Verdade Ou Desafio? - 9a Temporada escrita por Eica


Capítulo 17
Despedidas


Notas iniciais do capítulo

Ufa! Finalmente!



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Rafael

No que abri os olhos, vi o quarto silencioso. Lucas não estava na cama. Decidi ficar ali mesmo. Ajeitei o travesseiro embaixo da cabeça e fechei os olhos. O cheiro de Lucas estava no travesseiro, por isso dei uma aspirada para senti-lo melhor. Naquele momento, ouvi a porta do quarto. Lucas entrou.

- Que?? Ainda não colocou a roupa? E se minha mãe tivesse entrado no quarto, seu lesado?

Não lhe dei ouvidos e continuei deitado. Ele aproximou-se da cama.

- E ainda por cima tem um rasgo na sua cueca.

- Onde? – indaguei, surpreso, sentando na cama.

Ele riu.

- Não tem rasgo nenhum, a não ser na sua cabeça. Por isso é tão estúpido.

- Tudo o que você diz pra mim é elogio. – falei, levantando da cama e vestindo meu jeans.

- Hoje eu tenho um monte de coisas pra fazer, por isso é melhor ir embora.

- Que? Como é? Está me tocando?

- Meu pai vai precisar da minha ajuda, por conta disso, não poderei lhe dar atenção. Prefere ser ignorado?

- Tá, tudo bem. Eu arranjo algo pra fazer, em outro lugar. – falei, vestindo minha camiseta. – Quer sair mais tarde? Ir ao Pub ou quem sabe ao shopping?

- Não sei. Vai depender de quanto tempo vou demorar ajudando meu pai.

- Quando terminar de ajudá-lo você me liga.

- Certo.

Sem ter para onde ir, voltei para casa – a casa de Leo. Ele não estava e nem mesmo Mick.

- Aaaaaaaaaaaaah, que dia chato!

Como eu sabia que B.B e Marco não estavam em casa, decidi encher o saco de Donatelo e Eduardo, por isso fui até a casa deles. Chegando lá, notei que o carro de Donatelo estava parado em frente da casa (sinal de que haviam saído). Forcei o portão social e ele abriu. Entrei na garagem. As janelas da frente estavam fechadas, assim como a porta (que geralmente é deixada aberta), mas notei que a janela do quarto, que dá para o corredor lateral, estava aberta, então fui até ela.

Chegando em frente da janela, apoiei meus braços sobre ela e inclinei o corpo para frente. Demorou um pouco para o meu cérebro assimilar a imagem de Donatelo PELADÃO sobre o corpo de Duda PELADÃO. Naquele momento, o rosto de Eduardo virou-se para o meu lado e levou uns segundos para me reconhecer.

- E aí?

Ele chutou Donatelo, que caiu do colchão, e correu esconder-se atrás da cama.

- Que foi? – indagou Donatelo, levantando do chão.

Quando ele me viu, escondeu o pintinho com o travesseiro.

- Antes que comecem a praguejar, o portão estava aberto, tá? Vocês têm que tomar mais cuidado. Deviam fechar o portão.

- Sai, Rafael! – disse Eduardo, corado.

- Só um minuto. Vocês pensam em ir a algum lugar mais tarde? Eu não tenho o que fazer, sabe? O Lucas me tocou da casa dele e o Leo e o Mick não estão em casa.

- Quer sair da frente da janela? – disse Donatelo, nem um pouco gentil.

- Ah, é! Desculpe ter interrompido. – ri.

Danilo

Após um excelente passeio, o professor e eu terminamos num restaurante, já que o horário e os roncos da barriga nos obrigavam a almoçar.

- Já está tudo acertado. – começou. – Haverá despedida de solteiro. Você irá?

- Na verdade o Eduardo já me convidou para ir na dele.

- Ele fará uma também?

- Sim. O que vão fazer?

- Strippers.

- Ah.

- E vocês?

- Ainda não sei. Acho que o Bruno é o único que sabe o que vai rolar.

Estávamos em janeiro. Faltavam muitos dias para as aulas iniciarem. Eu estava super feliz com meu relacionamento. O professor era tudo aquilo o que eu imaginara e muito mais. Saímos bastante, ainda mais agora que estávamos de férias. Outro dia perguntou-me se eu aprovaria vê-lo de cabelos compridos.

- Pode ficar do jeito que quiser, menos careca, por favor.

No meu trabalho, Eduardo e eu nos aproximávamos cada vez mais e, do jeito como estava feliz com o noivado, meu incômodo por ele ser ex do professor já diminuíra bastante. Já conhecera a maioria de seus amigos e Rafael costumou-se a contar-me todas as “aventuras” de seus amigos, nos mínimos detalhes. Minha vida nunca esteve tão boa, apesar dos pormenores que eu escondia de meus pais (eles ainda não sabiam de meu envolvimento com Leonardo).

Hoje, após o nosso almoço, fomos para sua casa. Vimos televisão, tomamos sorvete e nos trancamos em seu quarto. Adorava seus carinhos, adorava seus olhares, adorava quando me despia, adorava quando me dava prazer. Em seus braços eu era levado ao meu limite e nesta tarde, não foi diferente...

Lucas

Quando liguei para Rafael, após terminar de ajudar meu pai, disse-me que estava na casa de Donatelo, impedindo-o de transar com Eduardo.

- Vamos sair?

- É, vamos.

- Pra onde? A gente se encontra lá.

- Shopping Esplanada.

- Beleza. Me espere no portão.

- Certo.

Cheguei ao shopping alguns minutos depois. Rafael demorou um tempinho para aparecer. Vi-o descer do ônibus do outro lado da avenida. Correu até mim.

- Cara, foi muito engraçado! Precisava ver! Os dois estavam loucos pra transar.

- Só você mesmo pra atrapalhar.

Entramos no estacionamento do shopping pegando um caminho destinado aos transeuntes rumo à porta para entrar no interior do shopping.

- O que fez em casa?

- Meu pai fez uns consertos no quintal.

- Tomou banho?

- Precisei. Encontrei uma carta de baralho entre dois tijolos do muro.

- Vixi!

Entramos no shopping. Continuamos caminhando.

- Que caminho quer tomar?

- Qualquer um. Vamos por ali.

Contornamos a praça de alimentação e seguimos por um corredor, olhando as vitrines das lojas e desviando das outras pessoas.

- Trouxe dinheiro?

- Sim.

Olhei, de repente, com curiosidade, para uma folha de sulfite colada numa vitrine de uma loja, a Free Company, em que se lia “Precisa-se Vendedor”. Parei mais a frente, para olhar. Rafael só percebeu que eu parara quando já estava a dez passos longe de mim. Voltou e parou ao meu lado.

- Ah. – disse ele. – Está pensando em deixar seu currículo?

- Pois é. Há quanto tempo que eu não trabalho? Só de pensar nisso já me dá raiva.

- Não foi sua culpa. Você não estava legal da cabeça.

- Pena que não tenho nenhum currículo comigo neste momento. Senão já podia deixá-lo aqui.

- Olá. Boa tarde. – disse uma voz.

Rafael e eu viramos a cabeça. Um rapaz, um pouco mais alto que eu, cabelos claros, olhos azuis e alargador na orelha direita, parara ao nosso lado. Vestia uma camiseta azul marinho.

- Estão procurando alguma coisa?

- Eu estava vendo o letreiro.

- Ah. É, estamos precisando de vendedor. Não é preciso experiência.

- Que milagre! Especialmente se tratando de uma loja no shopping. – comentou Rafael.

- Um de vocês tem interesse na vaga?

- Eu. – respondi.

- Você já trabalhou de vendedor?

- Não, mas até que seria interessante trabalhar aqui, apesar dos contras.

- Os contras são não ter folga. – lembrou-me Rafael.

- Mas no momento estou precisando de dinheiro e não está sendo fácil conseguir trabalho hoje em dia. – retruquei.

Olhei para o rapaz.

- Não tenho um currículo comigo. Até quando posso trazer meu currículo?

- Espere um momento.

O rapaz entrou na loja e, após um minuto, voltou, com um pedaço de papel na mão. Passou-o para mim.

- Pode mandar seu currículo para este e-mail. Qual seu nome?

- Lucas.

- No campo “assunto”, coloque “aos cuidados de Juliano”. Assim saberei que o e-mail é seu. Ainda recebemos poucos currículos.

- Valeu. – sorri. – Mandarei ainda hoje. Obrigado.

O rapaz sorriu e voltou para dentro da loja. Rafael e eu prosseguimos nosso caminho pelo corredor.

- Que cara bacana. – disse Rafael, sem sorrir. – Sei lá, cara. Acho que não devia aceitar o trabalho.

- Nem me contrataram ainda. – ri.

- Eu sei, mas já vou adiantando. É muito ruim trabalhar em shopping.

- Sei disso, mas estou precisando trabalhar.

Durante o passeio pelo shopping, voltamos a falar a respeito do emprego de vendedor na loja de artigos esportivos outras vezes. Rafael tentou me convencer a não aceitar, pois eu não teria folgas suficientes e não poderia aproveitar os finais de semana. Ainda assim, estava disposto a aceitar o serviço se fosse chamado. Já me cansara de ficar em casa. Não queria trabalhar por prazer, mas sim por necessidade.

Enfim, neste mesmo dia, quando voltei para casa, preparei um currículo atualizado e o mandei para o tal e-mail do rapaz. Aguardei. Na segunda-feira, enquanto tomava meu café da manhã na cozinha (cereais com cacau), ligaram para casa. Fui atender. Era para mim.

- Lucas?

- Sim, é ele quem está falando.

- Oi, aqui é o Juliano. Você enviou seu currículo para o e-mail da loja Free Company.

- Ah, oi. Sim, enviei.

- Você estaria disponível hoje à tarde para uma entrevista?

- Sim, claro!

- Só passar aqui na loja umas duas e meia. Tudo bem?

- Claro! Duas e meia. Está anotado.

- Nos vemos mais tarde. Tchau, tchau.

- Tchau.

Desliguei o telefone.

- Nossa! Essa foi rápida. – pensei em voz alta.

Nunca tive uma sorte dessas, de passar meu currículo num dia e no outro já ser chamado para entrevista. De fato, sempre fui um pouco azarado com a questão de trabalho. Muitas vezes não fui chamado para entrevista, e nas que fui, nunca me chamaram uma segunda vez, para fazer teste. Tudo bem. Agora é diferente. Talvez minha sorte tenha mudado.

No começo do dia, recebi sms de Rafael. Em sua quarta mensagem do dia, pediu que eu fosse ao seu trabalho para almoçarmos juntos, mas tive de recusar. Avisei que iria à entrevista esta tarde.

- Você é burro. – disse-me ele, ao telefone. – Não devia aceitar o trabalho.

- A vida é minha. – brinquei.

- Mas você é meu Lucas e se começar a trabalhar lá, teremos menos tempo pra curtir.

- Ooooh, isso te incomoda? – zoei.

- Claro! Devia pensar em mim ao menos um pouquinho.

- Por que acha que quero trabalhar? Queria voltar a morar sozinho, quero dizer, não tão sozinho. A gente podia voltar a morar junto.

- QUE?? Está falando sério?? – disse ele, empolgado.

- Estou.

- Putz! Então comece a trabalhar agora mesmo!

- Ir a entrevista não significa que já consegui o trabalho.

- Mesmo assim! Faça alguma coisa pra conseguir um logo. O pai do Marco veio aqui no escritório e deixou o jornal. Vou procurar umas casas e apartamentos para alugar.

Balancei a cabeça.

- Você quem sabe.

- A gente se fala depois, Luuuuuuuuuuu.

Desligou.

Quinze minutos antes do horário combinado, cheguei ao shopping e alcancei a Free Company. Entrei na loja vagarosamente, analisando os produtos que ela vendia. Naquele instante, um rapaz, de camiseta azul marinho – vendedor – se aproximou.

- Posso ajudar?

- Estou aqui para uma entrevista. Pediram que eu viesse às duas e meia.

- Ah, certo. Espere um momento.

- Tudo bem.

Afastou-se. Continuei olhando para as prateleiras da loja. Vendiam muitas coisas. Desde tênis a skates. Equipamentos para camping e escalada. Também equipamentos para natação e ciclismo. Dentre muitas outras coisas.

- Oi. Que bom que veio. – disse o tal Juliano do outro dia.

Apertei sua mão.

- Pode vir comigo?

Segui-o até os fundos da loja. Entramos num corredor apertado e atravessamos uma porta. Na salinha apertada e bagunçada, sentei numa cadeira em frente de uma mesa, onde Juliano sentou atrás.

- Você nunca trabalhou de vendedor?

- Não, nunca trabalhei.

Ao que me parecia, meu currículo estava em suas mãos. Durante a entrevista, fiquei sabendo que ele era o gerente. Juliano estava disposto a me dar a vaga de vendedor, e também de me ensinar o que eu precisava aprender durante meus dias de teste.

- Está interessado na vaga?

Apesar dos prós e dos contras do serviço, aceitei. Apertamos as mãos novamente e já fui advertido a trazer meus documentos para ser registrado. Antes de sair do shopping, comprei um sorvete de casquinha, passeei por lá e depois voltei para casa. Minha mãe ficou muito feliz por eu ter conseguido um trabalho. Fez questão de passar minhas melhores roupas para os próximos dias.

- Eles usam uniforme. – avisei.

- Mesmo assim. Quanto tempo podem demorar a lhe arranjar?

Quando contei a Rafael sobre o emprego, ele festejou e disse que encontrou apartamentos bastante em conta no jornal.

- A gente vê isso depois.

Com mais sorte do que poderia imaginar, meus primeiros dias no novo emprego foram bastante confortáveis e pouco intimidadores. Como a maioria dos rapazes que trabalhava na loja gostava das mesmas coisas que eu, foi fácil manter um diálogo quando podíamos. Especialmente com Juliano, que também andava de skate como eu. Ao todo éramos cinco: Juliano, Beto, Henrique, Enzo e eu. Saía para almoçar com Enzo e Juliano.

- Minha mãe já trabalhou aqui. – disse Enzo. – Como auxiliar de limpeza.

- É difícil manter relacionamento quando se trabalha no shopping. – comentou Juliano.

- Verdade. Já levei muito xingo da namorada porque ela dizia que eu não lhe dava atenção. – disse Enzo.

- Tem namorada? – indagou Juliano.

- Hmmm, não. – respondi, incerto.

- Como assim? Está enrolado?

- Digamos que sim.

Eles riram.

- Isso é foda.

No décimo dia de serviço, enquanto arrumava os decks dispostos em fileira encostados a parede, Henrique bateu no meu ombro:

- Levanta aí, ô! – riu.

Não entendi. Ao olhar para trás, vi Juliano há alguns metros de distância, olhando para minha bunda. Corei. Ele me encarou, sem tirar o sorriso da cara. Foi a primeira vez em que comecei a ficar desconfiado. Nos próximos dias, abri os olhos, para ver se a coisa não era só comigo. Apesar de ficar super atento, Juliano não fez nada que revelasse suas ‘preferências sexuais’. Também tratava a todos igualmente, por isso decidi afastar as desconfianças de mim.

Donatelo

No sábado, resolvemos ir ao Pub. Eduardo e eu nos encontramos com Marco, B.B, Lucas e Rafael na entrada. Quando entramos, tivemos de nos espremer entre o pessoal já que o lugar estava cheio de gente como sempre.

- Não sei se continuam interessados, - comentei, quando conseguimos nos aproximar do balcão do bar. – mas tem um apartamento na rua de casa que está pra alugar. Marquei o telefone da imobiliária, caso tivessem interesse.

- Que ótimo! – disse Rafael. – É aquele edifício que fica na esquina?

- Esse mesmo. Devem imaginar que o apartamento é pequeno, mas se é só pra vocês, talvez seja o mais indicado.

- Será que é muito caro? – perguntou Lucas.

- Olha, não sei, mas talvez não seja. Muito.

- Muito. – riu B.B.

- Oiiiiiiii, boa noite. – disse Hiro, aproximando-se. – Que vão beber?

- Uma cerveja. – pedi.

Rafael e Lucas pediram o mesmo. Os demais não pediram nada. Bruno logo pediu a Eduardo para dançar com ele. Sendo assim, ambos se afastaram de nós.

- Qual andar que fica o apartamento? – indagou Rafael. – Vou ter que andar muito?

- Fica no terceiro.

- Ham. Não é muita coisa.

- Vai mesmo abandonar o Leonardo e o Mick? – comentei, olhando para Rafael, ao meu lado.

- Se é pra morar com o Lucas, né, Luuuuuuuuuu? – disse, envolvendo o pescoço do coitado com o braço.

Ri da cara de tédio do Lucas.

- Você não me falou a data do casamento. Quando vai ser? – indagou Rafael.

- Em fevereiro.

- Que demais!

- Está nervoso? – indagou Lucas.

- Às vezes eu fico. Mas é um nervosismo bom.

- Lembre-se que você estará abrindo mão de todas as mulheres do mundo se casando com um homem. Lembre-se. - disse Rafael.

- Não vou me arrepender. Disso pode ter certeza.

- Que brega.

- Você não casaria com o Lucas se ele quisesse?

Rafael ergueu as sobrancelhas, como se só agora tivesse pensado no assunto.

- Verdade! Posso juntar meus trapinhos com os dele!

- Aaaah, não. De jeito nenhum! – riu Lucas, balançando o dedo indicador. – Com esse aqui não dá.

- Por que não? – indagou Rafael, encarando-o. – Já vamos morar juntos. Qual a diferença em colocar uma aliança douradamente gay no seu dedo?

- Não pode estar considerando a idéia! Qualé! Casamento? Nem pensar! Ainda tenho muito que viver.

Marco e eu rimos. Menos Rafael. Ele não gostou muito do que ouviu.

- Todos estão casando ou em relacionamentos estáveis. Não quero ser o amigo solteirão da galera. Vai pensando nisso, Lucas. Vai pensando. Antes que eu te troque por alguém menos anti-social.

Marco e eu rimos de novo.

Em pouco tempo, Lucas e Rafael sumiram da minha vista. E Marco foi ao banheiro e não voltou mais. Talvez tenha encontrado Bruno pelo caminho. Permaneci no mesmo cantinho que consegui quando entrei no Pub. Com os braços sobre o balcão, bebendo uma cervejinha. Vez ou outra eu olhava para os lados, a procura de Eduardo. Ele era baixo, por isso não achei que conseguiria encontrá-lo com facilidade.

De súbito, alguém tocou no meu braço. Virei-me. Eram dois rapazes.

- Oi. – disseram.

- Oi. – respondi.

- Você não dança?

- Até que um pouco, mas resolvi beber um pouco.

- Qual seu nome?

- Donatelo.

- Donatelo? Que diferente. Meu nome é William e esse é meu amigo Rafael.

- Oi.

- Não está a fim de dançar?

Pensei um pouco.

- Na verdade eu estou noivo.

- Sério? E ela é ciumenta?

Ri.

- Não, ele não é.

- É ele?

- É.

Entreolharam-se, sorrindo.

- Mesmo assim, - insistiu William. – não pode nem ao menos dançar?

Olhei ao meu redor, tentando achar Eduardo. “Que vá”, pensei. “Acho que não há nada demais numa dança”. Acabei concordando em dançar com o rapaz. Fomos para a pista de dança, onde a maioria dançava uma música bem animada. Demorou um pouco, mas acabei entrando no clima. William dançava bem, mas não era nem um pouco bonito. Nem que tivesse os olhos azuis de Eduardo sua aparência mudaria alguma coisa. Por falar em Eduardo, corri os olhos pelo Pub a sua procura e por sorte achei-o, há poucos metros de nós. Estava de costas para mim, dançando com um cara, aparentemente. Por conta disso, não dei muita atenção a William e a todo o momento olhava para os dois.

Não muito tempo depois, pedi licença a William, deixei-o para trás e fui me enfiando no meio da galera até chegar a Eduardo. Toquei em seu ombro e ele virou.

- Posso dançar com você?

Ele sorriu e explicou ao rapaz, com quem ele realmente dançava, que agora dançaria com o namorado. O cara afastou-se de nós.

- Achei que estivesse dançando com o Bruno.

- Eu estava, mas ele foi atrás do Marco.

- A cada dia você se parece mais com o Bruno. Isso me preocupa. Ele é muito saidinho.

Riu. Pegou minhas mãos.

- Você está muito bonito hoje.

Ele sorriu:

- Está me paquerando?

- Depende. Você não tem namorado, tem?

Riu de novo.

- Anda, me beija logo.

Levou minhas mãos à sua cintura e seus lábios aos meus.

Lucas

- Olha só que viadagem. – falou Rafael, se referindo a Donatelo e Eduardo dançando coladinhos. – Deus devia exterminar os gays do mundo.

Gargalhei:

- Você também seria exterminado, sua bicha.

Estávamos num canto do Pub. Marco e Bruno haviam passado rapidamente por nós e agora estavam em frente ao balcão do bar.

- Sabe, seria legal se todos nós morássemos na mesma rua.  – comentou.

- É meio impossível.

- Impossível não é. Difícil sim, mas não impossível.

- Seria mais fácil morarmos no mesmo bairro.

- É, seria legal também.

Subitamente, ele ficou na minha frente e me abraçou suavemente. Não me soltou.

- Que isso agora?

- Fiquei com saudade. A gente quase não se vê.

Abracei-o também.

- Gosto muito de você, Lucas.

- Eu também... Gosto de mim.

Ri. Ele riu também.

Continuou abraçado a mim.

Donatelo

Quando Eduardo e eu vimos Marco e Bruno em frente ao balcão, decidimos ficar ao lado deles. No entanto, no meio do trajeto, vi uma confusão a um canto do Pub. Aparentemente, Rafael e Lucas estavam no meio. Eduardo e eu nos aproximamos. Neste momento, a música parou de tocar e não demorou muito para todo o Pub cair no mais desgraçado e inquietante silêncio. Quando chegamos na confusão, vimos que Rafael batia num rapaz enquanto Lucas batia em outro. A briga parecia violenta. Tentei separá-los, mas acabei batendo nos cretinos quando soube o motivo da briga. Acabou aparecendo, sabe-se lá de onde, mais cretinos ignorantes para aumentar o número de hematomas em nós três.

A briga terminou com todos nós indo para a delegacia. Rafael explicou aos policiais que um dos cretinos começou a insultá-lo e por isso foi para cima dele. Felizmente nada de muito grave aconteceu conosco, a não serem as caras inchadas. Dei carona a Lucas e Rafael na saída da delegacia.

O clima estava pesado no carro. Ninguém falou nada, já que estávamos muito abalados com o ocorrido.

- Demos uma surra nos filhos da puta. – riu Rafael.

Acabamos rindo com ele.

Duas semanas mais tarde, tive a companhia de Rafael, Leonardo, Mick e Marco no shopping. Disseram que queriam me ajudar a escolher uma roupa para o casamento. Eu não achava que precisasse comprar nada novo, mas praticamente fui obrigado por todos.

Eduardo

Era sábado à noite. Passei toda a tarde na casa de minha mãe. Só vi Donatelo de manhã, por isso estava louco para vê-lo. Fiquei com saudade. Entrei em casa e só encontrei a luz da sala ligada. Já estava bastante escuro lá fora. O carro já estava na garagem, sinal de que Donatelo já havia chegado.

- Do? – chamei-o.

Parei em frente à porta fechada do quarto e encontrei o seguinte aviso de porta: “Tire a roupa e entre”.

Ri.

- Donatelo? – disse, batendo na porta. – Está aí?

- Estou. Vai entrar?

- Eu preciso. Quero trocar minha roupa.

- Já leu o aviso?

- Li. “Tire a roupa e entre”.

- Pois é, se quiser entrar, vai ter que tirar a roupa.

- Que? Tudo?

- É, tudo.

Mesmo estranhando, tirei minha roupa, já que eu ia tirá-la de qualquer jeito. Tirei a camiseta, o jeans, as meias e o sapato.

- Já posso entrar?

- Tirou tudo?

- Tirei.

- Até a cueca?

- A cueca também?

- É, tem que tirar tudo.

Acabei tirando, fazer o que? Depois, abri a porta e dei de cara com Donatelo, nu, sentado na cama.

- Que é isso? – ri. – Onde comprou o letreiro da porta?

- Num sex shop. Não foi idéia minha. O Rafael comprou pra mim.

- Ah, é?

Coloquei minha roupa no pé da cama e o sapato embaixo dela. Contornei a cama e parei ao lado de Donatelo.

- O que é isso aí do seu lado? – indaguei.

- Ah! É uma almofadinha em forma de pênis.

- HAHAHAHAHAHAHA! Não brinca!

Ele me passou a tal almofadinha. Era cor de rosa e tinha a figura de um pênis sorrindo. Tinha duas bolas numa extremidade e um laço vermelho na outra.

- Se você apertar, ela geme.

Caí na risada de novo e tirei a prova. A almofada realmente gemia.

- Caramba! Ela goza mais que eu.

- Hei!

- Estou brincando. – disse. – Foi você quem comprou?

- O Rafael novamente. Ah, e também tem o tesômetro.

Não vi que, em cima da cama, também tinha uma espécie de termômetro transparente de aproximadamente quinze centímetros com um líquido vermelho dentro. Donatelo passou-o para mim.

- É um medidor de tesão. Quanto mais rápido o líquido subir, maior o tesão.

- HAHAHAHAHAHAHA! Quem inventa uma coisa dessas?

- A única coisa que comprei pra você foi isto aqui.

Ele me passou uma mamadeira de tampa azul.

- Tire a sobre tampa.

- Hm?

Quando tirei a sobre tampa, ri outra vez ao ver que, no lugar do bico, havia um pênis.

- Genial! Foram ao shopping ou ao sex shop?

- Fomos ao shopping também, mas aí quiseram passar num sex shop depois. Rafael me comprou um monte de coisas só pra sacanear.

- Adorei a mamadeira.

- Gostou?

- Que mais compraram?

- Hmmm, fora tudo isso aí que te mostrei, camisinhas e um jogo de dados.

- Ah, é? Quero ver.

De uma gaveta do guarda-roupa, ele tirou dois dados e passou-os para mim.

- Como se joga?

- Bem, um dos dados mostra uma tarefa a ser feita, e o outro, o local onde deve ser feita a tarefa. Por exemplo, se você tirar “morder” e “abdômen”, terá de morder o abdômen.

- Uau! Que quente. Vamos jogar.

- Sério? Agora?

- Ué! Você me esperou chegar, nu, me mostra todas essas coisas e não pensava em transar comigo e nem nada?

Ele riu. Tiramos todas aquelas tranqueiras de cima da cama e nos sentamos.

- Legal. Posso começar?

- Claro. – respondeu.

Sacudi os dados em minha mão e depois os joguei sobre o colchão.  Um dos dados deu “esfregar” e o outro “coxas”. Olhei para Dodô. Ele me sorriu de lado. Fui pra cima dele.

- Não farei isso com as mãos.

- Não?

Assim que ele deitou de costas como pedi, pus uma das minhas coxas entre as dele e esfreguei minhas coxas na dele. Depois o beijei nos lábios. Repeti o processo mais três vezes até ele pegar os dados e jogar. Os dados mostraram: “lamber” e “bunda”. Acabei rindo. Nos levantamos da cama. Dei-lhe as costas e recebi um abraço. Ele beijou-me o pescoço, as costas, até chegar ao meu bumbum e lambê-lo inteiro. Na minha vez, os dados deram: “massagear” e “genitais”.

- Essa opção deveria se chamar masturbar.

Ele riu. Sentados no colchão, ajoelhei-me na frente dele e, enquanto o beijava, estimulava-o com as mãos. Quando parei de beijá-lo, após um longo tempo, ele ainda quis me manter ao seu lado mais um pouco.

- Sua vez.

Os dados deram: “lamber” e “genitais’. Sendo assim, Donatelo deitou sobre mim, beijou meus lábios, fez-me carinho e lambeu meu pênis de leve. Várias vezes.

- Se eu segurar o tesômetro agora, eu quebro ele. – disse, com aquela sensação intensa me maltratando segundo após segundo.

Quando parou de me lamber e passou a beijar meu peito, olhei-o e acariciei seu pescoço.

- Ainda quer jogar?

- Vamos ver até onde agüentamos.

Riu.

De fato não jogamos tanto depois disso. Já estávamos bastante excitados para continuar com o jogo que só servia para nos excitar ainda mais. Enquanto estava sentado sobre ele, beijando-o no rosto e recebendo carinho nas costas, ouvi-o dizer:

- Eu queria fazer uma coisa antes de transarmos.

- O que?

- Me deixaria filmar a gente na cama?

Levantei o rosto para encará-lo.

- Hm? Ah, tudo bem.

Rafael

De casa, liguei para Lucas, que há essa hora devia estar em seu horário de almoço.

- Por que demorou a atender?

- Estava com a mão ocupada.

- Almoça sozinho?

- Não, Enzo e Juliano estão comigo.

Praga! Agora o Lucas deu pra falar nesse Juliano idiota. “Ele é isso, ele é aquilo...”, como se isto me interessasse. Pra piorar, os dois têm um gosto em comum: gostam de skate. Sabem tudo sobre o assunto. Já trocam mensagens pela internet e pelo telefone. Juliano, nas vezes em que pude vê-los juntos, é muito pegajoso com Lucas. Ele que pense que tem chance com Lucas que acabará quebrando a cara.

Enfim, desgostos à parte, conversei com a imobiliária sobre o apartamento que fica na mesma rua de Donatelo. Informei-me sobre o aluguel e também peguei a chave para dar uma olhada no apartamento. Minha visita ao edifício aconteceu num dia de folga de Lucas. Nós dois chegamos em frente ao edifício amarelo, abrimos o portão social, subimos os degraus de uma pequena escada e chegamos ao corredor principal. Subimos as escadas até o terceiro andar. Lucas abriu a porta do apartamento.

A sala até que tinha um espaçinho legal. O piso do chão era bem clarinho. Não era branco, mas quase não tinha cor nenhuma. Enquanto Lucas foi checar a pequena varanda da sala, vi três portas logo à frente. Uma delas era do banheiro, a outra da cozinha e a outra do quarto. Todas as paredes eram brancas e o piso do quarto era o mesmo da sala, tirando os pisos e azulejos da cozinha e do banheiro, que eram diferentes. A pia da cozinha era de granito. Notei que a janela do banheiro era bem grandinha e ficava ao lado do chuveiro.

Enquanto eu olhava o quarto uma vez mais, Lucas apareceu.

- Gostou? Achou legal?

- É bacana. É minúsculo, mas é bacana.

- Com quem você pensa em morar? Vamos ficar com o apartamento. Além do mais, qualquer coisa a gente desse na casa do Donatelo.

- Bem, tudo bem. Vamos ficar com o apartamento.

- Por falar no Donatelo, ele deve estar em casa agora. Vamos ver se ele fez o almoço. Estou morrendo de fome.

Olhamos o apartamento mais uma vez antes de sairmos e descermos a rua. (Não era exatamente uma descida íngreme ou desgastante). Chegando lá, chamamos em frente ao portão. Em poucos segundos ele apareceu na porta.

- Que milagre você não abrir o portão, Rafael. – disse. – Podem entrar. Está aberto.

- Fez almoço?

- Estou fazendo.

Entramos na sala. Já sentia cheiro de carne.

- Alugou algum filme essa semana?

- É, pode pegar. Esses aí não são os originais. São cópias.

Perguntei-lhe isto porque vi alguns DVDs sobre a mesinha de centro. Peguei três que me interessaram. Lucas foi para a cozinha beber água enquanto eu fucei o rack para ver se encontrava outros DVDs. Andei até o corredor, que me levaria à cozinha, e dei uma parada no quarto de Donatelo antes de juntar-me aos dois. Achei um cd sobre a televisão do quarto. Estava dentro de uma capinha plástica. Peguei-o também.

Contamos a ele, sentados em frente à mesa da cozinha, que havíamos olhado o apartamento e que ficaríamos com ele.

- Que legal! Vão morar perto da gente. – disse ele. – Estou pensando em trocar o sofá. Se quiserem ficar com o nosso, podem ficar.

- Que gentileza. E sua despedida de solteiro? Vamos marcar um dia logo ou continuaremos nesta enrolação?

- A gente marca. A gente marca.

Lucas

A mudança aconteceu num sábado de manhã, dia em que eu infelizmente estava trabalhando. Eu sabia que Donatelo ia ajudar Rafael com a mudança porque ele disse que assim faria. Desta forma, após sair do trabalho, lá pelas duas horas da tarde, cheguei ao meu novo endereço com muita ansiedade. Já com a cópia da chave na mão, entrei na sala de casa e encontrei muitas caixas de papelão pelo ambiente. Vi Rafael do outro lado da casa, dentro do quarto, sentado no chão, mexendo em alguma coisa. Ele me viu na distância.

- Oooooooooooi!

- Tudo beleza? – disse.

- Sim, deu tudo certo. O Donatelo está dentro do banheiro. Está testando a privada, hahahaha!

- Minha mãe me ligou. Ela virá mais tarde. Quer ver o apartamento.

- Trouxe alguma coisa pra mim?

- Você queria alguma coisa?

- Você trabalha no shopping. Há muitas coisas que poderia me trazer.

Não tive muito descanso nesta tarde. Depois que minha mãe apareceu e foi embora, ainda tive que ajudar Rafael a organizar todos os nossos pertences nos lugares certos. Tínhamos um rack. Tínhamos uma TV. Mas não tínhamos sofá e nem uma mesa para a cozinha. Tínhamos fogão e geladeira. Também armários para a cozinha, camas e guarda-roupa. Mas nosso apartamento estava longe de ser tachado de “completo”. Ao final do dia, durante nosso jantar que se resumiu a macarronada e refrigerante, assistimos aos filmes que emprestamos de Donatelo.

Vimos um filme de suspense, depois uma comédia. Por fim, Rafael colocou um cd sem título no aparelho de DVD. Sentamos em nossas cadeiras em frente à TV e aguardamos o início do filme.

- Espero que não seja um romance. Não estou a fim de ver nada parecido no momento.

- Acho que o Donatelo não alugaria um romance. Nem o Du. Eles não gostam disso. – retruquei.

- Seja o qu... PUTA MERDA!

- Que porra é essa?

Nosso queixo caiu. O que apareceu na televisão não era o início de um romance, mas o início de uma transa! E os atores eram ninguém menos do que Eduardo e Donatelo!

- MEU DEUS!

- Tira isso! Tira isso! Anda, Rafael!

Tivemos de ver Eduardo sobre Donatelo, fazendo coisas com as mãos e com o corpo antes do Rafael pausar o vídeo e tirar o cd do aparelho. Ele, de olhos esbugalhados, olhou para mim.

- Que porra foi isso?

- Ficarei traumatizado o resto da minha vida.

Leonardo

Se as aulas já tivessem começado, eu estaria triste por ser domingo, mas não estava. Acordei bem tarde hoje. Michelangelo foi o primeiro a acordar. Encontrei-o no quintal, varrendo o chão.

- Acho que devo voltar para casa. – disse-me ele, de súbito.

- O que? Por quê?

- Já que o Rafael não está, sinto-me mal por estar aqui.

- Por que se sentiria mal? Não está me atrapalhando. Você é meu amigo, Michelangelo.

Ele sorriu de lado.

- Vamos, pare de pensar bobagens. Nós dois já moramos com amigos antes. Sabemos como funciona. Sabemos que não há nada demais nisso.

- É que agora você está namorando e se quiser morar com o Danilo eu só vou atrapalhar. Além do mais, lembrei-me do que aconteceu entre a gente.

Sorri.

- Não acho que o Danilo e eu cheguemos a morar juntos. Não agora. Não neste momento. E quanto a nós dois, só aconteceu uma vez. E já faz muitos meses.

- De qualquer modo, irei embora se sentir que estou atrapalhando.

Ri.

- Você não vai embora. De jeito nenhum.

Antes do meio dia, recebi uma ligação de Rafael, convidando-me para a grande inauguração de sua casa. Levei Danilo comigo. Mick também foi. Chegando lá, encontrei-me com Marco, Donatelo, Bruno e Eduardo no apartamento.

- Desculpem pela falta de organização, mas é que não tive tempo de arrumar tudo. – disse Rafael, na sala. – E só comprei bebidas pra gente comemorar. Não tem comida na geladeira.

- Se eu soubesse que passaria fome, teria trazido um pãozinho. – riu Donatelo.

Enquanto o pessoal se dispersou para conhecer melhor o apartamento, indaguei a Rafael se eu podia pegar aqueles DVDs sobre o rack da sala.

- Pode pegar. É do Dodô. Depois você devolve pra ele.

- Beleza.

Mais tarde, passamos numa sorveteria. Depois levei Mick até a casa de sua mãe e voltei para a nossa, com Danilo.

- Está a fim de assistir filme?

- Claro! – respondeu, quando entrávamos na sala.

Comprara dois potes de sorvete. Um de creme e outro de pistache. Nos servimos na cozinha e voltamos para a sala. Liguei o aparelho de DVD e coloquei o primeiro cd para rodar. Sentei-me ao lado de Danilo no sofá.

- Que filme é?

- Não sei, - respondi. – está sem nome.

Peguei o controle remoto e cliquei no botão “play”. Mexi no meu sorvete e quando ergui os olhos para a televisão, vi uma cena aterrorizante: dois caras rolando sobre um colchão, apertando-se, estimulando-se, mordendo-se, se esfregando um no outro. Quase tive um ataque do coração quando reconheci o jovem branquelinho de olhos azuis. Não demorou muito e reconheci o outro.

- Que é isso?

Corri até o aparelho de DVD e pausei o vídeo. Tirei o cd do aparelho e coloquei-o dentro da capa plástica.

- Aqueles dois eram... – disse Danilo.

Esfreguei as mãos no rosto e murmurei para mim mesmo: “Eu não vi isso, eu não vi isso”.

Donatelo

Estava sentado no sofá de casa, com o notebook sobre o colo. Checava meu Facebook enquanto via televisão. Eduardo tomava banho. Mais tarde, ouvi barulho de carro em frente de casa. Atravessei a porta aberta da sala e vi o carro de Leonardo ao lado da calçada. Este saiu do carro. Abri o portão social.

- E aí, cara. – saudei-o.

Ele, de rosto sério, aproximou-se de mim e me jogou um objeto que ele segurava na mão direita. Era um cd dentro de uma capa plástica transparente.

- Que isso?

- É seu.

Olhei para o cd e ao reconhecê-lo, congelei dos pés à cabeça.

- Onde conseguiu?

- O Rafael emprestou de você e emprestou pra mim.

- Vocês... Assistiram?

- Não sei se o Rafael viu, mas eu vi mais do que gostaria.

Encarei seu olhar grave. Ele aproximou-se mais.

- Tome cuidado com essas coisas. Imagine se cai na internet.

Ele encarou-me um pouco mais até entrar no carro e partir. Respirei, finalmente.

- Tô fudido.

Rafael

Era noitinha. Lucas acabara de chegar em casa. Foi tomar banho. Eu continuei deitado na minha cama, descansando o corpo. Amanhã teria de acordar cedo para trabalhar. Quando ele entrou no quarto, cheirando a sabonete, pedi que viesse se deitar comigo quando se trocasse totalmente. Ele ainda andou um pouco pelos outros cômodos da casa até finalmente voltar ao quarto. Sentou na beirada da cama, do meu lado.

- Você não está me traindo não, né? – perguntei.

- Que? – disse, virando o rosto para mim.

- É que estou meio desconfiado.

- Por que? O que eu fiz?

- Você não fez nada, mas aquele seu superior chamado Juliana...

- É Juliano.

- Pois é, foi o que eu disse. Juliana. Ele está a fim de você, Lucas. Sei disso.

- Quantas vezes você o viu para dizer isso?

- Levei mais de dez anos pra ficar com você. Acha que vou deixar um mané tirá-lo de mim em dois segundos?

- Quantas merdas você consegue falar por dia?

Pus-me sentado.

- Não mude de assunto. – falei. – Ele está a fim de você. Ver a cara que ele faz quando te olha já é motivo o suficiente pra ficar desconfiado.

- Que cara ele faz?

- Aquela cara de quem está comendo com os olhos.

Riu.

- Não ria não. É verdade. Nunca reparou?

- Isso prova que ele tem bom gosto.

- Não brinca com isso. Isso é coisa séria.

- Rafael, não dê uma de Leonardo agora. Que isso?

Enrolei-me com as palavras, mas não disse nada. Controlei-me:

- É que não fui com a cara desse Juliano. Você já disse pra ele que está namorando?

- Não.

- QUE?

- Não tive oportunidade.

- E quando será essa oportunidade? Quando ele estiver com a língua no seu pescoço?

Riu.

- Por que está rindo?

- Você está muito engraçado. Nunca agiu de modo tão ridículo.

Quando fiz que ia falar alguma coisa, ele me calou com um gesto:

- Eu não estou a fim dele. Ele é só um colega de trabalho. Um amigo. É legal sair com alguém que curte as mesmas coisas que você para variar.

- Mas a gente curte muita coisa também.

- Claro. Você tem um milhão de amigos e eu não reclamo de nenhum. E pior: seus amigos são os mais terríveis do mundo. Cada um pior que o outro.

Enlacei seu pescoço com os braços e puxei-o para perto de mim.

- Só não vai meter chifre na minha cabeça, cara.

Beijei o topo de sua cabeça.

- Posso ficar numa posição confortável pelo menos? – pediu.

Quando ele se deitou no colchão, deitei do seu lado e o abracei bem forte:

- Eu deixo você me comer hoje. Você está super a fim, né? Estou percebendo.

Ele gargalhou de chorar.

- Quem disse que quero comer você? Você é o mesmo que comida estragada.

Ri.

Tornei a abraçá-lo.

- Te amo, Lu.

- Também te amo. – respondeu, ainda rindo.

Eduardo

- Divirta-se. – disse a Donatelo, antes dele sair de casa. – E por hoje eu te dou liberdade pra fazer o que quiser.

- Pra fazer tudo o que quiser?

 - É, é sua despedida de solteiro. Pode aproveitar.

- Hmm... Seguindo a lógica, creio que você vá querer liberdade também?

- É, seria o certo, mas eu não estou a fim de fazer nada.

- Hm... E vai me deixar fazer?

- Se você quiser...

- O que você vai aprontar?

Ri.

- Eu? Nada.

Olhou-me de modo desconfiado.

- Não confia em mim?

- Depois dessa eu prefiro não fazer nada, e espero que você não faça nada também.

Ri.

- Eu não vou fazer nada.

- Tudo bem.

Deu-me um beijo rápido, pegou o carro e saiu.

Minha despedida ia acontecer na casa de Bruno. A de Donatelo, na casa de Leonardo. Um pouco antes das seis da tarde, Bruno passou em casa para me buscar.

- Animado?

- Bastante. O que teremos?

- Comida, bebida e GOGO BOYS!!

Ri.

- Sério??

- Um grupo de gogo boys lindérrimos vai dançar na sua despedida. Eles começarão com muuuita roupa e terminarão sem nenhuma. Eu até já sei o nome dos rapazes. Tem o Felipe, o Diego, o Carlos e o Guga. Escolhi os mais lindos pra você, Du.

- Tem gogo boys aqui em Sorocaba?

- Na verdade eles são de São Paulo.

- Tá brincando!

- Verdade. Animado?

- Agora estou muito.

Ele riu.

Donatelo

Minha despedida de solteiro começou que é uma loucura. A casa de Leonardo ficou lotada de rapazes. Cerveja foi distribuída aos bebuns. Recebi muitos tapinhas carinhosos nas costas e desejos de muitas felicidades. Eu estava explodindo em alegria, e também ansiedade, já que o Rafael não parava de dizer que a stripper que viria à festa era super gostosa.

- Escolhemos a melhor. – disse ele.

- A melhor. – disse Thiago.

- Eu vi as fotos dela, cara, muito linda. – disse Marquinhos.

- Acho que a maioria só veio por causa da stripper. – comentou Leonardo.

- Que bom saber que todos vieram por minha causa. – brinquei.

- Oooooh, não fique assim não. – disse Rafael, enlaçando seu braço no meu. – Pode ter certeza de que todos nós nos lembramos de você.

- Mês que vem estarei casado.

- Exatamente. E, na verdade, este é o último mês pra você ter certeza do que quer fazer.

- Rafael, já falamos sobre isso. Eu quero me casar.

- Tudo bem, então deixa a stripper pra mim.

Os rapazes a nossa volta contestaram.

Eduardo

Danilo e Michelangelo chegaram para a despedida de solteiro que, ao todo, somava quinze pessoas. Boa parte dos presentes eram garotas, minhas amigas. Comemos salgados bem leves e tomamos champanhe. Conforme o dia escurecia, a ansiedade crescia. Antes das oito horas, o grupo de gogo boys chegou à festa. Os quatro rapazes, vestidos de terno, organizaram-se na sala, que teve os móveis afastados para os cantos para dar espaço a eles. Todos nós aguardamos na sala. Bruno e Mick sentaram ao meu lado no sofá de três lugares. Danilo sentou no braço do sofá. A luz da sala foi apagada e uma música bem animada foi posta para tocar no rádio dos rapazes.

Bruno tinha bom gosto. Todos os quatro eram muito bonitos. Tinham sorrisos e rostos muito simpáticos. Especialmente um deles, que me impressionou muito.

Donatelo

A stripper chegou, depois de algumas horas de iniciada a festa. Todos os rapazes ficaram super animados. Eu também fiquei, ainda mais vendo uma linda morena maquiada, de salto alto, vestindo uma espécie de maiô vermelho e segurando um boá de plumas brancas. Logo que a dança dela começou, mal prestei atenção ao que acontecia à minha volta. E tenho certeza de que os outros rapazes, salvo os gays que conhecia, também não estavam nem aí para o resto da turma.

Eduardo

Não tirei os olhos dos rapazes dançando à minha frente. Ainda mais depois que começaram a tirar a roupa. Despiram os ternos, as gravatas, as camisas, as calças e logo mais, para a surpresa de todos, esconderam os pênis com a mão e arrancaram as cuecas. Todos fomos ao delírio. Nunca vi quatro caras nus dançando na minha frente antes e como a festa era dirigida a minha pessoa, acabei sendo levado ao grupo e incitado a dançar com os meninos. Entrei no clima, já que todo mundo parecia bastante solto.

Donatelo

Foi uma péssima idéia. A stripper, de nome Suéllen, acabou por dançar na minha frente quase esfregando os peitos na minha cara. Não vou dizer que não gostei. Eu adorei mesmo. O problema é que não se pode provocar um homem, especialmente se a mulher for maravilhosa de corpo e de rosto.

- Olha só o Dodô! Tá hipnotizado! – riu Rafael.

Eduardo

Perfeito! Muito alegre e divertido! Depois do “show” ainda troquei algumas palavrinhas com os rapazes. Conversei em especial com Carlos, aquele que me chamara mais a atenção, e Bruno acabou por me dar uma idéia de última hora.

Marco

Já era quase meia noite. Mandei vários sms para Bruno na última hora e ele não me retornou nenhum.

- Deixe ele se divertir. – disse Donatelo, quando estávamos na cozinha, pegando mais cerveja.

A maioria dos convidados ainda estava na casa.

- A última mensagem que me enviou foi: “estou vendo quatro caras lindos, Mi, e você? Hi hi”.

- QUATRO? Deixa ver!

Ele tomou o celular de minha mão.

- Quatro? Quatro?

- Sim. Bruno pagou pelos serviços de quatro gogo boys.

- Quatro?? Qu... Quer dizer que há quatro caras dançando na despedida de solteiro do Du?

- Quatro? – riu Rafael, entrando na cozinha. – Putz, já estou vendo os chifres crescendo na sua cabeça. Desculpe.

Donatelo me devolveu o celular. Rafael se aproximou de nós.

- Quatro é um número muito grande.

- Devem estar sentados no sofá, conversando, notando as coisas que tem em comum... – provocou Rafael. – O Du logo perceberá que ser solteiro é melhor.

Donatelo o olhou feio. Ele riu.

Donatelo

Naquele instante, senti meu celular vibrar no bolso do jeans. Peguei-o. Era uma ligação de Mick.

- Pode falar. – disse-lhe.

- Ainda está na casa do Leonardo?

- Estou e acho que o pessoal não irá embora tão cedo.

- Eu estou no Regional. A festa na casa do Bruno terminou c...

- Que Regional?

- O Hospital Regional.

- Por que? – indaguei, já ficando nervoso.

- Quando a despedida terminou, saímos com o carro...

- Quem saiu?

- Eu, Bruno, Danilo e Eduardo. Saímos com o carro e outro automóvel bateu na gente. Estamos no Regional.

- Você está legal?

- Estou. Não me machuquei muito. Os outros estão bem. O Danilo só sofreu arranhões, o Bruno estava reclamando do braço esquerdo, mas parece que não houve nada grave.

- E o Eduardo? Não estava no carro com vocês?

- É, os médicos estão dando uma olhada nele agora.

- Eu já chego aí. Não vá pra casa ainda se achar que pode. Eu te levo.

- Obrigado.

Desliguei o celular.

- Parece preocupado. Que houve? – disse Marco.

Contei do acidente. Logo Leonardo ficou sabendo também. Sendo assim, nós cinco (Marco, Leonardo, Rafael, Lucas e eu) demos por encerrada a festa e fomos para o hospital. Encontramos com Michelangelo na sala de espera. Apresentava escoriações pelo corpo.

- Você está legal, cara? – indagou Rafael.

- Estou.

- Onde está Bruno? – indagou Marco.

- Da última vez, estava tirando raios-X do braço esquerdo.

- O que aconteceu exatamente? – indagou Leonardo.

- Estávamos na General Carneiro. Quando o sinal ficou verde, o Bruno deu a partida, e um carro vindo da outra rua bateu na gente. Foi muito rápido. Quase não deu pra assimilar o que houve. Donatelo? O Eduardo estava sentado no banco da frente. Ele praticamente recebeu todo o impacto. – encarei seu olhar molhado. Ele sorriu e prosseguiu. – É triste porque, antes de entrarmos no carro, eu disse que iria na frente, mas ele me impediu. Disse que hoje o dia era dele. Por isso ele deveria ficar na frente.

- Como ele está? – perguntei, sem fôlego para tanto. Também não queria ouvir más notícias.

- Trouxeram-no inconsciente pro hospital. Ainda não sei qual seu estado.

- Puta merda! - exclamou Rafael.

Nos próximos minutos no hospital, Bruno finalmente apareceu, muito pálido e assustado. Dissera que não quebrara o braço, mas que sentia muita dor. Danilo também apareceu, e estava como Michelangelo. Só sofrera ferimentos leves. Michelangelo disse que atenderam Eduardo com rapidez, pois ele tinha convênio. Ainda bem. Sentiria muita raiva se o deixassem esperando estando muito ferido.

- Vou levar o Danilo pra casa. Me avise se souber de qualquer coisa. – disse Leonardo.

- Tudo bem. – sorri, aceitando sua mão num rápido toque de despedida.

Ambos despediram-se e saíram pela porta da frente. O resto de nós continuou na sala de espera. Marco chegou a perguntar a Bruno se não queria ir para casa e descansar. Ele negou-se.

- Não vou sair daqui até saber como o Du está.

Arrastaram-se mais alguns minutos agoniosos até finalmente vir alguém para nos dizer como ele estava. Disseram-nos que estava sendo operado. Quando chegara ao hospital, estava com hemorragia interna. Drenaram o hemitórax D para tirar o sangue dos pulmões. Tivera trauma concentrado no lado direito do corpo, não teve fraturas expostas, mas houve fratura de três costelas. Eu ouvi a tudo sem acreditar realmente.

Quando a médica nos deixou, B.B se culpou:

- Se eu não tivesse insistido em sairmos...

- Ele vai ficar legal. – disse Rafael, claramente nervoso.

Olhei para ele e depois abaixei a cabeça. Voltei a me sentar num dos bancos da sala onde eu estava anteriormente.

- Avisaram a mãe do Du? – indaguei, olhando de Mick para Bruno.

- Não tivemos tempo. – respondeu Bruno, agoniado.

- Pode deixar que eu ligo. – disse Marco.

Continuei sentado, com o coração bastante apertado. Mick sentou do meu lado.

- Pretende passar a noite aqui?

- Sim. – respondi.

- Eu fico com você.

- Não precisa.

- Eu fico porque ele é meu amigo. E me preocupo.

Olhei de Rafael para Lucas:

- Vocês podem ir. Está muito tarde. Têm que trabalhar amanhã cedo.

- Eu queria ficar. – disse Rafael.

- Mas temos que ir. Donatelo tem razão. A gente tem trabalho amanhã.

- Avisem a gente quando ele sair da sala de operação.

- Aviso. – disse.

Depois de ligar para a mãe de Eduardo, Marco deu carona a Lucas e Rafael.

Ainda esta noite, Eduardo foi transferido para a UTI, onde teve de ser entubado porque não conseguia respirar. Esta semana foi um inferno. Não trabalhei quase nada. Passei quase todas as horas do dia no hospital, junto de sua mãe. A médica que estava acompanhando-o na UTI manteve-nos informados de seu estado. Aparentemente tudo corria bem, agora devíamos aguardar a melhora dos pulmões e a consolidação da fratura das costelas. Como Leonardo estava de férias, ele nos fez companhia alguns dias da semana.

No início de fevereiro, Marco avisou-me que os papéis do casamento seriam entregues na quarta-feira, como havíamos previsto. Fiquei feliz, mas ao mesmo tempo triste, porque Eduardo ainda não havia saído da UTI.

Na quarta-feira, fui ao cartório com Marco e recebi a documentação.

- Você contou aos seus pais que ia se casar? – indagou-me ele, quando saímos do cartório.

- Não. – ri. – Eu esperava contar quando já estivéssemos casados.

- Vai ao hospital agora?

- É, vou. Preciso mostrar isso ao Eduardo, mesmo que ele não possa ver. Talvez me ouça.

- Parabéns.

Sorri-lhe.

O que eu trazia no peito era uma felicidade acompanhada por uma dor muito forte. Não que eu não acreditasse na recuperação de Eduardo, mas se tudo isto não tivesse acontecido, ou se ele melhorasse...

Quando cheguei ao hospital, tive de aguardar o horário das visitas. Assim, de tarde, pude entrar na UTI. Cheguei ao lado da cama onde Eduardo estava e fiz-lhe carinho no topo da cabeça.

- Já saiu, Du. Já saiu o documento. Já estamos casados.

Com muito cuidado, tirei o anel de seu dedo anular direito e passei-o para o anular esquerdo. Fiz o mesmo com meu anel.

- Eu sei que queria fazer um almoço especial, mas prometo que farei uma grande festa quando você se recuperar.

Olhei-o um pouco e disse, antes de sair:

- Te amo.

Seis semanas mais tarde, Eduardo recuperou-se dos pulmões, permaneceu na UTI, mas já conseguia respirar normalmente. Para todos nós foi um alívio. Tivemos de esperar o dia seguinte para poder vê-lo. Sua mãe viu-o primeiro. Eu fui o próximo. Quando entrei na sala, ele rapidamente virou o rosto para o meu lado, e sorriu. Sorri-lhe de volta, muito feliz por finalmente poder falar com ele.

Foi a última vez em que o vi...


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