24º Capítulo – Vamos “tentar” novamente

Estava realmente com raiva de Megan. Ela estava tentando roubar tudo o que era meu: meus pais, Kevin, e agora, Louise.

Estávamos tomando o café da manhã, e as duas conversavam como se fossem melhores amigas. Terminei o mais rápido que pude, para sair logo dali. Sem falar com ninguém e ignorando os comentários alheios, saí de casa, meio que sem destino. Já distante da casa, me sentei em um meio-fio perto da praia.

– Carter – não ousei me virar, já sabia quem era. Kevin se sentou ao meu lado – Ei, o que está havendo?

– Você ainda tem coragem de perguntar “o que está havendo”? – o olhei – Essas estão sendo as piores férias da minha vida, e é tudo culpa da Megan!

Kevin apenas ouvia.

– Ela está tentando roubar tudo o que eu tenho de mais precioso, e como você quer que eu fique? – disse – E agora Louise está caindo na dela.

– E se eu te contar que Louise já sabe qual é a da Megan? – disse Kevin.

– Sabe?

– Ela quer saber até onde a Megan vai – explicou Kevin – Não se preocupe.

Suspirei, olhando para baixo, me sentindo uma neurótica.

– Ei – ele levantou meu rosto – Você nunca esteve errada, eu faria o mesmo no seu lugar.

O abracei. Era tudo o que eu precisava agora. Talvez minha vida nunca fosse se acalmar, e eu deveria aceitar isso e me acostumar.

– Só me promete que não vai entrar no joguinho de Megan? Não aguentaria ver vocês juntos de novo – pedi.

– Prometo – ele deu um sorrisinho.

Olhei ao longe, vendo que todos vinham para a praia. Olhei para Kevin.

– Tenha calma e tente não matar Megan – ele disse e nós dois rimos.

– Oi – disse Megan ao nos ver.

– Oi – sorri.

– Estão de biquíni? – ela perguntou.

– Estamos – disse Kevin.

– Então vamos para a praia? – ela perguntou animada.

– Vocês podem ir, vou ficar por aqui mesmo – expliquei – Tem uma sorveteria nova por aqui, acho que vou lá.

– Certo – disse Megan e seguiu caminho para a praia.

Olhei para Kevin.

– Pode ir – sorri.

– Nada disso – ele riu – Eu também quero sorvete.

Fomos até a sorveteria, colocando nossos sorvetes. Logo em seguida, nos sentamos em uma mesa. De lá, tínhamos uma boa visão da praia, e da minha família.

– Olha – disse para Kevin, vendo Megan tratar Louise igual a mim – Até meu jeito ela quer roubar.

– Ela quer roubar o seu lugar, Carter – disse Kevin – Evite olhar para lá.

– Ok – assenti, tomando o sorvete.

Depois de meia hora sentados na sorveteria, todos voltaram da praia e passaram pela sorveteria. Megan se virou para a minha mãe.

– Mãe, cadê meu celular? – disse Megan. Espera. Mãe? Quem ela pensa que é? Ela ultrapassou todos os limites e eu não aguentei. Kevin tentou me impedir, mas me levantei, e dei um soco na cara de Megan.

– Isso é pra você aprender a nunca mais se meter comigo e com a minha família – gritei, vendo-a cair no chão. Kevin me puxou pelo quadril, me segurando logo em seguida. Ele me virou, me segurando pelos ombros.

– Carter, para – ele me olhou nos olhos – O que ela está fazendo é errado, sim. Mas o que você está fazendo também é.

Ele me abraçou e eu chorei tudo que estava preso na minha garganta. Sequei minhas lágrimas e me virei para Megan.

– Me desculpa – disse quase sussurrando. Todos que estavam na sorveteria e pela rua nos olhavam.

Louise veio na minha direção, pediu que todos voltassem para casa. Nos sentamos em uma mesa.

– Carter, imagino o quanto seja difícil para você, mas todos nós já sabemos, e estamos tentando fazê-la acreditar que estamos caindo na dela – disse Louise.

– Espera, esse “todos” inclui meus pais?

– Sim.

– Você tem razão em estar como está, não sei nem como ficaria em seu lugar, mas só precisa ter paciência – ela disse – Agora, quando chegarmos, finja que te dei uma bronca, ok?

– Pode deixar – assenti e voltamos para casa.

Megan estava sentada no sofá com um saco de gelo na boca, onde foi o soco. Ia subir para o quarto, mas minha mãe segurou o meu braço.

– Nunca mais faça isso, ela não tem culpa dos seus ciúmes – ela disse e logo em seguida me soltou.

Como não sabia se conseguiria dormir no mesmo quarto de Megan sem matá-la, resolvi que levaria meu colchão para a sala quando chegasse a hora. Fiquei apenas sentada no meu colchão, olhando a paisagem pela janela.

– Toc toc – disse Tom abrindo a porta.

– Oi – disse ao vê-lo.

– Não vou perguntar se está bem porque a resposta é óbvia – ele se sentou ao meu lado.

– Obrigada, me poupa explicações também – disse.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, então ele suspirou.

– Imagino como isso está sendo difícil – ele disse – Mas, todos sabemos que a Megan nunca vai prestar, e devemos parar de sentir por ela e de tentar ajudá-la. É um caso perdido.

– Concordo plenamente – disse – Acredito que ela tenha inveja de tudo que eu tenho, só não acredito mais nela.

– Eu nunca acreditei, nem quando vocês decidiram ajudá-la.

– Como assim? Por que deixou que a ajudássemos? – perguntei, intrigada.

– Vocês não acreditariam, como dizem? “Vamos tentar” – ele fez as aspas com os dedos – Desculpe, estou sendo um idiota.

– Não, não – me levantei – Você acabou de me dar uma ideia!

– Ideia? – ele me olhou confuso.

– Exatamente, vamos “tentar” novamente com ela – o olhei e ele entendeu.

Descemos a escada e Tom ficou ao lado de Louise e Kevin, lhes contando o que faria. Me posicionei na frente de Megan.

– Desculpa, e-eu estava com ciúmes de você com os meus pais – disse a ela – Não devia ter te socado, eu sei, me desculpa.

– Está tudo bem – disse ela – Eu te desculpo, mas não tem motivo para ter ciúmes!

– Eu sei, vamos tentar de novo? Tentar ser irmãs de novo? – perguntei.

– É claro – ela me abraçou e pisquei para os três.