Era estranho aqui estar completamente vazio. Vazio. Uma situação em que nunca imaginei encontrar o acampamento. Todos haviam partido para a guerra, todos, e me deixaram sozinha aqui, para cuidar de tudo. Como se fosse a nova diretora do Acampamento Meio-Sangue. O título ainda me assustava, mas havia me prometido dar o meu máximo nesse “cargo” para cuidar de qualquer novo semideus que aparecesse por aqui.

No momento, estava andando pelo acampamento, contemplando a paz extrema no local. Foi quando percebi movimentação. Novos campistas? É, era isso. Comecei a correr até chegar no ponto atrás da Casa Grande. Duas garotas estavam lá e pareciam ter interrogações em suas faces.

Dei um sorriso e me aproximei. Não demorou até que chamasse a atenção delas totalmente, e olhares de dúvida, de desconfiança. Mais próxima pude ver como eram.

Uma tinha o corpo de atleta, alta, de pele clara e cabelos louros. Os olhos eram uma mistura de verde e mel e as feições bem bonitas. A outra já era menos atlética, mas tinha a aparência igualmente bonita. Cabelos e olhos negros e pele morena. Ambas tinham ferimentos leves, mas a loura parecia levemente atordoada, como se tivesse levado uma pancada na cabeça e desmaiado.

- Quem é você? - perguntou ela. - Onde estou?

- Jodelle Le France - respondi. - Fiquem calmas, não sou nenhuma maníaca sanguinária que prende os outros em um acampamento do terror.

- Como podemos saber? - perguntou a morena.

Fiquei parada, olhando-as com o mesmo pequeno sorriso no rosto. Olhei para minha mão direita, onde carregava uma pequena garrafa plástica, antes de água, mas cheia de outro líquido dentro. Abri e estendi para a menina loira. Ela não pegou, apenas ficou me encarando.

- Como posso saber que não é veneno?

Dei de ombros e levei a garrafa à minha boca, dando dois goles e voltei a oferecer. Ela parecia ainda em dúvidas mas pegou.

- Isso vai te ajudar - falei. - Com os machucados. Mas beba pouco, senão só piora.

Uma de suas sobrancelhas amarelas levantou-se, como se dissesse: “Como assim?”. E então bebeu. Pude perceber em seu olhar a surpresa pelo sabor e pela sensação que aquilo trazia. Retirou a garrafinha da boca, parecendo renovada e surpresa. A morena franziu o cenho, curiosa.

- O que é isso?

- Néctar - peguei e entreguei na mão da outra. - Também poderiam comer ambrosia, mas não dá pra ficar carregando pra lá e pra cá… E ainda não me disseram seus nomes.

- É… Laís… Massoglia - respondeu a garota loira.

- Sophie - disse a outra depois de dar uns goles no néctar e me entregar a garrafa. - E você ainda não disse que lugar é esse.

- Vou explicar. Mas pelo menos agora podem vir comigo enquanto mostro o local?

As duas se entreolharam, os olhares ainda com preocupação, mas deram por vir. E assim começou minha administração temporária do acampamento. É, nada mal. Só esperava que as duas não surtassem. Bem, com a regra de agora de os deuses reconhecerem seus filhos até os treze anos, com certeza deveriam saber, mas… Nunca se sabe.