Wander E Os Colossos escrita por Victor A S S Vaz


Capítulo 5
Capítulo IV - Destino amaldiçoado


Notas iniciais do capítulo

Disse que seria fácil escrever, mas quando chegou na hora não foi tão fácil assim. Espero ter conseguido passar à vocês a emoção, e a imagem que eu queria que tivessem deste capítulo.
E espero que gostem!
Do autor
~ Victor Vaz(Yume Hideki)



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Wander se levantou. Procurou Mono com os olhos por todos os arredores, mas nada encontrou a não ser a verde paisagem de sempre. Suas lágrimas voltaram. ‘’Preciso procura-la. Vou desobedecer a vontade dela, mas tenho que procura-la . Não podemos nos despedir assim!’’, pensou.

Montou-se em Agro, e saiu à procura de Mono, novamente. Explorou os arredores da colina, mas não encontrou o menor sinal de Mono. Seu pensamento agora se voltara para Harahem. Sentia que a encontraria na vila, de alguma forma.

Desceu a colina, e entrou em Harahem. Parou diretamente nos estábulos, reparou que nenhum dos cavalos estavam presentes, e entrou em seu quarto. Como esperado, nenhum sinal de Mono, porém havia algo diferente. Havia uma flor sob o cobertor escuro de sua cama. Wander a pegou, e examinou. Era uma flor inexplicavelmente linda. Nunca em sua vida Wander havia contemplado alguma como aquela, e provavelmente não contemplaria de novo. Aquela flor lhe lembrou imediatamente de Mono.

Seu pensamento foi quebrado, quando escutou um incomum alvoroço na vila. Wander colocou a flor na estante de livros, e saiu para descobrir o que se passava. Os habitantes se encontravam todos do lado de fora. Na estrada principal vinham os seis cavaleiros da guarda principal de Emon, liderados por Dangast que levava a Espada Anciã presa à cintura. Montada no mesmo cavalo de Dangast, havia uma figura com um capuz branco, escondendo o rosto. O subconsciente de Wander não o enganava, ele tinha certeza, era Mono. Porém, Wander sabia o quão era arriscado fazer alguma coisa, por isso se manteve em silêncio, e se curvou quando a cavalaria passou. Chegando na saída da vila, imponente, e com voz alta e forte, Dangast deu um aviso à todos os habitantes:

— Seguir-nos agora é um ato estritamente proibido. Se desobedecerem agora, sofrerão as consequências da própria tolice pelas mãos de forças fora do alcance de qualquer cavaleiro conhecedor de magia presente aqui, e mais uma recomendação para os que desejam permanecer seguros, entrem nas suas casas e não saiam por nada. Talvez o massacre ocorrido em Harahem à 16 anos atrás esteja prestes à se repetir nesta noite, mas desta vez não temos Lorde Emon por aqui.

Essas palavras causaram um enorme alvoroço em Harahem. Os moradores desesperados e aflitos, rapidamente entraram em suas casas, e às trancaram. Dangast, porém, nada mencionou sobre a figura encapuzada em seu cavalo. Assim, os cavaleiros continuaram seu caminho subindo a colina do Sul. O céu, neste momento atingiu um tom vermelho-sangue.

Wander esperou os cavaleiros se afastarem, e sem pensar, montou em Agro, para segui-los de longe. Sua angústia e tensão nesse momento foram enormes, estava agora vivenciando os mesmos sentimentos de seus pesadelos. Abraçando a cabeça de Agro, Wander disse:

— Vamos ter Mono de volta, Agro. Não podemos deixa-la por nada neste mundo. — Agro deu um relincho de aprovação.

O coração de Wander batia quase tão rápido quanto Agro correndo em sua velocidade máxima. Subindo a colina, Wander descobriu para onde os cavaleiros se dirigiam: a floresta escura e densa que Wander e Mono nunca ousaram entrar. Neste momento, a noite já havia caído quase totalmente.

A floresta parecia exatamente como à do pesadelo de Wander. Tão densa que nenhum feixe da luz da lua poderia entrar. À não ser por uma parte. No meio da floresta havia um altar, nesta parte da floresta as folhas das árvores não eram tão fechadas, o que fazia com que a luz lunar o iluminasse de uma forma estranha e descomunal.

Chegando à frente do altar os cavaleiros de Emon pararam, e o contemplaram por algum tempo. Enquanto isso Wander desceu de Agro, e pediu para que ele saísse para não ser visto, este obedeceu e saiu andando silenciosamente. Wander se escondera atrás de algumas árvores, da melhor forma possível, para conseguir ver tudo o que se passaria.

Dangast então desceu de seu cavalo, junto com o indivíduo encapuzado. Dangast apontou à ele o altar, e este subiu as escadas até o topo. Virando de frente, e sem dizer nenhuma palavra, a figura arrancou a capa branca, e à soltou ao vento. O coração de Wander se apertou. Como esperado, era Mono. Os cavaleiros, pela primeira vez a contemplando, ficaram impressionados com a beleza e a pureza que emanava da garota. Seu rosto agora, não expressava nenhum sentimento, estava neutro, diferente da Mono que Wander conviveu por tanto tempo.

Mono então, com um suspiro, se deitou no altar e fechou os olhos. Dangast, em seguida, subiu o altar. Em frente a todos, por poucos calmos e silenciosos momentos, contemplou Mono deitada. Então de repente, sem o menor aviso, Mono abriu os olhos. Eles estavam completamente brancos, e sua expressão agora se tornara demoníaca. Aquela já não era mais Mono. Dangast hesitante mas determinado, desembainhou a Espada Anciã, e com força e precisão, a fincou no peito da garota. Neste momento, Wander automaticamente, caiu de joelhos no chão, ofegante. Do ferimento causado pela espada, esguichou-se forte e violentamente, um liquido negro, que quando tocava algo, secava imediatamente. A boca de Mono se abriu lentamente soltando um guincho rouco, delirante e ensurdecedor. Os cavaleiros taparam os ouvidos. Junto com o grito, foi saindo de sua boca algum tipo de sombra. Quando esta saiu dela por completo, instantaneamente, o líquido parou de esguichar, e os olhos de Mono voltaram ao normal e se fecharam. Dangast retirou a espada e a embainhou novamente. Do ferimento no peito de Mono, agora brotara sangue humano, escarlate, manchando seu vestido. Dangast parecia mal, horrorizado com o que acabara de fazer. Com isso não se deu conta da sombra se materializando às suas costas. A substância amorfa e escura que saíra da boca da donzela desfalecida agora se concretizara num ser humanoide flutuante. Sobre sua cabeça, dois pequenos chifres. 

Os cavaleiros gritaram avisando Dangast, mas era tarde, a sombra o atravessou e consumiu seu corpo. A sombra, se tornou assim uma forma aparentemente mais poderosa, seu tamanho aumentou, seus chifres aumentaram, e formaram-se garras enormes no lugar de suas mãos. Tudo o que sobrara de Dangast foram as roupas que agora estavam caídas sobre o chão. O espectro, então, voando rapidamente, dirigiu-se à Harahem. Os cavaleiros se desesperaram, um deles agarrou a Espada Anciã e montou de volta ao cavalo.

— Rápido! Não temos tempo. Para a vila!

Um deles, desceu do cavalo, carregou o corpo de Mono e desceu as escadas do altar, pronto para coloca-la em seu cavalo.

— Naûtir seu tolo! Não temos tempo para carregar peso extra. Largue-a. — Disse o cavaleiro que pegara a espada.

— As ordens de Emon são absolutas. Ele nos disse para levarmos o corpo...

— Você abandonaria os seus protegidos, e a sua própria casa por causa de ordens? Largue-a. Voltamos para busca-la depois. Agora rápido!

Naûtir deixou Mono no chão e montou seu cavalo. Todos então, com um grito, dirigiram-se à Harahem, de onde já podiam escutar barulhos desesperados. Quando saíram da floresta, uma tempestade fortíssima se estendeu sobre ela. Tão forte, que atravessou os densos galhos das árvores e lavou o sangue das vestes de Mono.

Wander engoliu seco, estava desnorteado, sua única preocupação agora era Mono. A tempestade, repentinamente e sem explicação, como se se tratasse apenas de uma introdução ou um presságio, cessou. Wander se levantou e foi andando lentamente em direção a Mono, até parar, com as pernas tremendo, à sua frente.

— Mono, levante-se. — Dizia o rapaz, suplicante. — Você está livre agora. Seu fardo já não a atormentará mais. Nós estamos livres. Acorde. Podemos sair daqui agora... iremos embora. Eu, você e Agro...

Os lábios, os olhos e o peito da garota não fizeram qualquer menção de se movimentarem. Tudo nela estava completamente estático, insípido e sem vida. Wander suspirou, ficou de joelhos, e usou o braço de apoio para a cabeça de Mono. Nunca antes havia tido sensação tão desesperadora e nauseática de angústia e absoluta impotência.

— Mono, acorde. Por favor. Abra os olhos. — os olhos de Wander permaneciam vidrados em incredulidade enquanto ele se dava conta da lúgubre palidez no rosto da garota, que até pouco tempo atrás era tão cheio de vida. As lembranças dos mais inestimáveis, alegres e importantes dias de sua vida (nenhum deles sem a presença de de Mono) passavam de uma vez em sua mente e convergiam para a figura mórbida e imóvel em seus braços.

As lágrimas começaram uma a uma a escorrerem, até virarem água corrente. E num ato repentino, Wander soltou um desesperado e horrendo grito de dor. Seus olhos ardiam. Segundos depois, Agro estava ao seu lado,  reclinando a cabeça sobre seu ombro.

— Mono se foi. Ela não vai mais rir, chorar, ou ficar zangada... Eu nunca mais verei seu rosto sorridente ao meu lado quando eu acordar. — sua voz saía entrecortada por soluços.

— Você quebrou sua promessa! — berrou Wander. — Você prometeu que nos encontraríamos de novo! Mas não desta forma... Não desta forma... Mono, eu te amo.

Wander não sabia mas o que iria fazer depois disso, seu futuro era ao lado de Mono e isto não poderia ser mudado. Sua cabeça permaneceu apoiado no corpo de Mono, chorando por tempo indeterminado. O alvoroço em Harahem já não podia mais ser escutado. De repente Wander ouviu uma voz. Era como se ele ouvisse o próprio pensamento. Uma voz fria e penetrante, algo que já era comum em seus pesadelos.

— Parece então que você experimentou a dor e o sofrimento da perda de uma pessoa amada. Não é? Garoto Wander.

Wander então, tirou seus olhos de Mono por um momento. O espectro estava lá, em cima do altar de sacrifício. Usava a máscara de Dangast. Porém não parecia bem. Seu corpo estava curvo, e as sombras voavam dele, como se ele se dissipasse lentamente. Wander sem pensar duas vezes, cobriu o corpo de Mono com o próprio corpo, tirou o arco e flechas das costas e apontou para o espectro.

— Se afaste dela! — gritou, e atirou uma flecha que acertou o ombro esquerdo do espectro. Essa parte de seu corpo agora flutuava dispersante pelo ar. Wander se assustou pelo fato da criatura saber seu nome — Quem... ou o que é você?

— O que sou, o que fui, já não importa mais. — respondeu o espectro

— O que quer conosco agora...? Logo agora...

— Meu tempo é curto, como você pode ver. Preciso dizer isso rápido... — o espectro fez uma palsa e continuou. — Wander, você deveria estar morto.

A tensão de Wander aumentou ainda mais neste momento, mesmo assim não ligava para o que o espectro queria dizer, sua maior preocupação era com o corpo de Mono. Mesmo assim perguntou.

— Do que está falando?

O espectro aumentou o tom da voz.

— Você foi morto por mim quando ataquei Harahem há 16 anos.

Wander estava vidrado. Mas ainda assim protegia o corpo de Mono.

— Se não fosse pelos seus pais, você estaria morto ainda. — dizia o espectro. — Eles interviram... Irei direto ao ponto. No extremo norte deste lugar, além de florestas, colinas e montanhas, nos confins do mundo, há uma ponte que divide este lugar das chamadas Terras Proibidas. Atravessando esta ponte, há um Santuário de Adoração. Neste santuário atua um ser capaz de trazer de volta a alma dos mortos. Ele atende pelo nome de Dormin.

— Dormin... — o nome parecia familiar para Wander. Displicentemente ele guardou o arco.

— Se você for de encontro a Dormin, ele poderá trazer esta garota de volta à vida. Porém há um item imprescindível que você precisa carregar consigo. A arma mais poderosa que já se ouviu falar. A Espada Anciã.

O corpo do espectro estava quase totalmente dissolvido.

— Isso é tudo. Meu tempo acabou.

O espectro então evaporou. Os resíduos de sua sombra voaram no rosto de Wander, e a mascara de Dangast que estava em seu rosto caiu no chão e se quebrou. Este foi seu fim. Estas palavras deram uma nova meta para Wander, um novo motivo para continuar vivo. Ele poderia ter Mono de volta. Agora fazia sentido à Wander, o por quê de Lorde Emon proibir estritamente a viagem ao norte. Wander já ouvira falar sobre as Terras Proibidas, sobre um ser que pode trazer de volta a alma dos mortos, nos seus vários livros de história. Isto para ele não se passavam de lendas, mas segundo as palavras do espectro, isso era totalmente real, por algum motivo Wander não duvidava da veracidade das palavras do espectro. Não queria duvidar. E agora estava mais do que preparado para cometer os dois piores crimes que poderiam ser cometidos em sua comunidade. Wander vasculhou as roupas de Dangast no chão, pegou a bainha da espada, e a prendeu na cintura. Suspirou dizendo:

— Então é isso. Vamos, Agro. — O jovem ergueu Mono e a pôs sobre cavalo.

Wander montou em Agro e saiu da floresta, determinado em nunca mais voltar lá, por conta de suas terríveis lembranças. Partiu então para a vila novamente. Quase que imediatamente depois de saírem da floresta, dois dos cavaleiros de Emon voltaram para buscar o corpo de Mono, porém não obtiveram sucesso.

Harahem estava decadente. Várias casas foram destruídas, e outras eram destruídas pelo fogo, e jaziam corpos de cavaleiros pelo chão, porém não se via ninguém fora de suas casas, à não ser os cavaleiros que lamentavam a morte de seus companheiros. Parando em frente aos estábulos, Wander carregou Mono até seu quarto, e à colocou em cima de sua cama. Depois pôs a bela flor em cima do peito da garota. Wander chorou mais uma vez. Enxugando as lágrimas, disse:

— Eu vou trazê-la de volta, Mono. Não importa o quê.

Saiu de seu quarto e chamou por Agro, que apareceu em poucos segundos, Wander montou-lhe.

— Rápido, Agro, para o castelo. Há algo que preciso roubar.


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Notas finais do capítulo

Espero que a dor de Wander tenha alcançado vocês.
Obrigado à todos os meus leitores. O apoio de vocês é indispensável.
Até o próximo capítulo!