Younger Souls escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 9
Capítulo 8 - Sally


Notas iniciais do capítulo

Olá florzinhas lindas do meu coração, tudo bem? ^^
Bom, aqui estamos com mais um capítulo fresquinho de YS * dançinha da vitória * E dessa vez nem demoramos muito né? ^^
Ai flor, antes de tudo queriamos agradecer os lindos reviews de vocês no capítulo anterior. Vocês são nossa inspiração!
E queria pedir as outras amoras que leem a fic e não comentam que comentem anjinhos, gostariamos muito de conhecer vocês e saber o que estão achando, ok? A opinião de vocês é muitoo importante!
Bom, esse capítulo tá super, eu adorei ele, espero que gostem também e tem nova personagem chegando ;D
Sem mais, boa leitura, curtam bastante e não esqueçam de comentar, até lá em baixo!



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POV. Chase Darren:

Estava caminhando perto do Hospital por falta do que fazer. Assim como todas as pessoas normais, Allie ainda estava dormindo, aproveitando seu domingo. Eu não conseguia dormir mais do que o necessário, apesar de realmente precisar. Talvez fosse uma consequência da vida de Solitário, onde dormir demais podia significar um passeio de viatura de Buscador, ou talvez culpa dos pesadelos frequentes que me acometiam desde que eu tivera aquela briga com Joy, o que já se arrastava por algumas semanas. Eu vinha chutando uma pedrinha desde a Praça Central e na última vez que eu a chutei ela sumiu na escuridão, saltando para a Sala de Jogos, de onde, abafados pela água, se ouviam vigorosos soluços, se é que um soluço podia ser vigoroso.

Adentrei a sala escura. Os gemidos e soluços eram abafados pelo som da água como eu disse antes, mas ainda assim eram facilmente ouvidos.

-Joy?

Ela levantou os olhos avermelhados dos braços cruzados apoiados nos joelhos dobrados apenas o bastante para ver quem era com os olhos cheios de lágrimas.

-Me deixe em paz, Chase.

-Qual o problema?

Perguntei indo até ela e sentando-me ao seu lado. Ela se esquivou quando tentei passar o braço pelo seu ombro e se levantou de costas para mim, soluçando mais forte.

-Nenhum! Eu disse para me deixar em paz, Darren. Eu estou bem, não está vendo? Eu estou bem...

Sua voz sumiu antes que ela pudesse terminar a frase. Levantei-me e fui até ela tentando ver seu rosto. Ela tapava a boca com os olhos fechados com força para conter as lágrimas e os soluços para que eu não a visse chorando. Coloquei meus braços ao seu redor, o que eu queria ter feito desde o início, desde que a magoara. Fechar os braços ao seu redor e mantê-la segura. E então depois de um tempo, abraçá-la não era o suficiente por todo o tempo em que estávamos distantes. Levantei seu rosto entre o polegar e a dobra do indicador, olhando no fundo de seus olhos azuis onde eu podia nadar por anos sem nunca me cansar.

Aproximei-me devagar, afogando-me em seus lábios fartos, doces como o mel, escorregadios como manteiga e quente como um lar. Acariciei seu rosto e ela afastou minha mão e deu um passo atrás, com os olhos brilhando de dor, como duas estrelas em sofrimento. Quando estrelas morrem, viram buracos negros.

-O que pensou? Que iria aparecer me beijar e que tudo ia ficar bem? Que eu aceitaria que traísse minha prima? Que eu me derretesse em seus braços dizendo o quanto senti sua falta? Ou... Ah... Diga-me Chase, o que você pensou?

-O que quer dizer com trair sua prima?

Perguntei com os braços ainda suspensos onde ela os deixara. Ela cruzou os braços e me encarou com uma expressão ferina de superioridade como se ela fosse à professora rígida e eu a criança relapsa que se esquecera de fazer a tarefa.

-“Eles não são adoráveis?”, “São perfeitos um para o outro!”, “Chase e Allie, Senhor e Sra. Darren...” Estão todos dizendo isso, e com toda a razão, vocês são um casal lindo.

-Se somos assim tão lindos porque estava chorando?

Ainda com os braços cruzados e expressão de superioridade ela se pôs a caminhar devagar pelas arquibancadas de pedra escuras com cuidado para não cair, e eu as segui. Se for parte do problema, tudo o que eu queria era ser parte da solução.

-Você é tão egocêntrico a ponto de pensar que só tenho você na minha vida? É só que... Chega um ponto que uma pessoa não consegue aguentar tanta dor com um sorriso no rosto como eu sempre faço. - Ela disse baixinho. Mas espere ai...

-Dor?! Joy, sua vida está apenas começando! Tem ambos os pais vivos, juntos e irmãos saudáveis. Você é linda, e ninguém nunca te apontou o dedo para dizer que você é errada de qualquer maneira que fosse. Você tem uma vida perfeita. Que tipo de dor você haveria de ter nesse coraçãozinho?

Ela me encarou fundo nos olhos e soube o que diziam. Diziam que nada havia de perfeição no mundo, e traziam uma dor interna e remoída em um coração partido.

-A dor da perda, Chase. A perda do que eu nunca tive. Sabe o que essa invasão tirou de mim? A vida! Eu posso sobreviver aqui, mas por quê? Faz sentido para os meus pais porque eles se lembram das suas experiências, mas qual o futuro reservado para mim? Me esconder por mais 60 anos e morrer sem nunca ter feito nada? Não é justo! Porque eu não pude ir ao ensino médio, ter meu próprio armário, fazer dele uma bagunça e pirar por causa do teste de geometria para o qual eu não estudei?! O-o-ou ir ao baile com um garoto que me trouxesse uma flor para por no pulso e dissesse que eu estava linda naquele vestido mesmo se eu parecesse um monstro, mas porque seus olhos não podem ver defeitos em mim? Porque nunca recebi uma carta de admissão na faculdade? Ou fui morar lá depois de herdar a caminhonete velha do meu pai? Ou ter uma colega de quarto maluca por garotos? Eu tenho 19 anos e o ponto alto da minha vida foi quando você me salvou. E você foi o mais próximo de um namorado que eu já tive, e me trocou em menos de uma semana pela minha própria prima depois de alguns dias. Agora me diga se tem algo perfeito em sobreviver, se eu nunca vivi para me lembrar?

Ficamos alguns segundos em silêncio encarando-nos no escuro, cada um esperando o próximo movimento do outro como em um jogo de xadrez.

-E-eu nunca... – Comecei – Troquei você por Allie. Nós nunca nem nos beijamos e sempre que eu olho nos olhos dela eu queria estar olhando nos seus. Ela só me ajuda a lidar com o fato... Com os fatos.

Ela me olhou parecendo incrédula.

-Vocês... Nunca se beijaram? – Fiz que não. Ela fez que sim e ficamos um tempo em silêncio. – E que tipos de fato ela te ajuda a superar? Droga Chase, eu não sei nada sobre você

Não posso culpar você

Por pensar

Que você nunca me conheceu realmente em tudo

Ela desceu da arquibancada e ia indo em direção à porta, mas a detive segurando seu braço antes que ela pudesse chegar. Ela virou-se para mim, os olhos claramente cansados de conversa, mas eu não podia deixá-la ir. Se ela fosse, talvez nunca mais nos falássemos abertamente daquele jeito, e talvez ela nunca mais me perdoasse e caso isso acontecesse, quem não teria razão para viver seria eu.

-Era uma vez um garotinho que nasceu numa longa linhagem de militares...

-O que? Chase realmente não quero ouvir um conto de...

-O nome dele era Chase e ele tinha 4 anos. Ele gostava de soldados de chumbo e bandeiras dos Estados Unidos. Ele tinha 3 irmãos e todos os três estavam servindo no exterior onde havia rumores sobre uma invasão. Um dia depois que eles voltaram, a mãe do garoto disse que ele precisava ir a um médico – Ela puxou-me de volta às arquibancadas e sentou-se, os olhos voltando a ser estrelas brilhando de curiosidade. – Seu irmão do meio percebeu e a deteu, pois tudo o que ela queria era que ele se transformasse num deles. Ele ajudou os outros dois a fugir com o meninos e eles se reencontraram de novo há 3 estados de distância. E os anos passaram e os irmãos foram sendo pegos até que só sobraram dois deles. O mais velho e o garoto. Mas eles brigaram e os Buscadores os encontraram e o mais velho foi baleado. E no fim da noite, o garotinho estava sozinho, apesar de ter 26 anos, ele ainda tinha tanto medo quanto no 1º dia de fuga.

Joy estava de boa aberta, estática, procurando palavras.

-Chase... Eu...

-Era uma vez, a menina mais linda de todas – Não deixei que ela continuasse, a história ainda não havia acabado. Peguei sua mão e a beijei para mostrar que era ela, a menina mais linda de todas, a moça, mais linda de todas – Que estava escondida de um Buscador que queria ofuscar a beleza dos seus olhos azuis com um ser prateado. – Segurei seu rosto novemente entre a dobra do indicador e o polegar. – O menino que deixara de ter medo depois de ser perder em seus olhos, se feriu e essa moça cuidou dele como ninguém fazia há algum tempo. A conexão entre os dois foi instantânea como uma presença de espírito. Mas não estava certo que eles ficassem juntos, o menino queria que a moça aproveitasse tudo o que ele deixara pelo seu caminho tortuoso. Família.

Eu pensei que estava protegendo você

De tudo do que eu passo

–Oh Chase...

-E então o menino percebeu, talvez tarde demais que já não podia viver sem ela. Ele só queria que ela soubesse disso. Ela sabe?

Aqui estou eu

Com todo o meu coração

Espero que você entenda

-Talvez... Ela sinta o mesmo desde o início.

-E eles deviam ficar juntos no final da história?

Ela se aproximou e ficou de joelhos na arquibancada, se aproximando mais, segurando meu rosto pelas mandíbulas.

-Deviam sim. Para sempre.

E nossos lábios se encontraram. Separei-os por um segundo contra todas as minhas vontades.

-E Matt?

-O que tem ele?

-Não quer que eu traia Allie mas tudo bem para você me trair Matt?

-Matt? Ele é meu amigo. Tentou me beijar uma vez mas eu não deixei. Ele concordou em me ajudar a fazer ciúmes em você. Funcionou?

-Quase me matou, Joy.

-Ótimo. Acho que até hoje de manhã ambos estávamos com as pessoas erradas.

E quando nossos lábios se tocaram novamente nada mais havia para ser resolvido ou discutido. Nada mais ficaria entre nós, nunca mais.

# Alguns dias depois#

POV. Benji

-Pai, posso te fazer uma pergunta? - Pedi, me encostando a parede, olhando minhas novas cartas atentamente, e arrumando meu jogo. Eram ótimas cartas.

-Claro filho.

Respondeu, distraído, arrumando o leque de cartas em suas mãos, reorganizando-as freneticamente, como se tentasse mais embaralhá-las do que arrumá-las.

-Quando você conheceu a mamãe... Como você soube que era ela?

Ele uniu as sobrancelhas. Não sabia se por conta da minha pergunta ou das suas cartas.

-Como assim, era ela?

Dei de ombros, pescando uma carta distraidamente para dar início ao jogo.

-Ah, sei lá. Você soube que ela seria sua esposa, teria um filho bonitão que nem eu, e tudo o mais?

Ele riu, enquanto eu descartava uma rainha de espadas. Ele comprou do monte, posicionando-a no leque, e mudando todas as outras de lugar.

-A gente nunca sabe, no começo. Mas se Deus sabe, você logo descobre – Disse, piscando para mim e descartando finalmente um ás de paus. Ele juntou as cartas em um monte e as baixou, olhando para mim, me analisando de cima a baixo. – Por quê? Alguma menina roubou o coração do meu principezinho?

Perguntou, erguendo uma sobrancelha e sorrindo ao lembrar do apelido carinhoso de minha mãe. Eu ri da sua expressão.

-Eu? Não. É só que... Sei lá. Esse não é o tipo de coisa que acontece na minha idade? Porque não comigo?

Ele estreitou os olhos, enquanto eu comprava e analisava a utilidade do dois de paus.

-Você não é do tipo que anda por aí babando por uma garota. O que está acontecendo com você?

Dei de ombros novamente, jogando a carta fora, preferindo manter meu jogo como estava. Papai sorriu, aceitando a carta de bom-grado, tornando a reorganizar sua mão.

-Joy e Jullie estão tão loucamente entretidas com suas paixões adolescentes... Acho que só... Sinto falta delas...

Papai fez que sim e descartou um três de ouros.

-Quando for sua hora, vai acontecer. Paciência.

Ele disse. Sorri, aceitando sua carta, jogando fora e baixando meu jogo prontinho.

-Mas isso não é paciência, não.

Ele riu, fez que não e jogou as cartas na mesa, cruzando os braços, incrédulo.

-Isso tudo foi para me distrair?

-Claro que foi.

Eu disse, mentindo.

• • •

O quarto demorou 15 segundos para acender as luzes depois de colocarmos o cartão na maçaneta. Tio Kyle imediatamente ocupou a cama mais próxima. Meu pai beijou o topo da cabeça da minha mãe e murmurou boa noite indo para a cama próxima à janela. Eu deitei na cama restante sem fechar os olhos, apenas descansando o corpo da viagem mais cansativa de toda a minha vida. Não que eu já tivesse viajado antes. Mamãe fechou a porta e veio se sentar na pontinha da cama, acariciando minha cabeleira castanha com aquele seu olhar de orgulho.

-E então, como se sente? É a primeira vez que sai das Cavernas! Sua primeira aventura!

-Eu não chamaria escoltar tia Sunny nas compras de aventura.

Eu disse cruzando os braços atrás da cabeça.

-Então – Ela disse levantando-se e indo até o frigobar pegando uma lata de castanha de caju – Devia ter te deixado em casa cuidando da sua irmã.

-Ah não! Escolta é muito melhor!

-Benji! Não fale assim da sua irmã! - Mamãe me repreendeu. Sentei-me na cama, encarando-a.

Mamãe abriu a lata e mordiscou uma castanha parecendo aflita. Ultimamente, Sarah não parecia a fonte mais segura de histórias e Ryan nunca fora. Ambos estavam mais estranhos e na defensiva do que nunca esteve antes, um comportamento muito estranho, mas só eu e as gêmeas parecíamos notar.

-Acho que vou ter que conversar com a sua tia Peg sobre isso.

-Seria ótimo.

Eu concordei enquanto ela mordiscava nervosa às suas castanhas perdida em seus pensamentos enquanto eu descansava, evitando os meus. Quando os adultos contavam, as incursões pareciam empolgantes, emocionantes, interessantes e divertidas. As gêmeas foram perseguidas pelos Buscadores, Joy teve que correr uma maratona inteira! E em uma outra vez, muito tempo atrás, tio Ian e tia Peg tinham participado de uma perseguição de carro com direito à tiros e tudo o mais. Mas até agora, minha primeira Incursão só tinha sido passar um dia atravessando o deserto trancado num carro. É claro que eu estava completamente maravilhado de poder por os pés para fora de casa. Tinha uma TV no nosso quarto, aquela coisinha fina presa na parede, que os adultos diziam sentir tanta falta.

Eu tinha 20 anos e nunca tinha visto uma TV! Mamãe logo se cansou das castanhas e fechou a lata colocando-as de lado. Só esperava que ela não começasse a roer as unhas, Sarah não precisava de toda essa preocupação. A garota sabia se virar. Quando tinha 6 anos, ela roubava todos os meus biscoitos, e sabia usar sua carinha de anjinho para dizer que não o havia feito. Era esperta desde pequena. Mamãe pegou uma das toalhas cuidadosamente engomadas, passadas e dobradas e se dirigiu ao banheiro, fechando o ralo da banheira e abrindo a torneira para enchê-la.

-Vou tomar um banho – Disse ela voltando ao quarto para pegar um pijama para vestir depois do banho – Fique atento à sua tia Sunny quando ela voltar com o jantar.

-Pode deixar.

Concordei fazendo que sim. Ela veio até mim e beijou minha testa. Voltou ao banheiro trancando a porta e por um tempo o som da água enchendo a banheira encheu meus ouvidos e anestesiou minha mente, como se eu estivesse debaixo d’água. Acho que cochilei um pouco, mas acordei com o som de vozes no corredor. Achei que devia ser tia Sunny com a comida, então esfreguei os olhos e levantei-me, espreguiçando-me e indo até a porta vagarosamente.

-A garota tem que estar aqui...

Disse uma primeira voz masculina. Com certeza nenhum dos dois homens conversando no corredor era tia Sunny.

-Vamos checar os registros de Check-In então olhamos os quartos vazios.

-Tá certo.

Os dois homens chamaram o elevador e ele chegou com um estalo leve parecido com o de um sino. Quando as portas se fecharam eu saí para o corredor e parece que alguém tinha tido a mesma ideia pois a porta da saída de incêndio bateu e um vulto entrou em um quarto, rápido como um guepardo. Em menos de um segundo, era como se nunca tivesse existido. Eu já estava indo espiar quando o elevador voltou a parar no nosso andar com outro “plim”. Virei-me temeroso de que os homens estranhos tivessem retornado, mas era só tia Sunny finalmente retornando com uma sacola cheia de sanduíches.

-Benji, o que está fazendo aqui fora?

Ela perguntou olhando em volta preocupada. Lancei um olhar para a porta de incêndio e para onde o vulto tinha desaparecido. Teria sido só imaginação?

-Eu? Ah, nada tia. Só tomando ar, esperando você... Mamãe disse que chegaria logo então achei que não tinha problema.

Menti sem querer preocupá-la. Havia uma grande probabilidade de a porta ter apenas batido com o vento e que eu estava paranoico com a minha primeira viagem. Não precisava envolver minha tia nisso.

-Está bem, já estou aqui querido. Volte para dentro antes que te vejam. Ninguém te viu certo?

Fiz que não, levando suas sacolas, mesmo que não estivessem pesadas. Ninguém tinha me visto. Mas eu podia jurar que vira alguém.

Depois de todos comermos o sono voltara a reinar quase absoluto pelo quarto. Em minha mãe e no meu pai na cama ao lado da janela, e no tio Kyle e na tia Sunny na cama da parede. Só não reinava em mim. Eu não conseguia parar de pensar na conversa no corredor dos dois homens e do vulto que entrara no quarto ao lado. Deviam ser Buscadores os dois homens, só podiam ser, e eles estavam procurando o vulto. O vulto devia ser um humano. Outro Solitário. Eles estavam aparecendo aos montes esse ano. Primeiro Chase, depois Matt. Não conseguia parar de pensar naquele humano encurralado entre dois Buscadores logo ali, no quarto ao lado. Eu precisava ir até lá e tirar aquilo a limpo!

Silenciosamente vesti-me e coloquei os óculos escuros que tio Kyle usara o dia todo para dirigir. Tinha o cheiro do suor dele, mas como passara o dia trancado no carro com ele, o cheiro já não incomodava tanto. Bolei rapidamente uma explicação para os óculos escuros à noite e dentro do hotel e fui até o banheiro pegar a barra de metal da porta toalhas. Se encontrasse alguém, meu Hospedeiro era cego. Não faria sentido já que um Hospedeiro cego seria descartado, mas não me importei. Só queria limpar a consciência para poder dormir e descansar da longa viagem. Ouvi um estrondo no quarto ao lado. Eu tinha pouco tempo.

Saí do quarto silenciosamente olhando em volta; Bati a bengala a minha frente suavemente como se não pudesse ver. A porta do quarto em que o vulto entrara estava escancarada. Os dois homens que eu ouvira mais cedo procuravam no banheiro e embaixo das camas, revirando o quarto. Quando entrei, com a bengala à minha frente, eles me encararam, os olhos com reflexos prateados como dois pares de holofotes me iluminando. Fixei o olhar em algum lugar distante caso vissem meus olhos e comecei a falar:

-Tem alguém aí? É a camareira? Achei que fosse de madrugada...

Perguntei tentando parecer confuso. Eles pareciam duas vezes mais confusos do que eu.

-N-n-não senhor. O senhor se hospedou nesse quarto?

-Ah sim. O sistema tinha caído, mas a mocinha da recepção disse que iria anotar para não alugar o quarto de novo. Sinto muito se houve algum engano.

-Ah não senhor. Não há engano. Estamos em uma Busca pelo hotel. Uma jovem, na faixa dos 20, o senhor viu?

Eu ri levemente coçando os indícios de barba castanha no meu queixo. Aquilo sim era uma aventura. Eu nascera para aquilo!

-Eu não vejo nada, cara. Mas uma garota esbarrou em mim no saguão quando fui comprar uma rosquinha agora pouco. Ela parecia com pressa para ir embora. É amiga de vocês?

-Ah... Sim.

Disse o primeiro se levantando. Ele passou à minha frente e acenou para se certificar de que eu não enxergava, e consegui manter meu olhar no horizonte.

-Desculpe pelo incômodo.

Disse o segundo saindo do banheiro e puxando o parceiro para fora do quarto, os dois parecendo envergonhados por “invadir” o quarto de um cego que enxergava e que nunca tinha feito a reserva. 30 anos e as Almas continuavam tão ingênuas quanto sempre, talvez cada vez mais. Joguei os óculos e a “bengala” sobre a cama e fiquei em silêncio. Uma respiração ofegante se destacou. Como aqueles Buscadores podiam ser tão surdos a ponto de não ouvir? Era forte e alta, muito clara. Abri o armário de onde vinha o som. O vulto. Era como os Buscadores tinham descrito. Uma jovem na faixa dos 20. Tinha cabelos ruivos, naturalmente cacheados, mas sujos e embaraçados, sinal de que havia pegado muito vento no rosto. Os lábios fartos estavam rachados e os olhos castanhos assustados eram apenas castanhos como eu já esperava.

Seu olhar era aterrorizado e uma pequena camada de suor e poeira cobria a pele queimada pelo sol. Estava tão magra que podia ver suas costelas salientes sob a pele fina.

-Por favor... Por favor, não me entregue... Eu faço tudo o que quiser... Só... Por favor...

Ela implorou com uma voz delirante e febril. Peguei a lanterna que estava pendurada para fora de sua bolsa e liguei apontando para o meu rosto. Ela olhou e olhou, mas parecia que não via nada. Sua boa se abriu em um sussurro mudo. Apaguei a lanterna e devolvi em sua bolsa. Encostei as costas da mão em seu rosto e ele estava ardendo em febre. Há quanto tempo ela devia estar naquele armário? Com um movimento rápido levantei-a nos braços, levando-a até a cama do quarto. Ela estava tão fraca que nem conseguiu resistir.

Fui até o frigobar e peguei uma garrafa de água que era, felizmente, daquelas com bico. Encostei o bico de leve em seus lábios rachados e ela bebeu avidamente, fechando os olhos, como se mantê-los abertos fosse um esforço que não a permitisse beber. Em pouquíssimo tempo a garrafa estava vazia. Não sabia o que fazer, nunca tinha visto uma pessoa tão debilitada antes, precisava de ajuda.

–Mãe... Mãe está acordada?

-Agora sim, Benji querido. Porque filho? Qual o problema?

-Preciso de ajuda.

-Você já é bem grandinho. – Disse ela virando-se para mim – Pode ir ao banheiro sozinho, não pode?

-Mãe! – Corei no escuro – Não é esse tipo de ajuda...

-Então o que é, filho? - Ela perguntou abrindo os olhos, sonolenta – Algum problema?

-Sim... Quero dizer não... Mais ou menos. Você tem que vir comigo.

Ela suspirou me olhando nos olhos pedindo que eu dissesse que fosse sério. Como não disse nada, ela se sentou vagarosamente e se espreguiçou, calçando as pantufas que o hotel oferecia. Papai virou-se para a parede e bocejou.

-Pelo menos não tem que limpá-lo.

[...]

-O que você acha? - Perguntei a ela.

O sol já nascia às nossas costas pelas janelas fechadas com persianas. Minha mãe encarava a moça com uma expressão crítica. A jovem parecia melhor, estava menos pálida, e a febre cedera um pouco. Ela adormecera em alguma hora da noite e parecia ter um sono pesado e sem sonhos.

-Não sei Benji. Fiz o que podia fazer. Agora depende da força dela.

Fiz que sim, encarando o rosto sereno da jovem. Só não parecia justo depois de tudo o que ela parecia ter passado. Ela finalmente havia achado pessoas como ela, que a levariam para um lugar onde ela não precisava correr e nem se esconder. Ela não podia morrer. Sua vida só estava começando assim como eu. Minha mãe percebeu meu olhar pensativo e deu a volta na cama, abraçando meus ombros por trás, beijando minhas costas com carinho.

-Vai dar tudo certo, meu principezinho. Essa menina encontrou seu cavaleiro de armadura – Ela acariciou meu cabelo e beijou minha bochecha se levantando – Vou ver se seu pai já acordou. Sua tia Sunny tem um longo dia e nós temos que escoltá-la.

Ela disse saindo pela porta. Havíamos pendurado o cartaz de “não perturbe” na maçaneta e colocado um calço na porta para que não fechasse e nos trancasse no quarto, já que não tínhamos o cartão. Quando mamãe saiu, o silêncio caiu sobre o quarto, só sendo preenchido pela respiração sonora da jovem enquanto seu peito corajosamente subia e descia. Levantei-me estalando os joelhos sem querer. Estivera ajoelhado ao lado da cama a noite toda. Sem nada para fazer fui ver o que ela trazia na bolsa transversal.

Sentei na cama e a abri. Haviam roupas surradas, imundas e duras de tanto lavar. Também havia um cantil vazio e uma caixa de fósforos pequena. E lá no fundo, protegido por tudo havia um caderno com uma capa de couro e um caderno dourado. A chave estava pendurada no pescoço da garota em um cordão de couro também. Fui até ela, usando a chave para abrir o cadeado e me sentei na outra cama, curioso para ler o que tinha lá dentro.

“Sally Von Desmond”

Dizia na primeira página em uma caligrafia rápida e meio garranchada, parecida com a de Scott. Virei para a próxima página.

Eu duvido que alguém vá ler isso, se interessar por mim ou por qualquer coisa que eu faça, afinal eu sou só uma humana. Como Anne Frank sou apenas uma menina em uma época de crise. Meu nome é Sally e minha mãe me deu esse diário para que eu tenha o que fazer. Ela deu uma para a minha irmã Anne também. Estamos escondidas na casa de árvore de alguma casa, esperando que a cidade durma para que possamos fugir. Eu agora tenho 9 anos, já estou acostumada com essa correria da vida de guerrilheiro.

Mas gosto de pensar que isso é uma aventura e faz eu, Anne e mamãe mais especiais. Somos as mais fortes, rápidas e corajosas do mundo!’’

Olhei para ela deitada na cama. Não parecia ser a mesma menina sonhadora de nove anos que ainda estava aprendendo a garranchar no caderno. Folheei, indo mais adiante, apenas passando os olhos pelas palavras. Os intervalos de tempo variavam muito, de poucas horas à meses, e até anos. A caligrafia melhorava a cada data no cabeçalho, a cada “Querido Diário” como Sarah escrevia toda noite antes de dormir. Captei poucas informações com os olhos. Mas em uma, as lágrimas haviam manchado a tinta, e fiz questão de parar e ler.

“Elas disseram que voltam logo. Elas não mentiriam para mim não é?”

E dois dias mais tarde.

“Elas não vão voltar não é?”

Pulei algumas páginas e logo cheguei à última página escrita. Faltavam umas 15 páginas para o final do caderno grosso. A caligrafia melhorara muito desde o primeiro rabisco na primeira página, mas ainda parecia escrita às pressas por um menino.

“É meu aniversário de 19 anos, não que alguém se importa. Anne e mamãe costumavam trazer um Cupcake com uma vela quando ainda eram elas mesmas, mas não posso ter essa expectativa. Não consigo pegar um saco de salgadinho sem ser perseguida. É como se eu tivesse algum tipo de imã de Buscadores ou algo assim. Estou seriamente tentada a comer o papel do diário. Estou com tanta fome... Não sei quanto tempo vou aguentar com aqueles dois no meu encalço. Mas até Anne Frank foi pega um dia não é? ’’

Fechei o diário. Já entendera tudo o que precisava saber. Ela estava com fome e sozinha e tentou arrumar comida, mas os Buscadores a perseguiram. Fim da história. Ela estava segura agora. Um instinto protetor se apoderou de mim, como o de uma ursa por seu filhote. Eles não a pegariam, não enquanto eu estivesse ali para impedir. Sua jornada não a levara até ali em vão.



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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Merecemos Reviews? ^^
Ai gente, muito triste a história da Sally né? =/ Mas ainda bem que o nosso eterno principizinho, Benji, encontrou ela!
O que será que vai dar ein? =O
E muito fofa a parte do Benji se fingindo de cego né, kk, não nega o sangue Stryder/ Howe kkk. Capítulo recheado de novidades ein!
Só falta vocês agora lindas, comentem bastanteee! ^^
Bom, é isso. Até o próximo capítulo flores que tentaremos fazer o máximo para trazer em breve, ok? Enquanto isso, que tal deixar uma recomendação linda e fazer duas autoras hiper felizes, hum? * tá parei kkk*
Fiquem com Deus flores!
Beijos da Caah e da Bella!



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