Os Karas : em Busca do Condor escrita por Lala Pereirinha


Capítulo 9
Isto não termina aqui


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me a demora. Aí está. Boa leitura!



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- Quer Dizer então que os 11 estados escravagistas declararam secessão da União e formaram os Estados Confederados da América e começaram a brigar com o povo do Norte que eram os Estados Unidos da América e isso é a Guerra de Secessão? – indagou Miguel.

- Basicamente sim. É claro que há mais detalhes. Essa é a forma resumida e grotesca. Mas, serve pra você de início. Aliás, você sabe quem venceu? – disse Peggy.

- Mas, é claro que eu sei: Os Estados Unidos da América! Se eles tivessem perdido eu estaria morando hoje nos Estados Confederados da América. Que nomezinho feio! Viva Abraham Lincoln!

- Muito bem, você já até gravou o nome do líder do Norte: Abraham Lincoln. Miguel, acho que está bom por hoje. Você já aprendeu muita coisa. – ela riu – Devemos nos concentrar em outra coisa tão importante quanto a História.

- Tem razão, Peggy. Andei pensando muito nisso e tomei coragem para conversar com meu pai. Eu fiquei pensando comigo. Desde que essa loucura toda aconteceu, eu não fiz uma coisa simples e que talvez me trouxesse a resposta de tudo: perguntar ao meu pai.

- É verdade. É algo tão simples que nós nem pensamos. É da natureza humana procurar sempre pelo mais complicado. Mas, e aí? O que seu pai disse?

Miguel, pensativo, deixou que sua mente o levasse de volta àquele momento. E, calmamente, à medida que recordava, narrava fielmente a Peggy a conversa que tivera com o pai.

Flash Back

A sala era ampla, o ar, melancólico, pesado. O pai de Miguel fitava-o desconfiado, indiferente. Tinha um olhar decrépito, moribundo, como se cada palavra do filho transpassasse sua alma e o ferisse gravemente. Talvez fosse culpa o que ele sentia, talvez fosse medo ou até mesmo ternura. Não havia como decifrar sentimentos ou pensamentos naquele rosto colérico. Miguel não sabia se deveria continuar. O constrangimento tomou conta de si e ele estacou. O homem de porte grande, ar culto e elegante e aparência avançada, apesar de seus quarenta e um anos, revelada pelas muitas rugas de expressão, levantou de sua poltrona, serviu-se de um Uísque e tornou a sentar-se. Após fitar o filho por uns segundos, decidiu pronunciar-se para dar continuidade à conversa, visto que Miguel não aparentava ter mais condições de conduzi-la.

- Filho, quando eu me formei na faculdade fiz uma promessa: assim que eu tiver uma família, eu a protegerei com unhas e dentes como um leão. Isso inclui mantê-los mais afastados quanto possível da minha vida profissional e é apenas por isso, por essa promessa que eu nunca te disse nada sobre meu trabalho.

Miguel não esboçou nenhuma reação. Matt continuou:

- Sinto muito filho, mas não vou quebrar minha promessa só porque você acha que eu deveria contar sobre meu trabalho para você. E se eu for um espião? Hã? Você acha que eu devo te contar e pôr sua vida em risco? Vamos, me diga!

- Eu só queria saber por que o senhor saiu da Long Line. Eles te fizeram mal? Ameaçaram-te, sei lá?

- Você não respondeu a minha pergunta. Tenho direito de não responder a sua. E já chega desta conversa! Vá estudar para não ficar de recuperação ou seja lá o que os americanos fazem nas escolas! Sua amiguinha Peddy...Penny...sei lá está lhe esperando na biblioteca.

E o rapazinho deixou a sala com um medo maior do que quando entrou. Um arrepio percorreu-lhe o corpo. Foi tomado por uma angústia tamanha que quase lhe roubou os sentidos. Ele tombou. Apoiou-se numa cadeira, recuperou o equilíbrio e o raciocínio. Agora, mais do que nunca, era preciso agir. Havia algo mais do que estranho em tudo aquilo.

****

Sentado ali naquela cadeira pomposa, numa sala banhada em luxo e elegância, cercado de seguranças, secretárias, assessores e “moças do cafezinho”, estava Wilbur. Com o semblante apreensivo e as pernas bambas, não lembrava nada o homem imponente que foi um dia. O amedrontador Senhor Presidente era agora o amedrontado. Enquanto aguardava a chegada do representante da Long Line ele pensou diversas vezes em desistir, sair correndo e se entregar à polícia. A cada minuto que se passava sua inquietude crescia mais e mais. Ele levantou e passou a caminhar inconscientemente de um extremo a outro da sala, que era relativamente comprida, comprimindo as mãos umas nas outras alternando com o roer das unhas. Assim que o advogado chegou Wilbur não pensou duas vezes e prostou-se ao seus pés rogando-lhe a extensão do prazo para que pudesse tirar o país da crise e desviar mais dinheiro dos cofres públicos.

- Está certo Wilbur. Se fosse outro eu não atenderia ao pedido, mas, considerando a situação atual do seu país e o quanto Vossa Excelência tem colaborado conosco todos esses anos, serei misericordioso. Você tem mais seis meses. Passar bem.

E Wilbur suspirou aliviado, afundou em sua poltrona e chorou. Chorou como nunca tinha feito antes. Lágrimas de culpa, arrependimento e medo. Medo do que tinha de fazer e iria fazer em breve.

****

O céu era de um azul forte e por entre as nuvens um rostinho lindo deixava lágrimas tímidas escaparem de seus olhos e refletirem os raios de um sol forte e brilhante. Ao seu lado um jovem franzino lhe acariciava os cabelos embriagado pelo perfume que deles brotava.

- Não entendo. Você devia estar feliz. Deu tudo certo, meu amor. Estamos sobrevoando a pacífico e logo estaremos em solo norte-americano.

A menina rapidamente enxugou as lágrimas e virando-se para o namorado fitava o chão e brincava com os dedos ao falar:

- Eu queria estar feliz, mas não consigo. Sinto uma dor profunda no peito, uma angústia que me corrói a alma. Eu não queria estar aqui. Não queria precisar estar aqui. Eu só queria que tudo voltasse a ser como era antes. Só nós cinco solucionando mistérios juntos, vivendo aventuras inacreditáveis, juntos. Sem faltar ninguém, sem mais ninguém.

- Você quis dizer: com Miguel e sem Peggy, não é? Você ainda sente algo por ele.

- Ah, por favor, Crânio! – A menina afundou o rosto nas mãos e desabou em lágrimas – Quando você vai parar com esse ciúme bobo? Vocês homens nunca amadurecem. Miguel é nosso amigo, nosso líder, um Kara. Não é seu rival. E você quer saber mais? A partir de agora nossa relação será estritamente profissional. Não posso continuar com alguém que não confia em mim.

Crânio, estupefato com o que tinha acabado de ouvir, virou as costas para a menina e pediu para trocar de lugar com Calu, que vinha sentado na fileira ao lado junto com um idoso que roncava a viagem inteira.

****

- Será que agora vocês conseguiram entender ou a gente vai ter que contar a história toda novamente? – disse Chumbinho entediado.

- A gente já entendeu. Eu só acho tudo isso muito perigoso. Eles são só três crianças e a Magrí, ah, uma excelente atleta, com um potencial...

- É. Jonathan tem razão. Magrí é uma das melhores atletas que já treinei. E se ela não aparece no campeonato a minha fama de técnico não vai nem para o ralo mais. Vai direto para o esgoto! – o técnico da equipe de ginástica olímpica do Elite afundou o rosto em suas mãos algemadas.

- Eu até entendo vocês, mas isso aí não é nada perto da investigação que eles foram fazer. Vocês precisam entender isso. Vocês sabem que não vamos machucá-los. Só precisamos que liguem para o diretor e confirmem que está tudo bem por lá, está bem? – disse Andrade.

- Mas, seu detetive, e as nossas famílias? Precisamos avisar que estamos bem.

- Está certo, seu doutor. Vocês podem fazer o que quiserem, menos, estragar tudo, é claro. Vocês não são prisioneiros, são apenas nossos cúmplices. Podem dormir na minha cama, comer minha comida e ver TV a cabo à vontade – disse Andrade.

- Só com uma condição: bico fechado! – encerrou Chumbinho.

****

O rosto de Peggy se fechou numa careta de estranheza, surpresa e susto. A menina segurou a mão do rapaz e a apertou sob a sua:

- Eu sinto muito.

- Sente o quê?

- Vejo em seus olhos que você sofreu e ainda sofre com essa conversa. Ela te deixou perturbado e irrequieto.

O rapaz esboçou um leve sorriso no canto da boca e deixou escapar uma lágrima do olho direito. A mocinha o abraçou forte e deixou que ele chorasse até que cessassem todas as lágrimas. Então acrescentou:

- Isto não termina aqui. Se seu pai não quer falar, a gente vai os fazer falar.

- Como assim, Peggy?

- Vamos ao Brasil.

Miguel por muito pouco não caiu da cadeira. Levou um bom tempo para perceber que Peggy estava falando muito serio. Quando recuperou a fala só conseguiu dizer:

- O quê?

****


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Notas finais do capítulo

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