– Ah, Mel! Não seja má! - ouvi ele exclamar. Devia estar me seguindo.

Entrei no meu quarto e bati a porta, com sorte teria acertado a cara daquele desgraçado. E foi ai que escutei batidas repetitivas na minha porta.

– Penny! Penny! Penny!

– Meu Deus, o que deu em você, Mason?

– Não sou Mason, sou o Dr. Sheldon Cooper. Agora abra a porta.

Revirei os olhos e abri a porta. Fiquei encarando-o, com uma mão na maçaneta e outra na minha cintura.

Mason entrou sem ao menos avisar e se jogou na cama. Também resmungou alguma coisa sobre estar com sono e sobre minha cama ser confortável.

– Mason, vasa. - ele não respondeu, mas estava acordado. Bufei. - Dr. Sheldon Cooper, poderia sair, por favor?

– Negativo.

– Por que você insiste em me irritar?

– Te irritar? Mas como assim, docinho? - ele perguntou me olhando cinicamente.

Não basta eu estar com a paciência esgotada por causa do acontecido no shopping, ainda tenho que aturar essa peste me irritando.

– Tudo bem, então. - disse enquanto pegava um travesseiro em cima da minha cama. - Vou dar a última chance pra você sair daqui, porque senão…

– Senão, o que?

Dei um sorrisinho despojado e comecei a bater na "peça" com o travesseiro, na expectativa de que ele saísse do quarto. Mas, sem chance disso acontecer.

Ele continuava encolhido em cima da minha cama.

– Não vai sair mesmo, né? - perguntei.

– Você é bem esperta, garota. - ele disse com um esboço de sorriso no rosto.

– Ok, eu me rendo. - fui pegando meu cobertor e travesseiro na cama e caminhando para fora do quarto.

– Onde você vai? - perguntou já sentando na cama.

– Ora, já que você vai ficar aí, eu vou dormir no seu quarto.

*

Acordei com o sol batendo na minha cara. De acordo com o meu celular, ainda eram 7h34 da manhã. Bufei e me cobri até a cabeça com o cobertor vermelho do Mason. O cobertor dele era cheiroso, era meio que uma mistura amaciante com perfume masculino. É uma mistura boa, eu gostei.

Levantei e fui direto ao meu banheiro. Joguei água no rosto e escovei meus dentes. Eu estava com uma aparência terrível! Fiz uma coque meio tosco em meu cabelo e fui em direção a minha cama.

– Acorda, seu imprestável! Sai da minha cama, agora! - exclamei chacoalhando-o.

Mason grunhiu alguma coisa e cobriu a cabeça com o travesseiro. Subi na cama, com cada perna de um lado do corpo dele e gritei:

– LEVANTA LOGO, GAROTO!

– Só se você me chamar de príncipe. - ele falou com a voz sonolenta.

Agora ele olhava para mim, e eu para ele. A diferença é que ele estava com a cara amassada.

Respirei fundo, contei mentalmente até 10 e...

– Levanta daí, príncipe. - ele sorriu.

– O que você disse? Repete mais uma vezinha só. - ele disparou com a voz debochada.

– Levante daí, p-r-í-n-c-i-p-e. - repeti com todas as letras.

– O que você disse, Melina? - meu pai perguntou tentando controlar sua voz. Ele estava de braços cruzados, escorado na porta.

– Eu disse para o "príncipe" acordar, papaizinho.

– Urrun, mas por quê? - pelo visto meu velho ia me zoar pelo resto da minha vida, ou então ia achar que nós… Hm… transamos. Que nojo.

– Porque se não, ele não sairia da minha cama! - respondi. - Vê o tipo de coisa que você me faz passar, Mason!?

Ele riu cinicamente.

– Eu não fiz nada. Estava dormindo tranquilo quando sua filhinha veio que acordar. Além do mais… você já pode sair de cima de mim, lindinha. - fiquei instantaneamente vermelha. Saí de cima do moleque e sentei na cama.

– Mas… pergunte a ele o porquê de ele ter dormido na minha cama.

– Vocês… dormiram juntos?

– NÃO! - gritei, histérica - Nem pensar! Eu… Ele… Nós não… Basicamente, ele dormiu na minha cama e eu na dele… Foi isso.

– Hm, então tá… - Pedro coçou a cabeça e tossiu levemente - Se arrumem… tá? - depois disso, ele fechou a porta devagar, mas logo a abriu novamente, com uma velocidade que me fez pular de susto - MAS NÃO JUNTOS, TÁ?

– PAI! ÓBVIO QUE NÃO, NÉ! - exclamei, enquanto, tampava meu rosto avermelhado com as mãos e escutava a risada sacana de Mason ao fundo.

Assim que meu pai se foi, meu "irmão querido" se levantou, gemeu com o frio e pegou o cobertor. E eu estava sentada no cobertor. O resultado? Um Mason enrolado e quentinho e uma Melina jogada no chão frio.

– Ah, seu idiota. Some daqui, Mason! - eu gritei me levantando do chão, e socando, imediatamente, meu novo "colega de quarto". Eu o escutava gritando e pedindo para que eu parasse, mas eu não o atendi. - Você me mata de vergonha! Sempre! - depois de alguns segundos executando uma sequência de socos e chutes, parei.

– Louca! Foi isso o que você fez com a sua coleguinha no shopping? - ele soltou uma risada fraca. - Tá precisando de uns calmantes, certo, Melina!?

Ele foi se levantando da minha cama e se dirigindo ao seu quarto.

Bufei e coloquei uma mecha de cabelo que se soltou do coque atrás da orelha. Me levantei e fui em direção ao guarda-roupas, de onde tirei uma calça legging preta e uma blusa cinzenta do Evanescence. Abri uma gaveta de onde tirei um par de meias e um conjunto de roupas íntimas, depois fui em direção ao banheiro.

Me despi e logo tomei um banho rápido para não me atrasar, nem lavei o cabelo.

Olhei relógio, já eram 7h59min. Fodeu. Me vesti muito rapidamente, soltei o cabelo e calcei um all-star preto. Peguei minha necessaire de maquiagens e voei escada abaixo. O fato de a escola não ser tão longe era uma grande sorte.

– O Mason decidiu te esperar, ele está na garagem. - meu pai disse - Boa aula, querida.

– Tchau, pai! - corri até a garagem e entrei no carro. - Mason, meu irmãozinho lindo, obrigada por me esperar! - exclamei apertando suas bochechas.

– Menos, Melina… bem menos. - ele disse afastando minhas mãos e pisando fundo no acelerador, ele tentava disfarçar seu rosto ruborizado.

Daí em diante ficamos calados, até chegarmos até a escola. Sem alfinetadas, nem nada. Acho que foi o nosso record.

Quando chegamos, desci no carro e me deparei com Annie, mexendo no celular.

– De nada, mocinha! - o garoto disse se despedindo de mim.

– Obrigad… CARALHO, EU ESQUECI MEU CASACO! - gritei e dei um tapa na minha testa. Então vi Mason rindo e negando levemente com a cabeça. Percebi então que ele andava na minha direção segurando algo branco. Ele me entregou, acenou e entrou na escola.

– O Mason foi legal com você! COMO ASSIM? - Annie gritou. Eu fiquei com a expressão de dúvida na minha cara.

Uma rajada gelada de vento surgiu e eu decidi vestir o que Mason me entregou, que era o casaco que ele costumava deixar no carro. Ficava mais ou menos uns 3 dedos acima dos meus joelhos. Lembra quando eu disse que era alta? Então, eu não sou TÃÃÃO alta assim, tenho 1,59m. E não me chame de baixinha. Acho que altura foi uma das únicas coisas que puxei da minha mãe, ela tinha 1,54m. - Ok, Melina, essa foi a surpresa do dia. Mas ninguém se importa.

O sinal tocou e fomos todos para nossas salas. Tivemos mais um dia normal na escola, exceto por uma coisa, acho que por intervenção divina Mason não decidiu me atazanar hoje, o que me animou bastante.

*

Depois das aulas, eu decidi voltar a pé para casa. O tempo já não estava mais frio, além do mais, havia tempos que eu não fazia certos passeios.

Como eu não tinha nada importante para fazer, resolvi pegar um caminho mais longo. Passei pelo parque. Eu não tivera um dia tão tranquilo há tempos, e eu não sabia como isso fizera falta para mim.

Zachary me viu na escola hoje, mas não pronunciou nenhuma palavra sequer. Ele deve estar sabendo da confusão no shopping. Por deuses, que vergonha! E se ele não quiser mais ir ao baile comigo? Nunca subestime minha capacidade de piorar as coisas - ou de me fazer de coitadinha, porque, né… -.