Born To Be Together - Parte 2 escrita por Julia A R da Cunha
{Gale}
Acordei em um salto, tentando me sentar mas caí novamente para trás pois tudo começou a rodar. Pisquei várias vezes tentando ver se a visão voltaria ao normal, mas continuou girando e decidi ficar de olhos fechados por um tempo.
Por um momento me esqueci do que havia acontecido, mas logo as dores no corpo me fizeram lembrar.Havíamos sido atacados. Terrivelmente atacados. O cheiro da fumaça ainda invadia minhas narinas e foi isso que me trouxe totalmente de volta a realidade. Abri os olhos novamente e agora estava girando levemente, nada que me deixasse tonto.
Sentei-me e olhei em volta. Estava tudo destruído. O que restou da casa ainda estava fumegando, soltando aquela fumaça preta e forte. Os corpos ainda estavam espalhados por aí, alguns carbonizados. O casal que havia nos abrigado simplesmente nos aceitou e entendeu tudo pois os avós da moça eram semideuses, e agora estavam ambos mortos. Estavam todos mortos, menos eu.
Totalmente de repente. Estávamos jantando, desprevenidos, relaxados. E de repente, algo começou a zunir, e o som ficava cada vez mais alto, mais alto, mais alto, até que uma parede explodiu e começou a queimar. As armas estavam no andar de cima. E então mais e mais explosões por todos os lados. Haviam colocado barris de gasolina por toda a casa, envoltas por trilhas de pólvora e álcool e estavam jogando fósforos nessas trilhas. Depois, apenas esperaram-nos morrer no fogo, e os que conseguiram sair, atacaram. O que me salvou? O pedaço de madeira que voou em minha teste e me deixou tonto, mas depois, o chute que levei na cabeça de alguém que passou correndo. Talvez pensaram que eu estivesse morto, mas apenas desmaiei.
Eu precisava sair daqui. Agora de dia, a fumaça chamaria ainda mais atenção. Cedo ou tarde perceberiam que algo aconteceu aqui, e os inimigos poderiam retornar a qualquer momento. Pelo menos a minha espada eu havia conseguido recuperar, mas qualquer outro pertence se foi. Exceto pela foto no bolso da minha calça.
Levantei-me e naquele momento, um zunido preencheu meu ouvido esquerdo e parecia mais daqueles sons que lembram uma lâmina fina e longa que vai cortando seu ouvido e atravessando, atravessando, até sair do outro lado. Fiz uma careta e levei a mão à orelha esquerda. Minha mão ficou empapada de sangue. Aquelas explosões devem ter dado alguma coisa ali, com certeza. Além disso, minha perna estremeceu, e passei a usar minha espada como uma espécie de bengala. Mas eu precisava continuar, precisava andar mais rápido, mais tempo e só tinha um lugar para ir que não era longe daqui.
[…]
Meu corpo todo estava tremendo. Esta noite estava muito, muito fria. Pelo menos eu estava chegando lá, só faltava alguns metros.
Mas então percebi que algo estava errado.
A porta estava aberta e as luzes por dentro estavam apagadas. Então eu vi o que havia na porta. As marcas de três garras. Fiquei pálido e comecei a ir mais rápido, mais rápido, o quanto pudesse. Atravessei o jardim e cheguei na porta da casa, empurrando-a ainda mais.
Tudo apagado, mas eu podia ver que estava tudo revirado, jogado para o chão.
- Pai? - chamei. - PAI!
Nenhuma resposta. O medo começou a me preencher. Não, não, por favor, não. Enfim cheguei até a sala e encontrei o interruptor. Mas quando o acendi…
- PAI! NÃO!
Fui até ele. Estava jogado no chão, de barriga para cima. Três longos e fundos cortes percorriam seu corpo desde o quadril do lado direito até o fim do pescoço no lado esquerdo. Ele estava branco como jamais alguém que tinha sangue correndo nas veias poderia ficar.
Me joguei ao lado dele e segurei seu corpo. Frio. Completamente frio. Ajeitei-o em meu colo e passei a mão por seu rosto. Tentei medir o pulso inutilmente, pois sabia que não sentiria nada. E então, não conseguindo mais me segurar, deitei-o novamente no chão e apoiei minha cabeça em seu peito, e chorei…
{Jodie}
Eu estava andando de um lado para o outro. Todos percebiam como eu estava nervosa e preocupada. Minhas unhas já estavam todas comidas, e se alguém me mostrasse a mão, era perigoso eu comer as unhas desta pessoa. Onde ele está, onde ele está, onde ele está?
- Jodie, se acalme…
- Como me acalmar?! - Gritei com a filha de Hécate ao meu lado. - Faz três dias que não tenho notícia nenhuma do meu irmão!
Foi quando ouvi algo batendo do lado de fora do galpão. Todos pegamos nossas armas e ficamos em alerta. Qualquer sinal de um monstro ou inimigo, era simplesmente atacar e ponto final. A coisa foi se aproximando, aproximando, até que um garoto louro ferido apareceu.
- Gale!
Corri até ele e o abracei. O sangue que havia em sua roupa me sujou, mas os pontos mais graves eram a sua orelha esquerda e a coxa direita.
- Onde você estava? - perguntei em seu ouvido bom.
Ele continuou calado e apenas passou os braços em volta de meu corpo e apoiou a cabeça em meu ombro. Alguma coisa havia acontecido. Era óbvio, algo grave, ou ele não ficaria desse jeito.
- Venha - falei passando a mão em seus braços. Ele estava frio e arrepiado. Coitado, já não bastava estar ferido. Suspirei. - Tome um banho quente, depois vamos cuidar dessas feridas e dar roupas novas pra você. - Aproximei-me de seu ouvido novamente e sussurrei: - Depois me fala o que houve.
[…]
Ele enfim havia terminado a sopa. Afinal, tive que forçá-lo a tomá-la pois ele além de não querer falar muito além de respostas curtas, não queria comer. Gale me entregou o prato e coloquei para o lado.
- Gale… O que aconteceu? Me fala, por favor… Isso já está me assustando.
Ele respirou fundo e depois de um bom tempo em silêncio olhou em meus olhos. Um olhar triste, vazio, detonado. Senti um nó na boca do estômago de nervosismo. O que será que havia acontecido? Ele tomou fôlego e falou baixo, mas o bastante para que eu pudesse ouvir:
- O pai morreu…
Eu não possuía reação. Meu queixo havia caído e eu fiquei simplesmente quieta, imóvel. Suas palavras repetiram-se em minha mente várias vezes. O pai morreu… O pai morreu… O pai morreu… morreu… morreu… Apenas percebi que estava chorando quando ouvi meus soluços e senti meu queixo e pescoço todos molhados. A partir daí, o choro era incontrolável. Meu pai estava morto, morto, morto! Não, não podia ser, não! Mas eu sabia que Gale não brincaria com uma coisa dessas, e seu olhar mostrava a verdade.
Deitei-me no peito de Gale, aninhada nele e continuei chorando. Seus braços logo me envolveram. Ele colocou o queixo apoiado levemente em minha cabeça enquanto fazia carinho em mim. Mas apesar de tudo, o que eu sentia não mudava, e não mudaria…
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