How You Remind Me escrita por Lizzy Styles


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/213081/chapter/1

Andei no escuro olhando ao redor, a respiração entrecortada de nervosismo e medo. Eu sabia que ele estava atrás de mim. Ele sempre estava. Era algo inevitável. A chuva caia fina, fina e gélida assim como a situação em si. Acelerei mais o passo fechando o casaco para me proteger do frio que fazia, o vento cortava meu rosto a cada passo que eu dava, mas eu sabia que aquilo era um preço pequeno a pagar para fugir dele.

O lado da minha barriga começou a doer e eu ameacei parar de andar para respirar um pouco, mas então lembrei do que sempre acontecia quando se parava assim, eu assistia filmes de terror, eu sabia que sempre que a mocinha parava ela era pega, nada contra roteiros repetitivos, mas eu não estava com vontade de entrar no padrão.

Superei a dor e continuei a andar, não podia parar, aquela era a única frase em minha cabeça, eu não podia parar de andar ou ele me pegaria, eu podia sentir seus passos em meu encalce, cada vez mais perto, mais perto, mais perto....

Corri, a corrida para mim era a única salvação daquela agonia, mas mais uma vez como em roteiro de filme de terror de quinta eu corria e ele parecia sempre estar mais perto, eu podia sentir em cada poro do meu corpo que aquele era o fim. Senti um puxão forte no braço antes de me virar assustada.

–Lizzy? Morreu ou entrou em coma? Faz anos que eu estou te chamando garota, acorda!

Eu nunca conseguira ver aquele rosto, nunca, sempre que ele me virava, que me alcançava alguém tinha que me acordar. Era algo estranho e perturbador ao mesmo tempo, fazia mais ou menos duas semanas que eu tinha o mesmo sonho e era tão real, eu podia sentir o medo, eu podia sentir o toque do homem que me perseguia insistentemente.

–Quem é você? – falei para mim mesma enquanto levantava de má vontade para ir tomar um banho.

–Nossa filha que demora. – minha mãe falou quando sentei a mesa do café ao lado dela e do Ryan.

–Não exagera mãe, nem demorei tanto assim. – falei esfregando os olhos na tentativa de me livrar um pouco daquele maldito sonho, que ódio que eu tinha do Ryan agora por ter me acordado.

–Está com um semblante pesado filha. – minha mãe me encarou, por que ela tinha que reparar em tudo?

–Cansaço mãe.

–Com o tanto que você dormiu? Duvido. – Ryan falou e eu atirei o pedaço de pão que tinha em mãos em sua direção.

–Teve aquele sonho novamente filha? – minha mãe pareceu mais interessada do que o normal me encarando fundo nos olhos.

–Foi sim, o mesmo sonho e eu sempre acordo antes de ver o rosto do cara que me persegue.

–Se você não vê o rosto, como sabe que é um cara?

–Já te mandei ir para o inferno hoje Ryan?

Ele não respondeu, apenas sorriu enquanto voltava para o seu café.

–Filha isso não é normal. – minha mãe começou novamente ignorando o pirralho sentado ao lado dela.

Como se eu não soubesse. Como se eu não soubesse que tudo aquilo era obra da minha mente, que eu estava projetando algo enquanto dormia, mas o que? O que meu cérebro tentava me avisar? Do que ele tinha medo? Do que eu tinha tanto medo?

–Eu já te pedi para...

–Para ir até seu psicólogo, não mãe não vou, é apenas um sonho, algum dia sei que vou parar de tê-lo, é questão de tempo.

–Fazem...

–Duas semanas que eu digo isso. – falei completando a frase dela antes que ela o fizesse e ficando de pé para sair da mesa. – eu sei!

Peguei minha carteira e sai, eu só queria dar uma volta pela cidade, esquecer um pouco aquele maldito sonho, esquecer que minha mãe talvez tivesse razão, eu precisaria mesmo de um psicólogo.

–Lizzy! – escutei um grito e parei no meio da rua olhando o garoto com olhar decidido que se aproximava.

“Lizzy?” desde quando ele me chamava assim? Desde quando ele falava comigo? Desde quando eu me permitia ficar parada no meio da rua esperando um garoto como ele quando tinham vários carros acionando a buzina e ameaçando me atropelar?

–Como você está?

“Como eu estou?” Aquilo não era basicamente a pergunta que eu esperava dele, não mesmo. Olhei ao redor como se não fizesse idéia de que ele realmente falava comigo.

–Eu? – perguntei incrédula enquanto ele sorria na minha direção.

–Sim, você...

Está bem, agora o apresentador pode aparecer e dizer que tudo foi uma pegadinha. – pensei, mas não ia exteriorizar aquele pensamento imbecil.

–O que foi? Quer dizer... – cortei a frase no meio totalmente sem sentido e comecei a caminhar no sentido oposto de onde ele viera.

–Lizzy posso falar com você um minuto?

–Comigo? – me perguntei enquanto ele me seguia, perto demais, perto demais.

–Sim, com você, espera um pouco.

Parei encarando-o, os cabelos negros dançavam com o vento e os olhos estavam fixos em mim, pela primeira vez na minha vida ele parecia me olhar e me enxergar.

–Fala! – falei rápido.

–Eu queria te pedir desculpas.

Desculpas? Pensei enquanto sorria com ar de descaso. Ele queria me pedir desculpas? Que imbecil.

–Desculpas pelo que? Pela Marina? Pela Fátima? Pela Amanda? Pela Andressa?

–Por tudo. – ele falou enquanto eu ainda recitava o nome do time inteiro das lideres de torcida e continuava a caminhar. – por tudo mesmo.

Parei mais uma vez encarando-o. Como eu pude ser tão cega? Como eu não tinha visto no dia em que nos conhecemos que ele era o cara errado? Foram aqueles olhos? Aquele ar angelical que ele transmitia? Talvez sim, talvez não, quem sabe...

–Já acabou? – falei impaciente, eu não queria uma discussão, não no meio da rua, não com ele, eu já estava cansada até da cara dele quanto mais daquela voz repetidas vezes me pedindo desculpas.

–Você nunca vai me perdoar, não é?

–E você nunca vai se dar conta disso? Não preciso te perdoar porque simplesmente você não existe mais pra mim, agora se me der licença realmente preciso ir.

Ele não discutiu, ficou apenas me olhando enquanto eu seguia rua acima na direção da livraria. Pateta imbecil.

–Ei Ian! – gritei antes que ele estivesse longe demais, ele se virou para me olhar e eu lhe mostrei o dedo do meio em um gesto nada digno de uma senhorita educada. – vai se ferrar!

Eu espero que aquele imbecil morra. Eu repetia para mim mesma enquanto entrava na livraria para comprar mais um dos meus livros favoritos, a coleção do Dexter, o serial killer mais amado do mundo.

–Olá Thais, como está o dia hoje? – Stevens perguntou no momento em que pisei na livraria.

–Uma droga! – falei rápido, depois o encarei, Stevens não tinha nada a ver com os meus problemas eu não podia descontar nele. – desculpe, é que...

–Eu vi. – ele falou com um sorriso. – deu para ver daqui quando o Ian te parou na rua.

–Eu não sei o que ele tem na cabeça. – comecei enquanto passava por entre os livros na tentativa de encontrar o Dexter.

–Pois é, depois de tudo, não é?

Eu sorri, o Stevens era um cara legal e tudo o que acontecia naquela cidade pode ter certeza de que ele sabia, as paredes de vidro da livraria ajudavam muito quando o quesito era “cuidar da vida alheia”.

–Pois é. – falei mais concentrada na tentativa de encontrar meu livro. – o Dexter....

–Segunda prateleira a direita. – ele falou sorrindo, eu retribui ao sorriso e segui até lá, lá estava o penúltimo livro da minha coleção prestes a ir comigo até em casa.

–Sua mãe me falou de uns sonhos que você vem tendo. – ele começou como quem não quer nada enquanto passava o livro pelo caixa. – não acha que esses livros podem ter alguma coisa a ver com isso?

–Achei que ia dizer que estou ficando louca. – falei divertida, ele sorriu.

–Não acho, ainda não pelo menos.

Eu sorri pegando o livro e entregando o dinheiro em seguida.

–E como vai o humor para voltar à escola?

Aquilo destruiu o resto de bom humor que ainda me restava.

–Sinceramente? – falei com um sorriso azedo.

–Dá pra notar que não está empolgada.

–Não, faltam duas semanas para as aulas voltarem e eu ainda estou sufocada do semestre passado, odeio aquele lugar!

–Imaginei que gostasse.

Eu o encarei, ele sabia tudo o que tinha acontecido comigo no semestre anterior, não podia estar falando a verdade.

–Acha mesmo?

Ele sorriu, comecei a reparar que eu não estava mais achando graça nenhuma naquela conversa.

–Desculpe.

–Até mais Stevens. – cortei pegando a sacola com o livro das mãos dele e seguindo livraria afora.

Eu estava especialmente mal humorada naquele dia e não estava com vontade de esconder isso de ninguém, continuei andando, dessa vez em direção a minha casa, naquele instante eu só queria mergulhar no meu livro e mais uma vez esquecer que as aulas voltariam dali a duas semanas.

Sentei na cama e abri o livro começando a ler as primeiras páginas, aquele estilo de literatura sempre prendera minha atenção, Dexter era um personagem intrigante, perigosos, misterioso, um lobo em pele de cordeiro, eu me encantava por cada linha escrita.

Li quase a tarde toda, desci para almoçar e voltei a devorar as páginas do livro assim que subi de volta ao meu quarto.

–“Dexter precisava se manter atento, ele precisava...” - meus olhos começaram a pesar nas ultimas linhas, as palavras começaram a ficar embaçadas e eu percebi que precisava dormir.

Duas semanas, duas malditas semanas até o reinicio da tortura, eu já sabia que seria o motivo de comentários e olhares de desprezo pela escola inteira, mas também depois do que eu fizera no semestre anterior...

Comecei a rir, eu ainda podia ver todos aqueles rostos me olhando, alguns satisfeitos, outros aterrorizados, mas com certeza todos estavam surpresos, surpresos com minha coragem, surpresos com minha atitude, como minha imprudência, com a minha repentina loucura.

Fechei os olhos relembrando a cena mais uma vez e por um pequeno instante, quase imperceptível me arrependi, eu podia ter matado ela, podia ter sido expulsa para sempre, mas aqueles vagos pensamentos não aplacaram o ódio que eu sentia, ela se dizia minha amiga e me apunhalara pelas costas, bem eu só devolvi o favor.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem...