Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 1
Capítulo 1




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• Misaki PDV •

De volta às aulas... Mais uma escola, mais um ano, e outra mudança desnecessária... Gostaria de apagar boa parte do que aconteceu nos últimos anos, mas, infelizmente, isso não é possível.

Os últimos anos foram cheios de acontecimentos que eu adoraria esquecer: meu pai morreu, eu sofri um grave acidente e fiquei incapacitada de ir para a escola – esse último aconteceu pouco depois de minha mãe se mudar para uma cidade nova, depois de ficar com tantas dívidas por causa do enterro, que não teve como continuar sustentando a casa antiga; então vendemos a casa e nos mudamos, para uma cidade menor, uma casa menor, e um colégio mais barato.

Depois que meu pai morreu, eu passei a me afastar de todo mundo. Minha mãe diz que eu vou superar, que a morte do meu pai fora inesperada, mas mesmo dizendo isso, eu sei que ela fica triste ao me ver afastando, principalmente dos garotos. No fundo, eu sei que não é por eles serem tão volúveis, como tento dizer para mim mesma, eu simplesmente não aguentaria que o mesmo acontecesse comigo. Eu não sou forte como minha mãe. Ela percebeu que eu fiquei marcada por isso, e que dificilmente irei superar também. Não importa. De qualquer maneira, namorar nunca foi uma coisa que eu me importasse... Com tantas mudanças apenas aumentaria as chances de eu me magoar.

Quando entrei na classe o professor pediu para que eu me apresentasse e depois me mostrou o lugar onde eu sentaria – que, para a minha alegria, era no meio da sala, cercada de vários garotos que me olhavam como se eu fosse um pedaço de carne. Suspirei, resignada. Eu não tinha escolha, certo?

Alguns garotos tentaram puxar assunto comigo quando o professor saiu de sala, mas minhas respostas eram curtas e com um entusiasmo fingido. Depois de algumas respostas eles notaram e resolveram ir embora.

– Essa garota é estranha... Não tentarei mais falar com ela – sussurrou um dos garotos após se afastar um pouco de mim.

– Você tem razão – disse outro. – Ou foi a sua cara feia que a assustou – debochou.

Tsc. Malditos que adoram falar coisas sem saber. Não interessa; não ficarei muito tempo nessa escola novamente de qualquer jeito.

As aulas foram prosseguindo de forma lenta, mas eu não conseguia prestar atenção em nada... Essa escola me deixa um tanto desatenta.

Finalmente o sinal do intervalo soava. Eu estaria livre por um tempo de todos esses garotos que ficavam me encarando dez da hora que eu entrei na sala.

Me distanciei rapidamente da minha sala. Pretendia ir para o pátio, longe do olhar de todos, mas quando ia descer as escadas, pensei que o terraço seria um lugar muito mais tranquilo para se ficar.

Subi as escadas depressa para que não me vissem, abri a porta e espiei dentro. Ótimo, estava vazio.

Entrei fechando a porta atrás de mim e me sentei no chão encostada à parede. Olhei a maçã em minhas mãos. Não estava com fome, mas minha mãe me obrigou a trazer.

Fiquei o tempo todo rodando ela em minhas mãos enquanto observava o horizonte e pensava. Certamente muitas coisas aconteceram em nossas vidas recentemente.

Minha mãe tentava se mostrar forte na frente da minha irmã e na minha, mas eu sei que ela chora à noite, preocupada conosco. Minha irmã se fechou quase totalmente para o mundo, não sorria mais e sua voz soava sem vida. Tantos problemas por causa da morte de nosso pai... A vida é simplesmente tão injusta às vezes; não dá para entender, não dá para confiar em ninguém.

Levantei sacudindo a poeira da minha saia, saindo do terraço e voltei para a minha sala. O tempo de descanso estava quase acabado.

• Em Casa •

– Misaki? Chegou cedo hoje. Aconteceu alguma coisa? - minha mãe perguntou, preocupada.

– Não estou me sentindo muito bem, então saí mais cedo - respondi já das escadas. - Não se preocupe, não é nada sério.

Entrei no meu quarto e tranquei a porta, jogando-me na cama logo depois, poucos minutos depois acabei cochilando.

~~~~~~~x~~~~~~~

A essa altura os garotos não se davam mais ao trabalho de falar comigo. Para ser sincera, nem as garotas também. Eu não me importava de fato.

Em casa, para compensar, minha mãe estava preocupada, mas ocupada demais com o trabalho para conseguir fazer alguma coisa, então acabava nunca fazendo nada.

~~~~~~~x~~~~~~~

Acordei com o celular despertando, era hora de ir para a escola. Suspirei. Porque eu ainda insisto em ir para a escola mesmo? – ah, sim, para no meio do ano letivo minha mãe ser obrigada a se mudar novamente, e eu ter que fazer praticamente tudo de novo.

Levantei e fui me arrumar, sem muita vontade, meu humor estava tão negro quanto o céu lá fora.

Desci, tomei meu café, conversei um pouco com a minha mãe e a minha irmã e saí sem me despedir.

No caminho vi um rapaz parado do outro lado da rua, a cabeça baixa, olhando o chão como se fosse algo muito diferente... Bem, talvez fosse mesmo. Dei de ombros. O uniforme do Seika não era difícil de distinguir, mas não era algo que eu me importasse também de qualquer maneira.

Vi uma colegial correr na direção do rapaz e o tocando no ombro, quando ele olhou, disse-lhe algumas palavras e ambos começaram a andar, apressados.

Fui para a sala, me sentei no meu lugar de sempre e aguardei. A aula começou, mas eu não prestava atenção, meus pensamentos estavam longe, muito além daquele prédio velho que eu chamo de escola.

Era hora do intervalo.

– Ayuzawa-chan, você gostaria de ficar com a gente? - uma das meninas da turma perguntou e seu grupinho logo surgiu atrás dela, os olhares esperançosos.

– Desculpe, não estou me sentindo muito bem hoje. Quem sabe outro dia? - disse, sorrindo sem jeito.

Quantas vezes eu já disse isso a elas? Já perdi as contas. Aposto que elas também. Bem, duvido que elas queiram minha companhia de forma verdadeira, estão apenas sendo educadas.

Me direcionei novamente ao terraço, meu lugar preferido dessa escola. Nunca ninguém vai lá.

Abri a porta e entrei sem olhar. Depois de várias visitas e várias aulas matadas aqui no terraço, eu já tinha certeza de que ninguém frequentava esse lugar, mas parece que eu me enganei...

Quando fechei a porta e me virei, dei de cara com um garoto. Arqueei uma sobrancelha... Eu conhecia esse garoto de algum lugar. Continuei a olhar fixamente para ele; ele era alto, olhos verdes, cabelos loiros. Ele era bonito, mas eu não me importava o suficiente. Eu acho que... Não, eu devo estar enganada.

Fiquei parada na frente da porta, encarando-o.

– Desculpe, não sabia que já tinha alguém aqui - disse.

Ele sorriu.

Eu me virei e abri a porta, mas antes que eu saísse ele disse calmamente:

– Não há necessidade de você sair, aqui é grande, dá para nós dois ficarmos.

Sua voz era aconchegante, rouca, e me trazia uma sensação estranha. Eu queria ouvir mais. Sua voz também parecia ser familiar para mim... Que diabos.

Ele me puxou gentilmente pelo braço e fechou a porta, sentando-se no chão logo depois. Eu me afastei, encostando-me ao muro, a direção oposta onde ele estava e sentei-me também.

– Meu nome é Usui Takumi - ele sorriu novamente. - E você é?

Eu permaneci calada, observando-o. Ele não parecia realmente o tipo de pessoa que se incomodaria de perguntar o nome de alguém como eu, a não ser por pura educação, então decidi ignorar.

– Então o que dizem sobre você é verdade.

– E o que dizem sobre mim? – perguntei, arqueando novamente a sobrancelha. Tão pouco tempo estudando aqui e já havia boatos sobre mim.

– Que a aluna nova não conversa e nem responde ninguém - ele disse, dando de ombros.

Claro.

– Tsc... Isso não é da conta de ninguém. Eles julgam sem saber o real motivo do meu silêncio - soltei sem perceber.

Olhei para a face de Usui, tapando a boca com as mãos.

– Então por que você não fala isso claramente? - ele sugeriu.

– São assuntos familiares, não há necessidade das pessoas da escola se envolverem - suspirei. Quem é esse garoto e por que estou me dando ao trabalho de responder à suas perguntas? - Meu nome é Ayuzawa Misaki - respondi a contragosto, olhando para o lado, mas não a tempo para perder o seu sorriso de satisfação.

Ele se levantou e se aproximou de mim, sentando ao meu lado. Eu o encarei, mas não disse nada, também não me afastei. Meus pensamentos estavam a mil por hora... Por que eu tenho a sensação de conhecê-lo, mas não consigo me lembrar?

– Parece que você confia em mim? – não era exatamente uma afirmação.

Abaixei a cabeça apertando a barra da saia com a mão direita. Eu devo me afastar dele agora, não posso ter contato com garotos. Eu não quero ter contato com garotos.

– Desculpe, eu disse algo errado?

– Não exatamente - falei. - Eu só não confio em garotos - sussurrei para mim mesma. Na verdade eu não confio em quase ninguém.

– Aconteceu alguma coisa para você perder a confiança nos garotos? - ele perguntou curioso, mas, aparentemente sem intenção de saber o real motivo disso. Novamente era apenas a educação falando.

Eu me levantei e me direcionei a porta.

– Talvez um dia você descubra - eu disse e saí.

Fechando a porta atrás de mim me apoiei nela e me deixei cair. Droga. O que fora aquilo? Por que eu respondi as perguntas daquele garoto e ainda dei uma brecha para ele continuar conversando comigo? O que estava passando pela minha cabeça? E para completar, a maldita sensação de que o conhecia só aumentava. Merda.

Eu desci para minha sala, peguei minha mochila, e fui embora. Não tinha mais paciência para aulas naquele dia.

• Usui PDV •

Fiquei olhando enquanto ela saia pela porta, apressada.

Hmm... Interessante. Gostei dessa garota. Por algum motivo, é bom conversar com ela.

Sorri ao lembrar seu rosto; todos os aspectos que eu já havia tido a oportunidade de ver – os que eu acabei de ver, para ser sincero. Como é possível que ela possa ficar em minha mente em tão pouco tempo?

Ouvi o sinal que entregava o final do intervalo – purgatório para muitos; as aulas, claro – mas não me mexi, apenas continuei sentado, lembrando o rosto de uma garota que eu acabara de conhecer.

Que sensação estranha...

Deitei e apoiei um braço em minha testa, amenizando a intensidade da luz solar que batia em meu rosto, e ali, observando o céu, eu adormeci e, a partir dali, meus sonhos seriam preenchidos por aquela que eu acabei de conhecer.


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