun por que está se isolando? Ele não vai voltar! – Aya gritou mesmo estando bem perto de mim. E isso foi o bastante para eu chutar os dois pra fora da minha casa e bater a porta.

Ele vai voltar!

Ele tem que voltar, se ele acha que pode me abandonar assim ele está muito enganado! Assim que ele voltar eu vou encher ele de porrada!

Voltei para o meu quarto e me joguei na minha cama, abracei o travesseiro e fechei os olhos imaginando como seria bom se fosse ele no lugar daquele monte de penas.

Acabei caindo no sono.

Como sempre eu sonhei com a partida dele, foi tão rápido, eu mal pude me despedir... desde que ele se foi eu não penso em outra coisa, minha vida perdeu o sentido, eu não tinha mais nem um sonho para o futuro – nunca tive – não sabia o que fazer da vida.

Eu já estava no ultimo ano da escola, faculdade era algo que nem me passava pela cabeça, mas eu não posso vagabundar pra sempre como a Aya diz.

A única coisa que eu quero fazer é sentar e esperar. Não importa quanto tempo demore, eu sempre vou esperar. Mesmo que custe o meu futuro.

Acordei escutando alguns gritos na rua, levantei-me e fui até a janela ver do que se tratava. Parecia ser uma mulher fugindo de um homem, ele estava pálido, andando meio curvado e com uma expressão assustadora. Eu tinha certeza de que aquilo era um kokuchi. Abri a janela e saltei para fora caindo em pé no chão.

– Doppler liberte-se! – Gritei animado, a quanto tempo não enfrento um kokuchi?

Senti meu cabelo crescendo assustadoramente rápido, ainda não tinha me acostumado com essa roupa branca e esse cabelo gigante. Muito menos com essa foice.

Sorri e corri até o homem que estava com o kokuchi, não me importei em dar uma boa surra nele até que aquele monstro saísse. Mas foi então que eu me surpreendi, eu dei dois ataques e ele ainda estava inteiro.

– Mas o que? – Me assustei ao ver que ele resistiu ao terceiro golpe e ainda conseguiu me atacar fazendo um corte no meu braço. Maldito! – MORRA! – Gritei atacando ele com força e dando um sorriso ao ver ele virar pó.

Mas antes que eu pudesse terminar de comemorar senti uma forte dor no lugar onde ele havia atingido e em seguida tudo ficou escuro e eu senti meu corpo se chocar contra o chão.

Acordei com uma puta dor no braço, minha cabeça também estava latejando e eu estava com frio. Não acredito que aquele kokuchi conseguiu fazer isso comigo! Ou eu estou mais fraco ou ele está mais forte e eu espero que seja a segunda opção.

Abri os olhos e vi que eu estava no meu quarto, havia algo quente e húmido na minha testa. Fiz menção de tirar mas uma mão me impediu.

– Fique quieto – Congelei ao ouvir aquela doce voz tão familiar. Como eu esperei por ouvi-la novamente.

Eu não sabia o que fazer, talvez fosse apenas mais um de meus delírios. É, deve ser só mais um delírio, mas dessa vez parece tão real.

– Akira-kun como está se sentindo? – Ele perguntou visivelmente preocupado.

– Sinto como se eu estivesse sonhando – Fechei os olhos novamente – E que a qualquer momento eu vou acordar e você vai sumir Shirogane.

– QUE LINDO AKIRA-KUN! – Ele gritou me assustando. Finalmente olhei para ele e vi aquele ser lindo e sorridente, parecia tão feliz.

– Não é um sonho, né? – Perguntei apreensivo com a resposta.

– Não é um sonho Aki – Ele falou colocando a mão no meu rosto – Eu voltei para você.

Puxei ele para um abraço e afundei meu rosto em seu peito, a quanto tempo eu aguardei por isso.

– Akira não chore! – Ele falou nervoso – Eu fiz algo errado?

– Tudo seu idiota! – Apertei mais ele em meus braços, sabe deus quanto tempo ficamos assim, mas com certeza que eu não soltaria ele tão cedo. Ele nunca mais vai fugir de mim.

Uma Semana Depois

Cheguei da escola correndo com Kengo, havíamos nos medito em uma briga das grandes dessa vez. E corremos para minha casa na intensão de fugir dos mais de vinte homens que corriam atrás da gente com barras de ferro na mão.

– Akira bem vindo de volta! – Shirogane me recebeu com um sorriso no rosto. Ele estava com a tradicional roupa preta, porem seu cabelo estava solto, deixando ele ainda mais bonito.

– Oi Shirogane – Eu e Kengo falamos ao mesmo tempo.

– Eu fiz o almoço – Ele sorriu – Se junta a nós Kengo?

– Não obrigado. Vou buscar a Aya e a Nee-chan no shopping – Ele abriu a porta – A barra tá limpa. Já vou indo, divirtam-se.

– Tchau – Acenei pra ele e fechei a porta.

Senti Shirogane me abraçar por trás e dar um beijo na minha nuca.

– Senti sua falta – Ele sussurrou no meu ouvido fazendo com que eu me arrepiasse.

– Eu também – Virei-me de frente para ele e selei nossos lábios em um beijo casto, que logo se intensificou. Nossas línguas exploravam a boca um do outro enquanto suas mãos apertavam minha cintura fazendo nossos corpos se colarem. Até que em fim nos separamos em busca de ar.

– Akira-kun – Ele sussurrou – Eu te amo.

– Eu também te amo Shirogane.