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…now you're here, there's a full brass band playing in me like a wonderland

Conforto.

Foi com certo desgosto que Sasuke descobriu que a noção de conforto que possuía até então era completamente incompleta – por mais estranho que aquilo pudesse soar. Não havia nada mais completo e confortável no mundo do que acordar e ver fios de cabelos cor-de-rosa espalhados pelo lençol branco e olhos verdes o fitando de maneira incerta e curiosa.

Sorriu de lado, erguendo a mão para segurar-lhe o queixo enquanto o polegar lhe fazia um carinho gostoso na bochecha. Ela era linda e ele levara meses para perceber aquilo. Levara meses para perceber que a queria para si e, pior do que isso, passara meses tentando se convencer de que não precisava dela para absolutamente nada.

Talvez a única razão para que não precisasse dela agora seria apenas para questões de decoração e escolha de objetos pessoais – uma sorte o péssimo gosto da garota não ser capaz de atingir o campo sentimental, e aquilo só daquela vez, porque se levasse em consideração o fato de que ela já havia namorado alguém tão estúpido quanto Sai...

...Só de imaginar aquela lombriga descolorida tocando um indicador nela já tinha vontade de socá-lo mais uma vez. O que provavelmente não seria má idéia, uma vez que Sai parecia ter uma necessidade constante de ser lembrado do seu real posicionamento no mundo: como um ser inferior ou simplesmente normal, nunca acima da capacidade alheia como ele sempre parecia pensar estar.

Suspirou, sentindo-se de repente irritado. Mas a irritação toda pareceu diminuir consideravelmente ao ouvir a voz de Sakura lhe desejando bom dia. Não pôde evitar sorrir de lado, a puxando cuidadosamente para perto de si pela cintura e sentindo-se satisfeito ao sentir o calor do corpo dela contra o seu.

Ela não havia respondido sua requisição do dia anterior ainda, mas estar em sua cama já deveria significar alguma coisa, certo? Não é como se ela fosse falar não também, afinal, ele era Uchiha Sasuke. E por mais boçal que aquilo soasse... Era a mais pura realidade. Pelo menos no ponto de vista dele, obviamente. E de algumas outras mulheres por aí.

"-Bom dia." – sussurrou enfim em resposta, sentindo-se deleitado ao vê-la se arrepiar. Gostava de causar aquele tipo de sensações nela, sentia-se menos estúpido... Servia como uma afirmação de que ela sentia o mesmo que ele. E de que ele estava no controle, claro.

"-Você é o bastardo mais convencido que eu já conheci na minha vida, sabia?" – ela franziu o cenho, ajeitando-se com o lençol. E ele conhecia aquele olhar... Fazia algo parecido quando estava falando extremamente sério... E Naruto costumava comentar que aquilo lhe dava calafrios.

Mas nela era simplesmente adorável – e, sim, ele pesquisara no Google o significado e sua utilização em frases, logo, sabia empregá-la de maneira completamente correta e sincera.

"-Acho que já ouvi alguém falando isso em algum lugar..." – apoiou o cotovelo no travesseiro, tombando a cabeça levemente para o lado para fitá-la melhor. Passou o indicador levemente pelo ombro desnudo da garota e sorriu de lado. – "Mas eu não costumo estar errado, então pode-se dizer que sou sempre realista e não convencido."

Ela bufou qualquer coisa e girou os olhos, segurando-lhe a mão que brincava em seu ombro e suspirando.

"-Vou pra casa."

"-Você está em casa." – ela voltou-se para ele, olhando bem ao redor. As cores, a organização, os porta-retratos... Não, ela tinha certeza de que aquele definitivamente não era seu quarto.

"-Estou falando sério."

"-Eu também." – Sasuke passou a mão pelos cabelos negros completamente desalinhados e inclinou-se para perto dela. – "Você é minha agora."

"-Não me lembro de ter aceitado." – estreitou os olhos para ele. E ele gostava quando ela fazia aquilo... Quase a dava um ar perigoso. Quase.

"-Não me lembro de ter perguntado." – sussurrou, aumentando ainda mais o sorriso quando ela grunhiu e se levantou da cama enrolada no lençol.

...Óbvio que ele não a deixaria ir embora assim. Em um movimento rápido puxou-a pela cintura de volta para a cama, a segurando firme em seus braços quando ela se debateu um pouquinho.

"-Sasuke, eu odeio você!"

"-Eu sei." – beijou-lhe os cabelos e suspirou. – "Eu sei..."

"-..." – Sakura respirou fundo ao constatar que sair dali seria provavelmente impossível. Também não era como se ela quisesse... Mas ele tinha que ser tão... Tão... Argh! – "Você não tem jeito mesmo, Uchiha Sasuke."

"-Você ainda não tentou dar jeito em mim."

"-Eu não-"

"-Sakura." – segurou-lhe o queixo, forçando-a a erguer o rosto para fitá-lo. – "Quando disse que você era minha eu estava falando sério. Mas isso não quer dizer que eu também não seja seu."

Quando a garota piscou algumas vezes abobalhada ele aproveitou para roubar-lhe um outro beijo antes de se levantar.

"-...E onde você vai agora?" – pôde ouvi-la perguntar, e sorriu de lado.

"-Fazer café para nós dois. E tente não ficar com saudade." – fechou a porta bem a tempo de ouvir uma das almofadas a atingindo.

Sasuke pensara que aquela idiotice de final feliz era completamente fantasiosa além, é claro, de ser uma jogada de marketing fenomenal. Mas isso não vinha ao caso agora e o problema era que Sakura o fazia até pensar o contrário sobre aquela baboseira toda...

Não se via enjoando dela, por exemplo. Não a via vestindo alguma outra camisa para dormir que não fosse a sua ou levando café para alguém que não fosse ele, muito menos dormindo em uma cama que não fosse a dele.

Certo, talvez ele fosse um pouco possessivo, mas quem é que gostava dessa idéia de dividir o que é seu? E ela era dele agora.

Passou a mão pelos cabelos escuros e se espreguiçou.

...Era estranho dizer ou pensar, mas estava feliz.

E não pretendia deixar aquilo acabar.

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"-Teme, eu sei o que fez você passar mal." – o moreno arqueou uma sobrancelha para o loiro sentado à sua frente na sala, um saco de bolinhos caseiros nas mãos. – "Deve ter sido seu próprio veneno."

"-Meu o quê...?"

"-Sim, veja bem." – ele deixou o saco de lado, espalhando migalhas por sobre sua escrivaninha e o fazendo se sentir de repente irritado. Tentou mentalizar algo bom – como Sakura enrolada no lençol da sua cama – mas a voz de Naruto estava tornando aquilo mais e mais impossível de se atingir. Aliás, ele já deveria ter desistido de procurar a maldita paz ou calma interior, à essa altura era óbvio que ela simplesmente não existia dentro dele. E tudo piorou quando o loiro tirou um desenho do bolso. – "Vi outro dia no Discovery channel que existem animais que não são imunes ao próprio veneno. E você certamente tem veneno armazenado, então eu tentei te desenhar em formato de cobra e-"

"-Naruto, você tem 10 segundos para sair da minha sala. Dez."

"-Mas você não gostou do desenho? Eu achei que a cor das escamas combinou com o seu cabelo e-"

"-Nove."

"-Ok teme, já pode parar. Eu só quis agradar, pensei que depois-"

"-Três."

"-Sasuke, acho que você pulou algum número." – Naruto ergueu as mãos no ar, contando os próprios dedos e sorrindo. – "Teme, você é mesmo um -"

"-Dois."

O loiro suspirou, pegando o saco de cima da mesa e se dirigindo para a porta.

Sasuke suspirou aliviado. Tudo o que queria era voltar para casa logo: para seu café e para Sakura.

Era mesmo pedir demais...?

Quando Naruto finalmente saiu de sua sala e pela porta entraram Kakashi e Itachi ele soube que sim, era realmente pedir demais. Como sempre a tal Entidade Superior que habitava os céus e havia criado o céu e – erroneamente – a humanidade parecia indisposta a atender seu simples pedido pela paz.

...Mas talvez ele estivesse disposto a esperar o dia passar, só daquela vez. Afinal, a recompensa no final da tarde seria a melhor de todas.