Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 11
Capítulo 11 - Extra


Notas iniciais do capítulo

Yay, demorei de novo ^^', mas juro que estava fazendo o meu melhor para postar logo um capítulo. Isso aqui é um ''off'' da estória, apenas para, caso eu decida colocar um casal a mais na fic, vocês não fiquem olhando para o monitor e se perguntando ''como diabos eles se conheceram?''
Enfim, o cap 12 - o cap 11 na verdade - já está sendo escrito também.



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O Dia Em Que Hanazono Sakura Se Apaixonou?

• Sakura PDV •

Liguei para Shizuko. O telefone tocou e tocou, mas nem sinal de que seria atendido. Tentei novamente: o mesmo resultado. Chamou até a ligação cair. Me deitei na cama encarando o celular em minhas mãos. Pra que ela tem esse tipo de aparelho se não atente?

Ou talvez ela só esteja me ignorando... Não seria a primeira vez, de toda forma.

Senti o aparelho em minha mão tremer, e logo uma música soou, estridente. Atendi sem sequer olhar quem era.

– Sakura-san, que bom que atendeu rápido, eu precisava falar com você.

Sorri.

– Olá, Shizuko. Eu tentei te ligar há alguns instantes para te convidar a vir aqui em casa esse final de semana.

Um leve click no fundo da linha e logo estava escutando uma música estranhamente estranha, mas de certa forma, conhecida...

– Sakura-san, escute – aguardei e escutei. De fato, eu conhecia a música. Aparentemente estava fazendo um grande sucesso nas rádios ultimamente. Qual era o nome da banda mesmo? – Eu ganhei dois ingressos do meu irmão para o show do UxMishi – e está aí o nome da banda... -, você gostaria de ir comigo? Será esse fim de semana. Ou melhor, o evento irá durar todo o fim de semana, mas a apresentação deles será amanhã.

– Claro, Shizuko – nós estamos mesmo precisando sair de casa por algum tempo, nem que seja para ir a um show.

– Então me encontre em frente à escola às 8h. Tchau – e sem dizer mais nada – sem que me desse tempo de dizer também -, desligou o telefone na minha cara.

Suspirei, frustrada. Por que ela nunca espera eu me despedir também?!

Coloquei o telefone em cima da escrivaninha e me virei, puxando o cobertor até meus ombros. Por que será que agora eu sinto que não foi uma boa ideia eu ter aceito ir a esse evento? Dei de ombros, adormecendo logo em seguida.

Acordei no susto com meu celular chamando. Peguei-o e olhei quem estava me ligando. Suspirei e atendi, pronta para reclamar com Shizuko por ter me acordado.

– Sakura-san, estou te esperando na sua porta, poderia fazer o favor de abrir para que eu entre? – e desligou, novamente sem me deixar dizer sequer uma palavra. Fechei os olhos e contei até dez para não descer as escadas correndo e agarrar o pescoço de minha amiga com um pouco mais de violência do que a lei permite...

Desci e abri a porta, antes que ela tivesse tempo de dizer qualquer coisa, a interrompi com um olhar furioso. Ela sorriu para mim na maior cara lavada do mundo.

– Por que diabos me acordou às 7h da manhã, Shizuko?! – abriu a boca para tentar dizer alguma coisa, mas a interrompi novamente. – Sabe que eu odeio que me acordem cedo! Ainda mais que me acordem ligando para mim!

– Sakura-san, se acalme – me interrompeu. – Eu esqueci de avisar que passaria cedo em sua casa ontem quando te liguei, e para não precisar ligar novamente, decidi passar aqui e te avisar, mas quando eu toquei a campainha, uma infinidade de vezes, devo ressaltar, e ninguém atendeu, eu não tive alternativa a não ser lhe telefonar...

– Mas nós não íamos nos encontrar na frente da escola às 8h? – ela deu de ombros.

Bufei. Melhor esquecer... Saí da frente da porta e gesticulei para que ela entrasse.

Passamos pela sala e pedi para que ela me esperasse ali enquanto eu tomava um banho e me trocava para sairmos.

Feito tudo que eu precisava fazer, saímos de casa e andamos até a estação. Eu tinha a sensação de que eu não devia mesmo ter vindo, mas eu já havia marcado com ela, e já estávamos até indo para o show... eu não tenho mais muita alternativa. Suspirei e continuei andando, sem prestar muito atenção na sensação estranha em meu peito.

– Sakura-san, você está bem? – questionou, preocupada. Por que você tem que ser tão perspicaz...?

– Estou. Não é nada, não se preocupe... Acho que apenas não dormi direito noite passada. Nada para se preocupar – sorri.

Shizuko me encarou com uma expressão de quem estava aprontando. Acho que é daqui que vem a sensação de que algo irá acontecer... Toda vez que ela faz essa expressão, algo ruim acontece... Tenho até receio de me lembrar das coisas que ela já aprontou comigo.

Suspirei e decidi ignorar o sorriso malicioso que ela me dirigia. Qual é o problema dela, afinal de contas?

– Por que o interesse nessa banda tão de repente, Shizuko? – questionei, curiosa.

– Porque eu ganhei os ingressos – respondeu, mexendo nos óculos. E por que mais seria? Suspirei.

Saímos do trem e voltamos a caminhar. O silêncio que se instalou entre nós era algo relativamente comum, mas nunca, até hoje, havia sido tão estranho e, de certa forma, intimidador.

A cada passo que eu dava a sensação de que não devia ter saído da cama hoje aumentava embora eu a tentasse ignorar.

Quanto mais nos aproximávamos do nosso destino os olhares de Shizuko para mim se tornavam mais significativos e o sorriso se tornava mais evidente. Antes o que era apenas uma leve curvatura nos cantos de seus lábios, agora tinha a forma completa de um sorriso ansioso e excitado, louco a espera de que algo fora do comum aconteça para que seu deleite seja completo e sem igual.

Qual o problema dela afinal de contas?!

Ou eu estou ficando paranóica, ou realmente tem alguma coisa acontecendo.

– Er... Shi-Shizuko... – murmurei, não aguentando mais a tensão e o sorriso de expectativa em seu rosto . – Por que está me encarando assim desde que saímos de casa? Você está começando a me assustar, de verdade...

Ela soltou um leve riso abafado.

– Ora, Sakura-san, alguma vez eu já te dei motivos para desconfiar de minhas ações? – questionou, sorrindo amarelo.

– Quer que eu cite em ordem de acontecimento, intensidade, número, nome ou trauma causado a minha pessoa? – dessa vez o riso não foi contido. Na verdade, ela parecia rir ao se lembrar das coisas que já havia aprontado...

– Justo o bastante – cedeu. – Mas, dessa vez, apenas convidei a minha amiga para um show ao qual meu irmão me deu ingressos. Creio que não exista nada de extraordinário nisso – piscou.

Senti meu coração parar e voltar a bombear uma espécie de sangue super congelado, sentindo a sensação de frio percorrer dos meus pés até minha cabeça.

Já era... Fui pega na armadilha da inimiga e nem sequer me dei conta disso... Olhei ao redor em busca de alguma fuga rápida, mas não encontrei nenhuma. Estávamos agora poucos metros de distância do local do show, com uma multidão fervorosamente excitada a nossa volta, nos empurrando e puxando, tentando adentrar o local com um desespero sem igual. Quando finalmente achei uma forma de fugir da Shizuko e dessa situação – lê-se fuga pelo banheiro – a morena me agarrou pelo pulso, prevendo minha intenção e me arrastando sem dificuldade alguma para mais perto do palco.

Senti o desespero me tomando e a vontade de chorar me inundou. Eu só quero voltar para casa... pensei, tristemente.

A morena ajeitou os óculos e sorriu novamente. Ela está realmente se divertindo com toda essa situação...

– Shizuko, por todo o amor que você sente por mim como sua irmã mais nova como você sempre diz, PARA DE ME OLHAR DESSE JEITO! Estou me sentindo um pedaço de carne em um espeto que está prestes a ser entregue para a pessoa mais faminta desse mundo – choraminguei.

– Talvez essa seja a situação... – ponderou, apoiando a mão em seu queixo, fazendo a famosa expressão de ‘’a pensadora’’.

Arregalei os olhos e ela, mais uma vez, riu. Fechei os olhos e respirei fundo. Ela não vai aprontar comigo novamente!

Sorri, travessa e ela piscou, confusa, mas logo seu sorriso se alargou, fazendo-me pensar que sim, ela vai conseguir aprontar comigo novamente, hoje e sempre. Suspirei e comecei a andar novamente, dessa vez por vontade própria, rendida.

Olhei em volta quando praticamente todas as garotas ali presentes começaram a gritar. Parece que o show está começando...

Quatro rapazes que tinham mais ou menos a minha idade saíram de detrás das cortinas escuras do fundo do palco, dois carregando consigo instrumentos de cordas, um carregando um par de baquetas – com dois pares extras descansando cuidadosamente nos bolsos de sua calça jeans – e um loirinho metido que não carregava nada consigo, apenas o aparente ego. Aparentemente ele era o vocalista e cabeça da banda.

Ele se dirigiu até a ponta do palco e olhou em nossa direção, dando um leve sorriso para – o que eu achei ser – a Shizuko. Ela ajeitou os óculos e piscou para ele disfarçadamente. Olhei entre ele e ela e decidi: eu não sei o que ela viu nele!

Passei o resto do show observando cada movimento, cada piscadela e sorriso dirigido a minha amiga. Definitivamente, eu não gosto desse cara. Quem ele pensa que é para dar em cima dela de forma tão descarada?!

A pior parte é que ela parece gostar desse tipo de atenção...

A encarei e ela me dirigiu um sorriso torto... Meus olhos lhe diziam claramente ‘’nunca achei que você fosse o tipo de pessoa que gostava desse tipo de atenção, Shizuko.’’

Ela se aproximou e calmamente murmurou em meu ouvido:

– E não gosto... – arqueei uma sobrancelha, confusa. Então eu estou perdendo algo, certo? Por que se ele está tão interessado nela, e ela claramente está dando bola para ele, como ela pode não gostar desse tipo de coisa?

Quando o show finalmente terminou já era noite e eu estava exausta. Observar tudo que acontecia entre o vocalista metidinho e minha amiga me deixou mais do que incomodada com essa situação, principalmente quando ela virava completamente sua atenção para mim e sorria de forma indecifrável!

Assim que terminaram os agradecimentos por parte da banda e os gritos por parte da plateia eu agarrei a mão da morena e comecei a rebocá-la para a estação, porém um chamado pela minha amiga prendeu a minha atenção e, é claro, que a morena parou no mesmo instante, impedindo que eu continuasse a andar, não importasse o tanto que eu a puxasse... Caramba, de onde ela tira tanta força?!

Ela soltou facilmente seu pulso de meu aperto e ignorou completamente meus protestos quando ela virou de costas para mim para observar o loirinho metido andando em sua direção – com quase trezentos seguranças a sua volta impedindo que a multidão de adolescentes enlouquecidas se jogasse em cima dele. Logo nós fomos cercadas por seguranças e jovens loucas gritando escandalosamente até pararmos dentro do camarim da banda.

Observei o lugar relativamente normal com apenas uma geladeira, um par de sofás, uma porta em um canto distante que provavelmente se tratava do banheiro e um espelho enorme pendurado na parede frontal... Sinceramente, essa sala parece mais uma sala de ballet do que um camarim.

Os membros da banda nos cumprimentaram, mas eu não prestei realmente atenção em seus rostos, muito menos em seus nomes. O único em que eu realmente prestei atenção foi no loirinho metido... Sakurai Kuuga... Até sua voz me soava estranha e irritante. Eu preciso mesmo conversar com Shizuko e perguntar o que ela viu nesse cara.

– ...ra-san... SAKURA-SAN! – pulei quando ela gritou em meu ouvido, parando quase no colo do loirinho metido, que por alguma razão estava muito perto de mim.

A fuzilei com os olhos e os membros da banda seguraram o riso, exceto, claro, o loirinho metido. Virei minha atenção para ele e ele levantou as mãos em sinal de rendição, mas sequer se preocupou em esconder o sorriso zombeteiro que tinha em seu rosto.

– Qual o seu problema? – perguntei para a morena a minha frente.

– Na verdade, esses ingressos me foram dados, mas não pelo meu irmão e sim pelo Kuuga-san – ele corou, parecendo desconfortável por ela ter revelado isso na frente de tanta gente. – Ele parecia realmente interessado em você, e eu achei a ideia muito atrativa... – sentei no sofá e apoiei a cabeça em minhas mãos. A encarei acusadoramente.

– Você decidiu virar cupido? – perguntei, furiosa.

– Talvez? – sorriu. Bufei e levantei.

– Bem, então você encontre outro alvo, pois eu não estou nem um pouco interessada – abri a porta, mas alguém me puxou para dentro novamente.

Encarei o loirinho metido que sorria sem jeito.

– Desculpa, nós começamos isso do jeito errado. Eu pedi sim a ajuda da Kaga-san, mas nunca foi minha intenção fazer algo contra a sua vontade, então peço que me perdoe se isso foi um incômodo para você de alguma maneira, mas eu gostaria de pedir pelo menos uma chance, um passeio ou um encontro e se você não gostar ou não quiser olhar nunca mais em minha face novamente, juro que nunca mais aparecerei em sua frente – fez uma mesura leve e desajeitada.

Busquei por um jeito em minha mente de negar ao pedido do garoto, mas não consegui pensar em nada leve o suficiente para não o magoar. Ah, cara, eu sabia que não devia ter saído da cama hoje...

– Ok, um encontro ou um passeio se é o que deseja – ele levantou o rosto e um lindo sorriso sincero e juvenil preenchia seu rosto. Desviei o olhar, sentindo minha face esquentar. – Agora que todos conseguiram o que queria – fuzilei novamente Shizuko com os olhos e ela sorriu descaradamente para mim –, eu vou embora. Está ficando tarde e eu realmente preciso voltar.

– Hanazono-san, posso te ligar mais tarde para marcar o dia e o local para nos encontrarmos? – tentou o rapaz.

– Ora, Kuuga-san, chame-a de Sakura. Creio que ela não irá se importar – bufei e ignorei todos presentes na sala. Minha força de vontade estava totalmente vencida. Estou simplesmente exausta.

– Me dê seu celular, loiri... Kuuga-kun... – sem entender ele me passou o aparelho. Coloquei meu número em sua lista de contatos e devolvi para ele. Novamente ele me dirigiu um sorriso alegre ao ver o que eu tinha feito. Agarrei o pulso de Shizuko e a arrastei para fora dali o mais rápido que pude tentando esconder meu rosto corado. Mas que diabos de reação é essa toda vez que esse garoto sorri? Mas que inferno!

– Ora, Sakura-san, você está corada... Isso é algo raro de se ver. Devo lembrá-la que você também implicou com Kuuga-san desde o momento em que colocou os olhos nele? – encarei o céu enquanto a arrastava para a estação. – Isso pode se tornar amor um dia.

Senti meu corpo todo estremecer. Larguei seu pulso no mesmo instante, como se tivesse levado um choque. Enfiei as mãos nos bolsos e continuei andando sem me importar se a morena me seguia ou não.

– Tsc... Não diga besteiras, Shizuko. Sei que você gostaria de me ver nesse tipo de situação inconveniente, mas eu não estou aberta a esse tipo de coisa e você sabe disso.

– Sim, eu sei... – ela soou triste e pensativa. Quando virei para encará-la ela tinha novamente a mão em seu queixo. Andei até sua direção, tirando gentilmente sua mão de seu queixo e entrelaçando nossos dedos. Ela sorriu para mim e recomeçou a andar.

– Você não precisa fazer essa expressão, Shizuko... – sorri.

Senti meu bolso tremer e uma música começou a tocar logo em seguida. Tirei meu celular do bolso e atendi.

– Sa-Sakura? – uma voz incerta soou do outro lado da linha. Ora se não é o loirinho metido.

Pensei em perguntar quem era, mas isso certamente o deixaria desconcertado.

– Sim, sou eu. Você ligou mais cedo do que eu previa... – disse por fim.

Escutei um suspiro de alívio do outro lado e agradeci mentalmente por realmente não ter perguntado quem era. Sua voz soava tensa e ele parecia sem jeito em me ligar. E contando com o pouco tempo que demorou para me ligar, ele estava ansioso, então é melhor tomar cuidado, ou posso acabar traumatizando esse garoto pra sempre... Pisquei, perplexa, eu sou uma babá agora?

Encarei Shizuko e murmurei pausada e ameaçadoramente ‘’você me paga’’.

– Eu... Eu estava nervoso sobre isso, e fiquei com medo de estragar tudo. Se te liguei em um momento inoportuno, eu posso voltar a lig...

– Ei, Kuuga-kun, fique calmo. Eu não estou irritada, e não é um momento inoportuno... – sorri com a insegurança dele. De alguma forma, isso me fazia sentir menos contrária a essa ideia... Eu posso ensinar tantas coisas para ele. Sem perceber um sorriso malicioso tomou conta do meu rosto ao pensar em tudo que eu podia aprontar com ele. Talvez eu faça ele desejar nunca ter me ligado? Segurei o riso. Ok, não vou pegar tão pesado com ele.

– Você pode se encontrar comigo amanhã? Eu estou realmente ansioso para poder te encontrar novamente e não acho que eu vou conseguir esperar muito mais do que algumas horas.

– Claro – sorri. Pigarreei quando percebi que estava sendo muito receptiva. Olhei para Shizuko e ela me olhava exatamente do jeito que eu imaginei que estaria olhando: sobrancelha erguida e um largo sorriso estampado em seu rosto mostrando que eu iria cair em algum tipo de armadilha. Suspirei. – Que horas e aonde? – melhor encerrar logo esse assunto, o olhar insistente da morena está quase me atravessando e isso está me deixando louca.

– Que tal amanhã às 9h na praça perto da estação?

Somente assim para eu desgrudar da cama tão cedo em um domingo...

– Tudo bem. Estarei lá. Até amanhã, Kuuga-kun.

Esperei até ele terminar de se despedir e encerrei a chamada. Fiquei observando o aparelho em minha mão, pensando em como me metera nisso. Um encontro? Por que algo tão repentino e tão sem importância estava me incomodando tanto? E, droga, por que eu sinto minhas mãos tão geladas?

– Sakura-san, você está muito pensativa desde que saímos de lá. Está tudo bem com você?

– Me diz, Shizuko, isso tudo faz parte do seu plano maligno, não é? Por que isso de me ‘’apresentar’’ a alguém agora?

– Eu já disse: ele parecia realmente interessado em você, e eu achei a ideia, bem, interessante.

Isso não soava nem perto de ser uma mentira... E isso deixava toda a situação mais frustrante.

Entramos no trem e esperamos pacientemente a estação em que iríamos descer chegar. O silêncio se tornara constante desde que o loirinho metido me telefonou e eu simplesmente não sabia como iniciar uma conversa. Tudo que eu conseguia pensar no momento era ‘’amanhã eu vou ter que acordar cedo para me encontrar com uma pessoa que eu acabei de conhecer’’.

Quando chegamos ao local onde nossos caminhos se tornavam distintos nos despedimos. Um até segunda foi dito por parte da morena; tudo que eu consegui fazer foi dar um leve sorriso em concordância.

Deitei na cama exausta. Parece que o resto de minhas forças foram levadas no exato momento em que me enfiei embaixo do chuveiro. Suspirei. Melhor colocar o celular para despertar, caso contrário, não acordarei a tempo de me arrumar e chegar à praça na hora marcada.

~//~

Desliguei o alarme do celular e levantei depressa. Fui para o banheiro e tomei um banho para terminar de despertar e me troquei. Desci, tomei café e saí de casa.

– Ainda não acredito que acordei cedo para me encontrar com uma pessoa que eu sequer fui com a cara... – resmunguei. – Ainda mais em um domingo!

Tsc, ficar resmungando não vai adiantar de nada... Eu aceitei vir, então em partes, é culpa minha.

Cheguei e me preparei para sentar no banco mais próximo que eu achei, mas uma voz vinda de trás de mim me chamou a atenção.

– Você chegou cedo... Ainda são 8:49 – sorriu alegre.

– Então isso quer dizer que você chegou ainda mais cedo – observei.

– É que eu não queria te deixar esperando... – disse sem jeito.

– Hey, Kuuga-kun, você já conviveu com alguma garota antes... Já foi a algum encontro... Já beijou uma menina? – sorri largamente ao ver suas bochechas sendo preenchidas de um tom vermelho.

Ele me encarava perplexo. Acho que ele não esperava esse tipo de pergunta. Tão ingênuo. Acho que vou me divertir um pouco hoje.

Ela... Ela tem duas personalidades? – pensou desesperado.

Não entendia como uma pessoa podia mudar tão subitamente...

Aliás, ela havia mudado? Não podia afirmar, não a conhecia, apenas a observava de longe.

Um estalo lhe ocorreu: ela está tentando me assustar para que eu pense que isso foi um desastre e nunca mais apareça em sua frente!

Ele sorriu mais aliviado ao entender a intenção da jovem. O alívio não passou despercebido por ela.

– Eu já convivi com garotas, mas nunca a ponto de sair em um encontro ou estar em um relacionamento. Estar em uma banda tem suas vantagens e desvantagens.

– Sério? – isso me surpreendeu... Parece tão incrível estar em uma banda. – O que teria de desvantajoso?

– Bem, é difícil ter uma vida normal, sem se esconder. Passear na rua assim é muito raro, principalmente para locais abertos como essa praça – ele ajeitou o boné que estava em sua cabeça e empurrou os óculos para trás. – Bem, é basicamente isso, você perde praticamente toda a sua liberdade e acaba tendo que fazer esse tipo de coisa – apontou para si mesmo enquanto falava – se quiser tentar sair sem ser reconhecido. Claro que sempre terá um ou outro fã que irá reconhecer e começar aquele estardalhaço, e então, eu tenho que sair correndo para um local afastado para tentar fugir da provável multidão que vai se formar.

– Isso parece algo realmente irritante...

O loiro riu, divertido.

– Às vezes é tão cansativo que eu me pego me perguntando por que eu aturo tudo isso, mas depois eu me lembro das vantagens: eu estou fazendo o que eu gosto, e se uma pessoa corre atrás de mim e grita por mim, quer fizer que de alguma forma, eu estou fazendo algo significativo, e isso me deixa feliz – sorriu. – É... Eu... Eu posso tirar uma foto com você? – perguntou incerto.

Arqueei uma sobrancelha. O que é isso tão repentinamente?

– Ora, a estrela aqui é você, não devia ser eu a lhe pedir uma foto? – perguntei, tentando desfazer a aura de tensão e incerteza que surgiu ao redor dele. Sorri e ele corou.

– Bem, mas acho que seria bem mais significativo para mim ter uma foto com você do que seria para você ter uma foto comigo, já que você sequer gosta da banda...

– Não é que eu não goste... – disse sem jeito. – É só que eu não havia escutado as músicas antes. Para dizer a verdade, eu até gostei do show ontem, apesar de você ter ficado o tempo inteiro piscando e sorrindo para a minha amiga...

Ele corou e arregalou os olhos. Acho que ele não pensou que eu havia notado.

– Você é um cara um tanto ingênuo, não é? – perguntei, pensando em sua reação... Não tem como não pensar que esse tipo de cara é raro, ou ele está apenas fingindo ser algo que não é.

– Eu não... Na verdade, não era para sua amiga – corou ainda mais, desviando o olhar para longe.

Ah, então não era para a... Um estalo a fez entender tudo.

Eu acho que a ingênua aqui sou eu no final das contas...

Como pudera não notar? Estava tão cega fulminando o garoto com os olhos e o julgando que sequer se deu conta que toda a atenção dele estava presa a si? Realmente não conseguia acreditar que deixara passar algo tão... óbvio.

Pigarreou e sorriu torto.

– Então... Para onde nós iremos?

Ele sorriu largamente. Parecia uma criança animada com um presente que queria há muito tempo e havia acabado de ganhar.

– É segredo – fitei o loiro, desconfiada. – Terá que confiar em mim...

– Ok... Contanto que não seja nenhum lugar estranho – ele soltou um leve riso.

– Não se preocupe, não é nenhum lugar estranho. Na verdade, eu acho que você irá gostar bastante, talvez até queira voltar lá depois – piscou. – Mas... Você não verá o caminho que nós iremos fazer.

Suspirei. Por que será que eu sinto os 20 dedos da Shizuko nessa história?

Bem, eu vou dar um voto de confiança... A pior das hipóteses... É melhor nem imaginar o que poderia acontecer comigo.

– É algum tipo de lugar que você irá me torturar? – brinquei, descontraída.

Ele pareceu ponderar sobre o assunto.

– Não – sorriu. – Eu pretendo te fazer o oposto de tortura. Eu prefiro que você aproveite o passeio.

Até que o loirinho metido não tem um ego tão grande quanto eu achei... Ele, afinal de contas, parece ser uma boa pessoa...

Espera... Eu estou mudando minha opinião sobre ele tão fácil assim?! O que está acontecendo comigo...?

– Bem, então vamos – sorri.

– É um pouco longe daqui – falou. – Nós precisamos pegar o trem primeiro, se você não se importar.

Dei de ombros e esperei que ele começasse a andar. Quando ele percebeu, tomou a dianteira e seguiu a minha frente, conversando sobre assuntos aleatórios.

– Então, nós iremos descer em qual estação? – perguntei, curiosa.

– É segredo... – fiz careta. Odeio quando ficam escondendo as coisas assim... – Mas se isso a incomoda, eu posso dizer... – ele parecia preocupado.

– Não, tudo bem. É que eu apenas não estou acostumada com fazer as coisas em segredo, então me incomoda um pouco, mas acho que vai ser divertido descobrir o que é esse lugar.

As portas do trem abriram e ele me puxou gentilmente para fora, seguindo através dos corredores da estação e saindo em uma rua em um local que eu não fazia ideia de onde era.

Rumamos em silêncio até um parque. Arqueei uma sobrancelha quando ele parou. Era essa a surpresa? Um parque que eu nunca vi na vida? Dava para ter feito melhor, loirinho... Suspirei. Parece que eu realmente perdi meu domingo para nada.

Ele pigarreou, chamando minha atenção, de repente nervoso.

– Bem, hã... Kaga-san disse que você ama algumas coisas bem específicas, entre elas, flores em geral, mas as que mais lhe chamam a atenção são as mais raras e selvagens... Então eu achei que poderia te trazer a um lugar que eu acabei encontrando quando era uma criança e fugia da minha mãe quando ela dizia que o meu sonho de ter uma banda era uma bobeira – coçou a nuca em dúvida. – Nós já estamos quase chegando, apenas mais alguns minutos andando e você poderá descansar enquanto aprecia... hã... tudo...

Deu um leve toque em meu braço e seguiu, pedindo para que eu fosse com ele. Cortamos para fora da praça e começamos a seguir uma trilha – muito bem escondida por sinal – em meio a uma mistura de natureza e urbanização. Agradeci mentalmente por ter escolhido usar um tênis em vez de um salto ou uma sandália; não seria nem um pouco confortável atravessar esse local com um sapato inapropriado.

Olhei para frente tentando encontrar o fim daquilo, mas apenas vi um trecho um pouco mais sinuoso.

– Não falta muito – comentou ao ver minha expressão. – Creio que apenas mais dois ou três minutos e estaremos lá.

Concordei com a cabeça e bufei, agarrando-me ao seu braço ao sentir meu pé escorregando e meu corpo cambalear. Rapidamente ele se virou e me agarrou pela cintura, mas também escorregou, chocando-se contra uma árvore.

Olhei para seu rosto e ele parecia meio confuso com tudo que ocorreu tão rapidamente. Ao perceber o que aconteceu, se ajeitou e me encarou preocupado.

– Você está bem? – questionou. Afirmei com a cabeça, apoiando a mão na árvore em que suas costas descansavam para poder me afastar com cuidado.

– Você... Você se machucou?

– Não, estou bem – sorriu. – Eu sou resistente – brincou. Tirou as mãos de minha cintura e se afastou, se espreguiçando.

Reparei que ele não estava mais com a postura tão ereta como costumava andar e deduzi que ele havia sim se machucado.

Se aproximou de mim novamente, olhando-me em dúvida. Parou e observou meu rosto, então se inclinou e segurou minha mão entre a sua de forma protetora.

– O q... – comecei, mas fui interrompida.

– É uma trilha perigosa e eu não quero que você se machuque por minha causa... Por favor, deixe-me conduzi-la – olhou em meus olhos, a preocupação era evidente. Suspirei, dando de ombros. Ele sorriu e apertou minha mão levemente em excitação. Voltamos a andar e sem que eu percebesse, ele entrelaçou seus dedos aos meus.

Deixei um curto riso abafado escapar.

Ah, eu fui pega e nem sequer me dei conta de que essa era a sua intenção desde o início... Você não é nem um pouco honesto, Kuuga-kun...

– Você é bom – murmurei. Ele me olhou, pronto para perguntar se eu havia dito alguma coisa, mas eu apenas me aproximei para ajeitar o boné que havia saído do lugar e tirar algumas folhas da árvore que ficaram agarradas ao seu casaco. Surpreso, seu rosto começou a ficar vermelho.

– Vamos? – recomeçou a andar, escondendo o rosto e apertando o passo para que chegássemos mais rápido.

De repente ele parou e se virou para mim, impedindo minha visão sobre o que tinha a seguir.

– Eu sei que você não gosta, mas será que poderia, só mais um pouco, aguentar isso e me deixar cobrir seus olhos para ser uma surpresa?

– Nós já viemos até aqui sem eu saber de nada, um pouco mais não irá me matar. E, bem, você se esforçou muito para que tudo saísse do modo como você planejou, então... – dei de ombros, esperando que ele ‘’me vendasse’’.

Ao contrário do que eu pensava, ele apenas tirou o boné da cabeça e colocou na minha, descendo-o até que eu não pudesse ver o que estava na minha frente.

Soltei uma leve risada.

– Achei que você fosse me vender – confessei.

– Eu esqueci a venda... – murmurou, constrangido.

Segurando minha mão novamente, recomeçou a andar, só que dessa vez, bem mais devagar, a todo momento me alertando de uma pedra ou um relevo que podia me fazer cair.

Quando ele finalmente parou, ele deu um suspiro trêmulo e se aproximou, parando na minha frente.

– Bem, chegamos – deu outro suspiro nervoso e tirou o boné com gentileza.

Olhei em volta, surpresa. Era uma pequena clareira, com um rio correndo calmo, árvores em toda a volta do lugar e flores, muitas delas... Tinha mais flores do que eu já havia visto na floricultura local. Pisquei, ainda tentando me acostumar à claridade, ao local, à vista... à tudo.

Olhei para o rapaz ao meu lado e vi que ele segurava uma cesta de piquenique... De onde diabos ele tirou essa cesta?

– Wow... Você não é uma pessoa honesta – comentei. Ele me olhou surpreso, então sorriu. – O quanto a Shizuko te ajudou?

– Ah... Ela apenas me disse que você gostava de flores e trouxe a cesta até a clareira. Como eu queria fazer surpresa, eu não podia deixar você vê-la, então preparei tudo e pedi para que ela a deixasse aqui. Ela também me disse o que você gosta de comer em piqueniques, então eu preparei algumas coisas. Espero que você tenha gostado.

– Você realmente é bom... Sinceramente, jamais imaginei que você fosse me surpreender metade do que você me surpreendeu hoje. Devo admitir que você fez um ótimo trabalho, Kuuga-kun.

Ele colocou o boné novamente na cabeça e segurou minha mão com carinho, me conduzindo até uma pedra próxima ao rio. Estendeu a toalha no chão e fez um sinal para que eu sentasse. Me aconcheguei e esperei que ele tirasse algumas coisas da cesta, entre elas sanduíches e duas garrafas térmicas e copos.

Conversamos e comemos. Falamos sobre nossas vidas e o que esperávamos sobre o futuro. Ele contou como foi a sua primeira vez sobre o palco e como ele achou que quase fosse morrer de nervoso quando anunciaram a entrada da banda.

Rimos e nos divertimos, e quando me dei conta, o céu já estava tão escuro que era improvável que fossemos conseguir enxergar o caminho de volta naquela trilha diabólica.

– Eu me preparei para isso – disse orgulhoso. – Quer dizer... Toda vez que eu venho a esse lugar, eu acabo ficando aqui até escurecer, então já é um velho hábito trazer uma lanterna comigo – explicou.

Tem alguma coisa nesse garoto que me faz sentir... livre... Me faz querer ser eu mesma... Talvez seja por ele não poder ser ele mesmo em quase nenhum momento da vida e ter se libertado das amarras hoje.

Voltamos pela trilha em silêncio, apenas prestando atenção no caminho; a atenção em dobro para que não fossemos parar lá embaixo, só que ao invés de ser andando, parar lá embaixo rolando... Só de pensar nisso já sinto dores.

Vez ou outra ele olhava para mim, mas logo desviava o olhar quando eu o fitava. Um sorriso de diversão brotou em meus lábios toda vez que o fazia corar, se alargando ao perceber seu nervosismo.

~//~

Paramos em frente ao meu portão. Observei o garoto coçar a nuca, provavelmente pensando em uma maneira de se despedir ou dizer o que achou sobre o passeio.

– Bem... Hã... Eu... Eu posso entrar em contato novamente? Quer dizer... Eu posso aparecer na sua frente ou devo me despedir agora?

O encarei sem entender, até que me lembrei dele dizendo algo como ‘’se você não gostar, juro que nunca mais apareço na sua frente’’, ou coisa parecida.

– O... – como eu me refiro a isso? Se eu disser passeio posso magoá-lo, e se eu disser encontro, posso encorajá-lo demais... – Hoje foi um dia inesperadamente divertido. Obrigada – disse com sinceridade, sorrindo.

– Então nós podemos sair novamente? – perguntou esperançoso.

– Wow, calma aí. Primeiro precisamos nos conhecer, não é assim que funciona? – o que você está fazendo, Sakura, sua idiota?! Você por um acaso quer continuar se encontrando com o loirinho metido?

Senti meu estômago pesar. A resposta era... sim? Eu quero me encontrar com ele novamente, mas por quê? Eu acho que não estou muito bem da cabeça, só pode ser isso.

– Então te ligo outro dia para conversarmos – sorriu em expectativa.

Concordei sentindo a leve brisa noturna mexendo em meus cabelos, levando-os aos meus olhos.

– Tchau, Sakura– ajeitou meu cabelo e se inclinou, depositando um beijo em minha bochecha.

Corei ao sentir os lábios em minha pele. Um arrepio percorreu meu corpo, deixando uma sensação estranha.

– T...Tchau, Kuuga-kun – acenei com a mão e entrei em casa, ainda sentindo meu rosto quente.

Pulei quando o som estridente do toque do meu celular soou repentinamente. Amaldiçoei mentalmente o ser que me ligava. Quando vão me deixar em paz e parar de me ligar? Peguei o aparelho e abri, atendendo a chamada.

– Sakura-san? – Shizuko perguntou.

– Não, você ligou errado – bufei. Quem mais seria se esse é meu celular?

– Vejo que alguém não está de bom humor. O que saiu de errado em seu encontro com Kuuga-san?

– Nada – apertei as têmporas, irritada – pelo contrário, ao que parece – ouvi um riso de deleite vindo do outro lado da linha. – Você está anormalmente divertida esses dias... – observei.

– Ah, isso? Talvez seja apenas expectativa de que algo bom acontece.

– Bom?

– Sim. Você parece já estar interessada no Kuuga-san também, caso contrário, não teria admitido nunca que se divertiu com ele. Aposto que você deixou ele te ligar novamente... Aposto que você quer que ele te ligue novamente.

– Você virou algum tipo de paranormal agora? Mas que droga! – me joguei na cama. – Eu não estou interessada naquele loirinho metido! Eu apenas senti... que eu posso ser livre perto dele, mais nada.

– Então toda a sensação de prazer e felicidade que você sentiu quando estava com ele foi apenas isso? Liberdade? Você está se cegando, Sakura-san – e desligou, sem sequer dizer nada, um ‘’tchau’’ ou um ‘’até logo’’.

– Mas que... droga? Qual o problema de todo mundo me deixando tão confusa assim?

Olhei o registro de chamadas, apenas dois nomes apareciam ali: Shizuko e Kuuga. Lembrei do beijo em minha bochecha e senti meu rosto esquentar novamente.

Fechei os olhos e percebi: estou ferrada.


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Notas finais do capítulo

Até o 12, pessoal :D



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