Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 71
Mogli


Notas iniciais do capítulo

Mais um para animar a tarde de vocês!

Boa leitura.



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— Como uma criança pode ir tão longe? — Perguntou Heather, mas eu estava cansada demais para responder. Heather virou-se para trás e encarou nós dois – Façam alguma coisa! Eu não aguento mais!

Se fosse para eu fazer alguma coisa, seria para enforcá-la com as minhas mãos.

— Continua a andar. — Apolo respondeu por mim, em um tom frio e seco. Heather podia não saber, mas aquela ordem era muito mais impactante do que a de um mortal. O corpo de Heather praticamente girou em torno de seu próprio eixo, e ela voltou a marchar relutante mata adentro.

Seguimos ela. Permanecemos em silêncio por um tempo, sem saber o que conversar. Ainda lembro que momentos atrás, nós dois estávamos próximos o suficiente para nos beijarmos. Meu coração estava apertado.

Xinguei Afrodite mentalmente por fazer o amor ser uma coisa tão complexa e sofrível.

Estiquei meu braço, flexionei meus joelhos e peguei um galho grande, repousado no chão. Quando fiquei de pé, Apolo lançou um olhar repreendedor, assim como minha mãe faria.

— Que foi? — Perguntei fingindo inocêncica — Está ficando escuro, eu preciso de um cajado para seguir o caminho.

— Você é cega agora? — Perguntou, provavelmente sabendo minhas intenções.

— Eu tenho cegueira noturna. — Repliquei.

— Mentira.

— Verdade.

— Mentira sua, Alice.

— Você é médico agora? Achei que era músico. — Rebati encolhendo os ombros e batendo a ponta do galho no chão na minha frente — Viu? Estou garantindo minha segurança.

— Humpf. — Ele fez sem acreditar em mim.

O silêncio recaiu sobre nós mais uma vez, e tudo que dava para ser ouvido eram nossos passos. Continuei batendo a ponta do galho de leve no chão, até concluir que Apolo não estava mais tão focado em mim, e sim no som da floresta, tentando rastrear Thomas.

Ergui o galho um pouco mais e toquei levemente a perna de Heather, subindo de sua canela até sua coxa.

— Meu deus, Heather, é uma cobra. Não se mexe. — Declarei e foi o suficiente para ela berrar em pavor e sair correndo e se sacudindo. Heather tropeçou em uma raiz alta, e caiu de bunda no chão. As gargalhadas irromperam de mim, e eu me curvei para frente como se tivesse sido acertada no estômago por um soco.

Tão madura. — Falou Apolo revirando os olhos e tomando o galho de mim. Ele o partiu ao meio com uma mão só, mesmo que fosse grosso demais e humanamente impossível. Jogou os pedaços longe e foi para perto de Heather.

— Você está tão morta! — Rugiu levantando-se rapidamente do chão.

— Calma, era só um bichinho! — Disse tentando parar de rir — Mas já deve ter ido embora.

— Tão igual ao seu pai. — Apolo revirou os olhos.

— Calma, ela vai sobreviver. — Falei buscando ar.

— Você é que não vai! — Heather passou por Apolo como um raio, e esticou a mão buscando por meu cabelo. Quando seus dedos alcançaram, ela deu um puxão que fez minha cabeça latejar. Soltei um grito, e afundei a mão em seu rosto tentando empurrá-la para longe.

— Ei, ei! Chega disso! — Falou Apolo apartando a briga. Com facilidade, ele separou nós duas com a palma das mãos e se colocou no meio. Estava prestes a dar algum sermão, quando seu queixo se ergueu e seus olhos fitaram um ponto no meio das árvores.

— Apo- — Ele cobriu minha boca com a mão e eu parei de falar.

Ele parecia um cervo que escuta um galho quebrar a vários metros de distância, e fica em estado de alerta. O silêncio se prolongou por alguns segundos.

— Temos que sair daqui. Agora. — Decidiu.

— Há. Há. — Fez Heather — Muito engraçado. Vocês dois estão fazendo algum tipo de brinca…?

Heather foi erguida do chão assim como eu. Apolo nos carregou como se fossemos duas malas, colocando-nos debaixo do braço, e partiu correndo na direção oposta à do barulho. Em questão de segundos, estávamos em uma clareira, onde ele finalmente nos soltou.

Olhei para minha prima para ver sua expressão: ela estava chocada.

— O quê foi isso? — Sua voz saiu quase como um sussurro de um fantasma.

— Notícias boas e ruins. — Falou Apolo olhando para mim — Qual quer ouvir primeiro? Rápido.

— Ahm… Boas? — Escolhi incerta.

— Sei onde seu primo está.

— Ruins? — Perguntou Heather, ainda desnorteada.

— Er… — Ele olhou para trás, e eu entendi o que ele quis dizer. Tinha um monstro naquela floresta, e provavelmente estava atrás do Thomas. Heather olhou para onde Apolo tinha olhado e negou com a cabeça rápido.

— O quê? Tem um urso aqui? — Perguntou tremendo — Ah, meu Deus. Temos que ir embora.

— Vocês duas fiquem aqui. Eu já volto com o Thomas. — Falou e depois olhou para mim — Alice, fique alerta. Se você precisar… Fazer alguma coisa.

— Você vai para onde o urso está?! — Exclamou Heather chocada ao vê-lo se distanciar. Apolo a ignorou e saiu correndo. Eu respirei fundo, e sentei em uma pedra. Minha prima andava de um lado para o outro — Vamos morrer. Meu deus, vamos morrer.

— Não vamos morrer. — Falei como já tinha dito tantas vezes para mim mesma. Você vai sair dessa, Alice. Você já enfrentou coisa pior.

O que podia ser? Um cão infernal? Um ciclope?

— Vamos embora daqui. Deixa ele para lá. — Falou Heather indo na minha direção — Você lembra a direção de volta?

— Ele falou para ficarmos aqui. — Respondi para ela — E ele tem razão. Se for mesmo um… Urso, nós temos-

— Ele é louco, Alice! Só podia ser para ser seu amigo! — Exclamou para mim — Como ele saiu nos carregando daquela forma?! E agora ele quer lutar com um animal selvagem sozinho? — Heather suspirou pesadamente, em nervoso — Sem falar que ele acha que pode rastrear o Thomas como se fosse um cão de caça. Pelo amor de deus, eu não quero mais ficar aqui. Vamos voltar para casa agora.

— Não podemos sair daqui, Heather! — Rebati com pouca paciência — É perigoso!

— Perigoso é ficarmos aqui sozinhas! — Replicou — E sem nenhum sinal de celular. Nem bateria eu tenho! Isso parece um filme de terror e eu não estou gostando nem um pouco.

— Não tem motivo para pânico. — Menti.

— Você não tem motivo! Nos filmes de terror, a garota bonita sempre morre primeiro. A esquisitona dura até o final. — Reclamou irritada e com medo. Eu juro que tentei esconder um sorriso de satisfação, mas não consegui. Heather bateu o pé no chão — Ótimo! Eu vou sozinha!

— O quê? — Ela já tinha saído correndo em uma direção aleatória — Heather, ficou maluca?! Volta aqui!

Levantei-me e corri atrás dela, deixando para trás o nosso lugar seguro.

 

POV Thomas

Eu odiava a Heahter.

Odiava Joe, odiava a minha irmã, odiava meus pais.

Estava sentado no chão, atrás de um arbusto grande, chorando sem conseguir me controlar. Eu sei que garotos não devem chorar, mas as lágrimas escorriam mesmo assim. Elas rolavam pelas minhas bochechas e pingava no chão de terra.

Ao menos eu estava ajudando as plantas. Ao menos elas deviam gostar de mim.

Alice não gostava de mim? Não, Heather devia estar mentindo. Alice era muito legal, e todo mundo tinha inveja dela. Alice sabia como pegar biscoitos escondido, e ela nunca contava para os adultos quando a gente comia sobremesa antes do almoço. Ela também brincava comigo e me ajudava a montar barracas dentro do meu quarto.

Ela era a minha namorada.

Fiquei triste ao lembrar daqueles dois garotos altos achavam que eram os namorados dela. Eu conheci ela muito antes que eles, não era justo!

Solucei de choro, sentindo minha barriga roncar de fome. Olhei para os arbustos e pensei se podia comer suas folhas que nem os cervos faziam. Peguei uma e mastiguei, mas cuspi no chão com nojo.

Eca! Era pior que brócolis.

Eu ia morrer de fome no chão da floresta, chorando sozinho e ninguém ia me encontrar mais. Abracei meus joelhos e continuei chorando, com o único alívio de saber que ninguém ia me ver daquele jeito.

Clec!

Levantei a cabeça e olhei para trás. Algo depois dos arbustos tinha feito barulho, como um galho quebrando. Franzi o cenho, sentindo minha cabeça doer um pouco por causa do choro contínuo.

— Quem está aí? — Perguntei tentando parecer bravo, como um homem de verdade. Limpei o rosto na tentativa de esconder as minhas lágrimas, mas acabei sujando-o de terra. Ao menos eu pareceria um aventureiro, esperava eu — Saí da minha floresta! Saí!

Tentei imitar o rugido de um leão, porém minha voz desafinou no final. Minhas bochechas arderam. Ouvi outro clec e depois mais um clec. Era o barulho da grama e de pequenos galhos sendo pisados.

Estava com medo, mas tentei buscar a coragem digna do Indiana Jones. Coloquei minha mão no arbusto e tentei afastar as folhas para que eu pudesse ver do outro lado.

Congelei.

Pelo pequeno buraco que minhas mãos conseguiram abrir, eu vi o rosto de uma menina. Era pálida, com grandes olhos cinza e cabelo loiro preso para trás de um rabo de cavalo. Seus olhos estavam fixos no meu, e ela parecia zangada. Funguei sentindo meu nariz esconder.

Ao ouvir esse barulho, a menina colocou o dedo indicador sobre a boca e fez Shh para mim. Engoli em seco. Eu queria gritar com ela, mas parei ao vê-la chegar para trás e apontar para mim uma flecha, posicionada em um arco.

Meus olhos se arregalaram e eu gritei.

A flecha foi disparada logo depois, mas não me atingiu. Eu caí para trás ainda gritando no chão, e ouvi um rugido de verdade atrás de mim. Levantei o rosto com medo, pois achei que era um leão. Infelizmente, só vi o rabo de algum bicho sumindo dentro do escuro.

A garota atravessou os arbustos e parou em pé na minha frente. Fiquei de pé, assustado e olhei para ela por inteiro. Usava uma calça jeans suja de terra, botas de couro e um casaco grosso, como aqueles para acampar.

— Você ia me matar! — Exclamei para ela — Qual é o seu problema?! Saí da minha floresta!

— A floresta é minha, seu garotinho barulhento! — Rebateu ela com a segurança que eu só via em adultos — Você acabou de me atrapalhar!

Eu olhei para o arco na sua mão, grande e prateado. Olhei para a mochila que estava nas suas costas, cheia de flechas. Minha raiva foi substituída por admiração.

— Uau! — Disse encantando — Eu nunca vi um arco e flechas na minha vida! É de verdade?

— Qual seria a utilidade de sair com um arco e flechas de mentira? — Rebateu rabugenta.

— Mas seus pais deixam você usar uma arma? — Perguntei surpreso. Corri para trás dela, para ver as flechas, mas ela se virou rapidamente me impedindo.

— Meu pai me deu isso. — Respondeu, ainda séria — O que está fazendo na minha floresta?

— Essa floresta não é sua. — Respondi.

— Sim, ela é minha. — Confirmou impaciente — Todas as florestas são minhas. Agora responde logo, antes que eu ponha uma flecha bem no meio da sua garganta.

— Por que você faria isso? — Perguntei cobrindo minha garganta com as mãos.

— Porque você é um garotinho insolente que atrapalhou a minha caçada. — Respondeu com raiva. Eu encolhi os ombros.

— Desculpa, eu não sabia que estava caçando. — Disse — O que você está caçando?

— Eu te fiz uma pergunta antes. — Respondeu fria.

— Eu estou me escondendo da minha família. — Murmurei.

— Por quê?

— Porque eles me odeiam, e eu odeio eles. — Respondi tentando parecer legal.

— Não seja tolo, eles devem estar preocupados com você. — Desdenhou — Retorne ao seu lar, e não ouse se aproximar de mim novamente.

— Você fala engraçado. — Respondi rindo um pouco. Ela avançou contra mim.

— Está rindo de mim? — Perguntou pronta para me bater. Eu engoli em seco.

— Não! Não, desculpa. — Pedi de novo — Não me bate, por favor.

Ela parou para pensar um pouco sobre o que faria e assentiu.

— Então vá embora. Vai ficar perigoso aqui para você. — Respondeu e se afastou de mim. Eu não pude deixar de segui-la.

— Você vai caçar aquele bicho com seu arco e flechas? — Perguntei.

— Eu vou caçar um monstro com meu arco e flechas. — Respondeu — É isso que eu faço.

— Que legal! Posso ir com você? — Perguntei animado.

— Não. — Respondeu.

— Por que não? — Quis saber desanimado. Ela se virou para mim e olhou nos meus olhos novamente com aquele olhar frio.

— Porque eu já disse que é perigoso. — Respondeu — E porque você é só uma criança.

— Você também é só uma criança! — Respondi argumentando.

— Não sou não. Sou muito mais velha que você. — Respondeu rindo de mim como se eu fosse idiota. Cruzei os braços.

— Não é não! Quantos anos você tem? Em qual série você está na escola?

— Eu não vou para a escola, pirralho. Você não sabe com quem está falando. — Desdenhou. Eu me toquei que era verdade, por isso dei um passo para frente e estendi a mão para ela.

— Meu nome é Thomas Hanks. — Apresentei-me — Qual é o seu nome?

Ela franziu o cenho olhando ora para mim, ora para a minha mão. Por um segundo, achei que ela pudesse ser uma daquelas meninas lobos, que nem o Mogli, que é criado na floresta e não conhece a civilização. Talvez fosse por isso que ela não sabia se apertava ou não minha mão estendida.

— Meu nome é Ártemis. — Respondeu sacudindo minha mão, estranhando.

— Você é uma menina-loba? — Perguntei, sem conseguir me conter. Ela olhou chocada para mim.

— Sou o quê? — Perguntou.

— Você sabe. Seus pais são lobos? Você foi criada na floresta? — Perguntei sorrindo para ela — É por isso que você acha que a floresta é sua e você saí caçando animais?

Ainda segurando a minha mão, ela me puxou contra ela e segurou meu pescoço com sua própria mão. Eu conseguia respirar, mas podia sentir seus dedos apertando minha garganta.

— Meus pais não são lobos, e eu já disse que não caço animais. Eu caço monstros. — Disse de forma ameaçadora — E eu não acho que a floresta é minha, ela é minha. Agora saía da minha floresta e volte para casa, antes que a minha paciência acabe e eu cace você.

Ela me empurrou para trás e eu quase caí no chão.

— Mas eu quero caçar também! — Exclamei.

— Eu não caço com garotos. — Falou com nojo.

— Mas…! Mas eu sou um garoto legal! — Falei tentando de novo — Eu sei que você deve achar garotos nojentos, até porque eu também acho garotas nojentas. — Ela lançou um olhar de raiva para mim — Quero dizer, você não é uma garota nojenta! Você é legal, muito legal. E eu sou legal também. Eu não brinco com minhocas e nem arroto, juro. Você não precisa ter nojo de mim, e eu posso caçar com você.

— Não, não pode. Vá embora. — Falou novamente.

— Mas eu posso te proteger dos monstros! — Exclamei mostrando meus muques — Eu sou muito forte, posso te ajudar!

— Eu é que teria que te proteger, criança. E não estou interessada em perder o meu tempo tomando conta de você, agora volte para casa. É a última vez que aviso. — Disse posicionando uma flecha.

Eu abri minha boca para tentar mais uma vez, quando alguém chegou perto de nós.

— Thomas? — Perguntou o amigo mágico da Alice.

 


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Notas finais do capítulo

Preparem-se para o próximo capítulo! Vai ter altas emoções.
Beijos e muito obrigada pelos reviews, mensagens privadas e recomendações. Vocês são os melhores leitores que eu poderia ter.



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