Crônicas De Hogwarts I escrita por Ennaz


Capítulo 4
Turma de 2020


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-se pela demora. As razões serão explicadas nas notas finais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/214674/chapter/4

Recapitulação dos capítulos anteriores:

O chão e as paredes do quarto tremeram repentinamente. Temeu que o teto caísse sobre a sua cabeça. Um relâmpago iluminou o cômodo com uma claridade tão forte e ofuscante quanto o sol, por uma fração de segundo. O trovão explodiu em seus ouvidos, quase o ensurdecendo. Ele então acordou. Sobressaltado, e suando frio.

[...]

- Sem dúvida, vocês não se encontram no ano de mil e novecentos e setenta e quatro, sem dúvida, nem no ano de noventa e oito. Nem no mesmo século. Muito menos no mesmo milênio, como a Srta. Castle observou. Mas vocês se encontram, neste exato momento, no dia trinta e um de agosto de dois mil e vinte.

- O que?!

- Dois mil e vinte?

- Tudo isso?

- Menos do que esperava. – disse Rute, levando os outros a ficarem surpresos com ela e fazer Tiago se perguntar se ela era normal.

[...]

- Bem... eu também custei a acreditar quando acordei. Mas aí eu encontrei os livros aos pés da cama. As edições de dois mil e vinte. Ainda não acreditando, coloquei o uniforme e tentei acordar vocês dois, mas vocês reclamaram de dor de cabeça, não quis discutir, também estava muito abatido. Então desci para tomar o café da manhã. Me encontrei com as meninas. Fomos juntos para o salão principal. E no salão Principal, encontramos a Prof.ª Harrison reclamando em bom e alto som com o Prof. Longbottom na mesa dos professores, que seu nome saíra Prof.ª “filho de Harry” por causa da pena-revisora velha que ela tinha. E que a pena-copiadora copiara o mesmo erro em todos os horários de aula, e que ela tinha que fazer tudo de novo, porque não tinha visto. Por causa dos cinco alunos do passado que eles não contaram que teriam que surgiram repentinamente no dia anterior.

Tiago acordou de vez. Sentou-se na cama e encarou Remo sem querer acreditar no que ouvira, mas acreditando.

- O que você disse? – perguntou.

- Ótimo, ele acordou.

- Dê uma olhada em seu novo material.

Então ele viu.

Em seu criado-mudo. Uma pilha de dez livros. Caldeirão. Telescópio. Balança. Frascos. Kit de poções. Penas e tinteiros. Vestes novas. Em fim. Tudo que um aluno bruxo de Hogwarts precisava para sobreviver um ano inteiro na escola.

- Vamos, vista-se.

- Como a Seleção será realizada as sete, creio que poderemos relaxar até lá. Daí colocamos os uniformes e nos misturamos aos alunos.

- Vamos. As meninas estão nos esperando para aproveitarmos o nosso último dia tranquilo.

Finalmente entendendo que tudo o que ele passara no dia anterior não fora sonho. Tiago bufou irritado. E se levantou. Pronto para começar um novo dia estranho.

Enquanto isso, a quilômetros de distância para o sul, no pequeno povoado de Hood, nos arredores da Floresta de Sherwood. Rua Maid Marian, número sete. No segundo quarto do último andar da casa de quatro andares. Naquela manhã do dia primeiro de setembro de dois mil e vinte. Alvo Severo Potter amarrou o cadarço de seu tênis. Pegou seu malão e a gaiola de sua coruja: Frigga. E desceu. Pronto para o início de seu quarto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Capítulo 4

Turma de 2020

Os Potter formavam a família mais famosa da história atual bruxa. Harry Potter, o Sr. Potter, se tornara famoso quando sobreviveu à maldição da morte do bruxo mais poderoso e perigoso do século vinte com apenas um ano de idade. Ganhando apenas uma peculiar cicatriz em forma de raio na testa. Ficou ainda mais famoso ao sobreviver à segunda maldição da morte e finalmente derrotar o terrível bruxo. Harry Potter, o grande herói de guerra do século vinte. O pilar principal da esperança por um dia livre de Voldemort, o terrível bruxo das trevas que assolava Grã Bretanha. Aquele que matou Voldemort e sobreviveu duas vezes; suas alcunhas. Hoje ele era o Chefe do Quartel-General dos Aurores.

A Sra. Potter, por sua vez, teve seu nome conhecido primeiro por ser a namorada, noiva e, posteriormente, esposa de Harry Potter. Ginevra Potter, outrora uma Weasley, tornou-se mais famosa, por si mesma, ao se tornar a artilheira principal e responsável pelas maiores vitórias do time das Harpias de Holyhead de quadribol. Aclamada por fanáticos do esporte, idolatrada por bruxos e admirada por jogadoras aspirantes do esporte. Ginevra Potter não passava despercebida pela multidão. Até que guardou a vassoura de corrida no armário para dedicar-se a família.

O casal Potter tinha três filhos. Não tão famosos quanto os pais, mas de nomes conhecidos.

O mais velho dos três era Tiago Sirius Potter. Seu passatempo favorito era pregar peças. E seu alvo favorito sempre fora seu irmão imediatamente mais novo, Alvo Severo Potter. O último, sendo mais introvertido, tinha uma forma peculiar de pensar. E por último tínhamos a filha mais nova dos Potter. Lílian Luna Potter. Ruiva como a mãe, olhos castanhos cor de avelã e óculos. Tendo doze anos, sempre foi esperta demais para a idade.

Apesar de cada um dos filhos de Harry e Gina Potter ter seu atrativo. A nossa história começa com o filho do meio dos dois: Alvo Potter.

Alvo Severo Potter era um rapaz de catorze anos prestes a embarcar em seu quarto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Tinha cabelo muito negro que, com um pouco de insistência, ficava comportado com alguns fios rebeldes na parte de trás. Ele tinha olhos verdes, como esmeraldas, e usava óculos de aro retangular e armação preta. Sua altura não era muito superior aos garotos mais baixos de sua idade. Sendo magro, inclusive. Embora seu metabolismo fosse muito rápido, e costumasse comer muito.

- É só uma questão de tempo, e ele vai espichar e ficar mais alto que você. – dizia sua mãe a seu pai com frequência enquanto o assistiam devorar dois pratos cheios de macarrão.

Seu pai concordava enquanto comia.

No entanto ele ainda era magro e baixinho. E tinha de aturar piadinhas como...

- Opa! Foi mal, Al. Não te vi aí embaixo. – disse seu irmão, Tiago, já espichado, ao esbarrar nele de propósito enquanto procuravam pelos seus parentes em meio à névoa densa causada pelo vapor do Expresso de Hogwarts na plataforma nove e meia.

- Me deixe em paz seu projeto de enguia! – gritou em alto e bom som para o irmão que já desaparecera na névoa, dando de cara com sua prima Rosa Weasley.

- O que? – perguntou ela, o dedo em riste de Alvo apontava para sua testa, quase a encostando. Além dela, seus tios Hermione e Rony Weasley e seu primo Hugo, pais e irmão mais novo de Rosa, respectivamente.

Vermelho tal qual um Weasley, Alvo recolheu seu dedo imediatamente.

- Brigando com o seu irmão mais velho? – perguntou sua tia, ela e o marido se encontravam logo ao lado da locomotiva vermelha. Onde, numa das janelas, Tiago apareceu e exclamou para Alvo:

- Ah! Bobão!

E sumiu pelo trem.

Piscando para o que acabara de ver, seu pai sacudiu a cabeça e disse:

- Que bom que os encontramos a tempo.

- Preparado para este ano, Harry? – perguntou o tio Rony, um sorriso zombeteiro brincando em sua face.

Atiçando o interesse de Alvo.

- É... me preparei muito para esses dias... só vou te dizer, ser Auror com toda a certeza é mais fácil que isso.

- Do que estão falando? – perguntou Rosa, igualmente curiosa.

- Logo saberão, crianças. – sorriu a Sra. Potter.

- Essa noite mesmo. – riu tio Rony – Eu e Harry vamos levar os malões para o bagageiro da cabine. Venha, Harry.

Os pais pegaram a bagagem e subiram. As mães logo engajaram-se numa conversa de mãe e dona de casa e de como o tempo parecia correr assustadoramente rápido depois dos dezesseis. Alvo perdeu o interesse pela conversa quando soube que não tiraria nenhuma informação dela, e teve sua atenção capturada por outra. Entre Hugo e Lílian.

- Então é para isso que serve esse tabuleiro mágico do seu irmão? – perguntou Hugo, vendo Lílian mexer numa bonequinha sua. Mudando a cor do cabelo, e tudo mais.

Antes que a garota respondesse, Alvo interviu:

- Não. Não serve só para isso. É apenas um dos aplicativos.

- Ah é? Para que mais serve?

- Também estou curiosa. – disse Rosa.

- Serve para guardar informações, arquivos, e você pode acessá-los a qualquer hora.

- Assim como os computadores trouxas? – disse Rosa.

- Sim. Tirei a ideia deles.

- Como soube disso? Eu tenho avôs trouxas e nem sei para que serve aquilo, direito. – disse Hugo.

- Isso porque você não buscou conhecer. – disse sua irmã.

- E daí? O Al não tem avôs trouxas. Como ele poderia ter contato com isso?

- No Japão. – Alvo explicou – Os bruxos japoneses tem mais contato com os trouxas que os britânicos. Bom, dependendo da região. E em Kyoto a aproximação entre trouxas e bruxos é maior.

- Ah, tá.

- Só queria um jeito mais fácil e rápido de acessar meus arquivos e informações reunidos, e saber onde encontrá-los. O tabuleiro só guarda informações.

- Mas eu pedi pro Alvo colocar algo semelhante ao que os trouxas tem nas máquinas deles. – disse Lílian – Fui para a casa de uma amiga trouxa que tenho e a vi mexer numa bonequinha no tal computador dela. Fiquei muito interessada.

- É porque tem haver com moda e estilismo, não é? – disse Rosa – Você se interessa muito por essas coisas.

Lílian sorriu, assentindo.

O trem apitou, e os pais desceram rapidamente, dizendo:

- Vão entrando, crianças, a viagem para Hogwarts está prestes a começar.

- Não vão querer perder o trem.

- E sem chance de usar o Ford do meu pai, ele é um animal selvagem agora.

- O que?

Tio Rony caiu na gargalhada. Alvo achou que aquilo tinha a ver com alguma história do passado, porque seu pai também ria. E tia Hermione encarava o marido entre irritada e risonha. E sua mãe girou os olhos para o alto, como ela sempre fazia quando os outros falam de algo interessante que aconteceu e cuja ação ela perdeu.

Então sua mãe se virou para Alvo e os outros.

- Comportem-se enquanto estiverem em Hogwarts, crianças. E não quero saber de aventuras perigosas este ano. Fiquem longe do Cálice de Fogo.

- Isso será tão incrível. – animou-se Lílian. – Hogwarts sedia o Torneio Tribruxo este ano! Vai ser um espetáculo e tanto. Todos aqueles perigos, e os húngaros gatinhos, hein Rô?

- Lil, por favor. – Rosa enrubesceu furiosamente.

- Gina, faz alguma coisa com essa sua filha, ela está muito precoce. – reclamou tio Rony, que nunca gostou da ideia de sua filha se interessar por garotos. Na opinião dele, sua filha só poderia namorar a partir dos quarenta e se casar com sessenta. Embora Alvo achou que tinha alguma coisa a mais por trás da história.

O apito soou, e o trem expeliu mais vapor. Jovens e crianças correram para dentro dos vagões e os pais avançaram para as janelas a fim de dar as suas últimas recomendações e se despedir. Os filhos se debruçavam nas janelas para falar com os pais e se despedirem de irmãos mais novos, ou mais velhos que já tinham se formado. Tiago surgiu na janela e gritou:

- Andem logo! Vão ficar pra trás!

- Tiago! Não vá sem se despedir! – exclamou sua mãe.

- Tchau mãe, pai, tios. Nos vemos no Natal.

E sumiu para dentro do trem novamente.

- Ora, eu mereço!

- Esse garoto não vê a hora de se livrar da gente. – comentou seu pai, rindo para a esposa.

- Mas o Tiago está certo. – disse tia Mione, se virando para os filhos e sobrinhos. – Tenham uma boa viagem e se divirtam em Hogwarts.

- Não poderia falar melhor, meu amor.

- Tomem conta um do outro.

- E não se esqueçam...

- A família e os amigos são mais importantes que as casas. O amor é a única coisa que vale a pena, no final das contas.

Alvo sorriu para os seus pais. Nunca admitia... talvez por orgulho ou timidez, mas... ele adorava ouvir aquelas palavras sempre que se despedia deles.

Com um pequeno sorriso no rosto, já dentro da cabine, o bruxinho se debruçou na janela, ao lado de sua irmã e seus primos. E se despediu mais uma vez. Cada uma das crianças acenava para os pais. Assim continuaram mesmo depois que o trem começou a andar. A plataforma se distanciava. Só saíram da janela quando ninguém podia ver nenhum deles.

- Ah! – Lílian deu um suspiro extasiado – Meu segundo ano em Hogwarts! Estou em meu segundo ano em Hogwarts!

E começou a dançar no meio da cabine, sem parar de cantar:

- Meu segundo ano em Hogwarts!

- Nosso segundo ano em Hogwarts! – Hugo se juntou a ela e os dois começaram a dançar como os dançarinos trouxas dos programas de televisão.

- Até que eles tem uns movimentos legais. – comentou Rosa, risonha, para Alvo.

O garoto assentiu, se sentando no assento da cabine. Sua prima o imitou e sentou ao seu lado.

- Não, Hugo, puxe a perna assim.

- Mas assim não consigo.

- Vai ter que treinar. Este ano é de baile de inverno.

- Mas nem vamos poder entrar.

- Se um aluno mais velho nos acompanhar...

E os dois olharam para Rosa e Alvo. Os dois trocaram olhares, e Alvo comentou:

- Ah, que maravilha. Eu, Alvo Potter, entrando no meu primeiro Baile de Inverno acompanhado pela minha irmã mais nova.

- Eu não me importaria de acompanhá-lo, Hugo, mas eu acho que você é novo demais para um baile. – disse Rosa.

E os dois fecharam as expressões, aborrecidos.

- Irmãos mais velhos chatos. – disse Lílian se jogando no banco, de braços cruzados.

Alvo se levantou.

- Vai procurar a Sumire? – perguntou Rosa, quando ele abriu a porta da cabine.

- Uh! Vai procurar a namorada, é? – zombou sua irmã.

- Não. – o rosto de Alvo queimou. – Ela não é minha namorada. Eu vou procurar meus amigos.

- Então se vir o Escórpio e a Iris, diga a eles onde estou. – Rosa o empurrou para fora e fechou a porta na sua cara.

Alvo piscou pra porta, embasbacado. E foi embora.

Caminhou pelo corredor do trem. Esbarrou e encontrou com conhecidos e velhos amigos. Cumprimentando-os pelo caminho. Procurando saber o que passou da vida deles. Verdadeiramente interessado. Deparou-se com pessoas que não lhe agradava e fingiu não vê-los. Até que encontrou uma das pessoas que ele apenas aturava a existência...

- Escórpio Hyperion Malfoy. – disse ele olhando nos olhos cinza-prateados do Malfoy.

- Alvo Severo Potter. – Malfoy retribuiu o desprezo.

Sim. Era ele. Pálido. Loiro. Cabelo penteado todo para trás. Magro. Não muito mais alto que Alvo, mas, mesmo assim, mais alto. Esse era Escórpio Hyperion Malfoy. O cara que ele era obrigado a aturar porque sua prima, de algum modo, contraiu amizade com ele. E Alvo achava que Rosa era inteligente. Vá entender a cabeça de uma garota.

- E aí primo?

Mais um que Alvo era obrigado a aturar. A maior surpresa do milênio. Ninguém jamais esperou algo como aquilo. Constantino Dursley. Não, você não leu errado. É Dursley, mesmo. Corpulento. Grande. Três cabeças mais alto que Al. E com uma ideia estranha de que as privadas gostam de cabeças humanas.

- Constantino.

Constantino Dursley e Escórpio Malfoy tinham se tornado amigos, ninguém sabia como nem porque. Todavia, sempre eram vistos juntos.

- Soube que você foi pro Japão, de novo – disse o Dursley, bem alto, dando um forte soco amigável no ombro de Alvo, e chamando a atenção de todos que passavam – com aquela sua namorada japonesa. Como é mesmo o nome dela? Sumíre? Sumíra?

- É Su-mi-.

- Ah, ok, Súmíre.

Alvo girou os olhos para o outro lado. E buscou paciência esforçadamente dentro de si.

- Onde a Rosa está? – perguntou Escórpio.

Alvo ficou com vontade de dizer que não sabia. Mas se o fizesse, sua prima encheria sua paciência até ele não aguentar mais e fugir para as ilhas Fiji.

- Na nossa cabine. Dez cabines para baixo.

- Agradeço. A gente se vê em Hogwarts.

- Digo o mesmo.

- Tchau, Al.

E eles se separaram. Alvo subia o trem e Escórpio descia.

Um vagão e duas cabines mais tarde, ele finalmente encontrou seus amigos, todos os três reunidos numa cabine.

- Al! – o menor de todos se atirou nele. Era Mabel Price.

Baixinho. Pequeno. Parecia uma criancinha de tão pequeno e infantil que ele era. Tinha cabelo loiro fino e cacheado. E grandes e brilhantes olhos azuis.

- Oi, Mabel.

- Mabel ficou preocupado. Al não chegava. – dizia Mabel com a sua vozinha açucarada. – Ólie apostou que Al chegaria antes do trem partir. E Broo disse que Al ia perder o trem.

- Não me chame de Broo, Mab. – Brooke jogou dois sicles de prata para Óliver.

Brooke era o mais alto dos quatro. Seus ombros estavam mais largos e seus braços mais fortes desde a última vez que Alvo o viu. Seu cabelo negro estava na altura de seu queixo. Tinha olhos azuis-claros e sempre estava pronto para uma briga sem magia.

- É isso que se ganha por apostar contra um amigo. – disse Óliver, pomposo.

Já Óliver era um cavalheiro. Não que ele não brigasse. Ele brigava, mas ao estilo lorde inglês. Seu cabelo castanho-escuro estava sempre repartido para o lado e bem penteado. E suas roupas costumam ser de linho, ou simplesmente sociais.

- Mabel disse que Al chegava a tempo, mas Mabel não apostou. – Mabel subiu para os ombros de Alvo.

- Esperto. Não se arrisca investimentos e riquezas em coisas como jogos de azar ou apostas. – Alvo o parabenizou.

Mabel sorriu orgulhoso.

- Mas ele teria ficado dois sicles de prata mais rico.

- E eu quatro sicles mais pobre.

Alvo riu divertido. Era com eles que se sentia mais a vontade, fora a família.

Sentou-se com Mabel e começou a conversar com os amigos sobre as coisas que lhe acontecera durante a sua última temporada no Japão. Dos últimos jogos de quadribol. Passando para o último campeonato de quadribol de Hogwarts em que Lufa-lufa vencera. Lembraram-se que não teriam quadribol aquele ano por causa do torneio tribruxo que seria sediado em Hogwarts. Especularam sobre quem seria escolhido campeão de Hogwarts. E que escola venceria aquele ano. Lembraram-se do ano passado, em que o torneio foi sediado em Beauxbatons e a escola vencedora fora a própria escola sede. E acabaram conversando sobre a ex-professora de DCAT, e sobre quem tomaria o seu lugar.

Em dado momento, a mulher do carrinho dos doces surgiu à porta da cabine e ofereceu as guloseimas. Juntos, os quatro compraram sapos de chocolate, varinhas de alcaçuz, balas de menta, tortinhas de abóbora, bolo de caldeirão, feijõezinhos de todos os sabores, animais de gelatina, entre outras coisas. Comiam enquanto conversavam e a locomotiva vermelha atravessava cidades, aldeias, prados e campos verdejantes, com vacas, ovelhas e outros.

O sol saiu do nascente, ficou acima do trem e se tornou poente. As luzes nos vagões se acenderam em torno das quatro horas, quando já começava a ficar escuro. A noite caiu e o expresso começou a desacelerar. Os alunos novatos eram os mais agitados e corriam pra cima e pra baixo, atrás de suas coisas para trocar as roupas ou simplesmente para extravazar a tensão. Então Alvo se lembrou de um detalhe, quando seus amigos começaram a por suas vestes.

- Droga, deixei o meu uniforme no meu malão. Vou ter que correr para a cabine da minha prima.

- Mabel vai esperar Al para Al e Mabel pegarem a mesma carruagem!

Gritou Mabel quando Alvo já corria trem abaixo.

Certamente uma das regras mais ridículas para Alvo era o de não correr nos corredores. Mas quando ele esbarrou numa garota e caiu estatelado e feiamente no chão, em meio ao movimentado vagão com mais primeiranistas que outros vagões, ele começou a repensar em seu conceito sobre a regra. Pior foi cair por cima da garota. O pior era a garota. E o pior que ela sempre andava com outra garota que costuma tirar fotos de tudo que acontece a sua frente. E o pior ainda é que a fotógrafa não perdeu a chance.

Alvo viu um clarão e ouviu o som de uma máquina fotográfica e soube que seu momento constrangedor fora registrado. Vermelho, ele saiu de cima da colega dizendo:

- Me desculpe.

- Só se você conseguir uma entrevista com os seus pais para o jornal da escola. – ela pôs o cabelo atrás da orelha num movimento suave – ou sair comigo no próximo passeio para Hogsmead.

E piscou um de seus olhos muito claros para Alvo.

Essa era Rossana Window. Excelente chantagista, fofoqueira e muito intrometida. Ela tinha o dom de distorcer os fatos do jeito que quisesse. Tinha cabelo loiro-prateado longo e liso, que cacheava nas pontas. Era pálida e sempre costumava usar batom vermelho vivo. Ser jornalista e repórter da escola era a função dela. Uma das funções que o pai de Alvo sempre lhe dizia não existir em seu tempo de estudante. Quem pensou na ideia certamente não imaginou que Rossana Window surgiria.

- Depois a gente fala sobre isso. – Alvo se levantou, espanando a poeira de suas roupas.

Ela estendeu a mão para que a ajudasse a levantar. Alvo, resignado, atendeu ao pedido dela.

- Muito obrigada, você é um cavalheiro. – sorriu para ele.

- Creevey – Alvo se dirigiu para a fotógrafa – poderia fazer a gentileza de não mostrar essa foto para as pessoas? Ou dá-la a mim?

- Mas, Al, a foto vai ficar ótima no anuário da escola. Todo mundo adora rir das coisas engraçadas.

Outra ideia nova: O anuário de Hogwarts. Ideia da Prof.ª Harrison. Ela gostava de recordações e queria que todo mundo gostasse também. Às vezes parece que a professora quem comanda a escola, e não o diretor. Alvo soube que também fora ela quem surgira com a ideia do jornal da escola entre outras.

- Não. Sem anuário da escola. – Alvo tentou pegar a máquina fotográfica.

- De jeito nenhum. – a garota desviou.

Cora Creevey era uma menina baixinha e pequena. Era magrinha. Tinha cabelo castanho-claro cacheado ligeiramente cheio. Seu passatempo favorito era fotografar momentos. E não abria a mão de nenhuma foto que tirasse.

- Pode esquecer. Nem tente me convencer. A foto vai sair no anuário.

- Eu posso lhe dar a foto se você sair comigo, ou me arranjar uma entrevista com um dos seus pais. O que vier primeiro. – Rossana sorriu para Alvo ao intervir.

Ela era a única que conseguia persuadir Cora a abrir mão de uma de suas fotos. As duas o encararam esperando pela resposta. O trem estava mais lento. Alvo ponderou na possibilidade de uma entrevista de seu pai ou de sua mãe com Rossana antes do anuário escolar sair. Infelizmente, o passeio a Hogsmead estava mais perto. Então, contrariado, respondeu:

- Vamos juntos para Hogsmead. Ok?

- Tudo bem. Mas já vou avisando que terá a foto depois do passeio. Tchauzinho, Al, e vá logo por o seu uniforme.

Meio irritado e frustrado por ter sido chantageado, o bruxinho virou as costas para as garotas e voltou a correr até a cabine de sua prima. Dessa vez tomando cuidado para não esbarrar em ninguém. O trem já estava ainda mais lento quando finalmente chegou a sua cabine. Encontrando apenas Constantino, Escórpio, Rosa e Iris, amiga da última, na cabine.

- Aonde foram Lílian e Hugo? – perguntou.

- Foram atrás da Rox. – disse Rosa.

- Olá Al. – Iris acenou.

- Oi, Iris. – respondeu, procurando suas vestes no malão. – A gente se fala melhor depois.

- Deveria ter se trocado antes. – disse Rosa.

- Concordo – Escórpio se intrometeu.

- Eu só ponho as minhas vestes no trem, mas assim que entro. – disse Constantino. – Fica estranho andar na rua, em meio aos trouxas, usando roupa bruxa. Eles ficam olhando como se eu fosse louco.

- Eu sempre uso roupas bruxas. Meu pai detesta me ver de roupas trouxas. – disse Escórpio.

- Minha mãe não liga nenhum pouquinho.

- Nem a minha. – disse Iris.

- Vocês são mestiças.

Alvo pegou suas vestes de Hogwarts e se dirigiu para o banheiro mais perto. Onde se trocou. O trem já estava parando na Estação de Hogsmead quando Alvo saiu do banheiro e foi guardar suas roupas no malão. Na cabine, Escórpio, Rosa, Iris e Constantino ainda discutiam o assunto das roupas trouxas versus roupas bruxas. Trancou seu malão. Deu um petisco a sua coruja. E voltou correndo para a cabine de seus amigos. Conseguiu desviar de todo mundo que apareceu a sua frente. E entrou na cabine no momento que o trem parou.

- Chegamos! – Mabel pulou em cima de Alvo e subiu para os seus ombros. – E Al chegou a tempo de ir com Mabel, Ólie e Broo.

- Não me chame de Broo. Soa muito estranho.

- Vamos logo. – disse Alvo, quando os monitores abriram as portas dos vagões, organizando a saída dos alunos.

A todo o momento, enquanto encaminhavam-se pela plataforma para a estrada, Alvo olhava para os lados. Procurando Sumire. Acenou para Rúbeo Hagrid, ele se encontrava do outro lado da plataforma reunindo os alunos do primeiro ano.

- Mabel vê uma carruagem!

Apontou o menor dos bruxinhos.

Alvo seguiu a direção indicada por Mabel e logo encontrou as carruagens puxadas por testrálios – que ele podia enxergar desde o dia das bruxas de dois mil e dezessete. Achou ter visto duas longas tranças negras entrarem numa carruagem. Sabia que era sua amiga Sumire, por causa das fitas violeta e lilás entrelaçadas nas tranças. As fitas tinham sido um presente de Alvo no último aniversário da garota. Não tinha como confundir. Mas o seu carro já partira.

Aproximando-se da diligência mais perto, se encontraram com duas amigas e colegas de casa.

- Olá, garotos. – disse Hedviges Blyth, uma bela quintanista sorridente de cabelos negros cacheados que chegavam até a sua cintura fina, sendo seguida por sua amiga Jasmin Adams. – Podemos ir com vocês?

- Claro.

- Damas primeiro. – Óliver abriu a porta se curvando respeitosamente para as duas.

Rindo animadas, elas entraram. E Mabel desceu de Alvo para se sentar ao lado delas.

Óliver subiu na frente de Alvo e Brooke, afirmando que apenas meninas mereciam seu cavalheirismo. Brooke entrou por ultimo e a porta se fechou sozinha.

Por estar de frente para Jasmin, Alvo foi o primeiro a reparar no distintivo com um grande “M” sobreposto ao brasão da Sonserina, preso sobre o peito de Jasmin.

- Jas, você foi escolhida monitora?

Ela sorriu ao afirmar.

- Que legal.

- Eu teria apostado nela, se alguém apostasse comigo. – disse Óliver.

- Mabel gosta da Jas como monitora.

- Agradeço pelo apoio, Mabel. – disse Jasmin, pela primeira vez. Seus olhos azuis estranhamente brilhantes e a voz intrigantemente baixa e grave despertaram as suspeitas em Alvo de que ela andara chorando. Alvo não ousou perguntar, até porque Hedviges sutilmente sinalizara para não fazê-lo.

Jasmin era uma garota atraente de cabelos ruivos lisos que iam até os ombros. Tinha olhos azuis-claros amendoados e rosto cheio de sarda, como o rosto de qualquer ruivo. Alta e magra. Não era incomum vê-la quieta e introspectiva, mas tinha olhar firme e decidido, jamais temendo enfrentar alguém mais forte para conseguir o que queria ou para defender seus ideais. Não era popular entre os alunos puristas da Sonserina por ser nascida-trouxa. Mas era admirada pela outra parte da Sonserina que não era purista. Em suma: Jasmin era uma garota forte. Todavia havia um assunto que sempre a desarmava. O mesmo que mexia no fundo do âmago da alma de Óliver. Por essa razão, Alvo não se surpreendeu quando o amigo reagiu...

- Recentemente aperfeiçoei um feitiço de transfiguração ensinado pela Prof.ª Harrison. – disse Óliver, – querem ver?

- Mabel quer!

- Que feitiço? – perguntou Brooke.

- O último dado pela professora.

- Ah! Duvido, é um feitiço muito difícil! Só o Al, a prima dele, a Yamamoto e o Malfoy-Bundão conseguiram!

- Quer apostar, meu caro amigo apostador?

- Aposto dois sicles que não consegue!

- Eu aposto dois sicles de prata que consigo, e com excelência!

- Apostado! – ambos apertaram-se as mãos.

Óliver puxou sua varinha do bolso e, após se concentrar brevemente, proferiu:

- Rose!

Uma bela e perfumada rosa de corola vermelha brilhante e caule e folhas verde escuro, sem espinhos, surgiu da ponta de sua varinha. Transfigurada diretamente do ar. Promessa cumprida. A rosa era mais bela e ainda mais perfeita que a última de Alvo.

- Ah! – o queixo de Brooke caiu. Fazendo Mabel rir.

- A rosa é para a senhorita Jasmin Adams. – Óliver ofereceu a flor. - Infelizmente não sei transfigurar ar em jasmim, pois senão a senhorita estaria segurando uma belíssima e perfumada jasmim alva ao invés de uma rubra e inofensiva rosa.

- Muito obrigada, Óliver. Vocês, sem dúvida, fazem tudo valer a pena. – disse Jasmin, um pequeno sorriso em seus lábios, ao pegar a flor.

- Eu também quero uma. – Hedviges fez bico ao pedir.

Eles riram. E Óliver repetiu o feitiço. Logo Hedviges e Jasmin portavam uma rosa, cada uma.

Os testrálios puxaram a carruagem pela estrada de terra, passando pelas estátuas de javalis alados do portão principal. Continuando a subir ininterruptamente. Sem sinal de cansaço, até que chegaram aos pés da escadaria de entrada do castelo.  A porta do carro abriu sozinha, e Alvo, seus amigos e as meninas desceram.

Alvo achou ter visto alguém os espiando de uma das janelas da torre mais próxima. Mas seja quem fosse, logo desapareceu. Julgou que devia ter sido um dos fantasmas, ou até Pirraça ansioso por mais um ano cheio de pegadinhas com os alunos, então não deu muita importância ao que viu. Subiu, com os amigos e Hedviges, a escadaria da entrada. Jasmin ficou para ajudar com os alunos que saíam das carruagens, por ser monitora. Entraram no Hall. Hedviges se separou dos garotos para se juntar a uma amiga. Seguiram o fluxo de alunos, administrado pela Prof.ª Harrison, que na ocasião usava vestes verde-esmeralda com desenhos de rosas douradas e óculos de cantos puxados e armação de ouro. Além das unhas pintadas também de ouro.

- Vamos! Vamos! Vamos! – ela batia as mãos, apressando os alunos. – Sr. Price não se esqueça de descer do Sr. Taylor quando for se sentar!

Mabel acenou para a professora, enquanto se pendurava em Brooke.

Mal entrou no Salão Principal quando Alvo foi abordado por seus irmãos que diziam, agitados:

- Você viu?

- O que?

- Cara, isso é um pesadelo!

- O que?

- Isso só pode ser maldição!

- Ou praga!

- Esperem.

- Minha vida social já era!

- Esperem! – gritou para os seus irmãos, eles o encararam surpresos – Do que é que vocês estão falando?

Os dois o encararam como se ele estivesse doente.

- Ué? Você não viu?

- Está logo ali, sentado à mesa dos professores fingindo ouvir o Prof. Slug falar. – Tiago apontou.

Alvo o viu, então. Exatamente como seu irmão descrevera. Sentado ao lado do Prof. Slughorn, fingindo ouvir o que o professor de poções tinha a dizer. Estava seu pai, Harry Potter. Alvo e seus irmãos não tiraram os olhos dele até que ele os viu e acenou. Um sorriso tranquilo e feliz por vê-los ali. Os três acenaram de volta. Alvo sentiu um estranho misto de alívio com ansiedade e total confusão.

- O pai do Al! – exclamou Mabel, acenando animadamente para o Sr. Potter. Sendo retribuído.

- Essa é demais. – comentou Brooke, sorrindo divertido.

- Acho que ele é o novo professor de DCAT. – disse Óliver.

- Você acha? – perguntou Lílian.

- Bem, é o mais lógico. A nossa professora antiga foi reduzida a cinzas. – e lançou um olhar sugestivo para Alvo.

- Ela queria o meu corpo. – defendeu-se, Alvo.

- Correção, ela queria o corpo da Sumire. O amante dela é que queria o seu corpo. Não foi assim que você explicou?

- O que estão fazendo parados aí? – a Prof.ª Harrison surgiu atrás deles – Vão. Vão se sentar com as suas respectivas casas. Sonserina com Sonserina. Grifinória com Grifinória. Não é hora de vocês conversarem entre si. Oh, essa é boa, isso soou tão engraçado.

Deixando a professora deles rindo do que quer que fosse, cada um foi se sentar à sua mesa. Tiago e Lílian com a Grifinória. Alvo, Brooke, Óliver e Mabel com a Sonserina.

Mabel desceu dos ombros de Brooke, para se sentar entre ele e Alvo. Da mesa da Sonserina, Alvo vasculhou as mesas com o olhar. Viu a Prof.ª Hughes, de feitiços, conversar com a professora de herbologia, a Prof.ª Field na mesa dos professores. Encontrou a dona das mesmas tranças negras que vira entrar na carruagem, sentada à mesa da Lufa-lufa. Mas infelizmente ela estava de costas para ele, de modo que sequer pode cumprimentá-la de longe. Apenas constatar que as tranças estavam tão longas que quase chegavam ao chão.

O fluxo de alunos que entravam no Salão foi diminuindo a medida que mais grupos chegavam e se sentavam. Não demorou muito para apenas faltar os monitores, e estes entrarem. Louis Weasley, o primo meio francês e parte veela de Alvo entrou com os monitores aquele ano. Logo se sentando com os seus amigos, Tiago, Fred e Monise Jordan. Mais alguns minutos se passaram. O zum-zum não cessava, nem entre os professores. Até que finalmente, a Prof.ª Harrison entrou com a nova turma de Hogwarts: a turma de 2020. E o salão se silenciou.

Quarenta alunos estranhamente baixinhos significaram para Alvo que ele estava crescendo, mesmo que mais lentamente que os demais.

A Prof.ª Harrison liderou a fila dupla de novos alunos até a frente do salão. De frente para a mesa dos professores. Diante deles, a professora colocou o velho banquinho de três pernas e o mais velho ainda Chapéu Seletor sobre a mesinha. As atenções de todos se voltaram para o velho chapéu mágico. De repente, para o espanto de alguns alunos novos, um rasgo abriu-se no chapéu, como uma boca. E a peça começou a cantar em tenor.

Grifinória!

Corvinal!

Lufa-lufa!

Sonserina!

Qual dessas casas você estará?

Grifinória, Corvinal, Lufa-lufa ou Sonserina?

Na Grifinória há guerreiros de sangue-frio,

Nobres bruxos apaixonados, corações ardentes, carregados de amor,

Cujos desafios eles enfrentam mesmo estando cheios de pavor.

Na Corvinal a sabedoria e o conhecimento são seus valores,

Seus mistérios, adorados amores,

Corações repletos de enigmas.

Na Lufa-lufa, ao serviço, há o amor,

Grandiosos humildes corações, sem medo do ardor,

A caridade nunca falha, meiguice sempre encanta.

Na Sonserina desistentes não existem,

As metas, sempre alcançadas,

Busca ás satisfações, nutridas ambições.

Essas são as casas.

A qual você pertencerá?

Não se sabe...

Até que eu aqueça...

Sua cabeça!

O chapéu terminou a canção em voz de tenor, em seu mais alto tom. Estendendo a última linha até que a findou. O Salão rompeu em aplausos, houveram gritos e assobios, e o Chapéu Seletor agradeceu a cada uma das cinco mesas. E permaneceu imóvel como qualquer chapéu. Sorridente e animada, a Prof.ª Harrison pos-se diante dos novos alunos. Segurando o pergaminho com a lista de nomes, disse a eles:

- Ao ouvir seu nome, sente-se no banquinho, ponha o chapéu e espere ele anunciar sua casa. E então, dirija-se à mesa correspondente à ela. Ault, Cecília.

Uma menina pequena de cabelos escuros andou hesitante até o banquinho e se sentou. A Prof.ª Harrison pôs o chapéu sobre a sua cabeça que afundou-lhe até os olhos, e houve silêncio por um momento. Até que o rasgo do chapéu se abriu, e anunciou em alto e bom som:

- Grifinória!

A mesa com a bandeira vermelha e dourada da casa aplaudiu e assobiou, animados e calorosos para com a recém-chegada. Claro que antes o uniforme preto de Hogwarts assumiu as cores e os símbolos da Grifinória na frente de todos, antes da garota tomar seu lugar. Uma novidade do século vinte e um desde que a Madame Malkin faleceu, e seus descendentes não souberam ou não quiseram manter o negócio. No lugar dela, como a alfaiate oficial de Hogwarts, entrou a nova empresa e rede de lojas de moda bruxa, a Glamour e Mágica Escarlates. Todavia a dona da empresa era uma estilista excêntrica. Que adorava renovar modelos e mexer com as tradições. Destemida, ela propôs um uniforme que ela vendia com gravatas totalmente pretas e, com pontas de metal onde ficava o brasão de Hogwarts, que mudavam de cor quando o aluno era selecionado de acordo com a casa. No caso das meninas, a saia também mudava de cor e ficava xadrez.

Então, quando Cecília Ault foi selecionada para Grifinória, sua gravata preta mudou, magicamente, para vermelha. A ponta de metal da gravata ficou dourada e o brasão de Hogwarts foi substituído pelo da Grifinória. E sua saia preta plissada ficou xadrez, com faixas e linhas vermelhas e douradas se intercruzando no fundo preto. No cós da saia o brasão de metal se transformou no brasão da casa. Assim acontecia com os novos uniformes de Hogwarts.

Alvo olhou para sua gravata verde com ponta prateada com o escudo da Sonserina. Ninguém podia negar a que casa pertencia. Estava na gravata e, no caso das meninas, na saia.

A seleção prosseguiu, com cada um dos novos quarenta alunos sendo selecionado para uma casa. Os uniformes mudavam de cor. A gravata da Corvinal ficava azul e a ponta era de bronze com o escudo da Corvinal. Lufa-lufa tinha a gravata amarela e ponta preta de metal com o brasão da Lufa-lufa.

A última aluna foi chamada. Verônica Young foi para Lufa-lufa. A mesa dos canários a receberam com aplausos enquanto o uniforme mudava de cor e sentava junto a eles. A Prof.ª Harrison enrolou o pergaminho e recolheu o banco e o chapéu. Alvo olhou para o seu prato dourado vazio, estava faminto. Mas esperou o Prof. Neville Longbottom se levantar e iniciar o jantar.

Longbottom abriu os braços, um largo sorriso presente em seu rosto redondo.

- Bem vindos! Sejam todos bem vindos! Este ano, como todos já devem saber, é especial. Afinal é a vez de Hogwarts sediar o Torneio Tribruxo. Mas isso é assunto para depois do banquete. Por agora, gostaria de anunciar que cinco alunos novos vão se juntar a nós.

Um burburinho se instalou no Salão.

- Por que não entraram com os outros alunos novos? – Alvo ouviu Brooke perguntar ao seu lado.

Como se o professor o tivesse ouvido, ele respondeu:

- Eles não entraram com os alunos do primeiro ano porque eles não são do primeiro ano. Eles vão entrar no quarto ano.

Mais burburinho. Desta vez, um pouco mais alto. A Prof.ª Harrison teve que intervir. Com um estampido da varinha. Fazendo os alunos se calarem novamente.

Com todos em silêncio, o Prof. Longbottom continuou:

- Como vocês devem ter notado, a Prof.ª Harrison continua em pé, com um pergaminho novo na mão. Ela chamará os cinco alunos novos, um a um. E eles se sentarão à mesa da casa que foram selecionados mais cedo. Por ser um caso especial. Gostaria que a Grifinória os recebesse, a cada um deles, pois todos os cinco foram selecionados para a Grifinória.

A mesa mencionada explodiu em aplausos entusiasmados. Era a primeira vez que Hogwarts recebia alunos diferenciados, que entrassem diretamente para algum ano acima do primeiro. Significava que a casa tinha, agora, cinco alunos a mais que as demais. Até o momento tinha sido números estranhamente equilibrados, na quantidade de alunos em cada casa e ano.

A Prof.ª Harrison fez a mesa dos leões se calar novamente, mas foi difícil. Eles eram muito animados.

- Então, Prof.ª Harrison, queira começar, por gentileza?

A professora assentiu, e limpou a garganta ao desenrolar o pergaminho. Então chamou o primeiro nome:

- Blake, Sirius.

Um garoto de cabelos negros entrou pela porta atrás da mesa dos professores. Muitas garotas suspiraram ao vê-lo. E a mesa da Grifinória o saudou animadamente, ele se juntava a eles.

- Castles, Rute.

Desta vez, uma menina de pele cor de oliva e cabelo liso escuro longo, entrou. Seu uniforme já tinha as cores da Grifinória. E a mesa a saudou.

- Eva, Lílian.

Agora era uma garota ruiva, que pareceu a Alvo bastante familiar. A garota se sentou ao lado de Rute Castles, sob aplausos.

- Luck, Remo.

O novo garoto entrou, e Alvo o achou muito parecido com Teddy. Mas Teddy sempre gostou de brincar com a sua metamorfomagia. Então não seria estranho, se por um acaso, ele tenha assumido o rosto daquele garoto alguma vez.

- Potier, Tiago.

Quando o novo garoto apareceu. O Salão ficou em silêncio. Não houve aplausos, fora alguns poucos que logo morreram. As cabeças viravam de Alvo para o novato, do novato para Harry Potter, e de Harry Potter para o novato novamente. Assim, o novato encontrou Alvo. E a sua reação ao vê-lo foi a mais estranha e inesperada possível. Primeiro ele pareceu confuso. Então aparentou ficar chocado. Então, fechou a cara, como se ficasse furioso, e andou a passos fortes, até a mesa da Grifinória. O tempo todo lançando olhares raivosos para Alvo.

- Reagiu melhor que eu esperava. – disse a Prof.ª Harrison, sua frase ecoando pelo salão, enrolando o pergaminho novamente. Logo ficando corada.

E o burburinho recomeçou, dessa vez com mais força que antes.

- Você viu, Al? Ele é igual a você. Só o cabelo que é mais bagunçado. – disse Óliver.

Teve que concordar.

- O que a professora queria dizer com “reagiu melhor que eu esperava”? – perguntou-se.

- Vai entender como ela pensa. – Brooke deu de ombros.

PAF!!

O estampido soou bem alto.

Na mesa dos professores, ainda de pé, diretor Longbottom encontrava-se com a varinha erguida.

- Agradeço pela atenção de todos. Agora que terminamos a cerimônia da seleção. Que todos desfrutem do delicioso banquete de abertura.

Então bateu palmas e se sentou. No mesmo instante em que a comida surgia em todas as mesas.

Rosbife, galinha assada, costeletas de porco e carneiro, pudim de carne, ervilhas, cenouras, molho, ketchup e docinhos de hortelã materializaram-se nas travessas diante dos alunos. Causando espanto em muitos alunos novos.

Enquanto Alvo se servia de costeleta de porco, teve a já conhecida desagradável sensação de ser observado pelo fantasma da Sonserina, o Barão Sangrento. Sentiu a comichão na nuca, e soube que alguém falava dele. Uma forma engraçada de detectar conversas sobre ele. Um origami de pássaro pousou em seu cabelo. Pegou-o e o desdobrou. Havia uma mensagem que dizia: “Muita engraçada, essa sua cara, por causa do Barão Sangrento, irmãozinho. Os alunos novos, que são meus xarás, aliás, estão rindo a beça”.

Alvo olhou para a mesa da Grifinória, onde viu seu irmão e seus primos, Fred e Louis, rirem dele com os dois alunos novos que tinham sido chamados de Tiago e Sirius. Meio aborrecido por ser motivo de piada para pessoas que nem conhecia, decidiu ser exibido por um momento. Dobrou o pedaço de pergaminho ao meio e segurou uma das pontas com os dentes. Sentindo o gosto de pergaminho e tinta, assoprou. O pergaminho se despedaçou no ar, flutuando meio a esmo por entre as velas, nunca se deixando queimar. Os pedaços brancos ficaram violeta. E se transformaram em pétalas de violeta. Chamando a atenção dos alunos e professores. Até que as pétalas começaram a descer para a mesa da Lufa-lufa e se juntaram, formando violetas inteiras bem diante de Sumire, a garota de longas tranças negras que Alvo sempre procurou observar.

A maioria das garotas suspirou encantada, e as amigas de Sumire riram animadas. Embora não houvesse reação da própria. A garota apenas parou por alguns segundos até que voltou a comer. Porém, a nuca branca dela ficou ligeiramente vermelha. Rindo-se satisfeito, Alvo voltou a comer. Um tempo depois, quando todos já tinham esquecido o lance das flores, Alvo recebeu um bilhete de seu irmão pedindo para lhe ensinar o truque. Alvo negou numa resposta. Enquanto isso, Brooke, Óliver, Mabel, Fred, Louis e Monise riam da situação.

Quando os alunos terminaram de comer o rosbife, e os outros pratos principais, as sobras deixadas nos pratos sumiram. Os deixando limpos por um momento. E as sobremesas surgiram. Tijolos de sorvete de todos os sabores que se possa imaginar, tortas de maçãs, tortinhas de caramelo, bombas de chocolate, roscas fritas com geleia, bolos de frutas com calda de vinho, morangos, gelatinas, pudim de arroz, e muito mais.

Alvo se serviu de gelatina de framboesa. Enquanto isso, lançou mais uma vez seu olhar sobre a mesa dos professores. Encontrou seu pai comendo tortinhas de caramelo, bastante satisfeito, enquanto Slughorn não parava de falar com ele. Viu o diretor Longbottom claramente cansado de ouvir a Prof.ª Harrison reclamando de alguma coisa. Viu a Prof.ª Hughes sorrir gentilmente para a diretora substituta enquanto a ouvia também. A professora Field sorriu sapeca para ele, como se ambos partilhassem de um mesmo segredo, embora o garoto não soubesse qual.

Seu olhar recaiu sobre a mesa da Lufa-lufa repousando em Sumire, desejou que ela se virasse para ele, pelo menos uma única vez aquela noite. Então Óliver e Brooke começaram a discutir sobre o campeonato nacional de quadribol da Grã-Bretanha. Assunto que interessava a Alvo, por isso ele voltou sua atenção para eles. Discutindo as melhores jogadas e falando dos melhores jogadores.

Ao final do jantar, o bruxinho já se sentia cheio. As sobremesas desapareceram deixando os pratos dourados limpos. O diretor, por fim, falou os detalhes sobre o Torneio Tribruxo daquele ano. O que era sempre dito. Como a idade permitida ser mais que dezessete anos. E a chegada das diligencias das duas escolas.

- E antes que eu me esqueça – disse ele quando findou o assunto do Torneio Tribruxo – como vocês devem ter percebido, hoje, presente conosco se encontra o Chefe do Quartel-General dos Aurores, Harry Potter. Como eu ainda não obtive êxito ao encontrar um professor de DCAT competente, pedi ao meu amigo que me quebrasse esse galho e lecionasse a matéria durante esse ano. Garanto-lhes que ele será um excelente professor para vocês, e que o respeitarão. Deem as boas vindas ao novo professor, Prof. Potter. Obrigado.

Houve aplausos.

- Muito obrigado, senhores. Agora, como sempre devo anunciar aos novos alunos e refrescar a memória dos antigos, de que é terminantemente proibido entrar na floresta nos arredores das propriedades da escola. Também não é permitido fazer feitiços e qualquer tipo de magia nos corredores. E que a partir de hoje, também é proibida a pratica da guerra de lesmas amarelas, conforme o pedido da zeladora Srta. Arewhere. Aqueles que quiserem saber quais são as outras práticas proibidas, vide a lista posta nos murais de recado da escola. Assim dou como encerrada a cerimônia de abertura do ano letivo em Hogwarts este ano. Que todos tenham uma boa noite de sono e não se atrasem para as aulas e nem se percam pela escola amanhã. Obrigado. Podem ir.

Os novos alunos da Sonserina seguiram Jasmin para as masmorras, em direção ao salão comunal da Sonserina. Alvo, sonolento e cansado, levantou-se com seus amigos e seguiu com seus colegas de casa para as masmorras. O amontoado de alunos se dividiu em quatro no saguão. Cada um seguindo uma direção. Corvinal e Grifinória subiram a imponente escada. Lufa-lufa passou por uma passagem escondida por uma tapeçaria. E Sonserina desceu uma das escadas para as masmorras.

Sempre descendo, passando por corredores cavernosos, úmidos e escuros. Até que formaram uma fila que diminuía a medida que cada grupo dava a senha e a parede lisa de mármore se abria. Chegando na sua vez, Alvo disse a senha: Sibilar. E ele e o grupo entraram na enorme e luxuosa sala comunal da Sonserina. Ela continuava a mesma de sempre. A iluminação esverdeada deixava o local escuro. A única lareira do lugar não aquecia a sala uniformemente. E a luz da lua quase cheia que atravessava as águas do lago e entrava pelas janelas submersas bruxuleava de acordo com o movimento das águas do lago.

Era uma visão incrível que eles tinham do lago, já que de vez em quando a lula-gigante passava lançando sua gigantesca sombra sobre eles.

Alvo admirou a paisagem por um breve momento antes de seguir seu caminho para o seu dormitório.

- Alvo, pessoal, finalmente encontrei vocês, hein? – Cícero Goyle, um garoto da idade de Alvo e dividia o dormitório com eles, os alcançou no corredor para o dormitório masculino. Tinha cara de buldogue e corpo de gorila, seus braços eram compridos demais e ele andava encurvado. Era um dos que Alvo tolerava a existência, pois não tinha escolha.

- É...

- Parece que você esteve nos procurando o tempo todo, hein, Cícero. – disse Óliver, mancando com a sua bengala.

- Pois é. Infelizmente fui pego pelo grupo do Bole e não pude sair de perto deles até agora.

- Ah, imagino.

Eles chegaram à uma grande porta de ébano decorada com desenhos de serpentes onde se lia um letreiro dizendo: 4º ano.

Eles entraram e se viram novamente no quarto com a grande janela para o lago e cinco enormes camas de dossel. Seus malões já tinham sido colocados com suas camas. Pensando em guardar as suas coisas amanhã, Alvo buscou seu pijama no malão e se trocou, sendo seguido pelos outros. Nem conversava, de tão cansado que estava. Finalmente vestido com o pijama, se deixou cair na cama e se cobriu. Fechando as cortinas que bloqueavam a luz da lua e abafava o som da conversa.

Não demorou muito para pegar no sono.

Continua...

No próximo capítulo:

Em sua primeira aula do ano, Alvo se depara com a presença indesejada de Tiago Potier e Sirius Blake. Eles estarão se dando bem ao final da aula?

Quem seria essa Sumire que Alvo sempre busca observar?

Qual seria o tipo de relação entre eles?

Que tipo de garota é Sumire?

E Alvo?

Descubram as respostas no próximo capítulo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora, as razões pelo atraso:
1 - O quarto capítulo funciona como um primeiro capítulo, já que começo a contar a história pelo ponto de vista de Alvo. E como muitos devem saber, começar o primeiro capítulo é sempre difícil.
2 - É o maior capítulo que escrevi até agora.
3 - Enquanto escrevia, tive muitas responsabilidades e tarefas a cumprir, que tomaram o meu tempo.
4 - A criatividade me abandonou em alguns momentos.
5 - Comecei a ler mangás, que tomaram ainda mais tempo meu. Mas foi o que acabou me ajudando, afinal.
Meu lado otome (feminino de otaku) acabou que influenciando no planejamento da fic. Inclusive, uma das personagens ganhou esse traço de personalidade, a deixando mais peculiar. Ademais, os mangas que passei a acompanhar são shoujo (para garotas entre 12 e 18 anos), e quatro títulos se tornaram meus favoritos, listando logo abaixo na ordem de preferencia:
1. Skip Beat (até fui atrás do série live action na internet, surpreendentemente profundo e divertido e muito bom para pegar algumas dicas para criação de personagens, e se prestar bem atenção, ainda é capaz de aprender a planejar uma história)
2. Kaichou wa Maid-sama (planejo procurar algum live action, uma história que vai se aprofundando a medida que avança, e as tramas são resolvidas)
3. Natsume Yuujinchou (tem yokais como tema, embora trate de amizade, sentimentos e laços profundos)
4. Special A (um romance divertido de acompanhar)
Não sei quantos de vocês gostam de mangá, mas caso haja alguém, já fica a dica de quais mangás shoujo eu recomendo.
Quem já leu algum deles e perceba alguma semelhança entre eles e a fanfic... não é mera coincidência.