Digimon Adventure 03 - O Brasão Lendário escrita por Caelum


Capítulo 10
Capítulo 9 - O Brasão Lendário.


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Bem, o que posso dizer é: Esse capítulo ficou bem grande. Sabem o porquê disso? Devo demorar a postar o próximo, que provavelmente será um tanto mais curto. Época de estudo intenso.
E, esse cap... Terá - finalmente - a tal Lenda do Digimundo! Muitas coisas serão reveladas! Estou, até que enfim, fazendo jús ao nome da minha amada fic!
Aproveitem!



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Kari observava o último raio de sol se pôr lenta e saudosamente no horizonte, sentada próxima ao lago. Ela abraçava os joelhos, sua mente vagava longe, sua mão segurava a flor que ela tinha pegado minutos antes. Uma bela – e humanamente desconhecida – flor rosa clara que crescia na margem do lago. Ao seu lado, um peixe cozido e intocado em cima de uma pilha de folhas lavadas em água doce. Mirou seus amigos e seu irmão, poucos metros ao longe. Eles estavam acomodados em volta de uma fogueira, também perdidos em pensamentos.

Com um suspiro, olhou para o vislumbre de algumas constelações que começavam a aparecer no céu azul-celeste, já um tanto escurecido sem o sol. Ela não conhecia nenhuma. Fechando os olhos, os acontecimentos daquele dia vieram como uma maré em sua mente. Forte, traiçoeira e impossível de impedir.

Flash Back

–Vou contar-lhes a história do Brasão Lendário...

Andromon respirou fundo e desatou a falar:

– Há muito, muito tempo, uma energia maléfica tomou conta de todo o mundo Digital. A Escuridão corroeu cada criatura viva, sufocando-as em seus próprios medos, tornando-as escravas de suas próprias mentes, afundando completamente Digimundo em Trevas. Não havia Coragem, Amizade, Amor, Curiosidade, Sinceridade, Confiança, Esperança, Luz ou Bondade. Não havia Vida. Não havia nada, só as almas melancólicas perambulando pelo solo Digital, esperando no fundo de seus corações, já parados, uma salvação. A salvação. A salvação que faria com que a Luz retornasse, devolvendo a alegria e a Paz.

Então, estranhos seres de outro Mundo aqui pisaram. Frágeis. Facilmente manipuláveis. Inocentes. Só crianças. Porém essas crianças tinham tudo o que o Digimundo não tinha, e, indiscutivelmente, precisava para se reerguer: Força. Essas crianças tinham parceiros Digimons e conseguiam fazer com que eles digievoluíssem.

Um Santuário Sagrado foi criado pelos próprios dados, que reconheciam que sua salvação ainda viria, para conter e proteger o poder dos Brasões daquelas crianças. Eles precisavam ser ativados novamente. Aos poucos, seus Brasões ganharam seus antigos poderes, na medida em que as suas características apareciam novamente, enquanto as crianças enfrentavam seus maiores medos e desafios. Assim que uma criança recuperava o poder de seu Brasão, a imagem do santuário que o representa brilhava, indicando que a virtude estava ativa em seu dono. E assim foi acontecendo, devolvendo quase toda a Paz para o nosso mundo. Quase.

Precisávamos de um Milagre. O Milagre que faria a Luz, que estava fraca, finalmente retornar e triunfar.

Um antigo e lendário espírito do Digimundo resolveu ajudar, mandando a seguinte mensagem: ‘As Trevas chegarão para tudo dominar. As crianças escolhidas irão o Digimundo salvar. A Luz da Coragem fortalece a Esperança, unindo o Amor e a Amizade, lembrando á Sinceridade a Confiança que devemos ter no Conhecimento e a prática da Bondade. Confiando no Milagre do Destino, a Vida segue... E enfim Escuridão adormece.’ E assim foi. Depois de todos os Brasões reativados, os Digiescolhidos acharam uma maneira de uni-los, criando um novo Brasão, com um poder inimaginável, que baniu as Trevas desse mundo. O nosso Destino foi selado. O Digimundo voltou ao normal. Porém não para sempre. Nada é para
sempre. Apenas a certeza da Morte. O Brasão mais poderoso de todos, a união de todos eles, adormeceu de novo, esperando para ser ativado um dia, quando nosso mundo entrasse em Caos novamente. – Ele finalmente terminou de falar, esperando ansiosamente qualquer reação de seus ouvintes
.

Todos o encararam estupefatos. E, como era de se esperar, mudos. Bem, nem todos.

–Legal! Eu já ouvi essa lenda! – vibrou Terriermon, meio que pulando.

–Eu também, eu também! – Lopmon sorriu. Então os dois piscaram simultaneamente, percebendo que ninguém estava de fato calmo ou feliz. –Oh... ela riu, nervosa.

–Para nós salvarmos o Digimundo... – a voz de Tai saiu lentamente, dirigindo-se aos velhos amigos – Nós vamos precisar reativar o poder dos nossos Brasões?

–Vocês aprendem rápido. – Kentarumon deu um sorriso categórico e frio.

–Como isso é possível? – Izzy arqueou uma sobrancelha, duvidoso. Sua mente disparava em pensamentos diversos, misturados e alucinados, clicando numa mesma tecla: Os Brasões atuando novamente em cena?

–E isso por acaso é impossível? – Andromon devolveu com outra pergunta e o ruivo suspirou.

–Mas... Nós demos nossos Brasões para o Mundo Digital não entrar em colapso há quatro anos! – Matt engasgou, com as memórias da primeira batalha contra Diaboromon flutuando em sua mente. Depois disso, eles voltaram para o Digimundo, desistindo de suas cristas, e seus Digimons perderam o poder de digivolver até a última fase, apesar de que a digievolução tinha sido devolvida há eles pouco antes da última grande batalha contra Myotismon.

–Nós sabemos. Mas, aparentemente, isso foi temporário, pois a situação aqui não é das melhores. Kentarumon bufou – E foi um erro. Mesmo precisando na época, Gennai não mediu as consequências futuras. O Poder sagrado dos Brasões precisa restaurar o nosso mundo novamente...

–...e para isso o poder precisa estar com vocês. – o Digimon máquina completou, paciente.

–Certo. – Joe tentou assimilar tudo. – De acordo com a lenda, passaremos por desafios que irão se manifestar nas formas de nossos maiores medos? – a incredulidade alterou um pouco sua voz.

–Sim.

–E, passando por esses desafios, iremos conseguir nossos Brasões de volta? – TK perguntou.

–O Poder deles. – Andromon corrigiu. – As placas
foram espalhadas novamente, como há cinco anos, vocês poderão achá-las, mas elas só irão brilhar depois que vocês superarem
seus maiores medos. – ele deu ênfase ao final.

–E por que isso? –Kari perguntou cautelosamente, mordendo o lábio.

–É o jeito de vocês não se tornarem escravos da própria agonia, como muitos. Enfrentado seus medos com determinação, seus corações não se curvarão ás Trevas.

–Isso me um pouco lembra da batalha contra MaloMyotismon. – disse Davis.

–Será infinitamente pior. Naquela batalha vocês viram seus sonhos. Já na que virá... Você desejará que seu coração e mente sejam corrompidos por completo. – Kentarumon garantiu, monótono e sem rodeios.

–Oh. – Davis piscou, assentindo.

–Precisamos reativar nossos Brasões e depois uni-los num Brasão super-poderoso que salvará o Digimundo? – Mimi perguntou, não crendo muito no que ouvira. Andromon assentiu.

–E como exatamente nós faremos isso? – Sora perguntou, torcendo para que eles soubessem.

–Na hora certa vocês saberão. – eles disseram em uníssono.

–Esclarecedor... – Tai murmurou.

Mimi suspirou.

–Eu não entendo. Por que colocar adolescentes para resolver coisas assim? Os adultos que devia cuidar desse tipo de coisa importante... Como salvar o mundo.

–Você está errada. –disse Andromon e Mimi o encarou. – Os adultos podem cuidar de coisas importantes, mas aqui o que importa não é a idade. E sim a força do coração de cada um.

Alguém me explica do que vocês estão falando, por favor? – Willis pediu repentinamente, exasperado. – Brasões? – ele repetiu, confuso.

–Um Brasão representa a maior virtude de uma pessoa. – Kari disse, paciente. Ela pausou por um segundo, vendo que o menino estava quase entendendo. – Todos os Digiescolhidos tem um. O meu é Luz, por
exemplo.

–Mas Luz nem ao menos é uma característica! – Willis retrucou e Kari ficou um pouco confusa por um momento, vendo que o argumento do amigo era convincente.

–Os Brasões não são características. – falou Andromon pausadamente. – O Brasão é o nome do fogo que queima incessantemente no coração de cada um de vocês, alimentando suas almas. – Ele filosofou, calmo.
Todos piscaram ao mesmo tempo, um pouco impressionados.

–Ok. – disse Yolei, coçando a cabeça. –Eles precisam unir os Brasões e salvar o mundo da destruição eterna e tal... Mas e nós? – ela referiu-se a Davis e os outros mais novos e um tanto menos experientes.

–Nós não temos brasões, exatamente. Só Digiovos. – Cody ponderou, com a testa franzida.

–Eu tenho um. – Ken lembrou. – Bondade.

–Vocês também vão encontrar placas. – disse Kentarumon.

–É mesmo? – Davis animou-se. – Isso significa que eu vou ter o Brasão da Coragem e o da Amizade também? Dois Brasões só para mim? Só meus?

–Egoísta. – Yolei murmurou muito baixinho.

–Sim. – Andromon respondeu a pergunta do menino, depois sendo mais explicativo. – Porém você terá uma placa só. Metade do Brasão da Amizade, e metade do da Coragem. Quem tem dois Brasões provavelmente poderá recuperar suas virtudes em apenas um desafio das Trevas, ou talvez dois desafios em tempos diferentes, cada um representando um Brasão.

–Eu vi, quando estava no Santuário dos Brasões, as figuras nas paredes, como diz a lenda. – comentou Izzy. – As imagens pareciam apagas, algo assim. Aquelas são as placas? Precisamos voltar lá?

–Não, não. – disse Kentarumon, bastante entediado. –O Santuário foi feito para protegê-los. Quando você recuperar sua virtude, aquela sua figura na parede ficará acesa. Caso aquele lugar seja ameaçado, aí teremos problemas. Mas duvido que saibam onde ele está, ou como violá-lo.

–MAS E EU? – Willis falou mais alto do que pretendia, assustando a maioria. –Será que esqueceram que eu estou aqui?

–Você está aqui. –repetiu Andromon.

–Foi isso que eu acabei de dizer! – ele se desesperou.

–Eu quis dizer que, se você tem permissão para o Mundo Digital, você tem importância. E muita.

–E que importância seria essa? – TK perguntou um
tanto ríspido. A verdade é que a presença de Willis o incomodava um pouquinho, principalmente quando ele estava perto de Kari.

–Milagre e Destino! –disse Cody repentinamente, de olhos arregalados e todos o olharam.

–Hein? – Yolei piscou.– Por acaso eu perdi uma parte da conversa?

–Terriermon e Lopmon. Milagre e Destino. – O menino mais novo tentou explicar. – Willis e seus Digimons representam o Milagre e o Destino!

–Extremamente provável. Você é muito perspicaz– disse Andromon, sorrindo para Cody, que corou um pouco.

–Er, brigado!

–Milagre e Destino! –disse Terriermon. – Lop, quem você acha que é o Milagre, e quem você acha que é o Destino?

–Eu não sei, mas quero descobrir! – ela sorriu.

–Espera, para tudo!

–O que foi, Davis? –Kari perguntou gentilmente.

–Eu devia ser o Milagre! Eu, eu!

–Pare de ser criança, Davis. – Tai o repreendeu, com um rosto sério, e o menino bufou um pouco chateado. Matt riu bem baixinho. Sora o olhou curiosa.

–Ele me lembra muito o velho Tai. – o loiro murmurou a explicação. Sora sorriu, assentindo.

–Ele tem um ponto. – Ken disse, procurando ajudar o melhor amigo. – Ele usou o Digiovo do Milagre, assim como os outros usaram os Digiovos que pertencem aos seus Brasões.

–Aquilo foi uma exceção. Você utilizou os Digiovos sim, mas não o Brasão... – disse Kentarumon. – Foi coisa do momento, o Milagre e o Destino pertencem ao Willis. – O menino sorriu meio triunfante apesar de não saber exatamente o que aquilo significava. Terriermon e Lopmon discutiam baixinho sobre quem deveria ser o Milagre e quem deveria representar o Destino. –Assim, a sua placa será metade do Brasão do Destino e metade do Milagre.

–Entendi... – Willis murmurou, brincando com seu D-3 dourado nas mãos.

–Kentarumon, onde está Gennai? – Mimi perguntou repentinamente, bem preocupada.

O centauro a encarou.

–No Mundo das Trevas. No Oceano Escuro, preso. – sua voz saiu calma, o que era estranho.

–O quê? – Kari e Ken perguntaram simultaneamente com a voz meio engasgada, piscando.

–Isso que vocês ouviram, crianças. Gennai está no Oceano Escuro. Ele conseguiu mandar um sinal para nós, só temos essa informação. – disse Andromon. – A tal explosão os mandou para lá. Deve estar preso de algum jeito...

–Precisamos resgatá-lo! – Davis e Tai disseram ao mesmo tempo, praticamente interrompendo o Digimon máquina, que concordou, silencioso.

–Sem os seus Digimons? – o centauro levantou uma sobrancelha. Ele riu com certo escárnio – Vocês nunca conseguirão.

–Nós não podemos ficar sem fazer nada. – Sora argumentou.

–Não podemos mesmo. –disse Joe num tom pacificador – Melhor nós irmos para o mundo humano, dizer qualquer coisa aos nossos pais, pegar suprimentos, remédios e essas coisas. Vamos ficar aqui por um tempo, já que vamos resgatá-lo e derrotar nosso inimigo.

–Ele está certo. –disse Cody. – Nossas famílias irão se preocupar muito se não avisarmos nada!

Sem dizer uma palavra, Izzy posicionou o laptop em cima de uma pedra. O ruivo fez um sinal pra Tai, que puxou o D-3. Todos fizeram a mesma coisa calmamente. Eles fizeram o habitual movimento de levantar o aparelho até a altura da tela do notebook.

–Digiescolhidos, lá vamos nós! – Yolei gritou, olhando fixamente para o laptop antigo de Izzy, com o abacaxi laranja meio amarelado. Eles esperaram um segundo seus corpos serem transformados de dados pra a matéria, mas nada aconteceu. Nada. Nenhum dado sequer se manifestou indicando que um portal para o Mundo Humano estava aberto. O Mundo Digital permaneceu o mesmo. O sinal na tela do aparelho que dizia se estava aberto ou não, não mudou com os Digivices apontados para lá.

Izzy arquejou.

–O quê? Não aconteceu nada!

–Deve estar com defeito. – Davis deu de ombros. – Tenta aí, TJ.

TK ignorou que seu nome foi falado de maneira errada e ergueu novamente o Digivice. Nada.

–Deixa eu tentar. – Tai falou. Ele fez a mesma coisa, e tudo continuou igual. – Por que isso? Era para a gente estar o nosso mundo!

–Está bloqueado. – Cody engoliu em seco. – Não dá mais pra voltar.

–Nem mesmo com nossos Digivices novos? – Sora perguntou.

Não. - Joe coçou a cabeça. – Nem com eles.

–Legal. – Mimi resmungou. – Eles não servem pra nada. Quero meu antigo de volta!

–Ótimo. – Matt suspirou. – Estão impedindo a gente de voltar para o nosso mundo. Estão nos forçando a ficar aqui e enfrentar o inimigo logo e ganhar de uma vez...

–Ou morrer tentando. – Joe acrescentou.

–Ou morrer tentando. – o músico concordou, calmo.

–Essa não! – Yolei apavorou-se. – Vamos ficar presos aqui!

–Como há cinco anos. – Joe gemeu. Ken franziu a testa. Sora suspirou. – Nós só podemos voltar se cumprimos nosso dever aqui.

–Novamente. – Kari assentiu. – Novamente presos em um mundo há qual não pertencemos.

–O nosso Destino não poderia ser diferente, poderia? – Willis sorriu pra ela, e Kari devolveu o sorriso suavemente. TK bufou, meio irritado, inquieto.

–Não, não poderia. – Tai sorriu, mirando o horizonte. – Se qualquer coisa fosse diferente, não seria nem ao menos nossas vidas. Ele estava certo.

Fim do Flashback.


–EI! Terra pra Kari! – uma voz muito familiar interrompeu bruscamente os pensamentos da menina, que fechou os dedos com força onde segurava a flor. Ela se sobressaltou, virando a cabeça para encontrar o rosto do irmão mais velho, quase totalmente escondido pelas sombras. Os olhos castanhos escuros dele demonstravam ligeira preocupação.

–Oi, Tai. ela murmurou.

–Não vai comer? ele indicou o peixe pescado e cozido pra ela, sem qualquer indício que fora tocado, sentando-se ao lado dela. Kari deu de ombros, sem dar importância.

–Não estou com fome.

–Eu não te perguntei isso. ele a ignorou, apontado mais uma vez para o peixe. Coma. ele disse, calmo. É melhor pra você assim, Kari. Vamos fazer bastante esforço, você vai precisar de energia. Havia um pequeno tom de ordem em sua voz. Ela suspirou, pegando e mordendo o peixe devagar.

–Pronto. ela mordeu novamente. Estou comendo.

Tai assentiu distraidamente, virando seu rosto para o horizonte, para as estrelas.

–Por que você estava preocupada? ele disparou, de repente, depois de um tempo em silêncio.

–Eu... Não estava. ela mentiu lentamente.

–Não minta pra mim. – Tai advertiu.

–Ok, eu estava. Kari deu um suspiro meio derrotado. Eu não sei se vou conseguir ativar meu Brasão.

–E por que você não conseguiria?

–É que... Ela pausou, franzindo a testa. – É esse negócio de enfrentar o maior medo. Não sei se estou pronta pra isso.

–Qual seu maior medo? – ela a encarou.

–Eu não tenho certeza. Não sei o que vou enfrentar. – ela terminou de comer seu jantar. E você, maninho? Qual seu maior medo?

Tai abriu a boca para responder, mas a fechou, incerto.

–De algo acontecer com você. – ele disse por fim.

–Nada vai acontecer comigo, não preocupe. – ela sorriu, com a face levemente rosada.

–Tai! Kari! Venham aqui! a voz de Izzy atravessou o ar repentinamente, os assustando, os dois viraram as cabeças para onde o ruivo estava. Ele parecia urgente. Eles andaram rapidamente até lá, ansiosos.

–O que aconteceu, Izzy? Tai perguntou, ficando de joelhos, ao lado do amigo que estava com o laptop no colo, perto do fogo. Kari sentou-se ao lado de Willis, que sorriu. TK enviou um olhar tão irritado para o garoto, que ele quase engasgou, confuso.

–Eu consegui esse mapa do Digimundo, enquanto estávamos no Santuário. Izzy começou.

Então todos pararam de divagar e olharam para a tela do laptop. Não era exatamente uma câmera, e sim como uma espécie de radar. Eles estavam num plano verde, com uma parte azul, que representava o lago. Havia vários pontos indicando presença viva. Os pontos indicavam cada criança, na respectiva cor de seu Brasão. No caso de Davis, Yolei e os outros, o ponto tinha uma cor mista. Lopmon e Terriermon estavam em vermelho, Willis em dourado. Andromon e Kentarumon não estavam ali, já que tinham partido no meio da tarde para outra área do Digimundo, ajudar os outros Digimons, desejando boa sorte a eles, ignorando os pedidos de Mimi para que os dois ficassem.

–O Digimundo. Sora murmurou.

–Sim. ele assentiu. Olhem esse ponto. Izzy falou, preocupado. Então todos viram. Um grande ponto vermelho, movendo-se rapidamente entre as oscilações que representavam as montanhas que tinha ali perto. Um Digimon. Indo na direção deles.

–Droga. Tai rosnou.

–Precisamos fugir! – Mimi olhou a sua volta, em vão.

–Não iramos conseguir. Yolei a contrariou, em pânico. – Ele é muito rápido. Meu Deus, e agora?

Poderia ser Andromon ou Kentarumon. Matt tentou acalmá-las, mesmo sabendo que os dois tinham tomado à direção contrária.

Ou um monstro cruel, violento, pronto pra matar todo mundo nos torturando primeiro, sedento de sangue. – Davis sugeriu. Sora arquejou, e Matt o repreendeu com o olhar. Ou, er... Um Digimon super legal e bonzinho amante da natureza. ele tentou concertar. Não acalmou ninguém.

–Eu e Lopmon vamos proteger vocês! Terriermon, exclamou, decidido. Sua irmã assentiu. Os dois miraram a direção de onde o Digimon vinha. Willis sorriu, pegando seu D-3. Os dois entraram em posição de ataque.

Todos levantaram, posicionando-se um ao lado do outro, nervosos. Sora mordeu o lábio, agarrando a mão de Matt. Yolei tremia ao lado de Ken. Izzy, sem pensar muito, deslizou até o lado de Mimi. Cody manteve-se ao lado de Joe. Tai e Davis ficaram um pouco mais à frente, ao lado de Willis e seus dois Digimons. TK ficou perto de Kari. Os olhos fixos a suas frentes. Todos respiravam o mais silenciosamente possível, o que era consideravelmente alto. Então o Digimon apareceu e eles levaram mais um choque naquele dia.

–ORGEMON? – oito deles engasgaram, boquiabertos.


***


Uma figura tremeluzente tentava se concentrar num mundo paralelo ao Mundo Digital. Ele queria entrar em contato com seus antigos – e breves – amigos, principalmente Tailmon. Ele queria escapar daquela prisão cheia de sofrimento, que o prendia por tempo indeterminado. Antes dentro do castelo, agora fora, já que ele tentara escapar pela enésima vez. Sem qualquer indício de sucesso, como sempre.

Seu rosto quase invisível moveu-se para o grande e negro campo de força a sua volta, sem contrastar nem um pouco com o resto da Escuridão de todo o local em que ele se encontrava. Então se concentrou no barulho insistente das ondas daquele mar negro como petróleo. Estranho e assustador. Depois sua atenção mudou-se para o velho cansado ao seu lado.

–Gennai.

–Sim? a voz do idoso era fraca.

–Nós precisamos escapar e ajudar os outros.

–Eu sei. – Gennai disse lentamente. – Eu sei.

–Então.– a figura fantasmagórica ficou impaciente.

–Não há como escapar.

–Claro que tem um jeito! Tem que ter! – O fantasma rosnou, olhando incessantemente em volta, agarrando-se a possibilidade de fuga. Em vão. – Tem que ter... – ele sussurrou.

–Diga-me, você ficou preso aqui por quanto tempo? – O idoso
mudou o rumo do assunto.

–Não tenho certeza. – suspirou – Anos, é o que posso assegurar.

–E você conseguiu escapar?

–Não inteiramente.

–Como assim?

–A minha alma ficou um tempo no Mundo Humano. O único dia que consegui escapar. Apareci no mesmo lugar em que eu morri há tempos.

–Eu me lembro. Você transmitiu uma mensagem para as crianças.

“A Bondade emana uma Luz dourada.” – ele murmurou, com os olhos verdes perdidos em lembranças de um passado remoto.

–Isso. – Gennai deu um mínimo e cansado sorriso, sentando-se na areia. Ele pegou um punhado em sua mão, fazendo uma careta.

–Esse lugar é horrível, não é?

–Mais do que você pode imaginar. –ele riu sem humor. – A
Digiescolhida da Luz e o Digiescolhido da Bondade já foram trazidos para cá. – Gennai comentou.

–Eu devia estar perambulando, nunca vi ninguém a não ser aqueles Divermons. – ele piscou de repente, encarando o Digi-humano, assustado. – Digiescolhida da Luz, você disse. A Kari? – Gennai assentiu.

–E o outro foi o que se tornou o Imperador Digimon. Ken.

Eles ficaram um tempo em silêncio profundo, estremecendo cada vez que eles ouviam um grito vindo de dentro do castelo.

–Gennai...

–Sim?

–Nós também precisamos resgatar Leomon, Picklemon e os outros.

Gennai sorriu.

–Você mudou desde a última vez.

–Eu sei. – o fantasma também sorriu. – Tailmon me ajudou a enxergar a verdade.

–Fico feliz que assim seja.

–Ela está sendo controlada, não está?

–Sim.

–Eu a vi brevemente, enquanto ela entrava no castelo.

–Suas saudades são comoventes. – Gennai tentou colocar um pouco de humor, mas não deu certo.

–Precisamos fazer algo. Eu nunca mais vou deixar as Trevas encostarem nela novamente. Nunca mais. Myotismon já causou muitos danos. Mais do que eu nunca poderia permitir. – sua voz ficou grave, saindo quase como um rosnado furioso.

–Não tiro a sua razão, é claro. – Gennai garantiu rapidamente – Nós precisamos fazer algo, sim. Mas não serei útil no estado deplorável em que me encontro. As Trevas estão me esgotando.

–Ninguém está no melhor estado, caso você não tenha percebido. – ele disse, um tanto amargo, então seu tom de voz ficou mais ameno. – Mas, apesar de tudo, a força ainda não me abandonou. E nem nunca irá abandonar.

O fantasma tomou um ar decidido, determinado.

–Eu falarei com eles o mais rápido possível. Não importa o quanto tenha que tentar, devo ter magia o suficiente para isso. – ele o encarou. – Tentarei anular as Trevas nos corações dos parceiros dos Digiescolhidos, para que aquelas crianças não fiquem assim tão desprotegidas. Ouvi o novo Mestre do Oceano Escuro dizendo que iria mandar que eles atacassem, apenas por diversão. – ele revelou, claramente reprovando. – Eles virão para nos ajudar e ajudar as outras almas.

–Eu não estou morto. – Gennai o lembrou.

–Está quase lá.

O velho suspirou, assentindo.

–Seu plano é um tanto improvisado, mas creio que possa dar certo.

–Dará certo, eu acredito com todas as minhas forças. – a própria figura tremeluzente se surpreendeu com a verdade em suas palavras realmente admiráveis.

–Boa sorte. – Gennai desejou – Eu creio em você, Wizardmon.

***

–Vocês cresceram mesmo, hein! – O ogro verde não mudara. Os mesmo olhos azuis como gelo, porém não olhos cruéis, destacados por uma tintura preta. Dentes afiados distribuídos de maneira uniforme, com duas grandes presas nas laterais da boca. Dois chifres cinza com uma listra vermelha em cada um, braços musculosos com estruturas pontiagudas saindo deles. O mesmo cabelo branco liso, voltado para cima. Em uma das mãos o antigo bastão de osso. O bom e velho Orgemon.

–Orgemon! – Mimi abriu um sorriso que era ao mesmo tempo incrédulo e alegre, praticamente se jogando nos braços do ogro, que deu um riso um tanto debochado, mas feliz.

–Er... – Willis deu um riso bem nervoso. – Vocês o conhecem, é? – Terriermon e Lopmon saíram das postura defensiva, murmurando algo sobre nunca conseguirem entrar em uma luta de verdade.

–Conhecemos! – Tai garantiu. – Nossa, há quanto tempo!

–Sim, sim. – ele afastou Mimi, quase parecendo meio entediado.

–O que você está fazendo aqui? – TK perguntou. – Acho que me lembro de você falando algo sobre não andar com Digimons vacina. Mudou de ideia, foi? – Ele arqueou uma sobrancelha.

–Não deboche de mim, baixinho.

–Achei ele bem legal! – Davis opinou, abafando um riso. TK revirou os olhos.

–Primeiramente, eu não perguntei nada á você, moleque desconhecido. – ele se dirigiu a Davis, que teve seu ego explodido, ganhando aprovação de Yolei, a menina sorriu. – Em segundo lugar, não vejo quase nenhum Digimon tipo vacina por aqui, só os dois coelhos.

–O que é um coelho, Willis?

–Continuando. – disse Orgemon, interrompendo Terriermon. – É bom ver vocês, pirralhos.

–Magoou essa. – Matt murmurou.

–Vem cá, tem certeza que é uma boa ideia esse aí por perto? – Cody sussurrou, estremecendo. – Ele parece, sei lá, meio... Mortífero.

–Que nada! – Mimi sorriu.

–Ele parece durão, mas ele é um manteiga derretido, acredite. –
Joe falou.

–Quem você chamou de manteiga derretido? – Orgemon rosnou, fazendo menção de que iria erguer o bastão.

–Ninguém, ninguém! – Joe disse rapidamente. O Digimon pigarreou.

–Eu viajei por muitos lugares nesse mundo, mas vi sempre a mesma coisa: Destruição. Isso me irritou profundamente. Eu quero me juntar a vocês de novo, para ajudar a derrotar o vilão da vez.

–Legal! – Tai sorriu.

–Bom ter você de novo. – Kari murmurou, sem saber o que dizer, porém sentindo que deveria dizer alguma coisa.

–E a sua busca por Leomon? – Sora perguntou.

–Nada. – ele assumiu uma feição tristonha.

–Vocês eram amigos? – Ken perguntou por perguntar.

–Não. – Orgemon deu um sorriso medonho. – Leomon é meu inimigo mortal. Estamos destinados à lutar por toda a eternidade, até que um triunfe em cima da morte violenta do outro!

Oh. – Ken piscou. Legal.

Izzy abriu a boca para falar algo, quando um barulho soou, vindo do laptop.

–O que foi agora? – Mimi suspirou.

O ruivo engasgou, olhando fixamente para a tela do aparelho.

–Nossos parceiros, pelo visto. Estão vindo para nos matar de novo.


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Notas finais do capítulo

Er, ficou muuuuito cheio, não é? Com conteúdo demais... Ficou chato? Espero que não. O que vocês acham, digam com sinceridade (haha), eu devo diminuir o número de palavras em cada capítulo? É que eu gosto tanto de capítulos longos, tipo de livros, mas vocêpodem não gostar... Devo diminuir a quantidade de palavras??? A divisão deve ter ficando ruim, me desculpe. :(
Yay, a volta de Orgemon!! ;) Acho ele legal, no final das contas.
E, Wizardmon, tramando um plano de comunicação e fuga? Legal, não? Pelo menos eu achei. :D
Hm, lendo, Picklemon e Leomon estão presos no Oceano Escuro também. (Claro que o catelo foi contruído depois que Kari, Ken e os outros foram lá, só pra avisar!) Ah, falando em aviso, ó: Com a história dos desafios pra cada um, terá um capítulo centrado em um personagem. Não imadiatamente, ou seguidos, mas ninguém ficará de fora ou deixará de ser explorado. ;)
Ficou faltando ação? Acho que sim.
No próximo terá mais, eu prometo, mil desculpas se ficou paradão!E eu meio que já disse meu casal preferido, com o coitado do TK se corroendo de ciúmes, muahahaha!
Quem tal palpites sobre QUAL Brasão será formado pela união de todos? Eu de umas certas dicas...
E, lembrem-se, o próximo seá recheado de ação!!
Até o próximo!



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