Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal :D.
Eu sei que eu demorei, que disse há sei lá quanto tempo que ia reescrever a fic o mais rápido que conseguisse e ia postar e etc, etc, mas eu perdi o pendrive e isso atrasou um pouco o meu andamento com a fic. Também aconteceu de eu ter tido dificuldades com a criatividade, mas agora está tudo pronto; os 8 capítulos anteriores já estão postados, e o capítulo 9 eu acabei de dar os últimos toques, espero que gostem.
E, gente, por favor, eu sei que isso vai ser um trabalho enorme, mas, por favor LEIAM os 8 capítulos NOVAMENTE antes de ler o 9 porque eu não mudei só algumas coisinhas, eu meio que me empolguei e praticamente reescrevi a fic TODA. Eu coloquei coisas novas que vão fazer a fanfic render mais também, até algumas - como as pessoas dizem hoje em dia - ''tretas''.
Eu, particularmente, achei ela bem melhor do jeito que está agora, e admito também que vocês terão que reler para entender o capítulo 9 e os que o sucederão, mas não fiquem bravos comigo, fiz pensando no melhor jeito de desenvolver a fanfic. A escrita ficou mais fluída, a leitura mais leve também.
Bem, chega de encher linguiça por aqui.
Boa leitura.



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• Usui PDV •

Quando entramos no hotel, puxei Ayuzawa para um canto e a segurei. Desci meu rosto para perto do seu e senti um cheiro que não era o dela.

– Você o beijou? – perguntei sem rodeios.

Ela me encarou, assustada.

– De onde você tirou isso, Usui? – afastou minhas mãos de seu corpo e se afastou de mim.

– Ele – respondi simplesmente.

– Aquele idiota... – a escutei murmurar, irritada. - O que você disse para ele?

Dei de ombros. Como diabos vou saber sobre o que ela está falando assim de repente?

– Para o Ren ter dito algo desse tipo, você deve tê-lo provocado. O que você disse, Usui?!

A fitei. Ela está brava comigo? Não creio que seja isso... Mas ela está de fato irritada com algo.

• Misaki PDV •

– Então você realmente o beijou? – perguntou por fim.

– Ele me questionou sobre você, perguntou se meu coração ficava acelerado e pulsando forte enquanto eu estava com você, ou quando você me beijava. Eu não respondi, disse que não sabia direito. Eu estava confusa. Por fim ele perguntou se eu queria comparar.

Desculpe, Usui, mas meia verdade é melhor do que uma mentira completa.

– Então você o beijou?

Dei de ombros.

Ele me beijou... E não é como se essa fosse a primeira vez que nos beijamos.

Seus olhos escureceram e ele comprimiu os lábios com força.

– Você o está magoando! – as palavras de Yui ecoaram em meus ouvidos e me senti culpada por toda essa confusão.

– E qual foi a sua conclusão ao final do beijo?!

Ele não vai mesmo me deixar escapar desse assunto, não é?

– Usui, eu não quero mais falar sobre isso. Já foi. Eu o deixei me beijar e eu tive um motivo. Não pense nisso mais que o necessário.

– Então a resposta é meio óbvia, afinal. Você continua gostando dele.

Suspirei. Esse... teimoso!

– Você saberá a resposta depois, seja ela qual for. Agora é melhor encontrarmos logo os professores antes que eles pensem que nós fugimos novamente.

Virei de costas e saí de perto dele o mais rápido que eu consegui.

Eu escutei ele me seguindo, apesar de um pouco mais lento, provavelmente pensando no que eu lhe dissera.

Depois do professor reclamar com a gente sobre nossa crescente falta de modos, fomos liberados para ir para nossos quartos. Hoje seria o último dia em que iríamos passar em Sendai, e o professor decidiu que era melhor que nós ficássemos no hotel ao invés de sair com os outros para a atividade livre, ou seja, conhecer a cidade e fazer o que bem entender... Como se eu precisasse disso...

Entrei no quarto e me deitei na cama. Senti algo embaixo do travesseiro tremer. Enfiei a mão para puxar o aparelho que ainda tinha o visor aceso, apontando que havia uma mensagem recebida.

Abri o celular e abri a mensagem, lendo-a em seguida.

Desculpe se te causei algum problema hoje cedo, não foi minha intenção.

Sobre o nosso ‘’encontro’’, se você não tiver mudado de ideia, me encontre na nossa antiga escola às 6h. Você ainda lembra como chegar lá?

Até mais tarde.

Ri. Até em mensagem eu consigo escutar sua voz sempre tão empolgada...

Olhei a hora no celular. Ainda falta bastante tempo até as 6h.

Digitei rapidamente uma mensagem, enviando a seguir.

Você não me causou problema algum.

E sim, eu ainda me lembro.

Até.

Antes de fechar o celular, coloquei um alarme para soar duas horas antes do horário de nosso encontro, assim caso adormecesse ou algo, não perderia a hora.

– Agora eu preciso falar com Usui.

Como se adivinhando que eu precisava falar com ele, escutei a porta bater, e o vi andando em minha direção.

– Que tipo de audição você tem? – perguntei, ponderando que tipo de audição animal ele poderia ter...

Ele deu de ombros.

• Usui PDV •

– Eu disse que você podia saber sobre a minha vida, contanto que fosse comigo, e não perguntando aos outros, então, pergunte!

Comecei a pensar sobre isso. Acho que para começar, o melhor é irritá-la, assim ela consegue ser mais sincera.

– Eu não fui o primeiro homem a beijar a Ayuzawa – murmurei, sentando-me a seu lado.

Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

– Não vai corar? – fiz beicinho. – Que chata.

Riu.

– Hey, você fala de mim, mas eu também não sei nada sobre você. Você não acha injusto apenas eu falar sobre a minha vida?

– A Ayuzawa foi a minha primeira – desviou o olhar, corando. – Oh, você corou.

– Seu idiota – me deu um tapa no meu braço, resmungando. – Não foi isso que eu quis dizer... Eu disse de forma geral. Você nunca me disse nada sobre a sua vida.

– E o que a Ayuzawa gostaria de saber?

Colocou a mão embaixo do queixo, pensando sobre o que poderia me perguntar.

– Nós poderíamos fazer um jogo de perguntas, o que acha? – sugeri, por fim. – Cada um faz uma pergunta e, independentemente de qual for - e não, eu não tenho intenção de fazer nenhuma pergunta embaraçosa para você -, o outro tem que responder com a verdade.

Por um momento achei que ela fosse brigar comigo ou reclamar, mas algo em seu olhar me disse que eu estava completamente enganado.

– Eu começo – falou após uma calma análise sobre minha proposta. Sorri. – Eu... Eu fui mesmo a primeira? – desviou o olhar, embaraçada demais para me encarar.

Segurei o riso. Ela realmente se importa com essas coisas?

Segurei seu queixo e o virei em minha direção novamente. Esperei pacientemente que ela abrisse os olhos. Quando ela o fez, eu tinha um leve sorriso gentil em meu rosto.

– Sim. Você foi a primeira. E eu quero que você seja a única.

Segurei sua mão e a puxei com gentileza, deitando sua cabeça em minhas pernas.

– Agora sou eu – ri ao ver sua careta. – Depois que você se mudou de Sendai, tirando a cidade em que você está morando agora, quantas vezes mais você já se mudou?

– Nenhuma – respondeu simplesmente.

– Como assim nenhuma? – perguntei.

– Isso foram duas perguntas – apontou o fato com simplicidade e me ignorou. – Quem são seus pais?

Suspirei. Ela é esperta.

– Eu não sei. Eles me abandonaram quando eu era bebê. Nunca me interessei em saber quem eles são de verdade.

– Desculpe... – murmurou, afagando meu rosto. Sorri e dei de ombros.

– Eu não me importo mais. Agora me responda: como assim nenhuma?

– Eu estou morando naquela cidade desde que eu saí de Sendai. – disse dando de ombros. Abri a boca para perguntar mais alguma coisa, mas ela me interrompeu, completando: - Eu me mudei de Sendai aos 14 anos. Estou morando na mesma cidade desde então.

– Em que colégio você ficou quando se mudou? – não tive tempo de conter a pergunta, simplesmente escapou.

Fechou os olhos, suspirou, e me ignorou novamente.

– Quem cuidou de você quando você era menor?

– Meu irmão... – ela pareceu surpresa em saber que eu tinha um irmão.

Ela sorriu e esperou que eu fizesse minha pergunta, mas eu estava distraído lembrando da última vez em que falara com ele.

– Usui?

– Não é nada. Me perdoe – sorri. – Então: em que colégio você ficou?

– Eu estudo no Seika desde que me mudei...

– Mas como eu nunca t...

– Você já me viu antes. Já me viu e já falou comigo... Depois daquele acidente que teve na escola, lembra-se? O incêndio. Eu fiquei algum tempo afastada da escola por causa de alguns ferimentos. Parece que praticamente todos os alunos mudaram de escola, mas como minha família não poderia pegar por um colégio mais caro, eu continuei. Quando a escola reabriu, os alunos novos começaram a freqüentar e se acostumaram a escola, mas eu continuei afastada. Quando eu finalmente voltei para lá, todos pensaram que eu era uma aluna nova. Nem os professores se lembraram de mim, por isso eu deixei do jeito que estava. A única que sabia quem eu era, era a Yui – suspirou novamente, abriu os olhos e me encarou. – Claro que pensariam que eu era aluna nova... Eu fiquei quase dois anos afastada.

– O que houve com você?

– O acordo era uma pergunta para cada. Essa já é a sua terceira – fiz uma careta e ela bufou. – Nada grave a princípio. Apenas uma queimadura quase superficial no quadril e algumas costelas quebradas quando eu caí na escada.

– Você... caiu da escada? – falei pausadamente. Por que aquilo me parecia tão familiar?

De repente um estalo. Agora eu consigo me lembrar! O incêndio. A garota que eu havia visto no chão com a mão na cintura e que eu salvei. A visita no hospital... E a garota pela qual eu me apaixonei pela primeira vez.

– Ah... A garota do hospital! A garota que eu tirei da escola foi você! – falei por fim.

Ela confirmou com a cabeça.

– Finalmente se lembrou, hã. Bem, eu também havia me esquecido de tudo isso, mas quando eu o encontrei aquele dia no terraço, eu fiquei com uma sensação muito estranha de que o conhecia de algum lugar. Você estava diferente daquela época de alguma maneira. Parecia mais distante das pessoas... – ela ergueu a mão lentamente e a passou no rosto, tirando os cabelos de sua face. – Eu fiquei curiosa para saber se havia sido você quem me tirara da escola, mas você não se lembrava de mim, então eu nunca toquei no assunto. Eu tive certeza que era você quando você disse meu nome a primeira vez – sorriu. – Claro que depois eu me lembrei com mais clareza do que tinha acontecido, mas mesmo assim, não falei nada sobre o assunto com você.

– Você é mesmo uma pessoa incrível, Ayuzawa – disse encostando sua testa a minha.

– Por quê?

– Você foi capaz de fazer com que eu me apaixonasse por você duas vezes.

Ela me encarou de uma forma estranha por algum tempo, até que por fim, desviou o olhar.

• Misaki PDV •

– Quando te vi inconsciente no chão, um sentimento de urgência me invadiu. Claro que era por causa que havia uma pessoa que provavelmente estava machucada a minha frente, e apenas eu para ajudar. Mas depois que eu a tirei da escola, eu a acompanhei até o hospital. Alguma coisa me dizia que eu não poderia ficar sem ver você acordar. Sua mãe te encontrou no hospital após algum tempo. Ela me disse que você ficaria inconsciente por algum tempo, talvez um ou dois dias.

‘’Eu continuei a te visitar até você acordar. Eu não sabia qual era a minha motivação, afinal, eu nunca havia te visto antes, mas quando eu acordava e dava conta do que eu estava fazendo, eu já estava a caminho do hospital – sorriu. – Quando você finalmente abriu os olhos e me encarou, eu senti algo estranho, mas não disse nada, lembro-me que não conseguia. O médico pediu para que eu me retirasse da sala assim que te viu. Depois disso, quando tentei te visitar novamente, uma enfermeira me disse que você havia se mudado, então eu nunca mais voltei ao hospital.’’

Tentei dizer alguma coisa, mas as palavras pareciam fugir de mim. Ele estendeu a mão e a pousou em minha cabeça, fazendo uma leve carícia.

– Depois de algumas semanas pensando na garota que eu havia encontrado desacordada e em como eu me senti, eu percebi que, de alguma maneira, eu te amava. Eu não entendi muito bem como isso aconteceu, mas eu me obriguei a afundar esse sentimento no fundo de meu coração para não enlouquecer sem a sua presença perto de mim. Bem, eu acabei por afundar as lembranças do incêndio junto e, assim, me esqueci de tudo e não consegui te reconhecer.

Eu escutava a tudo calada. Eu já sabia que havia sido o Usui que havia me tirado da escola... Eu não sou tão desatenta quanto ele, mas se lembrar de tudo de uma vez e ainda contar tudo assim, de uma vez...

– Eu pensei que tinha me esquecido desse sentimento, mas quando a vi no terraço aquele dia... Aquela sensação de que te conhecia também me atingiu... Tinha também algo quente preenchendo o vazio que ficara em meu peito desde aquele dia em que eu não pude mais vê-la no hospital... Eu não consegui me recordar, mas o sentimento nunca me deixou.

“Eu me lembrei parcialmente das coisas. Pelo menos lembrava de você de alguma maneira, não do incêndio, não do hospital, mas de seus olhos.”

– Usui... – ele sorriu carinhosamente, segurando minha mão e entrelaçando os dedos.

– Esse é o último dia... Amanhã estaremos voltando para casa... – pareceu pensar no assunto.- Você vai ficar bem? – abri a boca para perguntar o que ele queria dizer com aquilo, mas ele completou logo a seguir: - Se você o deixar... Você vai ficar bem?

Suspirei.

– Usui... Esquece esse assunto. Isso não fará bem para nenhum de nós. Mesmo se eu continuar a amá-lo, não há muito que eu possa fazer...

– Se... – fechou os olhos e respirou fundo. – Se você quiser, eu posso... Eu posso te ajudar – comprimiu os lábios com força e desviou o olhar.

Me sentei na cama e me virei, puxando sua camisa, deixando meu rosto a centímetros do seu. Ele me encarou, perplexo.

Abriu a boca para protestar, mas eu o puxei mais, seu nariz tocando o meu. Eu o encarava, olhando fundo em seus olhos. Havia esquecido tudo que eu tinha a intenção de falar, conseguia apenas encará-lo.

– Você... – fui interrompida pelo alarme de meu celular. Que momento perfeito. Resignada, larguei Usui e peguei o aparelho, desligando o alarme. – Usui, saia.

Ele me fitou sem compreender.

Levantei e abri a porta, repetindo:

– Saia! Eu... Eu preciso de um tempo pra pensar em tudo isso.

Ele se levantou e passou por mim sem uma palavra. Apertei a maçaneta com força.

Você o está magoando!

– Me deixa em paz! – bati a porta com violência e desci para o banheiro para me arrumar para sair.

Tomei banho e me vesti, indo em direção à saída do hotel em seguida.

Um professor que estava falando com o dono do lugar me viu, e me segurou, perguntando de forma ríspida:

– Aonde você pensa que vai, Ayuzawa?

– Hoje é atividade livre, certo? Estou saindo. Poderia soltar meu braço? – ao invés de soltar, ele apertou mais forte, resmungando.

– Você não vai a lugar algum. Estou cansado de você e daquele garoto problemático. Você ficará nesse maldito estabelecimento até a hora de sairmos amanhã.

Puxei meu braço e empurrei o professor, que tropeçou em uma poltrona que estava atrás dele e caiu sobre a mesma. Virei e fui em direção a porta.

– Se você sair por essa porta estará suspensa da escola por um mês! – parei e olhei em sua direção. Ele sorriu, vitorioso.

– Estará me fazendo um favor – virei novamente e saí pela porta, escutando os gritos do professor atrás de mim.

Comecei a correr antes que ele tivesse tempo de se levantar e viesse atrás de mim, tentando me levar de volta para o hotel.

Entrei na primeira rua que eu encontrei e continuei a correr. Quando achei que já era o suficiente diminuí o passo, procurando alguma placa para me localizar.

– Ótimo, porque tudo que eu mais precisava agora era me perder...

Avistei o relógio da escola que eu estudava. Sorri. Há quanto tempo eu não o vejo. Senti uma sensação estranha, como se algo estivesse errado...

– Pelo menos vendo o relógio eu não preciso saber aonde eu estou, basta segui-lo.

Quando me sentei em frente ao muro da escola, olhei a hora, e só então percebi que estava bastante adiantada.

Alguns instantes depois, escutei passos e senti alguém tocar meu ombro.

– Você chegou cedo, Misaki – sorri.

– Eu tive alguns problemas, mas nada muito sério – levantei. – E eu sei que você sempre chega antes, por isso decidi vir um pouco mais cedo também.

– O que houve?

– Nada, apenas o professor responsável ficou irritado porque eu iria sair...

– Problemática como sempre, hã? – dei de ombros, rindo.

– Esse é o meu último dia aqui... Amanhã cedo estaremos voltando para a escola.

Ele sorriu e passou o braço por meus ombros.

– Eu sei... – fitei seu rosto e ele piscou. Desviei o olhar, sentindo meu rosto esquentar.

– E então, aonde nós iremos?

Ele me girou, parando-me de frente para ele. Sorrindo largamente, disse:

– Nós faremos um tour pela cidade. Primeiro iremos ao novo parque de diversões que abriu ano passado.

Ri. Como ele parece uma criança em momentos como esse...

Ele parou ao meu lado novamente e me deu o braço. Esperou pacientemente que eu colocasse meu braço junto ao seu para voltar a andar.

– Prometo que não te levarei a casa de horrores.

– Você se lembra... – suspirei. – Eu preferia que você tivesse se esquecido disso.

– Eu nunca esqueci nada que envolva você, Misaki.

– Qual minha cor favorita? – perguntei, sarcástica.

– Branco – riu. – Seu número favorito é o 14, e eu acho que tenho culpa nisso – arqueei uma sobrancelha.

– Isso é arrogância, sabia?

– Então isso quer dizer que eu estou certo – fiz careta.

– Música favorita? – eu nunca disse isso para ele, impossível acertar.

– Natsu Koi, UxMishi – arqueei a sobrancelha.

– Você lê mentes? – ele riu. – Eu nunca te contei isso, como você sabe?

– Eu sei tudo sobre você, Misaki.

– Tsc...

– Veja, estamos chegando.

Olhei para onde ele apontava e me surpreendi. O parque era simplesmente enorme!

– Isso me fez pensar... Você se lembra algo sobre mim?

– Sim, eu lembro...

– Qual a minha cor favorita? – ele está se divertindo...

– Isso é algum tipo de jogo?

Ele deu de ombros.

– Se você não se lembra não tem problema.

– Verde – respondi a contragosto.

– Ironicamente, era a cor da tinta que jogaram em você no dia que você me ajudou na escola... O dia em que nós começamos a nos falar. Você fica muito bem de verde, aliás.

Entramos no parque e fomos para a fila para comprar os tickets.

– Agora, a última pergunta. Se você acertar, você irá ganhar um algodão doce – revirei os olhos. Aposto que será ele quem irá comer o doce...– Como eu consegui esse cordão? – apontou para o meu pescoço.

– Foi um presente do seu pai... Ele o deu para você antes de ir à expedição que os outros arqueólogos da faculdade que ele lecionava estavam indo também. Foi a última coisa que você recebeu dele...

Ele sorriu, mas pude ver dor em seus olhos. Desde pequeno ele sempre admirou o pai, e queria ser um arqueólogo como ele, para poder estar sempre nas expedições e assim, nunca se afastar dele.

– Qual cor você quer o seu algodão doce?

Olhei as cores que tinham. Apontei para o amarelo.

Sentei em um banco ali perto. Ele me seguiu e sentou ao meu lado, roubando um pouco do doce.

– Você quer? – perguntei, arqueando uma sobrancelha, afinal, ele já estava roubando grandes pedaços do algodão doce.

Ele sorriu sem jeito.

– Desculpe, você sabe como eu sou com doces...

Segurei sua mão e depositei o espeto ali para que ele segurasse.

– Fique a vontade. Você também sabe como eu sou com doces.

– Eu sei.

– Você me usou para ganhar um algodão doce... – suspirei. Realmente, ele parece uma criança. – Vamos para a fila ou ficaremos lá no fundo.

Nos levantamos. Eu fui para a fila e ele foi jogar o lixo que havia com ele fora.

– Misaki... – virei em sua direção, esperando que continuasse a falar. – O que você diria se... O que você diria se eu dissesse que ganhei uma bolsa para arqueologia?

Sorri animada.

– Isso é ótimo, Ren – ele sorriu. – Você vai estudar aonde?

– Não decidi ainda... Ora, veja, é a nossa vez. Vamos – me arrastou para os assentos da frente da montanha-russa – esperamos por todo aquele processo de prenderem os cintos e nos ajeitarem nos bancos. Quando o carrinho começou a se mover, ele disse: - Se ficar com medo e quiser segurar a minha mão, sinta-se a vontade.

– Não sou eu quem tem medo de altura, Ren – ele sorriu, travando os dentes quando o carrinho deu o primeiro solavanco. – Viu? Você está ficando pálido... – debochei.

– Tsc... Cala a boca, Misaki, ou juro que te arrasto para a casa de horrores quando eu sair daqui e me recuperar desse maldito sobe e desc... – fechou os olhos e se agarrou ao carrinho com força. Os nós de seus dedos estavam quase roxos. Gargalhei. Todos me encararam, curiosos ou como se eu fosse louca. Dei de ombros.

– Venha – soltei uma de suas mãos que ainda apertava a barra de ferro do carrinho e a segurei, entrelaçando meus dedos aos seus. – Se sente melhor assim? – ele concordou levemente com a cabeça. De fato, ele parecia um pouco mais calmo. – Só não aperte! – ele sorriu fracamente. Senti a velocidade do carrinho diminuir. Eu faço isso com ele ou deixo passar? Olhei para ele e sorri malignamente. Ele me encarou assustado. – Ren... Olhe para a sua frente – ele negou com a cabeça e fechou os olhos com força. Isso vai ser engraçado.

Me estiquei e depositei um beijo em sua bochecha, sussurrando perto de seu ouvido:

– Vamos, abra os olhos e olhe para frente – droga, não vai dar tempo...

Surpreso com o beijo repentino, abriu os olhos e me encarou, seguindo meu olhar logo em seguida. Sorri. Deu tempo.

O carrinho alcançou o topo e despencou, descendo a toda velocidade. A cor desapareceu de seu rosto. Até seus lábios ficaram brancos. Ele se agarrou ao carrinho e à minha mão como se sua vida dependesse daquilo. Gargalhei a descida toda. Quando finalmente o carrinho parou, eu continuei a gargalhar de sua expressão assustada e furiosa.

– Des... Desculpe... Eu... Eu não resisti... – murmurei, tentando recuperar o fôlego.

Ele se sentou em um banco e ficou de cabeça baixa, respirando com dificuldade.

– Você está bem? – perguntei após algum tempo, preocupada. – Desculpe... Não imaginei que você fosse ficar mal assim.

Ele levantou a cabeça e me encarou. Seus olhos diziam claramente que ele iria se vingar. Engoli em seco.

Em um piscar de olhos ele se levantou do banco e me jogou sobre seu ombro, indo novamente para a fila de tickets.

– Agora é a minha vez, Misaki – deu ênfase em ‘’minha vez’’, deixando bem claro sua intenção: casa dos horrores. Engoli em seco. Ah, cara...

– Ora, vamos... Foi só uma brincadeira... – disse, tentando parecer inocente. Falhou. Escutei sua gargalhada e me arrepiei. Estou ferrada.

– Não se preocupe, eu irei manter a minha promessa de não levá-la a casa de horrores... – sorri, aliviada. - Eu a levarei a um lugar muito pior. – Arregalei os olhos. Ferrou!

Paramos em frente a um local bem afastado. Era simplesmente enorme e assustador. Parecia um tipo de sanatório do século passado. Comecei a me debater, tentando escapar. Novamente foi inútil. Seu aperto era de aço, quase não conseguia me mover, muito menos me soltar.

Entregou os tickets ao guarda que estava no lugar e me colocou no chão quando entramos. Segurou minha mão com força para que eu não desse meia volta e fugisse assim que tivesse uma oportunidade.

– Agora, vamos nos divertir, Misaki – me fitou com um sorriso perverso brincando em seus lábios.

Quando chegamos ao meio do corredor uma maca se moveu em nossa direção e a porta por onde entramos bateu, deixando o local quase completamente escuro, exceto por uma leve claridade vinda de uma porta do outro lado do corredor.

Me encolhi, agarrando seu braço. Eu não havia percebido, mas ele soltara minha mão quando entramos. Droga, eu poderia ter fugido...

Quando voltamos a andar, escutei um grito de agonia vindo de uma sala ao lado de onde estávamos. Senti meu corpo todo tremer e gritei junto, no impulso.

Olhei para o lado e vi Ren inclinado pra frente com os braços na barriga, gargalhando.

– Não tem graça! – gritei. Tentei pensar em alguma coisa para dizer para ele, mas por um momento me esqueci até de como ficar em pé quando senti alguma coisa se enrolar em minha canela.

Gritei e comecei a sacudir a perna enquanto Ren tentava se levantar do chão para me ajudar. Toda vez que tentava, porém, voltava a se sentar, sem forças devido a grande quantidade de risos.

– Eu juro que te mato quando a gente sair daqui!

Respirando fundo, se levantou.

– Ok, ok. Eu prometo tentar parar de rir de você... – comecei a fuzilá-lo com os olhos, mas ele voltou a rir.

– Vamos, me tire daqui. A montanha russa não durou tanto tempo quanto isso!

Respirou fundo novamente, tentando se controlar. Me fitou e comprimiu os lábios, tentando segurar o riso novamente. Fiz careta.

Após se recuperar de sua crise de riso, conseguiu falar novamente.

– Não posso te tirar daqui... – arqueei a sobrancelha, pronta para perguntar o porquê. Ele apontou para trás, completando: - a porta está trancada. Essa é a atração do parque. Quando você entra nesse sanatório, você não pode voltar, apenas prosseguir. Contudo, se você estiver assustado demais, você pode disparar esse alarme que virá alguém para te levar para fora – sacudiu um pequeno dispositivo, sorrindo. – É claro que você não vai querer estragar a brincadeira assim tão rápido, vai?

Corri em sua direção para tentar apertar o botão para sair dali, mas tropecei em alguma coisa no chão. Antes que eu caísse ele me segurou, apoiando-me em seu peito.

– Se você se machucar também não tem graça – debochou. – Deveria ter mais respeito pelo crânio das pessoas, Misaki...

Olhei para baixo, percebendo apenas agora no que havia tropeçado: um crânio.

Chutei para longe, irritada.

– Ren, é sério... Me tira daqui.

– Eu não posso... Qual a graça de vir a um lugar desses se você não curtir toda a experiência?

– Não sei qual é a graça, só sei que quero esse maldito quadrado preto que está na sua mão – tentei alcançar o objeto, mas ele era mais alto que eu, e fez aquela infeliz brincadeira de colocar no alto, para que eu não conseguisse alcançar. – Ótimo.

Virei e comecei a andar, deixando-o para trás, entretanto quando as portas começaram a bater voltei correndo para perto dele, segurei sua mão e o arrastei para a minha frente, agarrei sua cintura e comecei a empurrá-lo.

Ele não sabia se andava ou se ria, mas com a minha ajuda, ele fazia os dois. Enterrei meu rosto em suas costas, respirando fundo. Ouvi passos rápidos vindo em nossa direção. Quando algo pulou, aterrissando ao meu lado, fechei os olhos com força e continuei a empurrá-lo sem nem sequer olhar o que era. Só espero que não puxe meu pé novamente...

Passei o rosto do caminho empurrando-o, agarrada às suas costas e de olhos fechados, tentando não prestar atenção aos ruídos e barulhos que meu ouvido parecia estar muito mais sensível no momento.

Quando saímos o empurrei e fui para o lado oposto – para a saída do parque.

Ele correu atrás de mim e passou o braço sobre meus ombros novamente, feliz.

– Pronto, agora estamos quites...

– Ah, não, não estamos não! Você está me devendo e muito!

– A culpa não é minha que o Sanatório era muito mais cumprido do que a Montanha-Russa... – fez jeito de inocente.

– Tem culpa sim. Você poderia ter utilizado aquele maldito dispositivo que você havia falado!

– Ok, sem mais pregar peças e brincar com os medos um do outro – beijou minha bochecha, bem perto de meus lábios. – E eu estava te devendo um beijo – sorriu.

Suspirei.

– Certo, sem brincar mais com os medos um do outro... Mas, chega de parque também. Para onde nós iremos agora?

– Quer comer alguma coisa? – neguei com a cabeça.

– Sem fome alguma depois daquilo tudo no parque...

– Então me deixa pensar para onde podemos ir agora...

– Você não me convidou para um Tour? Você deveria ter todas as nossas paradas na cabeça...

– Na verdade, de novo desde que você se mudou só tem o parque – riu. Revirei os olhos.

– Eu imaginei que fosse algo assim...

– Então porque apenas não conversamos? Não tivemos muito tempo para conversarmos enquanto voltávamos para o hotel.

Concordei.

– Me diz, como tem sido a sua vida desde que se mudou? Como é a cidade? Como é a escola? Como são as faculdades de lá? Como são as pessoas? Como...

– CALMA! – interrompi. – Respire, Ren! Uma pergunta de cada vez, por favor... Minha vida desde que eu me mudei tem sido praticamente a mesma que era quando eu me mudei para cá, tirando uma dor de cabeça ou outra. A cidade é normal, a escola também. As faculdades não sei te dizer como são. As pessoas são chatas e fofoqueiras, e eu não gosto delas – parei e respirei, sorrindo.

– Responder tudo de uma vez assim não tem graça... – fez birra.

– Perguntar um monte de coisa de uma vez também não tem graça – retruquei.

Escutei o relógio de minha antiga escola soando. Olhei para a hora em meu celular e me surpreendi. Eu saí tão cedo... Como já era tão tarde?

– Ren, eu preciso ir. Se eu não voltar os professores vão reclamar comigo...

Ele sorriu e se levantou, me puxando junto.

– Não tem problema, Misaki. Foi bom poder ter passado esse tempo com você, de verdade. Eu senti muito a sua falta, e mesmo que esse tempo que eu pude estar junto de você já tenha se esgotado, eu pude te ver novamente.

O abracei, apertando-o forte. Ele apoiou a bochecha em minha cabeça, suspirando.

– Você não precisa sumir de novo... – murmurei. – Não tem problema se nos falarmos...

– Não se preocupe, eu não irei sumir – sorriu. Arqueei a sobrancelha. Por que será que eu sinto que ele não quis dizer de verdade o que ele disse com isso...?

O soltei e comecei a me afastar, mas parei ao escutá-lo me chamar. Isso não é nem um pouco nostálgico...

– Eu posso te dar um beijo de despedida?

– Se for na bochech... – me interrompeu, abraçando-me pela cintura e me erguendo, selando seus lábios aos meus. Aprofundou o beijo de forma carinhosa, explorando com calma com sua língua. Apesar de gentis, seus lábios também eram sedentos, sempre querendo mais. Quebrei o contato entre os lábios, e resmunguei: - dá para parar com essa mania de me interromper e me beijar logo em seguida? – riu e juntou seus lábios aos meus novamente, dessa vez em um selinho demorado.

Me colocou no chão e acenou, esperando que eu fosse embora.

– Tsc... Estou indo.

• Ren PDV •

Sorri.

– Qual será a sua reação quando descobrir que a bolsa que eu ganhei foi para a universidade da cidade em que você está morando, Misaki?

Virei e comecei a andar, desejando poder descobrir logo qual seria essa reação.


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Notas finais do capítulo

Gente, vocês sabem que eu não sou se pedir review, muito menos exigir, mas depois de todas essas mudanças, gostaria de pelo menos essa vez, pedir que vocês comentassem me dizendo o que acharam, se ficou bom ou ruim, se tem que mudar alguma coisa ou se o antigo estava melhor.
Obrigada e até o próximo :D