Quase Sem Querer escrita por Loly Vieira


Capítulo 17
Capítulo 17- E lá vamos nós novamente...




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Eu só tinha levado um pouco de dinheiro por pura insistência de minha mãe, pegando das “economias da casa” todo o dinheiro achado. As mães e esse sexto sentido tão perfeitamente aguçado.

-Para aonde moça? – o homem do banco da frente perguntou. Tinha ligado para companhia de taxis graças ao panfleto.

Distribui um sorriso nervoso pelos lábios.

-Rodoviária.

Ele assentiu. A viagem foi silenciosa. Ao contrário do que muitos filmes, o tempo estava perfeito. Um leve vento frio e um sol razoavelmente bom, eu diria irônico.

Graças ao pequeno desconto do taxi e ao um senhor muito solidário e simpático que estava atrás de mim na fila, eu consegui pagar a passagem. No começo eu o olhara esquisita e desconfiada, mas depois da moça da cabine perguntar como ele ia e sorrir em minha direção, presumi que ainda existia pessoas boas no mundo.

-Menina – assim ele me chamava. Estávamos os dois lado a lado na viagem. Além de completar o pouco que faltava da minha passagem, comprara cookies para nós dois. – Já perdi tanta coisa nessa vida...

-Eu também.

Então ele me olhou nos olhos, por cima dos óculos quadriculares. Seus olhos eram de um verde tão claro que eu nunca havia visto na vida.

-Perdi tanta coisa por medo de tentar – falou – Não me arrependo sabe... Ouça esse velho caduco, menina – Ele apertou uma das minhas bochechas, olhou em meus olhos rasos. – O que era para ser já foi. A pior coisa que se tem é o arrependimento. Você deve estar escutando isso todos os dias da sua vida mas você ainda é tão jovem, é a melhor época para passar por cima de todas as dificuldades.

Eu tentei sorrir em sua direção. Aquele homem dono de mãos enrugadas e com calos se chamava Marcel Oliver e graças a 4 horas de puro tempo desocupado, eu fiquei sabendo que ele se casara aos 19 e sua esposa tinha 18, 2 anos depois tiveram seu primeiro filho, Thomas era o mais velho, mais 3 anos surgiu Marco e só então, após 5 anos viera a adorável Pietra.

A caçula era citada com um brilho nos olhos, a amável e doce Pietra de apenas 9 anos, ele repetia.

-Pietra... – murmurou. – Ela poderia estar assim, como você.

E graças a esse verbo conclui que a amável Pietra era também parte de uma cratera em seu coração que já há tempos se formara.

-Minha esposa Anita não aguentou – confessou-me – Pietra sempre fora a princesinha que a transformava em rainha.

Eu ouvia calada, às vezes sorria quando me convinha, às vezes assentia, mas na maioria das vezes eu ouvia. E era só e justamente isso que Marcel Oliver necessitava, alguém que o ouvisse e que tivesse histórias a falar também.

Paramos na rodoviária. Eu parava por aqui e ele seguia. Antes que eu o perdesse entre as pessoas, Marcel me segurou pelo punho com a mão trêmula.

-Menina... O que pareceu certo ontem, hoje se tornou um erro, mas o erro hoje pode parecer o certo amanhã.

Enruguei a testa, meio confusa pelo o que ele dissera, por fim, o tomei em um abraço. Ele deu leves batidinhas em minhas costas. – Muito obrigada Marcel

-Mande lembranças a Pietra – e partiu.

Estava sentada num dos bancos da rodoviária, ao meu lado estava uma mulher com um bebê chorão no colo, a criança recebia sacudidelas como um pedido mudo de silêncio. Meu celular estava em mãos, eu me perguntava para quem eu ligaria. A primeira e velha opção era o bom colo da mãe, mas eu realmente não estava muito a fim de responder todas as perguntas que ela faria. Não agora.

Meu dinheiro já tinha acabado há muito tempo, ao contrário da minha fome, que parecia cada vez maior. Encarei mais uma vez meu celular, o sinal tinha voltado. Procurei pelos nomes na agenda eletrônica mas nenhum parecia uma possível idéia de salvamento.

O bebê ao meu lado finalmente aquietou, agora era somente o zumbido familiar de várias pessoas conversando e falando em um lugar fechado. Meu celular começou a vibrar e a voz de Danny Jones começou a cortar pela multidão. “Gabi” piscava no visor.

Por um segundo eu pensei em atender, perguntar o que era que ela queria agora.  Avisar-me que estava grávida e mudaria para uma casa com cercas brancas com seu Golden Retriever e o cara da sua vida?

Mas no segundo seguinte eu queria jogar aquela porcaria de aparelho eletrônico no chão e fazer uma dança grega com todos os objetos que eu visse pela frente. E fora só mais um segundo para eu me lembrar que nem ele e muito menos Danny Jones tinham culpa daquilo tudo. Coloquei para rejeitar qualquer ligação vinda dela. Dane-se Gabriela e todo o seu jeito de dona do mundo.

Voltei a fuçar a lista eletrônica, ali estava um nome que eu não esperava clicar. Respirei fundo e coloquei o celular contra a orelha. Iria cair na caixa postal quando uma voz rouca atendeu.


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Notas finais do capítulo

Considerem-se com as bochechas arrancadas e colocadas no formal *-* : Sonhadora00, BelleDiniz, Adriana Morais, Luu Amorim, ameblifls_smart, mengelkep, Mandii, Nathalia, Allison.
Não fiquem tristes pela a narrativa meio deprimente da Mah, as coisas melhoram, sempre melhoram.
Estou realmente decidida a fazer com que vocês comentem, e se tal motivo for falta de assunto aqui está uma das minhas saídas. Não me deixem sendo idiota sozinha e por favor me respondam (isso vale para vocês também minhas fiéis leitoras).
Desafio de hoje: Sem procurar no titio google, diga, ou melhor, chute, quais são os significados de tais fobias: Anuptafobia, Selenofobia, Geliofobia.
Quero ver quem vai acertar U-U