Cendrillon escrita por Minny


Capítulo 1
Único




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“Parece só um sonho, onde nós dançamos até o amanhecer

O relógio badalou como mágica

Dedos me chamam para escapar pelos degraus

Três passos de uma vez para esconder a verdade obscura”


A angústia lhe represava. Sentia-se como uma farsa sob um belo vestido incandescente que lhe açoitava a silhueta em desgosto. No entanto, suas idealizações, os sonhos mais profundos e singelos, estavam ao alcance da palma, bastaria fazê-lo apaixonar-se por si em poucos minutos.


“Princesa Hatsune” lhe soava tão bem em sua mente, que mal seria capaz de imaginar o torpor de orgulho realizado caso aquelas palavras viessem se tornar reais. Bastava um beijo e aquela sensação não mais seria imaginária. Lutava contra o tempo em vão.


“O frio amargo de uma carruagem puxada por cavalos


Dançando com roupas que voltarão a ser miseráveis trapos à noite”


Largara-o em meia valsa, debulhando-se em falsa esperança de que não seria descoberta. Corria o máximo que podia, enquanto suas vestimentas voltavam a ser a calamidade que sempre foram. A carruagem tão longo a abandonou, deixando para trás apenas uma abóbora mal desenvolvida. Restava-lhe somente a adrenalina percorrendo-lhe as veias para que não parasse de correr.



“Ache um estranho com máscara, uma pessoa que irá sussurrar baixinho


Segurando no punho de uma lâmina afiada que irá causar tristeza e destruição

Órfãos se reúnem dentro do castelo, todos com um sorriso falso no rosto

As asas de anjos não carregam respostas, elas não irão te ajudar a ter a verdade

O sapato de cristal deixado para trás lentamente vai derretendo em meio às chamas”

Chegou até um enorme lago que rodeava o castelo, a passagem estava bloqueada, uma vez que não saberia atravessá-lo a nado. Seu reflexo nas águas escuras mostrava-lhe quem sempre foi; uma escrava da inveja de sua própria família não consanguínea. Estava perdida.

A fada que outrora lhe fizera companhia, e tornara tudo possível, não mais lhe ajudaria. O guarda vigiava a ponte, e ela temia o que lhe poderia acontecer caso ele a visse.

Os convidados permaneciam em deleite no baile, e somente o príncipe notara sua partida repentina. Ele a procurava, e não poderia apagar a imagem da moça delicada que tinha em mente. Não poderia, tampouco conseguiria fazê-lo. O rosto desconfigurado pela maquiagem, no entanto, não lhe serviria para encontrá-la agora.


“Te vejo tremendo como se quisesse voltar para casa


Você dá uma olhada no relógio da torre

Meus sapatos de dança caem em um declive então eu os chuto longe

Meus dedos lentamente envolvem seu pescoço

Eu tentei dar um jeito nas suas lágrimas

Todos os impulsos eletrizantes correndo pelos meus nervos eram demais”

O que faria? As alternativas eram escassas, e não acreditava que alguém resgataria aquela camponesa do sufoco. Sua elegância que nunca lhe pertencera e a beleza castigada pelo trabalho agora se entrelaçavam.

Sentia as primeiras gotículas de lágrimas nascerem em seus olhos, e o desespero ponderar-se de seu corpo. Agora, passado nove minutos da meia noite, nem mesmo seus sapatinhos de cristal lhe faziam companhia, apenas lhe restava arremessá-los para longe em contragosto. E, assim, ela o fez.


“Eu quero que o sino nunca toque, eu deixei escapar um grito e disse adeus


Com a faca na minha mão eu te apunhalei violentamente, mesmo que isso fosse um dilema

A princesa que usa um perfume que tem o cheiro terrível de pólvora

Minha máscara de gelo com um olhar flamejante que se quebrou foi muito para aguentar”

A humilhação de ser descoberta naquela aparência decadente seria mortal. Preferia que tudo acabasse antes do soar dos sinos, enquanto bailava nos braços de seu Príncipe Kaito sem nenhuma preocupação – nem mesmo com o horário – por que ele a inebriou de tal forma, que fora capaz de atenuar qualquer sofrimento que ela tivesse.

Ouvira alguém gritar, chamando-a sem proferir o nome, e tão doce a voz que sabia quem era seu dono. Ele. Sem pensar, ou pestanejar, mergulhou em sono profundo naquelas águas pesadas do lago. O ar, assim como todos os outros, lhe abandonava sem mais delongas; e sentia agora o sufoco físico. Estava se afogando não mais em lamúrias, mas sim em um lago que um dia sonhou ser dona.


“Eu ainda posso sentir a sua respiração na minha pele


Mas é só um sonho de muito tempo atrás

A lua prateada te envolve em um brilho trêmulo

Assim você brilha como as estrelas mais brilhantes”

Os últimos momentos de sua vida repassavam em sua mente com rapidez. Era capaz de sentir o toque do príncipe em sua pele, tal como o ar quente que saia de sua boca ao falar. O hálito refrescante brincava em seu olfato, enquanto os olhos inebriantes cantavam melodias aos dela.

Tão irônico o destino que fizera a mulher mais linda do local vivenciar tudo aquilo, sabendo que jamais poderia ter uma segunda vez. Talvez, fosse melhor tomar tudo como um sonho, um sonho antigo que ainda permanecia em seu encalço, ao passo que o luar iluminava seu cenário de morte. “Levarei-o junto comigo, o meu sonho amigo que nunca me abandonou”, pensou. Se não mais radiava esperança, agora era penetrada pela sensação de conformidade com seu final brutal.


“Rasgue esse vestido enquanto corre, você não precisa mais usar uma coroa


Um rápido olhar em seus olhos, eles brilham uma chama que poderia aquecer duas almas solitárias

É só que não há uma desculpa em ser aquele que não é

Capaz de parar o seus olhos cheios de lágrimas de chorar agora e para sempre”

Ao menos, queria ter uma morte digna. Com o último fôlego que lhe sobrava, tirou seus trapos miseráveis com dificuldade, fazendo-os boiar na superfície. O corpo nu tremeluzia de encontro com a morte, enquanto os cabelos, agora soltos, bailavam em última lamúria.

Os olhos fechados enxergavam a vida que sempre quis ter, seus anos de realeza que nunca seriam vividos, apenas imaginados. Enquanto o fazia, seu coração batia em revolta, não aceitava que sua dona desistisse da vida em nome da baixa alto estima.


“Eu só gostaria que o tempo parasse, eu quero saborear esse momento para sempre


Eu queria ser capaz de guardar o lindo som de seu coração batendo

Essa sensação me enche de alegria, esse incrivelmente quente e úmido sentimento

E meu corpo todo não quer se mexer, como se eu estivesse em um conto de fadas”

Agora desmaiada, os pulmões entrando em falência, tal como seu coração, nadava em memórias nunca tidas. Um aperto lhe doeu no braço, e um sopro de vida lhe dominara. Se via lutando com a natureza para respirar, enquanto um homem lhe admirava o corpo esguio, e o desejava luxuriosamente.

Fora salva. Melhor. Fora salva pelo seu príncipe.

O rapaz se via em uma luta de vontades, queria possuí-la, ao mesmo que respeitá-la. Tirou a parte de cima de seu uniforme principesco, e acobertou a menina. Ao contrário do que ela pensara, ele fora capaz de reconhecê-la pelo simples fato de seus olhos reverberarem aos dela, numa paixão intensa e correspondida, e que seria eterna até depois da morte. E, então, eles viveriam felizes para sempre.



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Notas finais do capítulo

Essa foi minha primeira fiction de Vocaloid, e foi baseada na minha música favorita. Deixem review's para eu saber como foi a minha performance, por favor. E obrigada por lerem! ♥