Dezembro de 1943. Segunda Guerra Mundial.

O garoto americano corria pelo jardim dos fundos de sua casa. Ele ziguezagueava euforicamente, pisando na grama verde enquanto sua mente estava mais alta. No céu. Em sua mão direita um modelo miniatura Boeing B-29 Superfortress.

Inocentemente, o pequeno Alfred tentou reproduzir o som de um bombardeio enquanto o seu brinquedo fazia um voo raso pela grama, trespassando as gotas de orvalho. Reproduziu mais alguns sons com a boca, o que deveriam ser pessoas clamando pelo seu nome;

O piloto Alfred F. Jones havia servido brilhantemente seu país. Sem dúvidas, um herói.

O jovem cheio de sonhos e de imaginação fértil atirou-se a grama abruptamente, sem se importar com o estado de suas vestimentas, ele admirou a imensidão azul do céu;

Um dia iria conquistar toda a extensão daquele céu. Voaria por entre as nuvens enquanto seus olhos se encheriam com a visão de um mundo pacífico. Ele seria um herói.

Oh, mas ele já era um Hero! Pensou, logo depois soltando uma gargalhada gostosa.

Dentro de casa, sua mãe escutava o rádio, apreensiva.

A voz automática saia chiando do aparelho, relatando um bombardeio na Alemanha.

Um B-29 – dessa vez em tamanho real – foi danificado por forças inimigas durante o bombardeio. Os pilotos dos caças que escoltavam o bombardeiro estratégico afirmaram que o piloto conseguiu acionar o assento ejetor antes da explosão da aeronave. O resgaste dele, no entanto, não pode ser realizado. Deixado em solo Alemão, e sem poder esperar piedade do inimigo, John F. Jones foi dado como morto. Um corajoso herói que deu sua vida pela pátria americana.

Seu marido estava morto. Morto.

A mulher começou a soluçar, escondendo seu rosto entre as mãos e tentando conter as lágrimas que insistiam em correr-lhe pela face. O hino nacional tocava ao rádio soando como um réquiem.

Alfred entrou na sala e colocou seu brinquedo favorito sobre a mesa, seus olhos cor de céu rapidamente captaram a figura desesperada de sua mãe. Ele havia entrado ali preparado para levar uma bronca pelo estado de suas roupas e, só havia notado naquele exato instante, por sujar o chão da casa com seus sapatos cheios de terra. Mas ele achou que ela precisava de um abraço. Então fez o possível para se aproximar dela o mais rápido possível e lhe dar um abraço bem apertado. Porque ele era um herói. E heróis fazem esse tipo de coisa com as pessoas. Principalmente com as pessoas que amam.

– Mom, is everything okay?

Finalmente deixou-o olhar para o seu rosto. Ela estava triste, então Alfred teve a certeza de lhe mostrar um grande sorriso. Ela sempre disse que os sorrisos dele eram o melhor remédio contra a tristeza. Mas não pareciam estar funcionando agora.

Demorou um momento para responder a pergunta do filho. Tentando conciliar a tristeza profunda que sentia com tentar pensar em alguma resposta adequada para o menino. Por fim, o apertou mais contra o seu corpo e enterrou os dedos nos fios dourados e desgrenhados do seu pequeno.

– Your father is a hero now. He's not coming home. Never.

Alfred sentiu seu sorriso desmanchar e seus olhos se encherem de água. Escondeu o rosto contra o peito de sua mãe e sentiu as lágrimas cristalinas escorrerem pelas suas bochechas rosadas.

Ele só tinha sete anos. Mas conseguia entender o que estava acontecendo. Seu pai era um herói agora e não podia voltar. Ele não podia voltar porque precisaram dele, precisaram do seu pai mais do que Alfred e sua mamãe. Ele prendeu o choro, empenhando-se em consolar a desolada mulher em sua frente. Iria agora cuidar de sua mamãe. Se tornaria o homem da casa que a protege de todo o mal e das injustiças do mundo.

No fundo, ele estava com medo e desesperado. Mas não podia demonstrar toda a sua angústia. O pequeno herói não podia mostrar que ele precisava ser salvo e nem que ele precisava de alguém para afastar os fantasmas e as coisas ruins. Precisava de alguém para fazê-lo se sentir seguro. Mas ele não podia agir assim, pois o que ele precisava mais que tudo era ser forte.

Seu pai era um verdadeiro herói, ele sorriu. Um dia se tornaria um herói tão grande quanto ele. E assim teria orgulho de seu Alfred, de onde quer que esteja.