_ Você também foi chamado?

_ Não fazemos parte desta família. Vamos fugir? – ele disse humorado.

_ Boa ideia! Você vai primeiro e verifica se a barra está limpa – ela o empurrou porta afora.

_ Me jogando para a toca dos leões primeiro, ham?

_ Cavalheiros primeiro – ela saiu do caminho para que ele descesse a escada.

_ Abram alas!

Asuka desceu sentado no corrimão enquanto Umi o acompanhava descendo rapidamente as escadas, quando ele parou de supetão, ela bateu o nariz na costa dele.

_ Por que parou? – indagou esfregando o nariz dolorido.

O doutor estava de pé, os braços cruzados olhando um tanto confuso de um para outro.

_ Então... Ficaram amigos?

Eles responderam ao mesmo tempo.

_ Não! – ela foi categórica.

_ Mais ou menos – Asuka olhou para ela e disse mal humorado.

_ Hem? Como? – Umi olhou para o garoto surpresa.

_ Acho que devemos ter essa conversa lá dentro – não havia mais humor, ele estava sério novamente.

_ Você não tem poder de decisão nesta família – e para completar o doutor parecia ter pegado o mau humor de Asuka.

_ Pode ser, mas foram eles que me convidaram para participar – balançou os ombros como se fizesse descaso.

_ Conversaremos depois, Asuka – o doutor dera a palavra final.

De modo que o clima estava pesado quando eles entraram na biblioteca.

_ Sentem-se, meus filhos! – a senhora Kaneshiro apontou os lugares, mas somente Umi sentou-se diante deles.

Asuka apoderou-se de uma poltrona do lado oposto em que o doutor se direcionou. Ele aguardava de pé, olhando para fora da janela, a espera do pai se pronunciar .

_ Hum! – o senhor Kaneshiro limpou a garganta antes de prosseguir contrariado e voltar sua atenção para ela. – Não sou de rodeios... Você aceita vir para essa casa?

_ Eu... – olhou para o doutor que estava de costa e para Asuka que parecia indiferente.

_ Deve fazer o que achar melhor para você – a senhora Kaneshiro compreendia o dilema dela.

_ Eu adoraria... – cabisbaixa abaixou os olhos sonhadores.

_ Então assim será – o senhor Kaneshiro bateu as mãos nos joelhos.

_ Quer dizer... Eu teria adorado ter uma nova família aos oito anos quando perdi a todos que amava – ela fez uma pequena pausa e continuou – tenho quase a maior idade. E sinto que só devo mudar meu nome novamente quando encontrar alguém para casar e formar a minha família.

O doutor parecia ter encontrado a serenidade ao olhar para fora da janela. E Asuka estava atento ao que ela dizia.

_ Não quero que tenham uma ideia errada. Apesar de algumas desavenças, eu gostei muito de ter estado aqui. Desculpe por falar de Maya como se a conhecesse, mas dormindo em seu quarto, rodeada pelas coisas que foram dela, eu percebi que ela nunca deixará de ser amada. Isso é óbvio por que eu também nunca deixei de amar meus pais.

As lágrimas surgiam nos olhos da senhora Kaneshiro, que desviou o rosto no colo de seu marido.

_ Eu não poderia prosseguir de onde ela parou, nem resolver os problemas que ela tinha ou realizar os desejos que ela deixou. Eu sou tão diferente... Meu mundo cabia na palma de minha mão e agora está mais assustador. Há tantas coisas novas para aprender, mas eu ainda tenho esperança de consegui-lo.

A voz calma do doutor se fez ouvir atrás dela.

_ Hoje, acompanhei-a até Keio. Ela passou no vestibular para arquitetura. A universidade mantém uma pensão para moças e rapazes que vem do interior para estudar. Nas férias ela pode ficar conosco. Nós podemos ajudá-la do mesmo jeito sem que haja necessidade de forçá-la a entrar para esta família, não acham?

_ Você está sendo injusto... Não queremos forçá-la a nada. – Kaneshiro defendia a si e sua esposa. – Nós faremos o que ela achar melhor para si.

_ Então... A decisão é sua, Mona. O que decidirá? – Asuka se pronunciou pela primeira vez.

_ Eu gostaria muito de ir para a Universidade.

_ Terá essa chance, menina – o senhor Kaneshiro estava decidido. – Estude bastante e quando se formar terá seu emprego garantido se mostrar capacidade.

_ Oh! Eu não teria como devolver toda a bondade que estou recebendo desta família – ela pulou para abraçá-los.

Asuka sorriu e saiu sorrateiramente, mas não foi o único.

_ Nós dois ainda não terminamos – Kenzo pegou no cotovelo do rapaz – venha por aqui.