Consultas

I was coy but you made me candid

Atrasado. Pela primeira vez em toda a sua vida, Sasuke havia perdido a hora e estava atrasado. Na verdade, para ser ainda mais exato, estava trinta e sete minutos e quarenta segundos atrasado e aquilo não era apenas desconcertante como também completamente estarrecedor.

Fitou-se no espelho do elevador e quase teve vontade de rir do estado caótico em que se encontrava: a camisa em parte desabotoada, a gravata desamarrada ao redor do pescoço e o cinto da calça por fechar. Era em situações como aquela que... Na verdade, não, não era em situações como aquela, porque nunca antes algo tão idiota tinha lhe acontecido.

Como tudo na vida tinha uma explicação plausível e razoável, Sasuke tratou de procurar pela sua... E não demorou ao encontrá-la na figura adorável da médica de cabelos cor-de-rosa que dormira em seu sofá até as três e meia da manhã, cuja qual ele tivera pena de acordar e também cuja qual ele achara divertido assistir dormindo.

Só podia ser mes-

"-Sasuke!" – seus pensamentos todos pararam de maneira conjunta e seu corpo se recusou completamente a ter qualquer reação tão logo notou que o maldito elevador havia parado e que agora a responsável por todo seu tormento mental acabava de entrar nele, o fitando com um olhar divertido e um sorriso adoravelmente bobo. – "Bom dia, perdeu a hora também?"

A julgar pela tranqüilidade com a qual ela estava abordando o assunto aquela não era a primeira e nem seria a última vez que aquilo estava acontecendo com ela. Estava prestes a responder quando seus olhos escuros tomaram notícia de um outro fato interessante: ela estava carregando todas as camisas grandes e estúpidas que costumava usar – todas menos a que ele havia dado para ela.

Quando o elevador parou na garagem, adiantou-se para abrir a porta e sair rapidamente na inútil tentativa de evitar uma conversação alegre demais para um dia tão excepcionalmente ruim.

"-Espera." – voltou-se para ela com uma sobrancelha arqueada quando sentiu uma mão de pele macia segurar-lhe prelo braço, abrindo a boca para murmurar qualquer coisa em protesto quando ela começou a lhe abotoar a camisa e fazer o nó da gravata. – "O cinto é todo seu." – piscou algumas vezes enquanto absorvia o que ela havia acabado de fazer e dizer, e teria ruborizado se fosse alguém tão estúpido quanto Naruto.

Uma sorte não o ser, porque aquilo acabava por poupá-lo de uma série de constrangimentos.

"-Tenha um bom dia!"

- e naquele exato instante ele teve certeza que não, ele não teria um bom dia. Porque ele já havia começado péssimo e porque ele duvidava muito que alguém, lá em cima, quisesse que ele fosse melhorar.

Durante todo o trajeto de seu apartamento até o trabalho – nada mais do que oito quadras – fez um balancete do que mais poderia vir a dar errado em um dia que mal havia começado, e o resultado descoberto não foi, nem de perto, algo animador. As possibilidades eram múltiplas uma vez que a quantidade de horas restante até o fim do dia era grande, e aquilo era honestamente frustrante.

Mas foi apenas quando abriu a porta de sua sala que teve a mais desagradável das surpresas e a prova de que sim, independente da situação em que se encontrasse ela sempre poderia – e iria – piorar.

"-Está atrasado, irmãozinho." – a ênfase cômica que Itachi insistia em dar às palavras definitivamente o irritava.

"-Me pergunto o que meu querido priminho andou fazendo na noite anterior pra ter conseguido perder a hora."

Por poucos minutos Sasuke se viu perguntando se deveria ignorar apenas Itachi em separado, mas acabou decidindo que ignorar ambos seria a melhor e mais saudável das opções. Aliás, porque os dois idiotas insistiam em sempre se referir a ele com terminações no diminutivo? Era simplesmente ridículo e deplorável.

"-Nada que seja da conta de vocês." – deu a volta em sua mesa e esperou pacientemente que seu irmão se retirasse da sua cadeira, mas aquilo obviamente não aconteceu. As opções de ação eram poucas uma vez que o idiota também era dono de uma bela parcela das ações da empresa... Então resolveu-se por sentar em uma outra cadeira qualquer, ao lado do sempre inoportuno Shisui.

"-Está terrivelmente enganado." – foi com crescente irritação que observou seu irmão mais velho cruzar as pernas sobre sua mesa e colocar as mãos atrás da cabeça. – "Temos uma reunião."

"-Não recebi comunicação nenhuma, e, Itachi, que fazer o favor de-"

"-Isso porque é uma reunião extraordinária entre eu, você, Shisui e Sai."

Arqueou uma sobrancelha levemente, de repente não dando tanta importância para o fato de ter sido cortado bem no meio de sua fala. Porque uma reunião estúpida entre todos os sócios de maior importância seria marcada no início da manhã? Tinha certeza de que não havia motivos para tal idiotice, uma vez que os superávits gerados pelas exportações crescentes de seus produtos deixavam bem claro que eles estavam muito longe de ter qualquer espécie de problema.

"-Provavelmente está se perguntando o motivo." – desviou os olhos para Shisui tão logo ele falou. De todos os citados para a maldita reunião, o mais inútil sem sombra de dúvidas era seu primo mais velho. – "Vamos te contar em breve."

Quer dizer, ele raramente aparecia na empresa, usava sempre roupas inapropriadas ao ambiente de trabalho, trocava de secretária com a mesma freqüência que via a necessidade de trocar seu carro – e, de onde ele tirava as razões para ter todo mês um importado novo na garagem, Sasuke realmente não sabia – e, mais do que isso, nunca estava no horário.

Mas aquele dia parecia estar mesmo cheio de exceções.

"-Sai vai demorar? Porque se for eu gostaria de ir buscar um cafezinho." – não precisou olhar para o seu irmão mais velho para ter certeza absoluta de que ele estava girando os olhos, mas a estupidez crescente de seu primo o levou a mais uma constatação atípica daquele dia: Sai também estava, aparentemente, atrasado.

E aquilo também nunca acontecia.

Sasuke não era a melhor pessoa do mundo para julgar alguém, e sabia que a afirmação toda em si era completamente hipócrita de sua parte – mas, sinceramente, ele queria mais é que a hipocrisia pegasse fogo – mas se houvesse uma definição para a palavra bastardo, essa definição seria Sai.

O garoto era, de longe, a criatura mais estupidamente robótica e sem nenhum critério sentimental que ele já tinha tido o desprazer de conhecer. Não que ligasse muito para sentimentalismos, mas Sai era definitivamente um bastardo. Ponto final.

Nunca conseguira compreender – e duvidava muito que um dia fosse conseguir – o funcionamento do garoto. Ele simplesmente lia coisas e agia conforme lhe era dito, conseguindo sempre ser um completo imbecil. E também tinha o fato estressante de que sempre que faziam uma reunião – ou sempre que o idiota parava sentado em algum lugar – ele tirava um papel e uma caneta do bolso e começava a desenhar.

"-Se aquele idiota não chegar em cinco minutos eu vou começar a ficar estressado."

A parte boa de alguém como Itachi ser seu irmão era que, volte e meia, concordavam em alguma coisa.

Por exemplo: ambos concordavam que Naruto era insuportável passados trinta minutos – as vezes menos -, que Kakashi um dia seria preso por atentado público ao pudor – e que ninguém se prontificaria a pagar a fiança além de Jiraya – e também que esperar não era uma palavra apreciada por Uchihas – com a sempre exceção de Shisui, claro.

Quando a porta da sala se abriu três pares de curiosos olhos escuros voltaram-se para ela, a figura irritantemente ingênua de Sai surgindo com uma pilha de camisas na mão e uma sacola de farmácia na outra enquanto ele caminhava até uma cadeira sem se dar ao trabalho de dirigir a palavra a ninguém ou dar qualquer espécie de explicação.

Sasuke fechou os punhos enquanto tentava mentalmente controlar a pulsação de seu sangue – e por mais que aquilo fosse humanamente impossível, ele estava tentando veementemente acreditar que aconteceria.

"-Sai?" – Itachi arqueou uma sobrancelha para ele, e não foi necessária uma pergunta propriamente dita para que o outro soubesse exatamente o que ele queria saber.

"-Hm." – ele abriu a sacola de remédios pacientemente e retirou um frasco de dentro dela, pegando uma pílula com cuidado e analisando seu formato por instantes.

Era isso, Sasuke ia bater nele. Não, na verdade, Sasuke planejava espancá-lo de várias maneiras diferentes.

"-Eu tinha uma consulta marcada essa manhã, deixei avisado à secretária conforme instruções de boa convivência empresarial, se ela não os comunicou foi pela mais pura incapacidade dela." – fez uma pequena pausa, o suficiente para a respiração alterada de Sasuke ser captada. – "O que me lembra que quem a contratou foi um de vocês três."

Itachi ignorou-o completamente e retirou alguns papéis de dentro da gaveta, Shisui demorou pelo menos mais dois minutos para absorver tudo o que tinha sido dito e Sasuke... Estava realmente tentando se controlar.

"-Como foi ao médico se te vi lá embaixo hoje cedo, a hora que cheguei?"

"-Pergunta pertinente. O que é um milagre vindo de você..." – ele ergueu os olhos para Shisui e sorriu. -"Minha ex-namorada atendeu a um pedido meu de me consultar." – apontou para as camisas sobre a mesa. – "E ao que parece pensou ser uma boa oportunidade pra me devolver as camisas que me tomou."

Sasuke olhou então dele para o que ele apontava por pelo menos três vezes, a mente trabalhando o mais rápido que podia enquanto tentava criar uma ilusão do que estava vendo. Não poderia ser...

...Seria o cúmulo da coincidência.

Sakura. A Sakura que ele conhecia, a garota que ia todas as noites no seu apartamento levar café para ele e ficava falando de coisas absolutamente inúteis e dispensáveis. A garota que desmarcava o seu livro e que agora usava as suas camisas para dormir. A médica com gostos horríveis para cores e que volte e meia o fazia assistir a programas inúteis na televisão. A mulher que ele havia aprendido a achar agradável e que tinha, inegavelmente, os olhos mais lindos que ele já vira em toda sua vida.

"-Você teve uma namorada?" – Shisui arqueou uma sobrancelha, nitidamente controlando a vontade de rir.

"-Hn, sim, eu tive uma namorada. Mas conforme os padrões, Sakura era um tanto estúpida e-" – não soube bem em que momento deixou o lugar onde estava sentado e fez seus punhos encontrarem o rosto de Sai... Talvez tenha sido no instante em que reconheceu as camisas como sendo as que Sakura usava para dormir, cujas quais ela estava carregando cuidadosamente naquela manhã ou talvez quando ele efetivamente falara o nome dela... Ou quando ousou falar que ela era estúpida.

Bem, ela era, mas Sasuke era o único que podia afirmar aquilo.

Sentindo-se estranhamente satisfeito e aliviado, ignorou completamente os olhares completamente surpresos que os outros dois Uchihas presentes na sala lhe lançavam e pegando as camisas de cima da mesa, fazendo questão de jogá-las no lixo enquanto fazia seu caminho até a porta.

...O dia mal havia começado, mas a necessidade de ir para casa dormir lhe pareceu de repente necessária – mesmo porque estava com um início terrível de dor de cabeça e... Bem, até as nove da noite, quando Sakura fosse lhe levar café, ainda havia um bom tempo.