POV Nico

Eu estava preocupado com Emily, ela estava desmaiada. Levei-a até a estação, por meio de viagem nas sombras. Já que a estação estava um pouco lotada, fui até um canto vaio e coloquei Emily deitada em um banco. Seria meio estranho se todos os mortais olhassem para nós e vissem dois adolescentes sujos, machucados e com roupas rasgadas, sem falar que um deles esta desmaiada.

Agatha e Jake precisavam de um tempo sozinhos, para se acertarem e eu não podia estar juntos, por vários motivos. Então, fui por viagem nas sombras. Daí Agatha e Jake poderiam conversar e eu teria um tempinho para cuidar, e conversar, com Emily, se ela acordasse é claro.

Emily estava com alguns machucados na testa e nas mãos, mas parecia muito cansada. Peguei um pouco de Ambrósia e néctar e comecei a passar em seus machucados, colocando um pedacinho em sua boca. Aos poucos os machucados foram se curando, ficando apenas uma cicatriz no lugar. A pele dela começou a ganhar uma cor normal, já que ela estava bem pálida.

Fiquei esperando ela acordar, o que demorou alguns minutos que pareciam horas. Eu queria comprar as passagens, para adiantar as coisas, mas não queria deixá-la sozinha em nenhum momento.

Passaram-se uns 10 minutos quando ela se remexeu um pouco em meu colo. Eu assustei no começo, mas fiquei mexendo em seus cabelos. Ela sorriu e depois abriu os olhos lentamente, se levantando e sentando-se ao meu lado.

–Você está se sentindo melhor? – eu perguntei tirando uma mecha de seu cabelo do rosto.

–Um pouco – ela disse – O que aconteceu?

–Você usou bastante seus poderes, e desmaiou. Mas está tudo bem agora.

–Onde está Agatha e Jake?

–Vão demorar para chegarem. Talvez uma hora. O casal precisa de um tempo sozinho.

Ela sorriu.

–Que bom que eles se acertaram – ela disse – Acho que vamos precisar esperar, né?

–Sim.

Ficamos um bom tempo em silencio. Emily suspirou.

–Nico – ela disse – 1000 desculpas. Eu sou uma péssima pessoa por não ter acreditado em você. Eu me sinto péssima. Você não merece uma pessoa como eu. Nunca devia ter falado aqui, é que eu não acreditava que você poderia...

Interrompi-a com aquela besteira com um beijo. Foi um beijo tão bom. Sentir os lábios delas no meu. Ela se assustou, mas logo se entregou, correspondendo o beijo. Ficamos assim por um bom tempo, mas já que precisamos de ar, tive que me separar e grudei nossas testas.

–Pare de dizer besteiras – eu disse sorrindo como um bobo – Tudo indicava para mim, mas eu nunca faria uma coisa dessas com você. Principalmente com você. Devo admitir que fiquei chateado por você pensar que fui eu, mas eu te entendo. Então, por favor, vamos esquecer tudo que aconteceu, porque eu não estou mais agüentando ficar longe de você.

Ela sorriu de orelha a orelha e me beijou novamente. Acho que ficamos assim, abraçados e se beijando por um bom tempo, mas nada de Agatha e Jake aparecerem, e eu estava gostando da demora deles.

–Eu te amo muito – ela disse do nada.

Eu ri, muito feliz.

–Eu também te amo minha pequena, muito. – eu disse – E odiei ver você triste e machucada daquele jeito.

–Eu sabia que você estava vendo tudo – ela disse – Mas eu não quero lembrar daquilo.

–Como você quiser.

–Eu queria ter uma vida normal. – ela disse tentando mudar de assunto.

–Como assim?

–Eu queria saber como é ter uma vida normal. Não que eu não goste de semi deusa, mas eu nunca vou ter os valores normais da vida.

–Que valores?

–Ah! Eu e você, juntos, correndo pela casa, cada um com seu travesseiro na mão, rindo um da cara do outro. Eu tentando fazer o café em um sábado de manhã com sua camisa preferida, sentindo seu cheiro, enquanto você me olha e finge gostar da minha comida. Nós dois, na nossa cama, abraçados, rindo de um filme qualquer, enquanto você bagunça meu cabelo, sempre implicando comigo. Sabe, seria o futuro perfeito, eu não desejaria mais nada além disso. Teríamos um jardim enorme, com cachorros e , como você disse, com brinquedos dos nossos filhos espalhados, onde correríamos atrás deles feito loucos impedindo que se machucassem. Provavelmente iriam nos acordar no meio da noite ou de manhãzinha, reclamando de algo aleatório, e abraçados, tentaríamos convencer um ao outro a levantar primeiro, e como serei sempre eu, você provavelmente me pediria café na cama, mas não esperaria pela almofadada na cara deixando um sorriso em seu rosto. Mas nada é perfeito. Iríamos brigar, chorar, pensar em desistir, cada um iria para o seu lado, e fingir que tudo está perfeitamente bem, quando no fundo, tudo o que queríamos é correr para o abraço do outro. E quando você chegasse em casa, depois do trabalho, me contaria cada parte do seu dia, eu iria escutar, e sim, com certeza, eu iria interromper. Ficaria com raiva do seu chefe ou de uma certa secretária. Você iria rir do meu bico e acabaria dizendo que sou o amor da sua vida, mas bem, ciúmes faz parte. E se algum dia algo acontecesse e eu estivesse chorando, você me faria rir a todo custo, eu sei disso. Então, você seria perfeito para mim, assim como eu tentaria ser perfeita para você.

Abracei-a com toda a força possível. Nunca mais iria solta-la, nunca mais a deixaria partir, essa foi a pior coisa que já me aconteceu. Eu perdi minha mãe, minha irmã e não posso perder minha namorada. Era tão bom tê-la em meus braços. Eu tinha tanta vontade de protegê-la.

–Eu vou fazer de tudo –eu disse – Para que esse seu sonho se realize. Nós vamos conseguir ter uma vida normal, pelo menos vamos tentar.

Ela fechou os olhos com força.

–Obrigada. Posso te pedir perdão?

–Pelo que? – eu disse.

–Eu te peço, me perdoa. Me perdoa por todas as vezes que eu magoei você. Me perdoa por todas as vezes que deixei você pensar que eu desistiria de nós. Me perdoa por ser uma completa idiota. Me perdoa por não merecer você. Me perdoa por te cobrar demais. Me perdoa por eu não ser a mais bonita ou a mais sensata. Me perdoa por eu ser boba demais e não ser perfeita. Me perdoa por te dizer coisas tristes. Me perdoa por ser tão insuportável. Me perdoa por ser tão chorona. Me perdoa por todos os xingamentos. Me perdoa, por antes eu ter ignorado os seus sentimentos, não porque eu não os correspondia, mas porque eu tinha medo de te amar. Me perdoa por ser fraca. Me perdoa por eu ter me tornado tão dependente de você. Me perdoa se te fiz chorar. Me perdoa se não te falei o quanto o seu sorriso era importante pra mim. Me perdoa por ser assim. Me perdoa, meu amor, por não merecer você. E se um dia você se afastar de mim, tenha certeza que você é o amor da minha vida. E que você é o motivo de eu estar com um sorriso no rosto todos os dias. Eu nunca vou te deixar, mesmo que um dia você nem queira mais ouvir a minha voz... Porque o que eu sinto por você é maior que tudo, não pode ser chamado de amor... Vai além disso, não tem nome.

–Se você quer tanto que eu te perdoe – eu disse – Eu te perdôo. Mas são essas características que me fizeram me apaixonar por você e eu quero que você continue assim. Você é a garota mais linda que existe e eu nunca vou te deixar.

–Você promete? – ela disse deixando uma lagrima cair de seus olhos, e eu limpei com um dedo.

–Prometo. Pelo Rio Estige. Não importa o que aconteça. Nunca mais vou sair do seu lado. Só se você pedir.

–Isso não vai acontecer – ela disse me beijando, novamente.

–Parece que o casal se acertou – uma voz irritante soou ao fundo. Era Agatha.

–Pois é – Emily disse se levantando e indo abraçar a irmã – Você está melhor?

–Sim – Agatha disse – E você?

–Muito melhor – ela disse com um sorriso de orelha a orelha. Agatha riu.

–E vocês? – eu perguntei.

Agatha abraçou Jake.

–Sempre juntos – Jake disse.

–Parece que tudo se ajeitou – Emily disse – E eu quero ir para o acampamento.

–Eu e Jake já compramos as passagens – Agatha disse – Imaginamos que vocês estariam ocupados.

Eu e Emily coramos enquanto Jake e Agatha riam.

–Não é da sua conta o que aconteceu – Emily disse rindo. – Quero saber o que vocês ficaram sabendo para demorarem tanto!

–Vamos logo pequena – Jake disse abraçando Emily – Precisamos voltar ao acampamento, para nossa casa.