Menos De Um Segundo escrita por Linny Campos


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



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E lá ia ela, sempre calma, pela mesma rua, sorrindo para quem passava. Aquela que não importasse o que lhe acontece-se, sempre sorria para quem falava com ela. Porem hoje, o sorriso não conseguia ficar em seu belo rosto angelical, de madeixas castanhas que lhe caia sobre os ombros. Seus expressivos olhos verdes estavam cobertos de lágrimas, embaçando a sua visão e lhe dando um ar de merecer pena; ela preferia morrer a ver os olhares e palavras de pena que recebeu em todo trajeto até chegar a sua casa.

Emma, esse era o nome da encantadora moça que derramava suas lagrimas por onde passava.

Já fazia três anos que ela não o via mais, três anos onde aprendeu a superar a perda, a solidão, a tristeza; onde aprendeu a vencer a depressão, a ser menos submissa, a ter coragem...

Sentou-se na escada de seu prédio, mesmo que tenha um elevador em ótimas condições, ela gostava das escadas, traziam lembranças que com o tempo se tornaram doloridas, mas ainda tinha aquele gostinho bom ao relembrar.

Lembrava-se de exatamente tudo, pelo menos para ela era tudo, com o tempo algumas recordações iam ficando difíceis de distinguir, mas ela não se importava. Aquele sorriso que era capaz de deixá-la tonta, ele sabia disso e abusava de sua arma.

Sorriu levemente, lembrando-se de uma conversa que tiveram:

“- Gosto do seu cabelo bagunçado. – disse ele sorrindo e bagunçando os cabelos de Emma.

- Não vejo a graça que isso tem – ela fala tentando usar seu tom de censura, mas não consegue e logo se rende aos caprichos do irmão.

- O que vai fazer quando não estiver mais aqui? – Perguntou ele sério.

Com os olhos em fenda, ela o observa atentamente, e chega à conclusão de que era a hora de falar sério.

- Eu não sei, porque às vezes pergunta coisas assim?- questiona ela.

- Só quero ter certeza que poderei ir em paz para onde Deus me mandar. – sorri fraco.

- você fala isso como se fosse morrer agora, como se não quisesse ficar comigo – seus olhos se enchem de lágrimas, não suporta a idéia de perder o irmão.

- Shhhh, não vou enquanto não estiver pronta – Ele enxuga as lágrimas de Emma.”

“Eu ainda não estava pronta, seu tremendo mentiroso!” Pensa ela.

A noite já caia, o lugar onde estava era pouco iluminado, somente a luz do luar que entrava pelas janelas. Levantou-se lentamente, quase indo ao chão de novo, mas um par de braços a ampara.

- Vamos, te acompanho até sua porta. – O gentil porteiro de cabelos grisalhos e olhos fundos, acompanhou o sofrimento de Emma desde o começo, viu Emma e seu irmão crescer, via diariamente o apego dos dois, o amor fraternal, as brigas (onde os dois rolavam no chão, tentando acertar chutes e socos um no outro).

- Obrigada Jaime, hoje está sendo difícil. – Confessa ela. Pega a chave e tentar acertar o buraco da fechadura, suas mãos tremulas faz com que uma tarefa simples se torne longa e frustrante.

Com alguma dificuldade, consegue destrancar a porta. Entra em seu diminuto apartamento, coloca a bolsa sob a mesinha de centro da sala, joga os sapatos atrás da porta e foi em direção ao banheiro, precisava de um banho para diminuir a tensão de seu corpo e lhe dar um pouco de disposição.

Colocou um moletom velho, sentou no sofá e começou a ler um livro de poesias. Era impossível ler no estado em que estava, não conseguia ver as palavras impressas naquelas folhas amareladas cheirando a mofo, fechou os olhos por um momento e adormeceu, era o melhor para ela.

“- Emma?Emma?”

Às duas da manhã, Emma acorda ouvindo seu nome, ela se desespera, reconhece aquela voz melhor que ninguém, o livro que estava aberto em seu colo cai no chão e ela corre em direção a porta, os olhos atentos, abre a porta, porém nada vê.

-Cadê você? – Ela sussurra.

“-Emma.”

Era a voz de seu irmão, ela sabia, às vezes isso acontecia, nunca soube se era sua imaginação ou se realmente era possível ouvir a voz dele.

Desce correndo as escadas e vai até o saguão, encolhe-se no canto da parede, fecha os olhos por um momento e cochila, um sono leve que não demorou nem dez minutos, acorda com a jaqueta que Jaime coloca sobre ela e aquilo o lembra dele.

“Haviam acabado de brigar, ela queria sair e ele não deixou, alegava que era tarde, mas mesmo assim Emma saiu.

Ele a segue, mas a perde de vista, estava escuro e começava a esfriar, a iluminação na rua era precária. Anda mais um pouco e consegue ver o contorno de Emma em uma esquina, corre até ela e percebe que ela está tremendo.

- Coloca esse casaco – Ele tira seu casaco e o dá para ela.

Emma recusa.

- Vai cuidar da sua vida, me deixa em paz.

- Estou tentando, mas é que minha vida anda fugindo de mim e dando uma de teimosa. – Ele sorri angelicalmente.”

Ergue a cabeça e agradece ao porteiro, se levanta e vai em direção as escadas. Jaime também sai. Quando estava ao pé da escada, escuta o som de passos e volta, no fundo de seu coração, ela queria que aqueles passos fossem de seu irmão, mas ele estava morto e ela sabia disso, ela nutria a esperança de que algum dia poderia, quem sabe, vê-lo novamente andando pelo saguão, fazia tempo que havia partido e aquele som era quase desconhecido para ela.

Subiu as escadas passando as mãos pela parede, para bruscamente ao sentir uma inscrição na parede, passa a ponta do dedo novamente e consegue ler:

Estarei sempre aqui,

Por você.

- Bernardo. – Todas as lagrimas que estavam presas em seus olhos saem em enxurrada, como uma cascata, continuou a subir, mas sua respiração fica fraca, quase sumindo. Ela queria que o devolvessem a ela, ela o procurou em lugares inimagináveis, mesmo sabendo que ele nunca voltaria. Ela precisava controlar aquela vontade de sair por ia, em busca dele.

 Foi direto para seu quarto, pegou uma caixinha empoeirada em cima do guarda-roupa, abriu e tirou um álbum de fotos. Podia parecer masoquismo, mas era uma forma de manter as lembranças ainda vivas dentro de sua cabeça, aquilo a afetava, não o tanto que afetaria se esquecesse completamente do Bernardo. Na capa estava escrito: Bernardo e Emma Valentin, amores da mamãe. Ela abriu, as fotos estavam em mal estado, não importava, Emma ainda conseguia ver os olhos verdes igual aos seus, o cabelo também castanho, eram gêmeos bivitelinos, isso já explicava as poucas, mas não irrelevantes semelhanças entre os dois.

Folheou mais algumas páginas, até que caiu um tecido de dentro do álbum, Emma o olha curiosa e vê que era um pedaço do boné do irmão. O aperta contra o peito e percebe que já não tem mais o cheiro dele, tinha um leve cheiro, quase imperceptível.

O sol já começa a aparecer, é um lindo nascer do sol, contempla Emma. Ela toma um banho rápido, toma um chá de erva-doce e come uns biscoitos, coloca a sapatilha, pega a bolsa e sai novamente. Só que dessa vez, vai para seu refugio, onde pode conversar e tirar todo o peso que tem sobre seus ombros.

Em caminho ao seu refugio era impossível não passar na frente de onde tudo aquilo havia acontecido.

Podia ser considerado um dia comum, até aquele momento, um dia como todos os outros, mas um simples telefonema transformou aquele dia comum em um dia que jamais sairia de seus pesadelos.

Triiim, Triiim.

- Emma Vinnits? – Uma voz tensa pergunta.

- Sim, quem é?

- Sou o policial Thomas, acabou de ocorrer um acidente e...

- Bernardo? O que aconteceu com ele? – Ela interrompe o policial e se desespera.

- O que a senhora é dele?

- Irmã. Diga logo o que aconteceu. – Ela se impacienta.

- Ocorreu um acidente envolvendo um carro e um pedestre.

- ...

- E encontramos na carteira o pedestre, documentos e seu telefone.

- Como ele está?

- A batida foi violenta, o corpo foi encontrado a metros de distância.

- Como assim “Corpo”? – Ela o interrompe novamente.

- Como disse, a batida foi violenta, e ele foi encontrado morto.

- Onde?”

Emma tenta não trazer a memória os acontecimentos que se seguiram a essa ligação, era uma dor imensurável.

Recorda-se que não recebeu um adeus apropriado, pois não haviam se encontrado antes da ligação do policial. Ela não conseguia se conformar com o fato de não ter se despedido de seu irmão, seu adeus foi o abraço de Emma, antes de ser enviado ao IML.

Bernardo havia ido. Emma havia ficado com um coração destroçado que esperou pelo retorno dele como a vegetação espera chuva em tempo de seca, era desgastante e doloroso.

 Uma semana depois...

Jovem morre vitima de acidente de transito.

Emma Vinits, 22 anos, é vítima fatal de um acidente de transito, envolvendo um motorista alcoolizado...

(...)

Ironicamente, nesse mesmo cruzamento, há três anos atrás, Bernardo Vinits, irmão gêmeo da vitima, 19 anos, sofreu um acidente como o atual, que o levou a óbito instantaneamente.

Jaime lia o jornal do dia, com um olhar de extrema angustia, e sabe que o que Emma sempre dizia se concretizou: “- Jaime, um dia eu o encontrarei e passarei a eternidade ao lado dele, que me foi tirado tão repentinamente.”

- É garotinha, você tinha razão. Você o encontrou, eternamente. – Sussurra o porteiro para seus botões.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews?



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