Os Três Mal Amados escrita por Saville


Capítulo 1
O primeiro mal amado - G


Notas iniciais do capítulo

Essa fic veio do nada e simplesmente não saiu mais da minha cabeça. Fiz de coração e espero que gostem.
O poema "Os três mal amados", do João Cabral, foi inspirado no poema Quadrilha, do Drummond, e aborda o fim que as três personagens masculinas João, Raimundo e Joaquim tiveram.
Aqui o Joaquim corresponde ao Gilbert, o Raimundo corresponde ao Antonio e o João ao Francis. Qualquer duvida é só perguntar.



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“O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato...”


Era difícil desaparecer. 


          Para ele, na raras vezes em que refletiu sobre a palavra, desaparecer sempre lembrou vento. Algo suave, quase refrescante, menos humilhante do que merecido. Era, no final das contas, o destino, aquilo que esperava por todos, não importando o caminho trilhado.

No entanto, ele sempre acreditou que seu grandioso eu não desapareceria muito cedo.

 Enquanto os raios de sol penetravam preguiçosos através da janela naquele fim de tarde calmo e quase tedioso, Gilbert permitia-se ser sincero consigo mesmo. E enquanto entregava-se aos seus pensamentos honestos, a constatação do óbvio tornava-se sólida, tão sólida que era impossível não enxergar ali uma pequena ponta de ironia.

Desapareceria não por causa de um grande evento. Sua pessoa, seu eu, aquilo que ele era desapareceria por algo menor, introspectivo, silencioso e sorrateiro. E o perigo residia ali, nas sutilezas de tal sentimento, que aos poucos invadia a vida do prussiano, agarrando-lhe o coração pulsante firmemente, sem misericórdia.

O rapaz sorriu, os lábios arqueando-se amargos. No fim, perdera tudo. E achava graça que o conceito de “tudo” permanecesse quase inalterado, mesmo com o passar do tempo. Muito tempo.

Agarrou as cortinas de um branco quase transparente. Lembrava-se de sua infância, do relacionamento com aquela menina, dos olhos infantis e verdes. Lembrava-se de como os relacionamentos haviam mudado. A certeza de que uma única coisa permanecera constante.

Era difícil desaparecer. O reconforto não existia, nem o descanso merecedor. Pelo contrario, sentia-se ainda mais cansado, mais acuado, mais – ele nunca imaginou que chegaria a ver-se nesse estado – depressivo. O incrível eu era um alegre fantasma do passado, uma sombra que ele insistia em relembrar, tentando criar coragem para adiar o dia que chegara. É agora?

Definhava conforme o sol se punha. Os olhos avermelhados focados no nada. A vida passando como um filme, pela nonagésima terceira vez. E então, quando ele percebeu o breu, a escuridão que tomara a sala, sua mente acendeu-se numa ideia melancolicamente genial.

Desaparecer seria mais fácil. Desse jeito.

“... comeu meu silencio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.”.


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Notas finais do capítulo

Ai está. Espero que tenham gostado. A menina que é citada no cap e que é a pessoa de quem o Gilbert gosta é a Elizaveta.
Os trechos citados no começo e no fim do cap são do poema "Os três mal amados".
Novamente, qualquer duvida, só perguntar.O próximo cap já está pronto e será postado em breve.
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