Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 42
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^^



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Sai do banheiro, a água respingava dos meus cabelos deixando minha blusa vermelha com manchas escuras. Fui direto para o quarto, me sentindo em casa. Dino arrumara mais três quartos, um para Alice, outro que Seth dividiu no inicio com Jacob e que ficou sendo só dele quando Jacob voltou para casa e um para mim. Erick dormia comigo, desde que chegara há uma semana ele não desgrudava de mim.

         A situação ainda era caótica, falava-se de intervencionismo de outros países, de revolução socialista, mas eu sabia que, aos poucos, tudo entraria no eixo. Só precisaríamos de tempo. Edward e os outros anarquistas estavam fazendo um bom trabalho, tínhamos um considerável apoio no exterior e, depois de uma verdadeira revolução das forças armadas, generais e comandantes corruptos perderam suas patentes e uma limpeza estava sendo refeitas tanto no exército como na marinha e na aeronáutica. As redes de comunicação do governo saíram do ar e as antigas emissoras voltaram, a imprensa foi libertada e a internet teve seus sites do Partido reconfigurados. Agora só se falava da verdade, das coisas reais que estavam acontecendo.

         O choque era grande, era como estar dormindo e ser acordado com um balde de água muito gelada, mas aos poucos as pessoas foram se adaptando a verdade. Jacob também estava ajudando, ele tinha um grande senso de economia, sabia como manter as dívidas pagas e sobrar dinheiro, por isso se tornou um dos principais a gerenciar a economia do país. Emmet, por mais que eu não gostasse de admitir, também estava mostrando que sabia o que estava fazendo, ele cuidava do apoio internacional e conseguira empréstimos favoráveis para a organização das pessoas que voltavam dos campos de trabalho forçado.

         Jasper cuidava da parte legal, ele mais um grande grupo de senhores sensatos e advogados honestos estavam revendo todos os casos de prisão daqueles que ainda continuavam vivos, decidindo se era realmente justo libertá-lo ou se eles realmente tinham cometido erros graves. Nem todos os presos no período do Partido no poder eram pessoas boas, muitos assassinos e ladrões também foram presos e era preciso rever cada caso antes de libertar a pessoa. E Edward estava no meio de tudo isso.

         Ele não assumira nenhum cargo de poder, mas, de certa forma, ele estava no centro das coisas, ajudando e opinando em tudo. Ele e mais quatro homens eram os principais dirigentes do País durante aquela complicada fase de transição entre o governo ditatorial e mentiroso e o sistema que buscávamos implantar.          Na verdade, ainda não fora decidido se iríamos em direção ao Parlamentarismo ou ao Presidencialismo, mas, qualquer que fosse a escolha, ela só aconteceria depois que tudo estivesse organizado.

         E não parava por aí, muito políticos e Senadores foram despedidos e uma nova leva tomava o poder provisoriamente. Por exemplo, Carlisle ficou responsável, juntamente com mais dois, pelo Ministério da Saúde, Peter ajudava nas Forças Armadas e até mesmo Tânia estava ajudando na parte de Educação!

         No fim, eu sabia que ia dar certo, que íamos conseguir organizar o meu país, o nosso país. Éramos seres humanos, sempre conseguíamos nos adaptar!

         Abri a porta do quarto e parei de chofre, assombrada. Erick tinha acordado e estava deitado no colo dele, ouvindo uma história de ninar.

         -E então o valente príncipe pegou a espada prateada  e disse para o dragão: me deixa entrar ou lutarei com você.

         Erick bocejou, mais um pouco e ele voltaria a dormir. Eu fiquei parada, o ouvindo contar a história. Antes que o valente príncipe chegasse a torre meu irmão já babava em seu colo. Ele foi diminuindo o tom de voz até que ficou em silêncio. Com cuidado, arrumou melhor o corpo de Erick na cama e o cobriu com carinho, beijando sua testa como um pai faria com seu filho. Ele se levantou e virou, percebendo a menina parada na porta. Um sorriso grandioso surgiu em sua face e ele veio na minha direção, os passos silenciosos de gato. Fechei a porta quando ele passou por mim e me virei para encará-lo.

         -Voltou – disse por fim com um suspiro.

         -Mas não para ficar – ele contou – Só vim ver se está tudo bem, se não precisa de alguma coisa. Tenho que voltar, ainda há muito que se fazer.

         -Entendo.

         Era verdade. Antes de tudo eu tinha que lembrar que ele era um revolucionário, ele começara tudo aquilo, era o projeto dele. E Jasper e Emmet precisavam dele mais do que eu.

         -Você está bonita – ele elogiou me olhando de cima a baixo.

         -E você precisa de um banho – brinquei enquanto passava a mão pelo seu rosto cansado – E de dormir um pouco.

         Ele riu e segurou minha mão no seu rosto, fechando os olhos. Eu não resisti e coloquei a outra mão em seu rosto, acariciando sua face. Ele deu um sorriso sincero e quente e todo o amor que eu sentia por ele me inundou e eu tive a certeza que, independente de quanto eu vivesse, eu jamais amaria alguém como eu o amava.

         -Quando acha que tudo isso vai acabar? – perguntei.

         -Não sei – ele confessou de olhos fechados – Eu espero que seja em breve, não vejo a hora de voltar para casa.

         -Eu vou poder voltar? – perguntei.

         -Hã?

         Ele abriu os olhos e eram olhos confusos.

         -Você diz que vai voltar, eu vou poder voltar com você?

         -Comigo? Não será preciso, você tem uma mansão, e você só vai sair da casa do Dino quando for seguro. Não vai precisar se esconder mais, vai poder voltar a sua vida normal – ele disse ainda confuso.

         -Vem comigo – eu pedi.

         Antes que ele dissesse mais alguma coisa eu tomei sua mão e o levei pelos corredores até chegar onde eu queria. Dino tinha uma biblioteca, pequena, mas ainda sim era algo espantoso de se achar na casa de um urso cheio de armas. Eu peguei meu livro favorito dali, um livro de poesias, e abri numa das páginas.

         -Sente – pedi indicando a cadeira aconchegante, lhe dando o livro aberto e começando a andar de um lado para o outro – Leia um verso de cada vez, por favor.

         -Está bem – ele concordou ainda mais confuso – “Amor é fogo que arde sem se ver”.

         -Quando ama tudo fica quente quando se está com quem se gosta, é como se fosse verão o ano inteiro. Em compensação, quando afastados, é o inverno mais rigoroso do mundo – eu expliquei – Continue.

         -“É ferida que dói e não se sente”.

         -Não dá para perceber, o amor vai cavando seu buraco dentro do coração e você só vai se dar conta disso quando é tarde demais, o buraco já está lá e você não sabe como ou quando ele surgiu, só que ele está lá e que ele vai doer muito se você se afastar do ser amado.

         -“É um contentamento descontente”.

         -É ficar feliz pelo outro, pelas conquistas do outro. É ser feliz pelo outro, mesmo quando sua realidade não é alegre.

         -“É dor que desatina sem doer”.

         -Você sente o amor pulsar cada vez mais forte, impossível de se controlar, e dói, mas ao mesmo tempo lhe dá a maravilhosa sensação de pisar nas nuvens.

         -“É um não querer mais que bem querer”.

         -De tudo o que você pode sonhar ou desejar, o outro sempre virá em primeiro lugar, primeiro sua felicidade, seus sonhos, depois os seus.

         -“É solitário andar por entre a gente”.

         -Você se sente muito solitário quando quem você ama não está por perto. Mas, se um dia o mundo acabasse e restassem apenas os dois, jamais reclamaria de solidão.

         -”É nunca contentar-se de contente”.

         -Você sempre quer mais, por que, quando ama, sabe que pode ter mais.

         -“É cuidar que se ganha em se perder”.

         -Você acaba ganhando quando se perde, deixa de existir em si para existir no outro, se bem que não se perde, apenas existe de forma mais plena no outro, por isso o amante se parece tanto com a pessoa amada.

         -“É querer estar preso por vontade”.

         Eu parei de andar de um lado para o outro e fui até ele, me ajoelhei e pousei minhas mãos em seus joelhos, ergui a cabeça e disse com toda a sinceridade:

         -Não quis ficar com você por segurança, por culpa, por medo ou por não ter um lugar para voltar. Quis ficar com você por eu te amo, por que com você eu aprendi o que é o fogo que arde sem se ver, o que é a ferida que dói e não se sente, o que é o contentamento descontente e essa dor que desatina sem doer. Aprendi esse não querer mais que bem querer, e o quanto era solitário andar por entre a gente sem você, o que é nunca contentar-se de contente e a vantagem em ganhar por se perder. Por isso fiquei presa a você por minha vontade.

         O livro tombou de suas mão e Edward ficou sério, mais sério do que eu jamais vi na vida. Busquei em seus olhos profundos algo que explicasse sua seriedade, esperando não encontrara nada neles além de profundezas e segredos.

         Me enganei.

         Pela primeira vez eu pude enxergar claramente cada detalhe daquela profundeza e percebi que ele estava sério devido a tamanho de sua felicidade. Edward sorria nos momentos difíceis e ficava sério nos momentos profundos.

         -Eu te amo – ele falou com delicadeza.

         -Eu sei, sempre soube. Desculpe por demorar tanto para perceber que eu te amava também.

         -Quando você percebeu isso?

         Fiquei pensativa, buscando o momento exato.

         -Quando você respondeu pela primeira vez o meu “Vem comigo” foi quando começou, no fundo eu sempre soube, mas tinha medo de admitir. Eu só parei de me enganar quando Peter disse que você foi preso. Naquele momento eu senti que se eu te perdesse, bem, eu não existiria, meu amor por você já dominava uma grande parte dentro de mim, eu não podia mais negar.

         -E não me disse isso antes por que…

         -Não era o momento – respondi me lembrando de Emmet.

         -Sabe que agora eu não vou poder ficar com você – ele lembrou.

         -Eu sei, mas tudo bem, eu te espero. Você sempre me esperou, agora é a minha vez de fazer o mesmo por você. Eu te amo Edward.

         -Como? – ele perguntou com um sorriso.

         -Eu te amo – repeti rindo.

         -Dá para falar de novo? Eu ando meio surdo.

         Me levantei e sentei no braço da poltrona, aproximei minha boca de sua orelha e, instintivamente, ele se encolheu, esperando que eu berrasse. Mas, ao invés disso, eu beijei carinhosamente a região abaixo de sua orelha e sussurrei:

         -Eu te amo.

         Num gesto rápido ele me tomou em seus braços e eu caí em seu colo.

         -E eu te amo ainda mais – ele disse.

         Eu ia contestá-lo, mas ele me deu um beijo e me calou na hora. Sua boca colou na minha, macia e doce, seus lábios se moveram nos meus com energia, num beijo faminto, sua boca se abriu sobre a minha e sua língua tocou a parte debaixo da minha boca, eu abri a boca e deixei que sua língua tocasse na minha, seus braços me abraçando com força e colando meu corpo ao dele. Uma explosão de calor ocorreu e eu senti as nuvens ao nosso redor. Eu fui atrás dele no inferno, agora ele me levaria ao céu.

         -Eu nunca mais vou deixar você ficar longe de mim – ele disse, libertando meus lábios.

         -Não vai precisar se esforçar muito para isso – brinquei.

         Então eu o abracei apertado. Eu sabia que logo ele teria que voltar e ajudar a organizar tudo, mas não importava. Eu era dele e ele era meu, sempre fora meu. Nesse momento lembrei da aliança do meu pai e me afastei um pouco dele para ter espaço. Edward não gostou, seus braços se fecharam ao meu redor e assim que eu tirei a corrente voltei para seu peito macio. Com cuidado, tirei a aliança e coloquei na palma de sua mão.

         -O que é isso? – ele quis saber.

         -Era do meu pai. Minha mãe deu para ele quando eles começaram a namorar, ela me dizia que só dera a aliança por que sabia que ele era o homem da vida dela.

         -Ela pertence a sua família, é sua lembrança deles, não posso ficar com ela.

         -As melhores lembranças da minha família estão na minha cabeça, você agora é minha família. Ou, se preferir, minha futura família.

         -Uma família – ele disse pensativo – Eu sempre quis ter uma, desde que você fosse minha esposa – ele acrescentou beijando minha testa.

         -Nós seremos uma, desde que você aceite um cunhadinho lindo e maravilhoso – eu brinquei beijando seu queixo, sabia que ele jamais recusaria.

         -Na verdade, não um cunhado, mas um filho – ele me corrigiu – Sei que nunca poderei tomar o lugar do seu pai, mas Erick vai precisar de um pai e de uma mãe e eu gostaria muito de ser esse pai.

         Meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir aquilo e eu fechei os olhos, o abraçando com mais força. Edward riu baixinho e beijou a ponta do meu nariz, paciente. Eu ergui a cabeça e minha boca encontrou a boca dele, num suspiro de alívio eu o beijei.

         Ficamos alguns segundos assim, até que eu me afastei, sem ar.

         -Eu te amo – ele arquejou, também com dificuldade de respirar.

         -Eu te amo mais – repeti o que ele dissera antes.

         Ele me olhou com ternura e riu, eu jamais o vira tão feliz como naquele momento. Deitei minha cabeça em seu peito e respirei profundamente, o cheiro de pele e suor me invadiu e eu sorri, feliz por estar ao lado da pessoa certa.

         Ele me balançou com suavidade, me embalando como fizera com Erick.

         -Hei, eu não quero dormir – brinquei empurrando seu braço de leve.

         -Tem certeza que não é um sonho? – ele perguntou rindo – Me parece tão familiar…

         -Você sonhou com isso?

         Eu me afastei dele para olhar direto em seus olhos, surpresa. Edward ergueu a mão e jogou uma mecha de cabelo para longe do meu rosto, acariciou minha face e parou com a mão no meu queixo.

         -Eu sonhava com o dia que seria plenamente feliz, e no meu sonho havia o Erick, havia uma casa simples, nada muito grande, mas confortável. Havia uma sala cheia de almofadas macias onde Erick ficaria deitado, desenhando com giz de cera, eu chegaria em casa depois de um dia de trabalho e ele sorriria para mim, correndo para me mostrar seu desenho de criança. Eu beijaria sua testa e iria para o quarto trocar de roupa. No meio do caminho passaria pela cozinha e você estaria terminando de tirar um bolo do forno, radiante por fazer seu primeiro bolo. Eu me aproximaria e tomaria você nos braços, te beijaria e você me perguntaria sobre meu dia, eu responderia qualquer coisa e te daria mais um beijo, feliz por estar com a mulher que eu sempre amei. Com isso que eu sonho. E agora, quando te tenho em meus braços – e estreitou ainda mais seu abraço – Quando chego, vejo Erick acordado e chorando por que teve um pesadelo, me pedindo para contar uma história para ele dormir, assim como você faz com ele, quando eu tomo ele nos braços e invento qualquer Era uma vez, quando sinto seu coração acelerar quando digo que te amo – e repousou a mão onde ficava meu coração que batia acelerado – Eu percebo que consegui tudo que mais desejei na vida e me sinto a pessoa mais feliz do mundo.

         -Eu também me sinto a pessoa mais feliz do mundo – disse sorrindo de orelha a orelha – E não é só por que eu tenho você e o Erick, é claro que isso é muito importante para mim, é quase tudo, mas eu também estou feliz por que tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas como a Alice e o Seth, e isso não teria sido possível sem você. Eu te amo Edward, pois você me deu amigos eternos, me deu coragem, me deu a verdade e me deu seu amor. Me deu a vida quando eu achei que tinha perdido a minha com a morte dos meus pais.

         Ficamos em silêncio, não precisávamos falar, aquele momento era perfeito por si só.

         -“É servir a quem vence, o vencedor” – Edward disse retomando o poema.

         -No combate do amor não existe quem só ganhe ou quem só perca. Eu ganhei seu coração, em troca perdi o meu para você, assim como você perdeu o seu e em troca ganhou o meu.

         -“Mas como causar pode seu favor, nos corações humanos a amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?”.

         -Essa parte eu não sei explicar – disse sorrindo – Tudo o que eu sei é que te amo.

         E nós dois rimos.

         Eu estava certa.

         Tudo terminou bem.

         Maravilhosamente bem.

         Camonianamente bem.


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Notas finais do capítulo

Bem,é isso,chegamos ao fim.
Obrigada por me acompanharem até aqui.
Amei conhecer e escrever para vocês. Bella, Alice, Seth e Edward agradecem muito pela paciência e companhia nessa louca empreitada que foi Piloto de Fuga.
Quem sabe não nos veremos em breve?
Beijinhus e comentem ^^



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