Lágrimas por Amor escrita por Aki Nara
_ Não sei... Agora já não tenho mais certeza de absolutamente nada.
_ Pretende desistir?
_ Não! – Takako viu o marido arregalar os olhos ao vê-la tão decidida. – Talvez tenhamos começado isto pelos motivos errados. Kenzo tinha razão, nós queríamos uma bengala para nos manter em pé. Tomei a consciência que Umi não é Maya durante o jantar. Ela jamais teria sido tão sensata ao expor suas razões.
_ Sim... Nossa filha era legre, vivaz e mimada. Ela teria dado um belo tapa em Asuka. E por um momento cheguei a pensar que Umi fosse fazê-lo...
Eles riram ao relembrar de alguns momentos da filha. Era bom sentir saudades sem a companhia da dor. Quem sabe Umi estivesse agindo como um bálsamo na ferida recente da família.
_ Sinto que ela será uma boa companhia para mim. É uma boa menina... Você não acha? – ela tentava convencê-lo através da súplica em seu olhar.
_ Ela parece ser uma boa garota.
_ Às vezes você é tão cauteloso...
_ Considerarei este comentário um elogio. Afinal a cautela manteve os negócios da família. Então... Prosseguiremos com a adoção?
_ Creio que isso não depende de nós. A decisão final deve partir de Umi.
_ Claro. A noite foi de modo geral agradável, mas preciso me recolher... A senhora me acompanha?
_ Certamente.
Algo naquela noite havia mudado para eles. Um sentimento de leveza os acompanhava enquanto subiam para seus aposentos.
x-x-x
Na manhã seguinte, o primeiro dia do ano amanhecia frio. A neve era linda enquanto caía, mas ao cair no chão tornavam-se enlameadas. Umi parou diante do quadro de aprovados e procurava seu número.
_ 763... – ela estacou surpresa. – PASSEEEEIII! – ela virou-se para abraçá-lo totalmente histérica de felicidade.
_ Parabéns “pequena rosa do mar”! – o doutor batia levemente em suas costas.
_ Oh! Céus. E agora? O que vou fazer?
_ Terá a oportunidade de cursar a Universidade que quer.
_ Mas...
_ Nada de mas... Conversaremos quando for a hora. Agora preciso ir. Saberá voltar?
_ Sim, saberei. Não fica longe de metrô.
_ Então... – beijou-lhe a testa. – Até mais tarde.
_ Até. – sussurrou feliz. Seria possível realizar todos os seus sonhos? Enquanto olhava-o se afastar em direção ao estacionamento, ela pensava que sim.
x-x-x
Asuka finalmente conseguiu um trem para voltar de Osaka. Ele caminhava cabisbaixo com a mochila em suas costa como se carregasse o peso do mundo neles. Havia tido tanta esperança na noite anterior quando a neve dominava as ruas.
Alguns carros sem corrente deslizavam perigosamente nas ruas e somado ao fato de ser véspera de ano novo, a rua principal estava congestionada. O trânsito o teria prendido por horas e foi assim que decidiu.
_ A que distância estamos da estação?
_ Quatro quadras, meu senhor – o motorista informou-o.
_ Tenha um Feliz Ano Novo, Kato! Voltarei pelo metrô.
_ Igualmente, Asuka-sama. Tenha cuidado.
_ Pode deixar – o garoto fechou a porta colocando a mochila na costa e sumiu no meio da multidão.
E agora, ele olhava para o papel amassado em suas mãos. Quanto manuseara aquele papel nos últimos minutos? Agora faltava verificar apenas um. O endereço anterior o levara para a casa de uma senhora idosa em Osaka, porém o transplante havia sido entre familiares.
Leu novamente o endereço. Kodomo no Sono. Um orfanato. De repente lembrou-se da órfã na noite anterior. Aquela garota metida o transformara num garoto birrento. Era fato. Maya morreu e nunca a veria de novo. O que faria caso a encontrasse a pessoa que se apoderou de seus olhos?
Ele saiu do metrô, andava tão concentrado em seus pensamentos, sem prestar a devida atenção ao redor, tanto que dobrou a esquina para dar de encontro com uma pessoa que caiu ao escorregar.
_ Desculpe! – ele estendeu a mão automaticamente, mas quando a pessoa caída entrou no foco de sua visão contraiu as mãos voluntariamente para dentro dos bolsos da jaqueta.
_ Você tem o costume de esbarrar nas pessoas e ficar só olhando?
_ Só quando me divirto em ver a falta de coordenação e habilidade em algumas pessoas normais – ele cruzou os braços para assistir as tentativas dela sem sucesso.
Umi não esperava ajuda, mas a neve endurecia estava lisa por demais, fazendo-a se desequilibrar várias vezes.
_ Poderia me ajudar se já acabou de se divertir?
_ Falta apenas a palavra mágica.
_ Por favor?!
Asuka escondeu um meio sorriso de divertimento e daquela vez ajudou-a a se manter estável para que pudesse estar de pé com as próprias pernas.
_ Obrigada – agradeceu contrariada.
_ Por aqui – segurou na mão dela forçando-a a caminhar ao seu lado.
_ Espera. Você está caminhando muito depressa. Assim vou cair de novo.
_ Estou caminhando normalmente. Você que é muito lenta.
_ Eu tenho meus motivos. Por que não me deixa? Eu me viro sozinha.
_ Aproveite que estou tendo um surto de caridade.
Ela sorriu para si mesma olhando-o meio de lado, pois só conseguia ver-lhe o perfil compenetrado. Ele era divertido, talvez apenas tivessem se conhecido no lugar e na hora errada.
_ Pronto! Está entregue.
_ Você mora por aqui?
_ Está tentando saber onde eu moro para não ter que cruzar meu caminho de novo? – ele ergueu a sobrancelha.
_ Pois é... Nunca se sabe – corou por ele ler seus pensamentos, mas não esperava ouvir a risada que se seguiu.
_ Eu estava brincando... – Asuka ainda tentava conter o riso. – Você é bastante sincera. Fique sossegada. Eu moro a duas quadras daqui.
_ Ah! Tudo bem – suspirou aliviada.
Ele se aproximou encostando-a na grade. Asuka era tão alto quanto o doutor e se sentiu ameaçada a vê-lo pousar o braço na grade e se curvar sobre ela. Umi instintivamente havia pegado a bolsa para cobrir-lhe o rosto deixando apenas os olhos a vista, pois a intenção era ter qualquer objeto que a salvaguardasse dele.
_ Eu não mordo... Sabia? – ele ficava mais bonito e muito mais simpático quando sorria.
_ Mas ontem me pareceu que sim.
_ Por falar nisso... Lembrei que não durmo desde ontem. Acho que é melhor ir, antes que a minha lista de defeitos aumente, fico muito mal humorado com sono.
_ Então, bom descanso.
_ Até mais... Como é mesmo que você se chama?
_ Pode me chamar de Mona. É meu apelido.
_ De Mona Lisa?
_ É... Por que todo mundo acerta?
_ Associação coletiva?
_ Talvez... Vou entrar – tentou abrir o portão, mas ele nem se moveu. Voltou-se para ele sem jeito com uma enorme vontade de enterrar a cabeça no primeiro buraco. – Não quer abrir.
Asuka apertou o interruptor se esforçando para não dar novas risadas.
_ Okada-san? Pode abrir para nós? – ele apontou para câmera escondida e acenou.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Pelo jeito as dúvidas dos Kaneshiro se dissiparam. Será que as dúvidas de Asuka e Umi se dissipam? xD