Wander E Os Colossos escrita por Victor A S S Vaz


Capítulo 4
Capítulo III - Confissão


Notas iniciais do capítulo

E ai galera! Gente desculpa mesmo, a minha ENORME demora para fazer este capítulo. Andei muito sem tempo esses dias. Vou fazer de tudo para postar capítulos semanalmente de hoje em diante. Se bem que o próximo capítulo, para mim, vai ser o mais fácil de se fazer, porque é algo que já tenho em mente antes mesmo de pensar em escrever a história. Enfim, aí está o capítulo 3, e espero de coração, que gostem!

~ Victor Vaz(YumeHideki)



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Uma floresta escura, era aonde ele se encontrava. As lembranças do ontem, onde conhecera uma companheira, que em seus 17 anos nunca teve, pareciam ser agora dias distantes, esquecidos, porém alegres. Mal podia ver a escuridão da noite por entre as folhas das arvores. As criaturas de sombra estavam lá novamente. Ele não sentia mais medo como da ultima vez. Sentia algo ainda pior. Quando voltava seus olhos para alguma das criaturas, sentia algo diferente. Dor, desespero, perdição... Coisas ruins, coisas que em sua vida calma e inocente ele nunca chegara perto de sentir. Precisava abrir os olhos, abriria os olhos e tudo aquilo iria embora. Mas não, precisava descobrir mais, o que aquelas coisas queriam com ele? Por quê aquilo de repente resolveu atormentá-lo todas as noites? Três delas se aproximaram, esticaram os braços. Queriam leva-lo. ‘’Sabemos onde é seu lugar’’ ‘’O mestre o quer conosco’’ ‘’Já passou tempo demais, garoto Wander’’, sem aviso nenhum, essas palavras, da pior forma, entravam em sua cabeça. ‘’Mestre?’’ Ele se perguntou. O desespero e a pressão eram tamanhos, que não conseguiu mais suportar. Resolveu abrir os olhos , porém como esperado, não conseguiu. Não havia outra forma, levou a mão à boca, e a mordeu com toda a força. A escuridão desapareceu. Wander enxergava somente o teto de seu pequeno quarto. A janela levava à luz do dia e o fresco ar de Harahem para alguém que até pouco tempo, estava imerso em desespero e em sentimentos ruins. A mão de Wander agora carregava a marca de seus dentes, sentia como se estivesse fraturada ou quebrada, e o sangue escorria. Deveria amarrar algo por cima disso ele pensava. Quando tirou o negro cobertor de si, sentiu que outra força era exercida sobre ele. Olhou para o chão ao lado de sua cama, e se surpreendeu profundamente. Mono dormia no chão ao seu lado.

No momento em que viu a garota, todas as lembranças de seu sonho desapareceram. A aura de Mono era tão boa que no momento Wander sentia apenas calma e paz. Estava ao mesmo tempo surpreso e feliz ao vê-la. Desceu de sua cama, cauteloso para não tocar e silencioso para não acordar a garota. Amarrou uma atadura na mão ferida, e voltou-se para Mono.

— Ei, Mono...? — sussurrou, tocando-a de leve no ombro para não acordá-la tão bruscamente.

Mono sorriu, e lentamente abriu os olhos. Pois a mão sobre a mão de Wander que a tocava e se sentou.

— Bom dia. — disse baixinho.

— O que faz aqui? Me assustou.

— Desculpe-me. Pela invasão e pelo susto. O seu quarto é muito aconchegante. Queria experimentar como seria ficar nele por uma noite...

— Não precisa se desculpar. Isso não foi uma invasão. Você é minha amiga, pode vir aqui sempre que quiser. Mas...

— E também. — Mono o interrompeu. — Percebi que me sinto segura quando estou ao seu lado. —disse afastando o olhar.

Wander ficou envergonhado. Não sabia de que forma poderia proteger a garota. Mas sentia que, nem que fosse com a própria vida, ele deveria fazê-lo quando fosse preciso.

Se é assim que se sente, pode ficar ao meu lado sempre que precisar. — Disse Wander, virando os olhos. Disse mais para si mesmo do que para Mono.

A garota riu, calma e gentilmente. E se levantou.

—Wander — Disse com firmeza — Te nomeio , agora, meu cavaleiro! E quero que prometa que ficará ao meu lado até o... Fim.

Wander soltou uma boa risada. Se ajoelhou, e pois a mão sobre o peito.

— Sim, vossa alteza. Eu lhe prometo.

A garota sorriu alegremente.

Eu sei que você manterá sua promessa. — Agora seus olhos se voltaram para a mão de Wander. — O que houve com sua mão? — perguntou surpresa.

— Ah, minha mão... Acho que acabei me cortando de alguma forma enquanto dormia.

— Tenha cuidado. — Disse baixinho, parecia angustiada.

Wander se deu conta que podia estar muito tarde.

— Tenho que ir para os estábulos.

Eu sei. E sei que como você não pode sair do meu lado, eu também não posso sair do seu.

— Oh, então você ficará na guarda comigo? — Perguntou Wander, feliz.

— Claro. Ao seu lado até o fim. Não é essa a nossa promessa?

— Sim.

Wander se sentia profundamente emocionado. Mesmo tivesse começado em tão pouco tempo, nunca tinha tido uma ligação tão grande com outro humano em toda sua vida. Seus dias seriam mais divertidos. De agora em diante nenhum dia seria igual para os dois. Dois jovens solitários aprendiam um pouco um com o outro o que era ter um amigo. Alguém com quer dividir sonhos, ambições e emoções. E a promessa estava sendo cumprida. Wander e Mono, à não ser por momentos bem específicos, nunca saíram de perto um do outro.

Os guardas de Emon, depois do dia em que convocaram Wander para ver seu mestre, nunca mais lhe procuraram ou lhe dirigiram a palavra. Porém Mono se escondia sempre que um deles se aproximava, ela dizia ter medo deles. O motivo, porém, Wander não descobriu. Sendo assim, sempre que Wander saia para comer no castelo, Mono o esperava no seu quarto. Wander sempre lhe trazia frutas, o que parecia ser a única coisa que Mono comia, uma vez que rejeitava a carne de lagarto.

Uma semana se passou, e então chegou o dia em que Wander e Mono decidiram sair de Harahem pela tarde, e explorarem o mundo à sua volta. E assim foi feito, da tarde para frente o dia se resumia com o trio Wander, Agro e Mono, vagando pelas terras do mundo e descobrindo suas maravilhas, porém não podiam ir muito longe, e nunca se atreveram ir para o norte. Cada dia que passava acabavam voltando mais tarde, porém Wander era fiel com seu trabalho. E nunca pensou em abandona-lo.

À noite Wander lia seus livros para Mono, que se maravilhava enormemente com suas histórias. E com o tempo foi adquirindo grande conhecimento, além de aprender ler por si mesma e levar os livros para quando resolverem descansar, sentados na verde colina, em algum de seus passeios. Wander contava toda história de sua vida para Mono, por mais repetitiva que ela lhe parecesse, e essa como sempre, se alegrava em ouvir. Quando Wander perguntava algo sobre a vida de Mono, esta sempre dizia que não tinha nada para dizer.

Os sonhos de Wander se passaram a ser corriqueiros, nada de novo acontecia neles, mas apesar de sempre se sentir perturbado, Wander se acostumou a lidar com eles todos os dias.

Pouco a pouco, os laços entre Wander e Mono ficaram cada vez mais fortes, até alcançarem uma força indestrutível. Agora era impossível pensar num dia em que um estivesse sem o outro.

Assim se passaram os melhores cinquenta e sete dias da vida de Wander, Mono e Agro.

Wander abriu os olhos cansado. Acabara de ter mais um de seus terríveis sonhos, e tivera um dia longo e agradável no seu passeio com Mono e Agro no dia anterior. Quando se destapou não sentiu o usual peso que Mono fazia sobre o cobertor, e se assustou. Procurou Mono com os olhos, mas não havia sinal dela. Wander se desesperou. Gritava o nome de Mono por toda a vila de Harahem, mas não encontrava nada. Não pensou duas vezes, saiu para os estábulos e montou-se em Agro. Saiu pelas terras procurando desesperadamente por Mono, porém nada achou.

Passou muito tempo até que pudesse pensar direito, já estava de tarde. E um lugar veio na mente de Wander enquanto vagava com Agro por um campo florido. Precisava ir até aquele lugar. Ele tinha certeza de que Mono estaria lá. Contornando pelo sul, Wander atravessou as beiras de densa floresta que sempre evitou, e chegou até a grande colina, com visão para Harahem. E lá estava Mono, sentada, com um semblante triste no rosto. Sorriu quando viu Wander.

— Mono!! — Wander desceu de Agro e a abraçou com força. Todo o seu desespero se foi. — Ainda bem...! Ainda bem!!

Wander a soltou.

— Eu sabia que iria me encontrar. — Mono sorriu, porém finas lágrimas escorreram de seus olhos.

— Mono...? O que houve? — Perguntou Wander surpreso e triste por tal reação.

— Wander. Preciso te contar uma coisa. A história que sempre escondi de você.

Wander ficou tenso. Mas estava atento para ouvir a história, e acenou com a cabeça afirmativamente.

— Sente-se. — Disse Mono.

Mais lágrimas escorreram de seu rosto. Mono suspirou e começou.

— Há muitos séculos atrás havia uma divindade maligna, porém muito poderosa. Ela não pensava em nada além de si mesma. Esta divindade odiava os humanos. Odiava o fato de que criaturas tão fracas, em comparação a ela, viviam perante a paz e a felicidade. Sua aparência era uma forma enorme, escura, e com dois altos chifres no topo da cabeça. Ela tinha um certo poder especial que atraia as pessoas à ela. Dessas pessoas, ela fazia seus escravos, os transformavam em espectros, por assim dizer. Ela começou a formar estes espectros para usá-los como um poderio contra o reino dos humanos. Porém, o líder xamã, ou Lumina, como eram chamados na época percebeu suas intenções e forjou espadas e flechas capazes de afastar os espectros e proteger os domínios humanos. A mais poderosa destas armas é a Espada Anciã, que têm poder quase absoluto contra os espectros, e era uma grande ameaça ao líder deles. A Espada Anciã foi passada ao líder de Harahem, e as outras espadas, arcos e flechas foram para seus subordinados. Você já deve ter ouvido falar desta história, certo Wander?

— Sim, é uma lenda antiga. Mas nunca a tinha escutado com tantos detalhes... — Wander não sabia onde esta história poderia envolver Mono. Mas mesmo assim sua tensão só aumentava. — Por favor Mono, continue.

As lágrimas de Mono desciam mais rápido. Suspirou de novo e continuou.

— As gerações se passaram, e mais e mais espectros acabaram se formando. Até que um dia, um deles entrou em Harahem sem ser percebido, pois era um dia muito feliz, o nascimento da neta de Emon. Era dito que espectros só poderiam possuir o corpo de uma pessoa quando esta ainda não adquiriu consciência própria. E foi o que ele fez, invadiu o castelo e possuiu o corpo da criança. Assim este espectro ficou mais poderoso, matou os pais da criança e saiu por Harahem espalhando o caos. Homens, mulheres, crianças, muitas pessoas foram mortas neste dia. Até que Emon usando o poder da Espada Anciã selou o espectro de volta para dentro do corpo da criança. Este acontecimento foi um choque terrível para Emon. Ele acabou indo sozinho até as terras onde a divindade atuava, e a selando, usando o próprio poder. Emon previu que quando a criança completasse dezessete anos, o espectro tomaria de volta seu corpo, porém não tinha certeza de que talvez, por algum acaso isto acontecesse antes da profecia. Por isso manteve a criança presa no quarto andar de seu castelo até que no dia previsto, o espectro tomasse de volta seu corpo e fosse eliminado. A profecia também dizia que apenas Emon poderia manter a chave do quarto andar, ao menos que ele mesmo à passasse para outro guardião. — Mono respirou fundo, e mais lágrimas se escorreram. — A criança do espectro, Wander, sou eu.

Wander gelou.

— Mono... Mas como...! — Wander estava em choque, não sabia o que dizer. Passou a sentir a tristeza de Mono como se fosse a dele. Seus olhos se encheram de lágrimas.

— A única pessoa que mantive contato por toda a minha vida foi Emon, apenas ele ouvia minha voz, apenas ele conhecia minha aparência. Por todos estes anos depois que selou a divindade, ele jamais tinha saído de Harahem. Eu descobri um jeito de sair do castelo, porém não sabia o que poderia acontecer se Emon me achasse do lado de fora. Foi quando ele saiu de Harahem para combater o exercito de espectros espalhados pelo mundo que decidi sair. Conhecer, nem que fosse um pouco o mundo aqui fora. Mas aconteceu melhor. — Mono derramou mais lágrimas e olhou para Wander. — Eu conheci você, Wander. Esses poucos dias que passei aqui fora, os dias que passei ao seu lado, de forma alguma poderiam ter sido melhores. — Mono ficou vermelha, não mais apenas derramando lágrimas, fazia de tudo para conter o desespero, e manteve a calma. — É hoje Wander, hoje é o dia marcado. Daqui algumas horas o espectro vai emergir no meu corpo, e deve ser eliminado.

— Eu irei com você! — Falou Wander, com um tom de voz bastante elevado. Seus olhos agora também derramavam lágrimas. — Eu sou seu cavaleiro Mono. Eu não vou deixar o seu lado, nunca. Muito menos num momento como este.

— Desculpe Wander, você não...

— Eu fiz uma promessa...!

— Simples promessas não podem quebrar profecias Wander. — Mono desabou em choro. — Eu possuo um destino amaldiçoado! E esse destino deve ser cumprido, hoje. Me desculpe Wander. E eu te rogo, não importa o que estiver sentindo no momento, por favor não me siga! Por favor...

Wander tentou se conformar, porém chorava mais forte.

— Nos encontraremos de novo? — Perguntou Wander.

— Se não estivermos destinados a nos encontrar, então eu mesma mudarei este destino. — O choro de Mono diminuiu. — É uma promessa.

O crepúsculo estava chegando, o céu foi passando de azul para uma cor mais rosada, e os pássaros voavam no céu. Involuntariamente a mão de Wander tocou a de Mono e as duas se entrelaçaram. De olhos fechados, seus rostos se aproximaram lentamente, e suas testas ficaram por um tempo pressionadas calorosamente uma contra a outra.

Mono se levantou, pôs a mão por trás da cabeça de Wander, e disse com uma voz calma e suave:

— Obrigada por tudo. Adeus.

Wander, que até então permanecia de olhos fechados, os abriu assim que sentiu a mão de Mono parar de tocá-lo. Porém, a garota já não estava mais lá.


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Notas finais do capítulo

Desculpem este longo pulo que eu dei com a história, passando de um dia para outro assim, tão rápido. É porque eu realmente não queria enrolar muito com essa parte. Mas espero que tenha ficado claro como foi o relacionamento de Wander e Mono, e o porque dos laços entre os dois terem ficado tão fortes.

Até o próximo capítulo!! /Que como já devem saber, vai ter um tema bem específico.