Pov Nicolas di ângelo

Hoje era o dia.

Estávamos todos reunidos na sala de espera. Uma enfermeira nos chamara havia poucos segundos, Thalia queria “se despedir” do pessoal. Algo ali estava muito errado.

Desde que ela me contou da existência desse tumor, me privei de mostrar minhas emoções. Fui o namorado forte e presente que ela precisava naquele momento, quando na realidade, estava completamente destroçado em meu íntimo. Daria tudo e mais um pouco para não vê-la passar por essa situação. Parece muito clichê, mas eu preferia que fosse em mim. Vê-la fraca, com dores e medos acabava comigo. Durante os dias que tivemos que esperar para que o dia da cirurgia finalmente chegasse Thalia não abandonou completamente a idéia de um pressentimento ruim. Eu tentei de tudo para tirar isso da cabeça dela, mas eu via em seus olhos que ela ainda acreditava que era seu fim. Esperamos uma semana até hoje, nesses dias ela passou grande parte do tempo com Josh lhe explicando as coisas de um modo que não o preocupasse, mas também passou parte de seu tempo se entupindo dos remédios que o doutor lhe deu. As dores estavam excruciantes, ela tentava mostrar que estava bem, mas não era muito bem sucedida. Novamente Thalia só quis se mostrar forte. Apesar de tudo que conversamos, de tudo que as garotas falaram para ela, no fundo ela ainda estava “pressentindo” algo, tentou esconder isso, mas eu conseguia sentir a verdade.

–Hey garotão, já tenho que entrar, ok? As garotas vão te levar pra aula, se comporte. -Thalia murmurava ajoelhada no chão ficando do tamanho de Josh. O jeito como ela tratava esse menino era realmente admirável, ela parecia a mãe dele, sempre atenta e cuidadosa colocando ele em primeiro lugar sempre; mas também não é difícil gostar desse menino, Josh vale ouro. Ele olhava para o chão enquanto Thalia ajeitava sua camiseta, o menino estava obviamente triste, e Thalia... Bem, ela parecia despedaçada. -Vai ficar tudo bem ta? Eu... Eu vou voltar e nós vamos ler juntos. Eu te amo pequeno. -Ao acabar a frase os dois se abraçaram com tamanha intensidade que quase não podíamos dizer que eram duas pessoas ali. Josh chorava, como se estivesse ciente do que aquela cirurgia significava e Thalia estava visivelmente se esforçando para não chorar também.

–Também te amo. -O garotinho murmurou quando se separaram, Thalia limpou as lágrimas das bochechas rosadas de Josh e lhe deu um sorriso seguro, logo levantando e indo até as garotas, enquanto Josh procurava apoio no abraço de Connor, este que logo fez o menino sorrir levemente.

–Se cuidem meninas, e cuidem de Josh por mim. -Pediu para Annie e Silena que também se esforçavam para não chorar.

–Você voltará para nós daqui a pouco. -Silena murmurou em meio ao abraço triplo que compartilhavam. Thalia fez menção de falar alguma coisa, mas Annabeth logo a repreendeu:

–Sem discussões ok? Nos vemos em breve. -Murmurou quando se soltaram do abraço.

–Tudo bem. Eu amo vocês meninas. -Thalia falou e as garotas retribuíram. -Se cuidem. Hey garotos, venham cá. -Pediu. Percy, Charles, Connor e Travis soltaram risos nervosos, logo vindo até ela e lhe dando um caloroso abraço, sem palavras. Não que algumas frases fossem precisas, o silêncio confortava mais que simples palavras.

–Nos vemos depois da aula. -Um pequeno sorriso passou pelo rosto de Thalia ao ouvir as palavras de Connor, que tentava lhe passar confiança, algo que seus olhos desmentiam.

–Cuidem delas, por favor. -Pediu baixo e Percy já iria retrucar de cara feia, mas ela negou com um gesto rápido da cabeça. -Só... Cuidem delas. -Os garotos assentiram contrariados e Thalia os abraçou, um por um desta vez. Ao chegar em Charles, o abraço foi prolongado, eles conversavam baixo, talvez estivessem se perdoando, mutuamente. Depois que tudo sobre Bianca foi esclarecido, Thalia se mostrou surpresa e apoiando toda e qualquer decisão de Silena. Ela e Charles não conversavam, o clima havia ficado tenso, mas acreditávamos que tudo ficaria bem, e a confirmação foi o sorriso que os dois trocaram quando se soltaram. -Eu confio em você. -Thalia murmurou e Charles assentiu indo para perto de Silena.

Antes de se voltar para o corredor, ela deu um aceno para todos ali. E então ela veio até mim, se auto-abraçando e mordendo os lábios para segurar as lágrimas que inundavam seus olhos azuis. Soltei um suspiro para camuflar minha própria vontade de chorar, vê-la assim apertava meu peito. Envolvi seus ombros com um de meus braços, e com o outro segurei sua mão enquanto caminhávamos sendo orientados pelas placas. Ficamos em silêncio, ela tremia em meus braços, com a cabeça apoiada em meu peito... Ela era tão pequena.

–Como você está? -Perguntei quando seu corpo foi sacudido por um soluço involuntário, minha voz saiu rouca pela garganta seca.

–Bem. -Respondeu com a voz embargada, parei no meio do corredor e a abracei, tentando passar confiança, tentando acalmá-la.

–Não chore, vai ficar tudo bem. -Murmurei enquanto ela molhava minha blusa com suas lágrimas.

–Eu me odeio Nico, me odeio... -Começou a falar escondendo seu rosto em mim.

–Hey, olha pra mim. -Pedi segurando seu queixo de modo que ela olhasse em meus olhos. -Não fala assim, vai ficar tudo bem.

–Eu não devia estar fazendo isso... Com você, nem comigo... -Eu devia estar com a expressão confusa, porque ela riu sem ânimo enquanto segurava minha mão em seu rosto. -Sabe o que eu queria fazer nesses últimos dias? -Balancei a cabeça e ela continuou. -Eu queria ter tido forças para me afastar de você. Queria poder me afastar de todos que amo antes que os magoasse... Mas eu não consegui, eu não consigo ficar longe de você... E eu não sei até que ponto isso é bom. -Eu estava realmente surpreso e confuso com essa declaração.

–Mas é claro que isso é bom Thalia. Você nos fez um bem inigualável quando decidiu fazer essa cirurgia, e... -Então eu me dei conta do que ela queria dizer, um furor me invadiu e eu pude sentir grossas lágrimas escorrendo de meus olhos, era involuntário, isso não era uma opção. -Não faz assim Thalia... Vai dar tudo certo. Você vai sobreviver, não pense nem por um segundo que não... Você ficará bem... Nós não vamos nos separar... Eu não vou te perder. Você é minha vida. -Murmurei perdido em minhas próprias palavras enquanto voltei a abraçá-la.

–Mas... -Tentou argumentar, mas eu a interrompi.

–Não faça isso... Vai dar tudo certo. -Pedi e ela assentiu, logo tivemos que voltar a andar.

Só a mera menção de um "talvez" sobre esse assunto já me aperta o coração. Perde-la não é uma opção para mim. É algo sem explicação o que sinto por Thalia, começou tão pequeno, apenas alguns versos de Waiting For The End que compartilhamos. Logo já éramos amigos, melhores amigos até. Sempre me senti bem perto dela, sabia que podia ser eu mesmo, sabia que com ela alcançaria o que precisava, sabia que ela sempre estaria ali comigo não importando qual fosse a situação, sabia que sempre poderia confiar nela, e depois de tantos "sabia" eu "descobri" algo, Thalia era minha casa. É algo estranho descobrir isso, sentir que toda sua vida, todos os motivos que você tem para continuar estão em uma única pessoa, que a mão de alguém poderia tão perfeitamente encaixar na sua, que um filme, algo tão banal, poderia se transformar numa noite divertida, que uma simples troca de lâmpadas poderia mudar toda uma vida, que eu poderia me sentir tão vazio ao acordar sozinho, que um dia eu poderia amar tanto uma pessoa ao ponto de dar a minha vida por ela. Thalia mudou minha vida, não poderia sair dela agora, ela era uma parte de mim.

Antes que percebêssemos havíamos chegado a uma sala onde a mesma enfermeira que nos chamara nos esperava na porta. Ela fez um maneio com a cabeça nos indicando para entrar, e foi o que fizemos, logo atrás dela.

O quarto era simples, descobrimos que lá era só um espaço pré-cirurgia, onde os pacientes trocavam de roupas e eram anestesiados. Havia uma cama encostada à parede verde musgo, no outro lado havia uma porta, também tinham alguns quadros nas paredes, com a intenção de dar vida ao espaço, coisa que não funcionava muito bem.

–Você pode se trocar naquela sala ali. -A enfermeira nos apontou uma porta no quarto. Sua voz estava sem emoção, talvez por estar acostumada com essas situações, fingiu não notar que nós dois estávamos com os olhos inchados e expressões cansadas.

–Obrigado. -Thalia agradeceu e se encaminhou para a porta. Logo estava de volta vestindo roupas próprias para a cirurgia.

–Bem, como a cirurgia é delicada nós vamos injetar a anestesia em pequenas porções, então você ainda terá alguns minutos acordada. Geralmente não é permitido, mas, você quer que ele fique? -Apontou para mim e Thalia assentiu de cabeça baixa. Agradeci a moça com um sorriso e ela o devolveu, logo mostrou como Thalia deveria deitar na cama, a cobriu com um lençol branco e trouxe um suporte para a pequena bolsa de anestesia. Então com cuidado e experiência a enfermeira introduziu a agulha no braço direito de Thalia, começando a liberar algumas gotas do liquido incolor. -Vai dar tudo certo querida, acredite. -Murmurou e saiu da sala, não sem antes me lançar um aceno nervoso.

Andei lentamente até a cama, onde Thalia chorava silenciosamente de olhos fechados. Me sentei ao seu lado e segurei sua mão. Antes que eu pudesse falar algo, ela se pronunciou.

–Sabe quais foram as últimas palavras de meu pai? -Perguntou ao abrir lentamente os olhos. Neguei com a cabeça.

–Você não precisa me contar, isso é muito pessoal e...

–Não, eu quero contar. Ele disse "Só eu sei como foi horrível perder todo esse tempo com meu trabalho, por isso Thalia só te peço que siga em frente. Não estou pedindo para você me esquecer, apenas que viva sua vida e a aproveite, sem remorso do que fez." Então ele me disse adeus. -Eu sabia o que ela queria dizer, mas não aceitaria tão fácil.

–Por favor, isso não pode ser uma despedida Thalia... –Pedi, mas não consegui resultado, ela apenas chorava mais e negava com a cabeça.

–Eu é que peço, por favor, Nico, me deixe falar. -Derrotado, assenti. -Eu te amo Nico, demais. Poderia passar o resto da minha vida tentando te explicar o quanto, mas jamais conseguiria. Você é uma parte de mim... A melhor parte de mim para ser sincera. Obrigado por tudo que passou comigo, por todos os momentos bons e memoráveis. Mas agora, eu não sei o que vai acontecer, então quero te pedir uma única coisa... Se algo acontecer a mim, não desista da sua vida. Saia e se divirta, se liberte. Por favor, não se deixe morrer. -Nós dois chorávamos copiosamente, aquilo apesar de mascarado, era um adeus. Doía como se minha alma fosse despedaçada, como se mil facas flamejantes perfurassem o meu ser.

–Você não pode dizer adeus Thalia, você sempre estará comigo. Aqui. -Peguei sua mão e pousei em meu coração, unida a minha. Ela sorriu fraco, sabia que eu seria persistente. Após um momento sem palavras, Thalia quebrou o silêncio.

–Canta comigo? Só, mais uma vez. -Pediu com a voz já sonolenta.

–Sempre que você quiser. -Respondi e ela fez o pedido da música.

(http://www.youtube.com/watch?v=qgUL3ut4gyQ)

The Call

O Chamado

It started out as a feeling,

Começou como um sentimento,

which then grew into a hope,

Que então cresceu em uma esperança,

which then turned into a quiet thought,

Que se tornou então um pensamento quieto,

which then turned into a quiet word,

Que se tornou então uma palavra quieta,

and then that word grew louder and louder

E então essa palavra cresceu mais e mais

'til it was a battle cry:

Até se tornar um grito de guerra:

I'll come back when you call me,

Eu voltarei quando você me chamar,

no need to say goodbye

Não há porquê se despedir.

Just because everything's changing

Só porque tudo muda

doesn't mean it's never been this way before

Não significa que nunca foi assim antes.

All you can do is try to know who your friends are

Tudo que você pode fazer é tentar saber quem seus amigos são,

as you head off to the war.

Enquanto marcha para a guerra.

Pick a star on the dark horizon

Escolha uma estrela no horizonte escuro

and follow the light.

E siga a luz.

You'll come back when it's over,

Você voltará quando acabar,

no need to say goodbye (x2)

Não há porquê se despedir. (x2)

Now we're back to the beginning

Agora estamos de volta ao começo

It's just a feeling and no one knows yet,

É apenas um sentimento e ninguém conhece ainda,

but just because they can't feel it too

mas, apenas porque não podem sentir esse sentimento também,

doesn't mean that you have to forget

isso não significa quer você têm que esquecê-lo

Let your memories grow stronger and stronger

Deixe suas memórias crescerem mais fortes e mais fortes

'til they're before your eyes

até estarem diante de seus olhos.

You'll come back when they call you,

Você voltará quando te chamarem,

no need to say goodbye (x2)

Não há porquê se despedir. (x2)

Cantamos em sussurros fracos interrompidos por soluços sofridos. Aquilo doía muito em nós dois. Ao findar a música Thalia foi tomada totalmente pela anestesia e as enfermeiras que a levariam para a sala de cirurgia vieram, mas antes que a levassem lhe dei três beijos, um na testa, um no nariz e um na bochecha direita; enquanto murmurei para só ela ouvir:

"You'll come back when it's over,

no need to say goodbye"

Vê-la se afastar fez uma sensação de impotência se apoderar de mim. A partir dali eu só tinha que confiar, mas depois de tudo que conversamos, essa se tornou uma tarefa difícil.

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Aquela espera estava me matando, fazia quatro horas que eu não tinha notícias dela. Quatro horas de espera, quatro horas de dor, quatro horas de desespero. Tentei me distrair com revistas, comida, música. Mas nada acalmou meu ser. Estava me sentindo mal, um sentimento terrível se apoderara de mim.

–Nicolas di... Ah, Ângelo? -Ouvi me chamarem e olhei em volta encontrando um médico com uma prancheta na mão, corri até ele. Sua expressão era de tristeza, meu peito se apertou em agonia. -Você está aqui com... Thalia Grace não é? -Assenti em desespero, seu olhar passou de tristeza para uma mescla de pesar e pena. -Eu sinto muito, nós fizemos o possível, uma cirurgia no cérebro é muito delicada, mas nós não esperávamos isso. Ela está em... Argh, sinto muito garoto, ela está em coma... -Depois dessas palavras não ouvi mais nada, de repente minha vida já não tinha sentido, minha garganta estava seca e meu corpo pesado demais.

–Onde ela está? -Pedi e ele com um profundo olhar de compreensão me guiou até um quarto branco, onde minha vida repousava na cama, de olhos fechados e respiração mínima. O doutor saiu do espaço me deixando sozinho com ela. Me abaixei ao seu lado sentindo minhas lágrimas molharem o lençol, liberando toda a dor que eu sentia. Estava perdido. E ela sempre soube.

–Não Thalia, por favor... -Murmurava sem realmente saber o que estava falando. E de repente, a caixinha de veludo preto, contendo um pequeno anel de noivado que estava no meu bolso, parecia pesar mais do que eu me lembrava.

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