Ilusão.com escrita por Ingrid Fonseca


Capítulo 7
Meu amado psicopata


Notas iniciais do capítulo

Ultimo capítulo (:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/214363/chapter/7

Levantei-me em um pulo e me gemi de dor.

- O que houve? – Hugo perguntando preocupado – Você caiu?

Eu limpei os joelhos e as mãos e não o respondi.

- Vamos para casa fazer um curativo? – Hugo disse amigavelmente esticando a mão para pegar a minha mão.

- Não – Recusei – Não irei a lugar algum com você...

- Por quê? Eu fiz algo errado? – Ele murmurou e me lançou um olhar encantado.

Aquele olhar. Ah! Como era lindo... Balancei a cabeça tirando aquele olhar da minha mente e abaixei os olhos – evitando olhar para os olhos de Hugo.

- O que você fez de errado? – Murmurei – Você matou pessoas...

- Quem te disse isso?

- Eu descobri  sozinha – Menti.

- Perfeito! – Ele sorriu – Agora não teremos mais segredos, teremos uma relação confiável com amor e carinho.

- Uma relação confiável? Você matou pessoas... Matou seus pais...

- Ah! Gabi, meu amor, meus pais eram horríveis. Eu sei que o certo é amar os pais, mas seria hipocrisia  minha dizer que os amava.

- Mas isso não é motivo para matar-los.

- Não os  matei por que não os amava, eu os matei por que eles queriam me enfiar para o hospício novamente e eu não aguento mais aquele lugar, passei toda a minha vida naquele forno.

- E por que você matou a Emily?

- Gabi, Emily era uma cretina que só queria o meu dinheiro. A matei pois ela me traiu com outro.  Viu? Eu não sou tão mal assim.

Olhei para os olhos deles e perguntei com firmeza:

- Onde está Karina?

- Karina logo estará em um lugar melhor.

- Deixe-a ir – Implorei.

- Ela sabe demais, querida.

- Eu também sei.

                - Mas eu te amo – Ele gritou – Eu te amo e nunca a machucaria.

                - Se você encostar  um dedo em Karina, você me machucaria de um jeito tão cruel que eu morrerei por dentro.

                - Minha querida – Hugo deu um passo para frente e eu dei um passo para trás – Karina nunca nós deixará viver juntos em paz, nunca seremos felizes se ela ficar viva.

                - Quem disse que ficaremos juntos? – Disse enojada.

                - Vo... Você não me ama mais? – Ele disse com uma voz de choro.

                Não o respondi, não conseguia responder. Eu o amava, o amava demais que não ligava que ele havia matado os pais. Mas ninguém, ninguém, tocaria em nenhum fio de cabelo de Karina.

                - Você me ama, né? – Hugo abriu um sorriso maligno – É você me ama.

                - Eu sempre o amarei... Se você deixar Karina ir, eu ficarei contigo para sempre.

                - Você ficará comigo para sempre, no entanto eu não deixarei Karina ir... Sinto muito minha flor, mas as coisas são assim.

                Ouvi um grito sufocado vindo da caminhonete. Meu corpo todo congelou. Olhei por trás do ombro de Hugo e vi que havia um pano azul cobrindo algo.  Karina – foi meu primeiro e único pensamento. Voltei a olhar para Hugo.

                - Desculpe querido, você está certo – Balancei a cabeça e sorri – Karina, só nos trará problemas.

                Hugo sorriu para mim orgulhoso e veio me abraçar.

                Peguei a faca rapidamente e a segurei – escondendo por trás das minhas costas.  Hugo abriu os braços para me abraçar.

                - Se afaste – Disse apontando sem jeito a faca para ele.

                Ele fechou a cara, fez um olhar decepcionado e depois sorriu.

                - Você não tem coragem de me machucar...

                Ele estava certo. Eu nunca conseguiria machuca - lo, mas se fosse preciso eu teria que fazer, não tinha opção. Nunca deixaria Karina sofrer por algo que eu sou responsável, se eu estivesse a ouvido antes eu não estaria aqui agora.

                - Tenho sim – Menti – E se for preciso eu te machuco.

                - Você mente muito mal – Ele disse sorrindo – Vem cá e me dê um abraço.

                - Não.

                Olhei para a caminhonete, não estava tão longe. Eu poderia correr mais rápido do que ele e pegar o carro...

                Corri para caminhonete sem pensar direito. Hugo me puxou pelo braço e me puxou para os seus braços – a faca estava quase escorregando da minha mão.

                -Solte-me – Gritei.

                Tentei sair dos braços dele, giramos um pouco, consegui segurar a faca com firmeza, mas não consegui me libertar – Hugo era forte demais. Dei uma joelhada na virilha dele, mas ele ainda me segurava forte. O empurrei, porém não adiantou em nada, ele ainda me segurava.

                O empurrei novamente e ele segurou minha mão forte.

                Tudo ficou escuro novamente, abri os olhos lentamente.  Hugo e eu estávamos no buraco. Hugo em cima dos pais dele e eu em cima dele.  Olhei para faca em minha mão.

                - Hugo? – O chamei ao meio do choro.

                A maldita faca estava enfiada no peito de Hugo, próximo ao coração.

                - HUGO? – O chamei novamente, mas agora chorando.             

                O balancei, o chamei, bati de leve no rosto dele, mas nada funcionava, ele não me respondia. Senti a respiração dele, não havia respiração.  O coração dele não estava batendo. Hugo havia morrido.

                - Hugo, querido – Chorei em cima dele por alguns segundos – Karina!

                Lembrei que ela ainda estava na caminhonete.  Levantei-me limpei as lagrimas e comecei a escalar novamente. Quando cheguei ao topo, corri para a caminhonete, tirei o pano azul e vi minha pequena e doce Karina toda encolhida com os braços e pés amarrados e a boca tampada com várias fitas adesivas.

                - Karina – Disse chorando e tirando cuidadosamente a fitas da boca dela.

                Ela me olhou assustada e as lágrimas começaram a cair. Tirei a ultima fita da boca de Karina e desamarrei as mãos dela.

                - Ele... Queria me matar – Karina murmurou.

                - Eu sei, eu sei.

                Disse a abraçando forte.

                - Onde ele está?

                - Morto – Murmurei sem vida.

                - Ai – Karina gemeu de dor – Ele quebrou minha perna.

                **

                Estávamos em um hospital particular em Belo Horizonte. Karina fez alguns exames e colocou o gesso. Dona Maria fugiu com todo o dinheiro de Hugo.  Eu tive que dá depoimentos sobre o que aconteceu, depois de três horas sentadas e falando a mesma coisa para os policias consegui sair e fui direto para o hospital ver como Karina estava e aproveitei e fiz alguns curativos.

                Karina estava acordando lentamente. Quando os olhos dela se abriram por inteiro, fui para o lado dela.

                - Oi – Murmurei – Como está se sentindo?

                - Bem... Onde estamos?

                - Em um hospital em BH.

                - Ah! – Karina fechou os olhos e os abriu lentamente – Pode colocar aquele travesseiro em baixo do meu pé?

                - Claro.

                Fiz o que Karina havia pedido, ajeitei o travesseiro e coloquei debaixo do seu pé com gesso.

                - O que aconteceu? – Karina murmurou – Como Hugo morreu?

                Contei cada detalhe para Karina, cada momento, cada sentimento. Karina, pela primeira vez na vida, ouviu-me calada prestando toda a atenção no que eu dizia. Depois que eu contei, ela me olhou amigavelmente e murmurou tristonha:

                - Sinto muito... Eu sei o quanto você o amava.

                Calei-me por alguns segundos pensando em Hugo, as lembranças começaram a vim junto com as lagrimas. Depois de alguns minutos, limpei as lágrimas e olhei para o rosto tristonho de Karina.

                - O que houve? Como ele... Pegou você?

                Karina demorou alguns segundos para me responder, deveria está pensando ou lembrando. Eu sabia que era um assunto tenso de conversamos e que seria difícil para ela falar sobre isso. Mas eu queria saber, eu tinha o direito de saber.

                - Eu estava zonzando pela casa quando o encontrei. Ele estava inquieto e andando para lá e para cá... Subi  para o segundo andar para ficar longe dele e vi o quarto dele aberto, como ele estava lá embaixo, eu pensei que poderia entrar por alguns segundos. No entanto, ele subiu logo em seguida, e perguntou furioso o que eu fazia no quarto dele, com aquela pressão, eu não consegui responder  e ele puxou meu braço. Então eu disse para ele não tocar em mim por que eu sabia de tudo... Ai, ele me puxou para fora e...

                - Não precisa mais falar – Murmurei passando a mão na cabeça.  - As coisas não deveriam ser assim...  O Hugo não é o meu Hugo.

                - O Hugo é o Hugo, apenas você não viu, por que estava iludida.

                - Então tudo foi mentira? – Disse ao meio do choro.

                - Não, infelizmente tudo foi verdade.

**

                Alguns dias depois voltei para Corinto – com muito esforço já que meus pais me proibiram de voltar àquela cidade, mas eu queria ir ao enterro de Hugo, eu queria dar o meu ultimo adeus.

                O céu estava nublado e morto, parecia que uma tempestade estava vindo em direção a Corinto. O cemitério estava vazio e apenas eu e o padre estávamos presentes.  O padre falou algumas palavras e se foi, deixando apenas eu e o corpo de Hugo.  Fiquei o fitando por alguns minutos até eu cair no choro, chorei e chorei. Disse palavras de ódio e de amor, disse cinquentas vezes que o amava e quarenta que o odiava.

                Chegou dois homens com macacões sujos de barro.

                - Já se despediu? – Um homem gordo e com o rosto todo avermelhado perguntou rudemente.

                - Sim – Murmurei – Só me dê mais um minuto.

                - Está bem, mas vá logo.

                O homem alto e magricelo que estava ao lado dele deu um soco no ombro dele e fez uma careta.

                - Pode demorar o tempo que quiser – O homem alto disse amigavelmente.

                Os dois homens se afastaram e ficaram debaixo de uma arvore magrela fumando cigarro.

                Cheguei perto do caixão.

                Mexi nos cabelos lisos de Hugo e beijei sua testa suavemente.

                - Adeus – Murmurei e fechei o caixão.

                Os dois homens jogaram o cigarro no chão e foram em minha direção. Enquanto eles colocavam o caixão no buraco fiquei olhando para arvore magrela – era muito difícil ver Hugo se enterrado.  Minutos depois, os dois homens se foram sem dizer nenhuma palavra. Olhei para o chão que minutos atrás havia um buraco e que agora estava coberto por terra escura e molhada.

                Olhei para a arvore magrela novamente e para a pessoa ao lado dela, que estava me observando. Não conseguir ver se era mulher ou homem, a pessoa usava um sobretudo marrom e um chapéu.   A pessoa me fitou por alguns segundos e logo saiu.

                Voltei a olhar para o chão e joguei a rosa vermelha que estava na minha mão. Disse meu ultimo eu te amo e comecei a caminhar pelo o cemitério frio; deixando o meu amado psicopata.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pandas, muito obrigada por terem acompanhado, sério fiquei muito feliz por cada comentário. Espero que tenham gostado da história :DD