The Bet escrita por StardustWink


Capítulo 21
Destino.


Notas iniciais do capítulo

Heeeeey pessoal! Faz meio que um ano, né?? então... Não me matem, por favor! ;v; Peço desculpas por ter demorado tanto e feito tantas promessas não cumpridas (eu realmente enrolo muito....) , mas além desse ter sido o ano do meu vestibular, eu estava sem criatividade para terminar The Bet. O final na fic antiga não era tão bom, e eu quis melhorá-la por completo - algo que eu não conseguiria fazer se não estivesse mesmo com vontade de escrever.

E agora que estou de férias e minhas habilidades com a mão milagrosamente voltaram, estou aqui! É uma honra dizer que sim, esse é o fim dessa fic que já me trouxe muitas alegrias desde que uma garota de 11 anos resolveu abrir o Word para escrever uma história. Engraçado como o tempo passa, né?

....Bom, eu já mantive vocês aqui por tempo demais. Espero que gostem, pessoal.



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Yellow lembrava-se da primeira vez que estivera em um hospital.

Quando era criança, seu amor pela natureza e aventuras que a cercam tinham custado à pequena um braço quebrado e dois pais preocupados que a levaram rapidamente para o pronto socorro.

Lá, ela conhecera um médico gentil, acabara por ter de colocar um gesso (apelidado de ‘coisa branca’ pela mesma) no braço ferido e tivera direito a doces e mimos pelo resto da semana.

No começo, aquele lugar lhe trazia boas memórias. No entanto, passar pelas paredes brancas e sem vida dos corredores agora só a provocavam um vazio doloroso no peito.

Isso, e uma sensação pesada de morte.

– Ei, eu trouxe água. - Ela olhou para cima, onde uma mão familiar lhe estendia um copo. Aceitou-o sem se pronunciar, estava cansada demais para murmurar um obrigada.

Red ficara com ela por um bom tempo depois do acidente. Desde a hora em que o motorista parou o carro e ofereceu-se para ajudá-lo até aquele momento, ele não saíra uma vez sequer do seu lado.

Chegaram rápido até o hospital, onde levaram o pai dela em uma maca pelo corredor e os deixaram sentados esperando. Tinham até providenciado uma muleta para Yellow, que agora jazia encostada na parede ao seu lado.

Ele sabia que a garota, mais uma vez, estava se sentindo culpada pelo ocorrido. Ela podia ser amável, ter seus momentos de bravia, mas ainda sim se responsabilizava demais. Mesmo que não fora realmente tão grave, ele a conhecia, e aquilo definitivamente tinha a ferido por dentro.

– Sua prima deve estar quase aqui, - O moreno comentou, numa tentativa de distraí-la. - Disse que ligaria para as irmãs e viria logo em seguida.

– Hm... - A loira murmurou, não tirando os olhos do chão. Ele suspirou; do que adianta ser sociável se nessas horas ele não conseguia fazer nada para consolar uma garota?

Talvez se eu... O jovem estendeu um dos braços, gentilmente levando-o para perto da mesma...

– Você é a Srta. Groove?

Uma terceira voz fez com que ela levantasse a cabeça e, com o susto, Red recuasse sua mão. Uma mulher com um jaleco branco os encarava com uma expressão séria.

– S-sim! - A loira gaguejou um pouco,sentindo um calafrio percorrer seu corpo. - O meu pai está bem?

A mulher ficou quieta por alguns segundos. Yellow encarou-a, sentindo suas mãos tremerem sobre seus joelhos.

Por favor, implorou silenciosamente, que não seja sério...

– Ele fraturou uma perna e está com hematomas nos braços e tronco, mas fora isso está bem. - Ela abriu um sorriso tranquilizador. - Poderá ser liberado amanhã de manhã.

– Ah...! - A garota sentiu os olhos marejarem, e sorriu aliviada. Ao seu lado, Red também sorriu. - Muito obrigada! Eu posso vê-lo?

– Claro, venha comigo. - A médica esperou até que Yellow se levantasse, estendendo uma das mãos. A menina aceitou a ajuda, visto que seu pé ainda doía bastante, e pegou a muleta para se apoiar.

O garoto queria ir com ela para ajudar, mas continuou sentado: sabia que Yellow precisava de um tempo sozinha com o pai, e a mulher já estava a auxiliando. Porém, olhou confuso ao ouvi-la chamar por ele.

– Você pode ir comigo? - Ela parecia receosa. Red assentiu sem pensar duas vezes, e pôs-se ao seu lado, ficando próxima caso ela precisasse de ajuda.

Os três andaram até a porta, a uns cinco passos do banco onde sentavam. A loira parou, hesitante, afastando-se do garoto para ficar de frente ao quarto. Isso, porém, deu lugar à surpresa quando sentiu uma mão segurar a sua.

Ela virou para o lado, e seus olhares se cruzaram. Num gesto silencioso, Red apertou sua mão de leve, como se dissesse “Vai ficar tudo bem”.

A jovem sentiu um quentinho tomar conta de seu corpo por um breve momento. Um pouco mais segura de si, abriu a porta e espiou para dentro do quarto.

Avistou seu pai, deitado na cama do hospital e com a perna engessada escapando para fora do lençol. Seu rosto estava sem ferimentos, mas seus braços estavam ralados e tinham alguns roxos, provavelmente pelo contato com o asfalto na queda.

– Pai? - Ela falou com a voz baixa, segurando mais forte a mão do garoto.

O homem, que tinha os olhos voltados à janela, virou-se na direção dela.

– Yellow... - Ele olhou para o rosto da mesma, que devia estar vermelho pelo tempo que passara chorando. Depois, encarou o jovem ao seu lado.

Red corou um pouco, desviando os olhos para o chão. Mesmo que não se arrependesse nem um pouco de estar de mãos dadas com a loira, senti-se um pouco sem graça por fazer isso na frente de seu pai.

– Vamos, entrem. - O homem os pediu. A médica, após avisá-lo para chamar a enfermeira caso precisasse de alguma coisa, fechou a porta, deixando os três sozinhos no aposento. Ao ver que sua filha mancava, franziu a testa. - O que aconteceu...?

– Foi na Olimpíada, - Ela apressou-se a dizer, - Eu acabei me machucando no meio do jogo, mas está tudo bem...

– Hm. Vocês ganharam?

– Sim... - A garota tentou abrir um sorriso, mas não achou forças para fazê-lo.

Um silêncio se instalou por alguns segundos.

– Pai, eu... - Ela começou, parando logo em seguida: Não sabia o que falar. Pediria desculpas por ter se descuidado? Perguntava se ele estava bem?

– Yellow.

Ela olhou para cima, surpresa. O Sr. Groove tinha uma feição séria no rosto.

– Você pode... Pode tirar o seu boné?

– Eh? - Yellow arregalou os olhos. - M-mas-!

– Sem mais. - Ele a interrompeu, - Acho que o que aconteceu hoje já é prova o suficiente de que eu não posso continuar assim, querida. Eu já tirei demais as suas próprias liberdades por causa de um problema meu.

– Mas você...

– Por favor, Yellow. - A voz do homem era séria, mas seus olhos cintilavam como se implorassem para ela.

–... Tudo bem. - Red sentiu sua mão ser apertada com força. A loira ao seu lado levou uma das mãos até a cabeça, e num movimento rápido retirou o eu cobria seus cabelos.

Por um momento, o garoto se viu novamente naquele infeliz dia em que o amigo de May retirara o boné de Yellow sem que ela quisesse. Ele lembrava com clareza o medo presente em seu rosto quando ela o encarara, assim como o arrependimento.

Agora, porém, era o contrário. Mesmo que sua mão tremesse e ela tivesse um brilho amedrontado nos olhos, estava com o rosto determinado, e mantinha-se firme mesmo com o pé machucado.

Mais do que nunca, ela pareceu corajosa. Corajosa, forte e incrivelmente bela.

Ele ouviu um ‘click’ bem no interior de seu ser, e de repente tudo fez sentido.

– Ah... - Na frente de ambos, o pai de Yellow tinha lágrimas nos olhos. Ele abriu um sorriso largo. - Você se parece mesmo com ela...

– Pai, para, eu não quero que você fique triste... - A garota fez menção de colocar o boné novamente, mas foi impedida pela voz de seu pai.

– Não, Yellow. Eu preciso passar por isso. - Ele engoliu em seco, expulsando de si todas as memórias de sua falecida mulher sorrindo, dizendo “Até mais, querido”, para nunca mais voltar.

Elas eram parecidíssimas, ela e sua mãe. E ele não podia fazer mais isso, não conseguir nem olhar direito para o rosto de sua própria filha por ter os mesmos cabelos dourados, o mesmo rosto, o mesmo sorriso.

Ele acidentalmente transformara uma benção em uma maldição.

– Venha cá, querida. - Ele pediu.

Ela hesitou, mas Red transferiu sua mão para cima de seu ombro. Ele sorriu para ela novamente, e Yellow retomou sua decisão.

Andando lentamente por causa de seu pé machucado, ela pôs-se em frente ao seu pai. Ele, depois de respirar fundo mais uma vez, estendeu uma mão que tremia até, levemente, tocar o rosto de sua filha.

– Você é realmente a cópia dela, não é mesmo... - Ele riu sem humor. - Me desculpe, Yellow. Eu devo ser um pai horrível por te fazer passar por isso.

– Não, você sabe que não é. - A garota levantou uma das mãos para tocar a que estava em seu rosto, e uma lágrima solitária desceu por um de seus olhos. - Você é o melhor pai que eu poderia ter em toda a minha vida.

O homem sorriu novamente, e puxou a pequena para um abraço. Ficaram ambos ali, abraçados, murmurando desculpas um para o outro sem perceber que o tempo passava. Red saiu pela porta sem fazer barulho, não querendo atrapalhar o momento que compartilhavam.

Do lado de fora da sala, encontrou Misty e três garotas mais velhas que ele tivera a impressão de ter visto antes. Todas elas esperavam do lado de fora da sala, e a ruiva levantou assim que viu o moreno sair pela porta.

– Red! O que aconteceu? O pai da Yellow está bem? - Ela perguntou, preocupada. Ainda estava com a roupa da escola, então provavelmente devia ter vindo sem nem ter tempo de tomar banho.

– Está sim, não foi nada grave. - Ao saber disso, tanto sua amiga quanto as três moças pareceram mais aliviadas. Uma delas, a loira, falou em seguida.

– E quem seria você, mocinho?

– Uh... Eu me chamo Red, sou amigo da Yellow. - O garoto, surpreso com a pergunta, respondeu. - Eu estava lá quando aconteceu e vim com ela até aqui.

– Ah, então você é o Red! - A de cabelos azuis falou em seguida, com um sorriso um tanto suspeito. - Ouvimos falar de você. É o namor-!

– Quieta! - Misty a interrompeu pondo uma das mãos sobre sua boca. Depois, voltou-se para o garoto confuso que estava na porta. - Ignore elas, Red, são as minhas irmãs chatas.

– Nós estamos aqui do seu lado, Misty. - A de cabelos rosa a lembrou. - Podemos te ouvir direitinho.

– Eu sei disso, Violet. - A ruiva mandou-a uma encarada mortal. Depois, suspirou. - Bom, ainda bem que não foi sério. A Yellow ficaria arrasada...

– Ela está, um pouco. - O garoto comentou em seguida. - Acho que está colocando a culpa em si mesma. Mas acho que, agora que está conversando com o pai, as coisas vão se resolver.

– Eu espero. - A irmã loira de Misty disse, e o assunto estava encerrado. Ficaram todos à espera da pequena garota do lado de fora do quarto, em silêncio. Misty chegou até a comentar que tentara falar com Blue, mas que esta não atendia ao telefone.

– Deve ter saído para comemorar e o desligado, ela sempre faz isso. - Foi o que Red dissera. Depois disso, esperaram mais.

Até que, finalmente, a porta se abriu. De lá saiu Yellow, com os olhos vermelhos e apoiando-se em uma muleta. Misty foi ao seu encontro no mesmo segundo.

– Você está bem? - Perguntou. A garota assentiu, forçando um sorriso.

– Só um pouco assustada, mas estou melhor. Meu pai e eu acertamos as coisas.

A ruiva só então percebeu que a garota tinha os cabelos à mostra.

– Então... você não precisa mais usar mais o boné?

– Não exatamente... Quer dizer, não é tão fácil se livrar de um trauma, e eu não quero que meu pai se force demais. - A loira explicou. - Mas é um começo.

– Ah, isso é ótimo, querida. - Lily levantara da sua cadeira, e fora até Yellow. - Pode dormir na nossa casa hoje, se quiser. Você não deve querer dormir sozinha, certo?

– Mas eu iria dormir aqui... - A garota começou.

– Nem pensar! - Daisy a interrompeu, - Você vai com a gente e ponto final, menina! É muito nova para passar a noite no hospital, duvido que seu pai aprove isso.

– Uh... Bem... - Sem encontrar uma desculpa, ela, por fim, desistiu. - Tudo bem então.

Red sorriu ao vê-la interagir com as primas. Parecia muito melhor do que antes, assustada e culpada. E por menor que seja, seu sorriso tinha voltado.

E ele realmente amava quando ela sorria.

Seu coração bateu um pouco mais forte, ao lembrar-se de sua pequena descoberta de momentos atrás. Ele não podia negar; estava apaixonado por ela. Queria tê-la do seu lado, consolá-la como preciso, e nunca sair de seu lado assim como fizera hoje.

Como não percebera isso antes?

– Red? - Ele olhou para o lado, e Yellow estava o encarando. Ela parecia... Envergonhada?

– O que foi? - Ele inclinou a cabeça para o lado, sorrindo. A garota desviou os olhos para o quarto antes de continuar.

– Uh... O meu pai disse que queria falar com você. - Ela murmurou. - Eu não sei por que, mas... Você pode ir lá?

– Tudo bem... - Ele piscou, permanecendo com o rosto normal até realmente processar o que tinha ouvido.

Com o pai dela.

Que tinha visto os dois de mãos dadas durante um bom tempo quando estavam naquele quarto.

Engoliu em seco, desejando que não houvesse nada no quarto que o pai de Yellow pudesse tacar nele assim que o mesmo entrasse.

– Eu estou indo então... - Com passos cuidadosos, ele se aproximou da porta.

Deu uma última olhada para trás: Yellow parecia que ia explodir de tão vermelha, Misty tinha uma sobrancelha arqueada e as suas irmãs mais velhas sorriam, todas com um brilho estranho nos olhos.

Red respirou fundo. Com mais um passo, ele passou pela porta.

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O pai de Yellow fora, surpreendentemente, muito mais gentil do que ele esperava. Tinha aceitado muito bem a explicação de cinco segundos do garoto de porque estava de mãos dadas com sua filha, chegando até a rir do nervosismo do mesmo.

– Não é sobre isso que eu te chamei aqui, jovem. - Ele abriu um sorriso. O moreno, ao ouvir isso, corou a um tom quase igual ao de seus olhos. Então ele falara aquilo para nada?

– Ah. Uh. - Ele tentou falar algo quanto à isso, mas as palavras não saíam de sua boca. Decidiu, então, mudar de assunto. - Por que me chamou aqui, então?

– Eu queria te pedir uma coisa. - Ele começou. Parecia receoso em continuar, mas depois de um tempo, o fez. - Decidi que vou ficar longe da Yellow por um tempo.

– Quê...? - Red chegou mais perto do homem, confuso. Eles tinham acabado de se reconciliar, e agora ele queria ir embora?

– Você viu o que aconteceu hoje. Estava tão cansado e triste por ter faltado a Olimpíada que cheguei a delirar, e por sorte não aconteceu algo pior. - O Sr. Groove suspirou. - Eu não posso fazer a Yellow passar por isso de novo. E, se eu for descuidado outra vez, é certo que isso pode acontecer.

– Mas e quanto à Yellow? Ela não vai aceitar ficar longe de você desse jeito! - O mais jovem rebateu, franzindo a testa.

–Não vai, mesmo. É por isso que vou continuar na minha casa fazendo tratamento e ela ficará com as primas. Posso visitá-la quando quiser desse jeito. - O homem explicou. Depois, sorriu mais uma vez para o garoto.

–A minha filha é uma garota linda, você deve saber disso. Ela também é muito bondosa... – O homem suspirou. – Eu não quero que ela se sacrifique mais por algo que eu posso sim resolver. Que tipo de pai eu seria fizesse isso?

Red permaneceu em silêncio. Ele não podia dizer que discordava daquilo, mas sabia que Yellow não concordaria. Mas o que ele poderia fazer?

–... Eu queria te pedir uma coisa. – A voz do Sr. Groove chamou sua atenção. – Não vou poder cuidar da minha filha enquanto estiver longe dela, então você pode fazer isso por mim?

– Eh? Eu? – O garoto de olhos vermelhos piscou. – Mas e a Misty?

– Ela e as primas também, claro. – O homem sorriu. – Mas eu sei que ela gostaria de ter você ao seu lado mais do que os outros. E, se me permite dizer, acho que você também.

Red encarou-o surpreso, e ficou levemente vermelho. Ele abriu sua boca para responder, mas o pai de Yellow foi mais rápido.

– Não me olhe assim, garoto, eu sou o pai dela. Você acha mesmo que eu não conheço a minha filha? – Ele cruzou os braços, sério. – Eu posso ser um pai ruim, mas ainda sei das coisas.

Esperou mais alguns segundos, depois de continuar com um sorriso. - E, além disso, aquela sua explicação do começo esclareceu tudo. Agora...

Ah, aí estava o olhar mortal que Red esperava receber quando tinha entrado na sala. Aquele homem parecia incrivelmente gentil com seu cabelo castanho ralo, olhos verdes e óculos, mas ele podia sim dar medo.

– Trate a minha filha bem, ouviu? Eu posso estar numa cama de hospital nesse momento, mas fui campeão de karatê quando era mais novo.

O garoto estremeceu e assentiu exageradamente, o que fez o homem desfazer seu rosto sério para rir um pouco.

– Você parece ser confiável, então acho que não preciso me preocupar. – Sr. Groove disse enfim, sorrindo. – Decidi contar isso para ela amanhã, não quero que fique muito abalada em um só dia. Pode se assegurar de que ela esteja mais tranquila?

Red sorriu, concordando. Ele já planejava fazer algo parecido, mesmo. – Pode deixar.

– Muito bom. – O homem estendeu sua mão, e o garoto apertou-a com cuidado. – Estarei contando com você, Red.

Sem trocar mais nenhuma palavra, o moreno saiu da sala com um sorriso e um objetivo em mente. Se o pai de Yellow tinha o confiado para cuidar dela por ele, não haveria como recusar aquele pedido.

Além disso, ele queria estar perto dela, ainda mais agora depois de tudo que acontecera.

– Ah. – Misty, que sentava ao lado da prima, foi a primeira a olhar para cima quando a porta se fechou. Ela abriu um sorriso travesso. – E então, o que ele queria te dizer?

– Uh, bom... – Todas as garotas o observavam. Não era com se ele pudesse falar o que acontecera, então as palavras sumiram de sua boca. – Eu não acho que...

– Pfft! – Violet riu à sua esquerda, tocando seu ombro levemente. – Não precisa contar se não quiser, querido.

– Ah, obrigado. – Ele corou um pouco, coçando a cabeça. Ainda sentada na cadeira, Yellow se perguntou exatamente o que deixara alguém como Red tão nervoso.

Só esperava que seu pai não tivesse a envergonhado sem ela sequer estar lá. Teria de falar com ele depois sobre isso.

– Bom, estávamos pensando em ir para casa e jantar agora. – Lily recomeçou a conversa, olhando para o garoto. – E queríamos saber se você quer se juntar a nós.

– Eu?

– Óbvio! Você acompanhou a Yellow até aqui, não foi? – Daisy sorriu. – Vocês devem estar com fome. Considere isso como um agradecimento por ter cuidado da minha priminha até chegarmos.

–... Se você insiste. – Red sorriu, e olhou para Yellow. Ela piscou, corou um pouco e olhou para baixo.

– Bom, o que estamos esperando? – Misty levantou-se e se espreguiçou. – Vamos para casa! Ficar aqui não vai ajudar em nada.

– Ah, eu posso me despedir do meu pai primeiro? – A loira disse em seguida, também se levantando.

– Claro, querida. Ficaremos te esperando. – Daisy a indicou para porta, e a garota rapidamente desapareceu para dentro do quarto.

A ruiva do grupo suspirou, encarando o corredor em silêncio. Yellow parecia estar melhor, mas quem sabe aquilo não era só fingimento?

Ela encarou Red em seguida, que observava a porta com uma expressão pensativa. O que será que o Sr. Groove teria falado para ele? Seja lá o que fosse, o garoto parecia determinado.

xxx

Red encarou seu prato vazio. Ele morava com a mãe e era filho único, então não estava acostumado à confusão de vozes que enchiam o ar da cozinha dos Waterflower; ainda mais de tantas vozes femininas no mesmo lugar.

Era engraçado. Depois de tudo que acontecera, a Olimpíada parecia mais um acontecimento distante, que havia passado há tempos – e não apenas algumas poucas horas.

O moreno esboçou um sorriso ao olhar para o lado, vendo as feições alegres de Yellow enquanto ela falava com suas primas. Mesmo assim, o brilho de alegria faltava em suas orbes verdes, o que o lembrou novamente do que ele tinha planejado fazer.

Ele estava prestes a chamar a loira ao seu lado quando a voz de uma das irmãs de Misty, Violet, pronunciou seu nome.

– Red, eu fiquei sabendo que foi o seu jogo que determinou a vitória do time vermelho, huh? – Ela sorriu de um jeito estranhamente familiar ao de Blue. – Estava inspirado, é?

– Uh, não, eu estava normal... – Ele sentiu uma gota descer pela testa.

– Tem certeza? Quer dizer, cinco a dois não é um placar simples de se conseguir, e eu ouvi falar que três dos gols marcados foram seus... – Lily abriu um sorriso ao lado de Misty, que olhou para Red com o que pareceu ser pena.

– Vamos, querido, não precisa ficar com vergonha. – Daisy riu do moreno, que agora tinha um sorriso sem graça e um tom leve de vermelho tingindo as bochechas. – Querer ganhar para impressionar alguém não é tão ruim.

– Não era para impressionar. – Ele coçou a cabeça. – Eu estava pensando no time...

Uma parte de si sentiu-se mal por mentir. Era verdade que ele estava fazendo aquilo pelo time, mas não podia negar que parte de sua motivação viera do desejo de ver a garota que dormia tranquilamente na enfermaria olhando-o com admiração. Não seus companheiros de equipe, nem o resto da escola; apenas Yellow, de olhos reluzentes, sorrindo para ele.

Red corou um pouco, e encarou novamente seu prato. Pelo menos agora que percebera seus sentimentos ele poderia se tornar um pouco mais honesto com si mesmo. Mesmo que só na minha cabeça.

– Bom... Se todos já terminaram de comer, vou lavar os pratos. – Misty levantou-se de sua cadeira, e impediu Yellow de acompanhá-la. – Nada disso, Yel, você fica aqui.

– Concordo com minha irmãzinha. – Daisy também se levantou, fitando a loira com um olhar caloroso. – Você já se esforçou muito hoje, deixa que cuidamos disso.

Violet e Lily aproveitaram essa oportunidade para sair de fininho da sala, dizendo que iriam fazer alguma coisa minimamente importante em seus quartos. Em pouco tempo, ambos os jovens estavam sozinhos.

Red, não sabendo o que falar, recordou-se do que tivera ocorrido logo antes do acidente daquela tarde.

Ele se lembrou de como ficara feliz por ela ter o convidado para o baile (normalmente, as garotas apenas perguntavam se ele já havia convidado alguém – não que Yellow fosse qualquer garota) e que, em meio à sua euforia, tinha se aproximado um tanto da mesma, a centímetros do seu rosto.

Ele olhou para cima, hesitante: será que ela ainda se lembrava? Ou tinha empurrado aquilo para o fundo de sua cabeça, coisa que ele havia feito até o momento? Seja como for, ela não pareceu muito incomodada quando ele se aproximou.

Será que...? O garoto se recordou do Sr. Groove, deitado na cama do hospital e com um sorriso sábio no rosto, e de suas palavras.

Red queria fazê-la esquecer um pouco de sua tristeza, mesmo que só por um momento. Sabia que seus próximos dias seriam difíceis, e que ela teria de enfrentar ficar longe de sua casa. E, mesmo sabendo que ela era forte o bastante para sobreviver a isso, queria mostrar a ela que podia contar com ele.

– Ei, Yellow. Quer ir um pouco lá fora? – Ele sorriu para a garota, que o encarou com certa curiosidade. Ela assentiu, levantando-se e o seguindo em direção da porta.

– Parece que vai fazer sol amanhã. – Red comentou, olhando para as inúmeras estrelas que adornavam o céu. Ao seu lado, pôde ver a garota fazendo o mesmo.

– É... – Ela abriu um sorriso pequeno, olhando para cima, e naquele momento ele pôde jurar que nenhuma das coisas mais bonitas que ele já vira na vida se igualavam à pequena garota ao seu lado, com o cabelo bagunçado, olhos levemente inchados e apoiada em uma muleta.

– Ei, Yellow.

– Hm? – A loira virou-se para o lado, tombando um pouco a cabeça.

– Você se lembra do dia em que nos conhecemos? – Red abriu um sorriso, voltando-se novamente para o céu. – Eu, Blue e Green estávamos fugindo e eu mal pude falar com você direito, mas eu lembro de pensar , “Ele tem um sorriso lindo”.

Yellow corou, arregalando os olhos, enquanto o garoto levantava uma das mãos para coçar sua cabeça.

– Bom, eu sei que esse é um pensamento estranho de se ter, mas... Foi instantâneo.

Ele suspirou. – E não foi só isso! Fomos nos aproximando ainda mais... – Depois de uma pausa, continuou. – Você se tornou importante para mim. Tanto que, depois de descobrir tudo, eu não consegui ficar com raiva de você. Depois de tudo o que aconteceu, eu acho que nunca conseguiria.

– Eu, uh... – Ela deu um passo para frente, se embolando com as palavras. O que falar, num momento como esse, quando o garoto com quem você sonha todas as noites fala essas coisas bonitas sobre você? Sentindo-se leve e desorientada, apoiou-se mais na muleta que tinha num dos braços.

– Yellow... Bom, como eu digo isso? – Sentindo suas bochechas esquentarem, ele abriu um sorriso sem graça na direção dela. – Acho que te amo.

E, naquele instante, tudo ao redor pareceu não mais existir. Só havia os dois, frente a frente abaixo da manta azul estrelada. A respiração dela parou, seu coração falhou uma batida. Ela tinha ouvido aquilo mesmo?

Ele ainda não terminara de falar, porém.

– E, se você deixar, eu quero estar com você. – Dando os últimos passos de distância, ele pegou suas mãos, segurando-as gentilmente. – Nos momentos tristes, nos felizes, eu quero que você se apoie em mim quando precisar. Eu posso não entender as coisas direito às vezes, ou acabar te machucando sem querer, mas eu prometo que vou fazer de tudo para que você sorria todos os dias, então...

Red parou para respirar, olhando para suas mãos entrelaçadas.

– Desculpa, eu acabei falando demais. - Seus olhares se cruzaram mais uma vez. Era engraçado; ele estava mais nervoso do que em uma final de um jogo importante. Ele engoliu em seco. – Mas, uh, Yellow, o que você acha...?

Ela piscou mais uma vez, fitou-o a encarando esperançoso dentre as milhares de estrelas do céu, e perguntou-lhe silenciosamente como ele poderia ter alguma dúvida. Quando todos os pensamentos de sua cabeça resumiam-se a ele. Quando o mero pensar que eles poderiam ficar juntos já fazia suas pernas tremerem e seu coração bater mais rápido.

– Sim! – Ela respondeu alto, não se importando em checar se alguém poderia ouvir isso, e deu o último passo, atirando-se em seus braços e deixando seu apoio cair com um baque surdo no chão. – É claro que sim!

– Sério?! – O rosto dele se iluminou por inteiro, e Red levantou a pequena garota com os braços para rodopiá-la no ar, rindo. Ela tinha dito sim. Tinha dito sim!

Ela se surpreendeu de primeira, mas depois riu junto. Estar nos braços dele, no ar, sentindo-se leve como uma pluma, era o melhor sentimento do mundo. Queria isso por tanto tempo... Quer dizer, ainda tinha algo faltando, para falar a verdade.

– Red! Ei!

Ele parou de se mover quando ouviu a voz dela, temendo que tivesse a machucado sem querer. Colocando-a delicadamente no chão sem diminuir a proximidade entre os dois, o garoto olhou para ela com preocupação. – O que foi?

– Eu também te amo! - Yellow sorriu e, ficando na ponta dos pés, puxou-o pelos ombros até que seus lábios se tocassem. Ele tinha gosto do refrigerante que estava bebendo depois do jantar, um leve traço de menta e algo indefinível e inexplicável que a deixava tonta e absurdamente contente.

E, naquele momento, ela desejou ficar ali para sempre.

xxx

Dizem que, quando as coisas acontecem na vida, acontecem por um motivo. Que toda a sua dor só está lá para depois dar lugar à felicidade. Que mesmo que você ache que está no fundo do poço um dia, logo virá um príncipe num cavalo branco que fará da sua vida um paraíso.

Ele, mesmo que desse a parecer, não era um príncipe, e a vida dela naquele momento estava longe de ser um paraíso. Mas, mesmo assim, pensar que encontrar-se com Red fora obra do destino já a deixava feliz o suficiente.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Final clichê retomando a primeira frase do primeiro capítulo? Checado! ...... Agora, acho que só falta uma coisinha, hein....

O extra dois, obviamente! Não tinha como eu não fazer um capítulo para o //baile da escola//, não é mesmo? uvu Por esse motivo, essa fic ainda não está oficialmente finalizada! E... possivelmente, estará antes do fim do ano. Eu acho. owo'

Enfim, muito obrigada por lerem, espero que tenham gostado e vejo vocês no verdadeiro final de The Bet! Até mais!